Discurso proferido pelo Comandante-em-Chefe Fidel Castro Ruz, Primeiro Secretário do Comité Central do Partido Comunista de Cuba e Presidente dos Conselhos de Estado e de Ministros, ao receber a medalha "José Bonifácio", no grau de Grande Oficial, na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Brasil, a 30 de Junho de 1999, "Ano do 40 Aniversário do Triunfo da Revolução

(Versões Taquigráficas - Conselho de Estado)

Autoridades do Estado e da cidade;

Reitores;

Professores;

Alunos;

Trabalhadores;

Amigos de Cuba:

Vocês encheram me de honra e aho que é, por cima do que eu, na verdade, possa merecer, e o que vejo nesse gesto é um grande espírito de solidariedade e de generosidade.

Vocês estavam impacientes -cá dizem- porque eu falasse; o único que não estava impaciente era eu (Risos e aplausos).

Tenho estado muitas vezes em muitas tribunas; mas poucas vezes, talvez nunca, vi-me perante uma tarefa tão difícil. Estava, inclusive, a promesa que eu próprio fiz de não falar mais de duas horas (Risos), e sinceramente acreditem que vou tentar cumprir (Risos e exclamações).

Mas acontece que vocês fizeram-me tantas sugestões, fizeram-me lembrar tantos momentos e episódios destes anos, que se me deixasse levar pelas lembranças, então ultrapassaria não sei quantas horas. Acho que é melhor me concentrar nuns poucos temas. Para além disso, tenho o propósito de cumprir com o convite que me fizeram os representantes dos estudantes de todo o Brasil de me reunir com eles amanhã.

Não lhes poderei dizer a vocês tudo o que devo dizer-lhes aos dois grupos de estudantes, seria muito longo; é melhor dividir. Eu era que ia decidir qual seria o tema, e como estamos no Rio e acaba de ter lugar a Conferência, o meu dever era dar algumas impressões dela; mas só de uma parte da conferência. Lógicamente, para mim não foi fácil.

Nós somos o demónio (Risos), Cuba é um inferno (Risos). Isso o têm dito tantas vezes, tantos milhões de vezes, os nossos vizinhos do Norte... Embora estaria mal dizer os nossos vizinhos do Norte; seria melhor dizer os nossos adversários entre os vizinhos do Norte, vizinhos que durante muito tempo estiveram enganados. O povo norte-americano não é culpável dos muitos crimes históricos que esse império tem cometido, ainda antes de aparecer como império. Nunca, por uma questão de princípio, culpamos o povo norte-americano; o mais que poderíamos dizer, lembrando aquela famosa frase de Lincoln de que era possível enganar todo o povo uma parte do tempo, ou enganar uma parte do povo o tempo todo, mas não era possível enganar todo o povo o tempo todo (Aplausos), acontece que o mundo se tem globalizado e com o mundo globalizado, também se tem globalizado a mentira (Aplausos). Nós poderíamos dizer a mesma coisa: é possível enganar uma parte do mundo o tempo todo, ou enganar todos uma parte do tempo; mas hoje vocês estão a demonstrar que não é possível enganar todo o mundo o tempo todo (Aplausos). Isto significa o começo da verdade e da vitória global.

Todos os dias leio os telexes, muitos telexes, 200, 300, é um velho costume, e sei tudo o que se diz no mundo, inclusive uma parte do que acontece no mundo, quase adquiro a especialidade de conhecer quantas mentiras são ditas no mundo, e quantas verdades são ocultadas; quais são os mecanismos.

Nós muitas vezes, lendo os telexes, vemos um título; depois lemos o conteúdo, e o conteúdo não tem nada a ver com o título. São técnicas para manipular uma notícia, de tal maneira que em todos os jornais do mundo, por exemplo, seja publicado aquele título, e depois um texto.

Também acontece que muitas pessoas no mundo só lêem os cabeçalhos e nada mais. É triste, mas é verdade.

Também no nosso mundo se perdeu muito o hábito de ler e há outros meios importantes e valiosos de divulgação de idéias, isto é, em primeiro lugar a rádio e depois a televisão. Mas a rádio e a televisão globalizaram-se também. Existem grandes redes que são as que transmitem a sua mensagem por todos o cantos do mundo, meios audiovisuais de grande influência, e esses meios estão nas mãos dos nossos vizinhos do Norte, na sua grande maioria. Possuem a grande maioria dos meios massivos e das vias de comunicação, de quase todos os satélites que um dia vão escurecer o Sol (Risos); são donos da mais poderosa indústria de produção cinematográfica; donos da mais poderosa indústria de produção de seriados para a televisão e para os vídeoscassetes.

Alguns têm estudado este fenómeno, temos que estar cientes. Qual dos nossos países pode gastar 300 milhõs de dólares num filme, num só; arrecadar o seu custo no mercado interno dos Estados Unidos da América, e depois de ter ganho muito dinheiro distribuí-lo por todo o mundo a qualquer preço?

São conhecidas as estatísticas, que percentagem dos filmes que são assistidos pelos latino-americanos são norte-americanos, que percentagem dos seriados para a televisão são norte-americanos, que percentagem dos vídeos que circulam pelo mundo são norte-americanos. Em maior ou menor medida, há países deste hemisfério onde 90% do que circula nos cinemas e na televisão são materiais norte-americanos, e tudo isso elaborado e trabalhado com espírito comercial e para divulgar o que poderíamos chamar o pior que tem acumulado a sociedade desse país: por exemplo violência. Acho que numa ocasião li que 65% do conteúdo desses materiais está associado à violência. Nenhum outro país do mundo produz materiais de cinema, televisão, etc, com tão alta percentagem de violência, de sexo, de extravagância (Aplausos). E com isso que produzem com espírito fundamentalmente comercial, envenenam, atrapalham e enganam uma grande parte do mundo. Talvez esseseja um dos maiores problemas mais sérios que temos hoje.

Um filme de 300 milhões não só consegue receitas pela exibição, mas também o associam a programas comerciais, venda de produtos, de tal maneira que alguns deles ultrapassam o 1 000 bilhão de dólares em arrecadações. Misturam-no tudo, e então essas grandes empresas de comunicação, cinema e de tudo, tendem a se juntarem.

Não é que pretendamos afirmar que não há algumas produções boas e muito boas, mas a nós próprios custa-nos muito trabalho escolher os filmes que passamos nos nossos cinemas e na televisão; todas as semanas temos que passar dois ou três filmes.

A Europa, que há uns 30 ou 40 anos produzia muitos bons filmes, na verdade hoje não os faz, salvo excepções, e está quase esmagada pela agressão cultural dos Estados Unidos da América.

Há alguns países como a Grã Bretanha, onde quase 80% do que é exibido é norte-americano, e muitos outros países cultos da Europa recebem 70%, 65%, talvez uma percentagem de sessenta e pouco de material norte-americano como média; talvez a França seja, por excepção, a que receba menos de 50%, a única. Tenta defender a sua cultura dessa invasão, parece que têm um empenho especial.

Recentemente num congresso de escritores e de artistas cubanos, que poderíamos chamá-lo de congresso da cultura, o ponto que reunia o critério unánime das centenas de delegados presentes era o problema da agressão cultural que está a sofrer América Latina e o mundo, e todo esse material está ao serviço de uma ideologia e de um modelo de consumo, modelo de consumo esse que de ser aplicado, iria acelerar o que seria na verdade o fim da história. Não esse fim da história de que têm falado alguns eufóricos quando acabou o campo socialista; o fim da história, quer dizer, neste caso, o ponto para onde nos levaria esse caminho pelo qual anda hoje o mundo, a sociedade de consumo.

Alguém falou de quantos esfomeados tinha, acho que foi o Presidente da Assembléia- quantos pobres. Na verdade, dados desses há muitos; não são centenas de milhões, são milhares de milhões. Hoje 80% da população mundial é pobre, sem incluir os chineses, que são pobres, mas têm alimentos todos os dias, roupa e sapatos, têm moradias, atendimento médico e educação, apesar de que aprender chinês não é nada fácil (Aplausos). Eu tenho a teoria de que os chineses são muito inteligentes, ganham quase todas as olimpíadas de matemática e física em qualquer parte, porque a sua inteligência se desenvolve aprendendo a língua (Risos).

Um país irmão, a Venezuela, teve uma vez a boa idéia de criar um ministério, chamava-se o Ministério da Inteligência. Muitos riram do ministério e do ministro. Acho que fui uns dos poucos no mundo que não riu de nenhum dos dois, e até tive a oportunidade de falar com ele sobre as suas teorias, nas que sustenta que a inteligência é desenvolvida nos primeiros anos de vida, durante um período. Inclusive há pesquisadores que desenvolvem técnicas para elevar o cociente de inteligência, porque estes seres, que somos nós, possuimos uma capacidade mental não descartável. Pelo menos o equipamento está instalado nas nossas cabeças; mas se diz que o homem chega a utilizar 10 ou 12% da sua capacidade intelectual. E logicamente os testes que foram feitos demonstram que determinados métodos de ensino ajudam utilizar 15, 16%, e ainda mais. Tomara que chegar um dia, coitado dos farsantes!. Coitado dos mentirosos, coitado dos exploradores, se o homem chegasse um dia a utilizar cinqüenta porcento da sua capacidade de inteligência! (Aplausos.)

Sabemos -e não é sacrilégio falar nisso- que somos produto da evolução natural. Isso foi descoberto em meados do século passado, há aproximadamente 150 anos, e a teoria foi muito discutida, houve muitas críticas. Mas digo que não é um sacrilégio, porque recentemente li que o Papa João Paulo II tinha declarado que a teoria da evolução não era incompatível com a doutrina da criação, acho que todos, crentes ou não crentes aceitam essa realidade. Mas já o homem não pode continuar a evoluir da mesma maneira que durante centenas de milhares de anos. O grande caudal para o futuro da mente humana consiste no enorme potencial de inteligência geneticamente recebido, que não somos capazes de utilizar. Aí está do que dispomos, ai está o porvir, e tendo utilizado apenas uma pequena parte da inteligência potencial vemos quantas maravilhas, como esses telefones que aparecem por todas as partes... (Risos e aplausos).

Antes de sair para o Rio estava tentando fazer um discurso, porque me dizeram: "Há cinco minutos para falar" -eu quase escrevo: "Senhor Presidente; Excelências; bom dia, muito obrigado" (Risos e aplausos)-. e estava reunindo muitos dados e materiais, vocês não imaginam quantos materiais é necessário juntar cada vez que se realiza uma conferência deste tipo. A questão não é procurar um companheiro com muito talento que faça um discurso. Se aquele que o profere não sabe de que se trata, então não estaria nem sequer em condições de defender uma idéia.

Mas, além disso, não ando com um telefonezinho desses -nunca usei esses aparelhos- porque há que ter o sentido de cuidar dos nervos, porque a qualquer hora, em qualquer momento começa a soar. Dizem que há alguns que vibram. Não conheço nenhum, só aqui, de vez em quando... Ontem, enquanto transitava pelas ruas, quando íamos por uma avenida rumo ao hotel onde se alojou o nosso amigo e destacado dirigente venezuelano Hugo Chavez, o nosso ministro se comunicou-se com os companheiros em Cuba; peguei o aparelinho, e ouvia-se muito melhor do que eu podia ouví-los quando telefono desde Havana para os seus escritórios (Risos).

Incrível! Eu estava lá e, de repente, tive que fazer um posto de comando a toda velocidade, porque descobri que alguns materiais não estavam disponíveis, nomeadamente, os texos exactos dos documentos aprovados pela NATO a 24 de Abril, coisa que nos interessava muito. A sorte foi que os tínhamos pedido com antecedência ao nosso embaixador nas Nações Unidas, onde levou a cabo uma grande batalha ao redor das fórmulas que eram discutidas para atingir uma solução política ao conflicto da Iugoslávia, e ele tinha enviado aqueles documentos, mas entre esse e outro monte de papéis e de dados, associados a essa cimeira e a outros trabalhos, não os tinha à mão. Tinha que telefonar ao gabinete no Conselho de Estado, tinha que telefonar às Relações Exteriores, tinha que telefonar ao nosso Ministro e ao nosso Embaixador aqui no Rio de Janeiro e a outros lugares para juntar variados dados, tal papel, tal coisa, porque esse não era, logicamente, o único material, e dispúnhamos apenas de 48 horas. Graças a uns desses telefones, à última hora, o companheiro Director do Centro de Pesquisas da Economia Mundial, que está aqui conosco, recebeu uma parte desses papéis a toda velocidade, pedi-lhe: que os lesse pormenorizadamente -não tinha tempo de lê-los todos- e que sublinhasse os temas ligados a várias questões. Eram 60 páginas.

Tinha outros materiais ligados com vários temas doutras 60 páginas aproximadamente. Ao mesmo tempo, havia que estar traduzindo para o inglês e para outras línguas não se sabe quantos materiais, discursos anteriores ou projectos de discursos, ver quantas cópias havia em cada uma das línguas e quantos faltavam, porque se íamos chegar, por exemplo, a este acto na universidade, tínhamos que entregar alguns desses materiais, para não ter que repetir os temas e facilitar por escrito aos participantes elementos de juízo complementares.

Nós traduzimos alguns destes materiais até em oito línguas: espanhol, logicamente; a grande maioria em inglês, porque é a língua que mais se emprega em todas as partes, mas também em alemão, italiano, em russo e especialmente esta vez em português. Digo: Se vamos para o Brasil, quantas cópias levamos?, é o país onde vai-se realizar a Conferência.

Nós não apenas nos preocupamos porque os materiais sejam traduzidos, mas que sejam trauzidos bem, de tal maneira que possam ser entendidos na língua do país que os lê.

Por acaso soube, que o português do Brasil era diferente do português de Portugal, e que há uma guerra entre portugueses e brasileiros em questões de idioma. Pedi que me dessem um exemplo. Responderam-me: Bom, por exemplo "facto"; em Portugal dizem "facto", isto é com um "c" antes do "t", e no Brasil dizem "fato", e assim muitas palavras. Eu o que não queria que ofendessem os brasileiros com uma tradução portuguesa (Risos); mas acho que vocês entendem, não é verdade?, se lerem um romance portugues, percebem perfeitamente, não é? Mas não gostam que lhes mudem as palavras, é certo ou não? Bom até esse pormenor tinha que ter em conta. Chamei o tradutor que viaja comigo e disse-lhe: Você percebe bem? -ele é o tradutor de português. Em qual dos dois postugueses está a tradução (Risos). Porque num escritório que temos de tradução, com muito bons tradutores, que têm o seu estilo, os seus revisores, talvez lá o tinham traduzido no português de Portugal, e o tradutor que trago se preocupa sempre por traduzir o português de Portugal ao português do Brasil. Perguntei-lhe: Você está seguro que lá vão pereceber bem e que não vamos ofender os brasileiros? (Risos.) Respondeu-me: "Não, não, percebe-se bem" (Aplausos).

Falo nisto para colocar um exemplo dos trabalhos que são preciso fazer. Mas lhes posso assegurar que entre as 16:00 e as 24 horas da noite do sábado 27, para verificar muitos dados e materiais, foram revistas centenas de páginas.

No avião, durante a viagem de Havana para o Rio de Janeiro, que segundo dizeram durava oito horas, descobri que na verdade durava uma hora, porque quando começou a descolagem, sentei-me junto do Director do Centro de Pesquisas da Economia Mundial e estivemos oito horas a trabalharando, a discutindo; eu estudando como um aluno no fim do ano letivo não sei quantas coisas sublinhadas durante dias, as quais devia estudar, e ele, esforçando-se por ver se se entendia a declaração da Cimeira que se estava a discutir aqui no Rio; o documento de sessenta e tal parágrafos sobre temas políticos, económicos e sociais. Daqui nos eram enviadas notícias tanto a Cuba quanto ao avião, de que havia problemas no ponto tal sobre x razões. Peguntávamos-lhes: Bom, o que tem acontecido até agora? Respondiam-nos: Bom, até agora só isto e aquilo foi aceite; do primeiro documento só foi discutida a metade. Isso de Sábado para o Domingo, tinha lugar a reunião de chanceleres e havia critérios opostos entre a Europa e América Latina, nalgumas questões. Havia que conhecer todos os pontos nos quais não coincidiam os critérios.

Perguntei: O que é que é o último que chegou? Já tinha chegado apenas a quarta parte dos materiais, havia que continuar a trabalhando para ver o que se tinha conciliado e o que não; Colchetes e mais colchetes onde estavam as coisas não conciliadas. E uma das coisas que me preocupavam extraordinariamente era o facto de que a parte européia não queria nem ouvir falar da Carta das Nações Unidas, nem queria ouvir falar do princípio de não intervenção, nem sobre autodeterminação e soberania; dita atitude era motivo lógico de preocupação profunda, visto que sabemos tudo o que está por trás de tudo isso.

Assim estiveram discutindo até a madrugada, inclusive um parágrafo onde se fazia referência com nome e sobrenome à Lei Helms-Burton, tinha sido fruto de uma batalha da delegação cubana e de outros países para que fosse incluída com nome e sobrenome.

Havia muitas coisas pendentes; mas, logicamente, conseguimos ganhar todo o tempo que precisávamos, graças a esse meio de comunicação que nos permitia comunicar-nos e coordenar simultaneamente com seis ou sete pontos diferentes, o que faz possível multiplicar o esforço.

Falava-lhes da invasão cultural, que é uma realidade; querem-nos impor uma pseudo-cultura, aliás, uma falsa e insuportável mono-cultura. Exemplo do que acontece o li há alguns dias, que todos os anos se perdiam 100 das aproximadamente 6 000 línguas que restavam no mundo, ou dialectos, que também são línguas, cem por ano! Tinham-se perdido alguns milhares, mas sobretudo, amargava pensar que em 20 anos perder-se-iam mais 2 000. E de continuar assim poderia ficar só uma língua, a inglesa, que infelizmente e por causa dos meus vizinhos, visto que qualquer coisa aprendi no bacherelado, na universidade e tentando de ler nessa língua, depois a fui esquecendo; tive que falar muito, muito em espanhol, e embora tentei repassar o meu inglês com dicionários, cadernos, apontamentos, lendo uma instrutiva e agradável biografia de Lincoln, visto que os temas conhecidos são mais fáceis de traduzir, fiz alguns esforços até que decidi renunciar e ver se aprendia um pouquinho melhor o castelhano (Aplausos).

Isto tem a ver com o quê? Com uma colossal batalha de idéias. Se os meios de divulgação estão monopolizados pela potência imperialista mais poderosa que tenha existido jamais, temos o dever de defender as culturas e temos o dever de divulgar as idéias. As idéias há que divulgá-las e semeá-las por todo o mundo (Aplausos).

Por isso dizia que era estimulante o que tinha visto na tarde de hoje, o que vi de manhã em Niterói, quando inauguramos o módulo do médico da família -já têm 16 e o propósito é chegar a 30- ou lá quando visitamos o museu desenhado por Niemeyer, e a imensa honra de que ele estivesse presente, mais jovem e mais lúcido do que estava quando o vi há sete ou oito anos. Para mim foi uma imensa honra colocar sobre as suas costas a minha mão.

Estou a ver muitas coisas, em muitas partes, muito interessantes. Estive na Venezuela. Acho que por aí deram uns folhetos do discurso proferido na Venezuela, que foi longo, mas havia muitos temas que não tenho que repetir, e os interessados por esse tipo de material, nesse discurso podem encontrar algumas coisas, idéias bolivarianas, idéias martianas, uma etapa nova que aparece num país que desenvolveu um papel muito importante na história deste hemisfério, porque dali saiu o nobre sonho duma integração latino-americana, quando as comunicações de hoje não existiam, e um cavalo demorava três meses em chegar de Caracas a Lima. Outro grande sonhador da integração foi Martí, e lá juntavam-se as idéias de Martí e as idéias de Bolívar. Martí foi um grande admirador de Bolívar, foi sempre um grande bolivariano.

Tratava-se disso, e havia que falar muito, e dos temas do mundo, dos privilégios que se tem atribuído a grande super-potência do Norte, as formas de pilhagem que aplica. De tal maneira, que hoje compra tudo, em todas as partes com o dinheiro que imprime, antes havia que o comprar com ouro, ou com papel moeda que tinha um equivalente em ouro assegurado, até que, quebrando as normas de Bretton Woods, unilateralmente suspenderam a conversão de papel em ouro, com que convertiram o ouro em papel. As reservas que possuiam no fim da Segunda Guerra Mundial, 80% do ouro do mundo, depois da aventura do Vietname, só lhes restava um terço.

Eles tinham mantido o ouro a um preço fixo de 35 dólares a onça troi, comparando quando havia um excedente no mercado e vendendo quando havia carências. Quando os Estados Unidos da América suspenderam o padrão ouro e com ele os mecanismos de estabilização das moedas, aconteceu uma explosão colossal do seu preço. O ouro que ficava nas suas reservas aumentou dez vezes mais o seu valor. A economia mundial tinha sido lograda impunemente. Até essa altura as moedas tinham sido bastante estáveis, não tinha surgido o gigantesco negócio especulativo, em virtude do qual cada dia as operações especulativas com as moedas é de um milhão de milhões, fenómeno inusitado e novo que permite ver o abismo para onde vai, ou as margens do abismo, e muito próximo a ele, por onde vai a ordem económica mundial existente, algo insustentável, sim, insustentável. Devemos comprender que estamos perante um mundo onde os acontecimentos vão mais rápidos do que a consciência do insustentável que esse mundo é e a imperiosa e inevitável necessidade de que seja substituído por outra ordem, caso que a humanidade quizer sobreviver (Aplausos).

Há que semear idéias, muitas idéias. O quê é que faremos nós que não temos grandes redes de meios de comunicação? Também empregamos em parte os seus meios electrónicos. Sim, por exemplo existe -e não falei nisso-, a Internet; mas é difícil transmitir idéias aos países do Terceiro Mundo através da Internet. Por que? Porque só 2% dos latino-americanos, por exemplo, tem acesso à Internet; ao passo que 70% ou 75% dos norte-americanos têm acesso a essa rede.

Bom, a Internet não nos serviria para lhes transmitir a vocês idéias ou mensagens; mas serve, pelo menos, para lhes transmitir aos que sim têm acesso à Internet mensagens, idéias, pensamentos e argumentos de quão louco, quão frágil e quão insustentável é o mundo em que estão vivendo. As mensagens não são apenas para as víctimas, mas também para os atacantes (Aplausos), e com esperança de que há muita gente que pensa, mas que nunca encontrou um argumento, senão aquele que vê no cinema, na televisão, ou que lê nos seus jornais, e todos são instrumentos ao serviço dum sistema económico e social de exploração e de dominação. E com isto invadem o mundo, com todos eses meios, e através deles, a ideologia podre e as mentiras do imperialismo.

Temos muitas provas, porque nos visitam muitas pessoas em Cuba, conhecem o nosso modesto país, os seus sacrifícios e as suas limitações, especialmente nestes tempos do chamado período especial, depois do desabamento do campo socialista e quando ficamos submetidos a um duplo bloqueio: perdemos os mercados, os fornecimentos assegurados, que não podiamos adquirir noutras partes porque não nos vendiam. Tudo isso sumiu e o bloqueio aumentou ainda mais, com o oportunismo característico desse grande império, como dizendo: esta é a hora de esmagar como percevejos a esses insolentes que estão nessa pequena ilha, que deveria ser nossa, com a qual sonhamos durante 200 anos e que tiveram a ousadia de nos desrespeitar rebelando-se contra os dogmas do império e contra a ordem neo-colonial lá estabelecida.

Decorreram 40 anos e ainda se mantêm na teimosia; mas enquanto mais anos passam mais ficam desapontados. Certamente devem pensar: Estes devem ser um tipo de percevejo especial. Mas não, somos igualzinhos que todos os outros percevejos, só que nos tornamos percevejos com consciência. Essa é a única evolução que acontecu no nosso país (aplausos), e com essa consciência nos defendemos durante todo esse tempo, ainda mais quando ficamos absolutamente sozinhos, no que se refere às relações económicas com os principais mercados, fontes de créditos e de fornecimento, e fora de todas as instituições financeiras internacionais.

Acho que lá em Cuba de vez em quando temos ouvido falar de uma instituição que se chama Fundo Monetário Internacional; porém há tanto tempo, tanto mesmo que quase nos esquecemos das siglas também ouvimos falar da existência dum Banco Inter-Americano de Desembolvimento; mas não sei exatamente como é que se chama, porque esquecemos das siglas. Outro que se chama Banco Mundial. Perguntamos: O que é isso? Dizem-nos: É que há um banco mundial. Sim, há um Banco Mundial. Perguntamos: E onde fica esse banco? Embora sabemos muito bem onde está e o que é, alguns de nós, a maioria esmagadora dos cubanos não tem ouvido falar muito do Fundo Monetário e do Banco Mundial felizmente (Aplausos). É incrível porque temos aprendido a viver sem Fundo Monetário, sem Banco Mundial, sem Banco Inter-Americano de Desenvolvimento, sem os muitos crédidos dos que se fala, os créditos às exportações, etc, etc. e tendo de pagar por qualquer empréstimo, e sempre a curto prazo com juros que podem ser o duplo do que pagam outros países, porque em virtude de tanto bloqueio e tantas leis Torricelli, Helms-Burton, mais um monte de emendas que nem se conhecem, muitos se aproveitam para cobrar-nos um maior preço por tudo.

De vez em quando, na Lei do Orçamento dos Estados Unidos da América -é uma lei que tem 5 000 páginas-, e quando estão com presa muitos legisladores, inclusive, alguns deles amistosos com Cuba, aparecem de repente enviando-nos uma mensagem expressando o seu pesar por não ter-se apercebido de que havia um parágrafo que dizia tal e tal coisa que constituia uma nova medida do aumento do bloqueio. Muitos congressistas. Nem sequer lêem as leis!, nem lêem -poderiamos dizer- muitas das leis que são aprovadas no Congresso dos Estados Unidos da América. São "lobbies" e mais "lobbies" os que determinam, é um pega e da-me: "Aceita-me esta palavra, que para o meu estado é conveniente, e eu te aceito esta que a você lhe interessa. "É mesmo assim, um intercâmbio incessante, no final, ninguém sabe o que são aquelas leis (Aplausos). É por isso que em tão democrático país prospera tanto a carreira das leis e têm emprego tantos e tantos advogados, porque não há maneira de interpretar aquilo. Imagino que um sábio da antiga Roma ficaria louco com a simples leitura de uma décima parte das leis aprovadas neste país, e, da mesma maneira que funcionam as suas leis, funcionam os seus juizes e os seus tribunais.

Nessa perfeitíssima e ideal democracia, o mundo inteiro sabe a maneira em que é arrecadado o dinheiro nas vésperas de cada campanha e têm chegado até alugar o quarto de Abraham Lincoln em períodos eleitorais, porque há alguns que sonham com determinados gostos; admiram Lincoln, o têm ouvido falar nele, naquele personagem com barbas, o lenhador que chegou a se tornar advogado e presidente e que lhe couve viver aquele momento, depois de uma guerra interna, movimentada pelos interesses e setores agrícolas ou setores industriais, que deu lugar a uma mudança de forma de escravidão que conseguiu na sua abolição formal, para que a vida escrava continuasse igual ou pior do que antes, porque quando aqueles nobres seres explorados impiedosamente receberam um dia a notícia de que eram livres, já ninguém se preocupava de que se alimentassem ou preservassem a sua saúde, visto que como deixaram de ser propriedade dos escravagistas, o valor deles ficava por baixo do valor de um cavalo ou duma vaca, pois quando morria o escravo, aquele que vendiam no famoso leilão, ou ainda pior, os filhos daqueles escravos, que nasciam escravos, os proprietários perdiam capital.

Esta tem sido a cruel e real história. Em Cuba aconteceu o mesmo, acho que a escravidão foi abolida em 1886, e nós temos constância histórica de quando tornaram os escravos em operários, supostamente livres, chegaram a estar em piores condições, porque o capitalismo é a continuação do sistema escravagista sob outras formas igualmente desumanas e impiedosas de exploração.

Há muitas coisas que dizer e muitas mensagens que enviar, por todos os meios e em todas as direções. Posso-lhes assegurar que se você tem argumentos e tem moral, então pode travar qualquer batalha em qualquer parte; de boca em boca, de mensagem em mensagem, de folheto em folheto, de discurso em discurso, de tribuna em tribuna, de foro em foro, há que ir dizendo verdades, e para isso temos que nos esclarecer nós próprios. Por fortuna temos conseguido apreciar como a consciência cresce e o mundo repara nas realidades. Depois daqueles golpes aniquilantes que recebeu o movimento progressista revolucionário, muitas pessoas estão meditando e a pensando.

As mudanças são visíveis, e nós fazemos tudo o que podemos por transmitir idéias, e se temos que distribuir milhões e milhões de folhetos, os distribuiremos. Os grupos de solidariedade, muitas vezes, eles próprios se encarregam de os imprimir; vendem uma parte, e com o que arrecadam fazem uma outra impressão, assim, sucessivamente, não se sabe quanto está a ser divulgado. E também são mísseis dirigidos, como esses que lançavam na Iugoslávia, porque vão dirigidos a pessoas selecionadas, intelectuais, personalidades eminentes, diretores de jornais, parlamentares, líderes políticos e sociais; a todos aqueles que têm a ver com o destino dos povos, fazemo-lhes chegar essas idéias. Se as idéias são claras, justas, objetivas, existem as condições ideais no mundo de hoje para que forem propagadas. Não nos podemos deixar esmagar pelo imenso poderio dos meios de comunicação que possuem os atuais donos do mundo (Aplausos).

A importância desta reunião estava no fato real de que os do Norte nos querem engolir totalmente, e se nos deixamos engolir, vão-nos digerir mais rápido do que conseguiu digerir aquela baleia da Bíblia ao profeta que acho chamavam Jonás. Parece que a baleia demorou um tempo e conseguiram extrair o profeta do seu ventre; mas se esta baleia nos engolir a todos, tentaria de nos digerir em poucas horas.

Dissemos que podem comprar tudo em virtude de um mecanismo que foi criado ao longo deste século, que teve os seus inícios depois da Primeira Guerra Mundial; quando o dólar começou a desbancar a libra esterlina como moeda de reserva, e inventaram os bônus com juros determinados com o objetivo de custear as despesas de guerra, quando menos o esperavam, tiveram uma grande crise que durou de 1929 até 1940, e não estão isentos de que isso lhes possa acontecer mais uma vez.

Dedicam-se o tempo todo a inventar o que fazer para não voltar a ter uma gigantesca crise, embora o valor das suas ações crescem e crescem ao extremo de se multiplicarem duas, três e quatro vezes em apenas 10 anos, criando-se fortunas artificiais fabulosas e inflando um balão que pode e deve explodir inevitavemente num momento determinado. Se em 1929 só 5% dos norte-americanos tinha as suas poupanças investidas em ações na bolsa, hoje 50% das poupanças dos norte-americanos estão investidas nessas ações, e nos fundos de pensões, de aposentadoria. Depois, um estalido dessa magnitude seria verdadeiramente catastrófico.

Nos últimos meses estiveram muito assustados de que acontecera isso, mudaram política anti-inflacionárias por políticas anti-recessivas no meio de um grande desapontamento. Não se pode acreditar de maneira absoluta o que declaram. Há que saber o que pensam, o que falam entre eles, e em voz baixa. Mas o fato real é que criaram tais privilégios que o país cujos cidadãos menos poupam no mundo, das suas receitas líquidas pessoais, é precisamente aquele que mais gasta, investe e compra.

Diz-se que os japoneses são os campeões da poupança pessoal, que poupam mais de 30% das suas rendas pessoais. Na Europa, ao redor de 20%, e por aí em diante, diferentes parâmetros. Há muito que os norte-americanos são os que menos poupam no mundo. Mantêm os crescimentos de que tanto se gabam, na base de um mercado interno de 270 milhões de pessoas que gastam e gastam sem limite. Se possuem um automóvel o trocam de dois em dois anos, e alguns o fazem todos os anos. Adquirem quantas coisas são produzidas e nessa base mantêm o emprego.

É claro, as matérias primas não lhes custa nada: seja ferro, niquel, petróleo, o que for, pagam-no com papéis. Os que recebem os papéis, os guardam, em boa medida, para criarem uma reserva monetária nos bancos centrais ou nos próprios bancos privados, com o risco de que aconteça o que tem acontecido em muitos países chamados emergentes, de perderem em poucas semanas, as reservas acumuladas durante dezenas de anos.

Expresso isto de uma maneira simples; eles usam diferentes mecanismos para isto: essencialmente, imprimem a nota, compram, e quem a recebe a guarda. Em troca disso, eles não dão nada. Digamos melhor: Isso acontece assim com uma parte importante dessas notas; outra parte, como é lógico, seus donos as gastam na adquisição de bens e serviços. Mas a verdade é que os Estados Unidos designaram-se em Bretton Woods a função de emitir e proteger a moeda de reserva internacional, incumpriu os seus deveres, os converteu em monopólio privilegiado e dispõem de todo o dinheiro que quiserem através dos seus bônus e notas. Eles é que podem ter um déficit na balança comercial de 200 000 milhões, 300 000 milhões, são os únicos; aos outros é-lhes proibido. Claro, eles importam tudo o que quiserem. Nunca faltará um galão ou um litro de combustível. E lá, o lugar em que mais automóveis há no mundo, o litro de gasolina é mais barato que em qualquer outro país.

Reparem quantos privilégios chegaram a acumular ao extremo de que a poupança pessoal chegou a um nível por debaixo de zero no ano passado; isto é, como média gastaram mais do que receberam. Pode ter alguns que poupem, uma parte, e outros que gastem muito mais, mas a poupança média dos cidadãos norte-americanos ficou por debaixo de zero. Uma coisa sem precedentes na história do capitalismo, e tudo continua tão tranqüilo. Fala-se duma economia fluctuante, quem a paga e até quando a pode pagar (Aplausos). E o que é que vai acontecer quando esse sistema e esses balões enormes estourem e se precipitarem?

Isso é uma coisa absolutamente certa, e entendemos que o nosso dever é fazer com que as massas, os milhares de milhões de pessoas pobres no mundo e inclusive as camadas médias, compreendam e conheçam estas realidades, visto que o mundo deve se preparar para quando esse desastre aconteça. Posso garantir-lhes que nestes últimos meses estiveram bastante pertinho. Bastou uma crise na Rússia, cujo Produto Interno Bruto equivale a 2% da economia mundial, e porque suspenderam o pagamento de algumas obrigações a curto prazo, espalhou-se o pânico e o Dow Jones -posso lhes garantir que o meu inglês não é muito perfeito- descendeu um montão de pontos em apenas alguns dias; de um dia para o outro. Parecia que já se avizinhava a catástrofe se a crise se extendia por toda a América Latina.

Todos correram: o governo, a Tesouraria dos Estados Unidos, a Receita Federal e imediatamente se aperceberam de que, se a economia latino-americana se afundava, o fogo chegaria até as próprias bolsas de valores dos Estados Unidos. Tentaram impedí-lo, correram, desceram a taxa de juros, quer dizer, injetaram dinheiro na circulação para evitar uma depressão gravíssima, e o que fizeram foi adiar o momento em que isso aconteça, e o desastre será tanto maior quanto mais se adiar (Aplausos). Nova euforia, mais despesas, mais incremento de novo do valor das acções na bolsa e mais especulação de todo tipo.

Os problemas não são tão complexos; eu diria que são, inclusive, relativamente fáceis de explicar, e essas são as bases sobre as que se sustenta o império. Há de se derrubar, não em virtude dos nossos bons desejos, derrubar-se-á em virtude de que tudo o que vêm construindo fazem-no sobre bases insustentáveis. E pode acontecer que um dia cheque a catástrofe e os povos, o mundo, não estejam preparados para assimilá-la e tirar dela as conclusões necessárias. Vai produzir crise de toda natureza, em todas partes.

Acho que mais do que armas o que os povos precisam é de idéias (Aplausos). A mudança de um tipo de mundo global, desumano, insustentável, que ameaça a vida do planeta, por uma ordem social justa e humanitária que ofereça à humanidade uma oportunidade de sobreviver; um mundo que possa ter um pouco de água potável; um mundo que disponha do ar que possa respirar; um mundo que possa adquirir os alimentos necessários; um mundo que com a sua rica tecnologia seja capaz de produzir os tetos que precisam as pessoas para viverem, as escolas que necessitam as crianças para se educar, os remédios para preservar a saúde dos seus habitantes, a assistência médica indispensável para todos, crianças, jovens e anciãos (Aplausos).

Por que nos vão falar do século XXI e encher-nos a cabeça de ilusões que durem menos do que a escuma da champanha com que muitos da minoria privilegiada do mundo celebrarão o advento do novo século? (Aplausos). Sabemos já que milhares de milhões de pessoas no nosso mundo, onde já somos 6 000 milhões, celebra-lo-ão com um refrigerante escumoso, que tomara não fosse Coca-Cola (Risos e aplausos). Porque, aliás, vemos neste mundo globalizado o fenômeno extranho de que em países com culturas milenárias, digamos, a Índia -com todo o respeito, é um país ao qual lhe temos muito apreço-, consuma-se Coca-Cola norte-americana, hambúrgueres. É claro que, os donos das cadeias dizem que é carne de búfala, carne de cordeiro, por exemplo, e não carne de vaca, visto que, por tradições milenárias, da vaca podem consumir o leite mas não a carne. Sabe-se lá o que misturam aqueles cavaleiros das multinacionais! São capazes de misturar até as vacas que encontram mortas pela estrada (Risos); já sabemos dos escrúpulos que têm pela saúde humana. Mas, inclusive, em países tão extraordinários e de tantos méritos como a China, também as empresas multinacionais, estrangeiras, querem introduzir todos esses hábitos de consumo. Isso sim é um exemplo de globalização cultural ianque.

E tomara fosse apenas a Coca-Cola e os hambúrgueres!, o terrível é que introduzam no cérebro humano, que tanto potencial de emprego tem, a idéia de viver como se vive em Paris, Londres, Nova Iorque, Califórnia e outros lugares; desse mundo idílico do qual escutei falar uma vez, desde muito perto, quando o Presidente dos Estados Unidos falou numa reunião da OMC em Genebra. Claro, eles precisam dizer-lhe ao mundo alguma coisa. Então lhe dizem que o que querem e o que todo o que fazem é para que no futuro haja um mundo de classe média.

De brincadeira eu disse-lhe a uns jornalistas que depois de Carlos Marx, Clinton era o único homem que tinha concebido uma sociedade sem classes. Marx, uma sociedade de trabalhadores; o Presidente dos Estados Unidos, uma sociedade de burgueses. Aquele a pensar nos operários explorados; este outro a sonhar com as camadas médias dos bairros de luxo da Califórnia e outras cidades ricas dos Estados Unidos: donos felizes de ações inchadas na bolsa, dos automóveis, eletricidade, um ou dois telefones, televisão por cabo e via satélite, Internet para pedir qualquer coisa, qualquer filme, ou inclusive, para comprar no super-mercado sem ter que sair da casa. Exibem-lhe o produto com todos os detalhes e compra, paga com um cartão ou passam a conta a não sei para onde, nem têm que ter o incómodo de carregar com dinheiro. Caramba!, conseguiram aquilo com o que Carlos Marx sonho uma vez: o desaparecimento do dinheiro (Exclamações e aplausos), sobretudo, a partir de uma fórmula que não lhe passou pela cabeça a Marx, que é a de se a poderar primeiro de todo o dinheiro do mundo (Risos), obrar o milagre dos alquimistas de converter o papel em ouro e serem donos reais, ou potenciais, de todos os recursos naturais do mundo.

E vocês acham que o império está satisfeito com aquilo que tem? Não!, o Golfo Pérsico, com alguma excepção, é deles, tudo, tudo, deles; o Mar Cáspio, onde existiam imensas reservas de petróleo e de gás, toda aquela zona, é quase de todos eles, ou das suas empresas multinacionais. Seja lá onde for que conseguirem chegar, na África ou em qualquer outra parte do mundo, na terra ou na água, tentam controlar quanta matéria prima existir. E aspiram a comprar todo o gás da Rússia, onde estão as maiores reservas, para que sejam propriedades das suas empresas. E todo o petróleo, a eles não lhes alcança. Eles não querem deixar nada para os europeus.

Os europeus queriam fazer alguns investimentos no Irã, emem Libia e nalguns desses países. Mas os ianques fizeram outra lei, em virtude da qual não podiam investir nesses países. E foi assim como nós fomos convertidos em moeda de câmbio, porque procuraram uns "Entendimentos" -dos quais falei no meu discurso de ontem-, em virtude dos quais se o Senado acordava moderar um dos capítulos da Lei Helms-Burton que tomasse em conta os interesses dos investidores europeus em Cuba, os norte-americanos seriam tolerantes com alguns investimentos que os europeus fizessem no Irã, ou na Líbia e noutros lugares, o que afinal, internacionalizava a infame lei e todo o mundo feliz e contente.

Não tive outra alternativa do que usar um parágrafo relativamente duro, num discurso breve, quando expressei o seguinte: "Falando neste caso em nome de Cuba, país bloqueado de forma criminosa, o qual além disso é sacrificado como moeda de câmbio com 'Entendimentos', nada éticos respeito de leis cínicas"- acho que foram os dois únicos adjetivos que empreguei nos seis ou sete minutos que falei- "extra-territoriais e com 'posições comuns'" -há uma posição comum européia dedicada exclusivamente a Cuba, país bloqueado pelos Estados Unidos, e para mais ninguém!- "nada justas e injstificáveis que de fato se somam à tentativa de asfixiar-nos economicamente" -aliás, acrescentei-lhe três linhas-, "expresso a esperança de que não hajam novas partilhas do mundo entre potências poderosas e que não tentem a impossível loucura de nos transformar de novo em colónias" (Aplausos).

Europa chegará a ser um Estado supra-nacional, poderoso e rico, tem esse rumo. Esse Estado supra-nacional poderoso e rico tem contradições com aqueles que querem ficar com tudo, e que querem se apoderar de tudo. Nesse sentido, é induvitável que este imenso território que constituem os países latino-americanos e do Caribe, com quase 500 milhões de habitantes e enormes recursos naturais, adopte as tácticas mais inteligentes, saiba ver as contradicções entre duas áreas muito ricas e muito desenvolvidas, que têm interesses contraditórios no domínio económico e noutros domínios.

Essa própria Europa não gostaria que lhes varressem as suas culturas; essa própria Europa hoje, isolada e dividida, não poderia sobreviver economicamente, e depois de guerrear durante séculos, obraram o milagre de se pôr de acordo, juntar-se, integrar-se, criar uma moeda comum, como forma de se defender das especulações e como forma de defender mercados, em duas palavras: como forma de sobreviver.

Nós, latino-americanos, falamos a mesma língua, temos a mesma cultura, procedemos mais ou menos das mesmas etnias; cá não existem bases para as chamadas limpezas étnicas. Somos um conjunto de povos pacíficos que temos sabido viver em paz durante muito tempo, com as suas excepçõs. Temos muitos mais factores que nos unem , e vejam como os do Norte querem, inclusive, destruir elementos integrantes da nossa cultura, a língua é um deles, muito importante; a combinação que nós somos de europeus, índios e africanos, e segundo as leis da biologia, os híbridos soem ser mais vigorosos, mais fortes, e inclusive mais inteligentes, mais imaginativos, por algo os procuram para ganhar campeonatos (Aplausos).

Reparem, muitos times dos nossos amigos europeus são constituídos por cidadãos do Terceiro Mundo; reuniram-nos e ganham partidas e até campeonatos; então se gabam: "Isto é que é comunidade racial: este veio da Argélia, este veio da Nigéria, este veio de um lado, e este de outro"; eu não me explico como não há nos seus times mais ários puros.

Talvez alguns acharem que para serem bons atletas precisam é de reflexo e músculos. Mas para ser um bom atleta de futebol -e vocês sabem disso mais do que eu-, ou de beisebol, do qual sabemos nós um pouquinho mais do que vocês-, ou de volei, em que vocês e nós nos disputamos mais ou menos, cada um com o seu chauvinismo, quem ganha! (Risos), precisa-se muito mais do que de capacidade de salto, necessita-se de reflexo e inteligência. Até no beisebol, chamando-o de forma inglesa, ou "pelota" como chamam-lhe os cubanos, parece muito simples; um atleta não só tem que apanhar à velocidade de um raio uma bola que pode ir a mais de 100 milhas, e saber instantaneamente se deve enviá-la à primeira base, à segunda, à terceira, ao "home", ou para onde for, conforme a situação concreta que se possa apresentar, que são muitas. E se a cabeça não funcionar, em vez de atirar para a primeira base, atira para a terceira base. E no futebol e no volei é assombrosa a rapidez com que se movem, enganam, fazem cortadas: muita inteligência. Até para as corridas é preciso inteligência, com que ritmo começar, em que lugar colocar-se ao longo da pista, como esgotar o inimigo e como empregar as reservas no fim; só ganham as medalhas os corredores mais inteligentes, supondo capacidades físicas mais ou menos similares.

Achamos que os nossos povos possuem tudo o potencial de talento necessário; mais uma coisa: todo o potencial de bondade necessário, de generosidade necessária. A gente o vê, se tiver o privilégio de fazer uma viagem breve -aconteceu comigo cá no Rio de Janeiro, lá em Niterói, na rua e falando com os trabalhadores que se encarregam de nós, ou os que atendem e se encarregam da segurança, ou se encarregam dos serviços nos locais de reuniões, no hotel e em todas partes-, você não vê mais do que bondade, amabilidade, decência, modéstia. Ainda não vi um brasileiro arrogante (Aplausos), nem um brasileiro arrogante!, nem um brasileiro que não seja amistoso e fraterno. Como é raro encontrar em outros sítios, em países muito desenvolvidos, a modéstia, a cortesia, que pode ser vista num brasileiro, num venezuelano.

Há apenas alguns dias visitamos a Escola Latino-americana de Medicina que, realmente, criamos em apenas umas semanas depois dos furacões, utilizando uma antiga escola naval, mas de grande capacidades, e que hoje tem por volta de 1 800 estudantes, e cuja capacidade total será ao redor de 3 400 estudantes. Excelentíssima escola para nós, um país bloqueado e pobre, que conseguimos organizar num tempo muito breve, não porque tenhamos dinheiro, os nossos recursos em dinheiro são muito escassos, mas temos um grande capital humano, um grande capital humano! (Aplausos.)

Enquanto eles convertiam o papel em ouro, nós convertíamos a ignorância em ciência, a ignorância em conhecimentos, o egoísmo em solidariedade (Aplausos). E há muitas provas, vejo-me obrigado a citar algumas: vinte e seis mil médicos cubanos nos últimos trinta e tantos anos prestaram serviços internacionalistas no Terceiro Mundo (Aplausos), separados da sua pátria e dos seus familiares, nos lugares mais afastados, salvando vidas, muitas vidas, dezenas de milhares e centenas de milhares, e talvez milhões. Disso nunca aparecerá nem uma palavra naqueles meios que os nossos vizinhos do Norte monopolizam.

Se prendemos um espião, ah, então o mundo despenca; se alguns dos que trabalham descaradamente ao serviço do Repartição de Interesses dos Estados Unidos em Cuba e pagos pela tesouraria desse país, para tentar desunir, desintegrar, dividir e apoiar o bloqueio criminoso, recebem uma sanção relativamente modesta, pelo qual eles aplicam penas cinco vezes superiores, então armam uma gritaria colossal. Quero que saibam que apenas por visitar Cuba, um direito constitucional de todo cidadão norte-americano, podem ser sancionados com multas de até 300 000 dólares e 10 anos de cárcere. Livre-se alguém de trabalhar ao serviço de outro país, como agente estrangeiro nos Estados Unidos! Esperam-lhe incontáveis anos de cárcere (Alguém do público diz: Paredão!). Se nós mencionarmos essa palavra começam a lançar-nos bombas e mísseis de todo o tipo (Aplausos), dizem que estamos a cometer uma violação massiva dos direitos humanos.

Eles são os que defendem tudo, quem os respeitam e quem não os respeitam, quem ajudam à luta contra as drogas e quem não ajudam a essa luta. São os juízes morais do mundo; não são apenas os donos materiais, também são os juízes inapeláveis. Se um dia quiserem dizer que no Brasil há uma ameaça global porque se possa produzir um fenômeno de cultivo de drogas, dizem-no. Tem acontecido noutros lugares infelizmente. Isso se chama ameaça global e pode ser objecto de uma intervenção militar da NATO.

É por isso que nem faz falta, não, não, não faz falta, sanções maiores para os traidorezinhos que se vendem ao seu ouro e aos seus papéis. Para o quê? O que é preciso demonstrar é que não lhes tem temor algum aos seus amos. O que é preciso demonstrar é que não estamos dispostos a admitir a impunidade dos seus agentes e daqueles que traem a sua pátria, e que jamais o nosso povo aceitará pressões nem chantagens de ninguém. Porém, não são necessárias nem sequer grandes sanções penais; sempre haverá uma sanção maior, que é a sanção da história: ver impotentes como são frustrados todos os seus planos, ver como o pequeno e heróico país resiste (Aplausos). Hoje falou-se aqui nisso. É, talvez o nosso país tenha um pequeno mérito: Tem sido capaz de resistir 40 anos de assédio e a agressão da potência imperial mais poderosa que haja existido jamais na história (Aplausos).

Todos vocês têm lido a respeito da existência de Roma. Roma é uma coisa intrascendente e inofensiva junto do poder deste império. Dizem, pelo menos, na história dos Doze Césares -sempre estas coisas da história devem ser lidas com cuidado, porque há muitas frases que lhes são atribuídas a este ou àquele, foram inventadas por alguém no caminho e ficaram como verdade incontestável-... Contam, por exemplo, que Napoleão falou de que desde os altos daquelas pirámides egípcias 40 séculos observavam os seus soldados, e de outro que quando lhe informaram que eram dois milhões de persas, naquele afamado Passo das Termópilas, e os invasores lhe advertiam que as suas setas obscureciam o Sol, respondeu: "Melhor, com isso combatiremos à sombra" (Aplausos). Dizem-se realmente muitas coisas. De Nerão -tocando a flauta talvez era um grande artista, um intelectual da época-, diz a história dos Césares que ordenou incendiar Roma. Esta era governada por um Senado muito menos poderoso que o Senado da moderna Roma; também teve imperadores terríveis, mas o fato é que um só cavaleiro, no seu carácter de Presidente dos Estados Unidos, pode desatar pela sua própria conta uma guerra mundial termo-nuclear.

Reparem quais são as garantias que tem o mundo. E se por acaso o homem do botão virar louco. Qualquer um vira louco, vocês nunca ouviram falar de que um vizinho, um amigo e até um familiar virou louco da noite para o dia? (Risos.) Pois, dessa cordura depende o mundo. Vejam quantos perigos nos ameaçam e quão poderoso resulta o império com o qual devemos lidar hoje.

Dizia-lhes que o caminho são as idéias e há que expressá-las com valentia. Realmente eu falava de que a reunião que se realizou no Rio era importante pois há interesses comuns entre europeus, latino-americanos e caribenhos, também há alguns interesses não comuns. De qualquer forma tem um carácter histórico o fato de que se tenham reunido. Cuba, a gata borralheira, felizmente, não foi excluida, desde há algum tempo, a partir duma reunião que realizou-se no México, em Guadalajara, tivemos a honra de que nos incluiram, numa reunião que pela primeira vez teve lugar sem a presença dos norte-americanos.Anteriormente, os latino-americanos reuniam-se cada vez que Washington os convocava, mas não pensem que lhes enviavam uma mensagem protocolar: Peço-lhes para nos acompanharem em tão importante reunião. Não, eles têm um método para convidar os latino-americanos , e é um sinal, eles fazem assim, mexem o dedo indicador para indicar que venham, e chega. Eu lembro-me que só mexiam um dedo e todos corriam, sem excepção, para Washington.

Desde que existem as Cimeiras ibero-americanas é a primeira vez que nos reunimos sem que Washington nos tenha de convocar. Nesta ocasião estivemos juntos latino-americanos e caribenhos, que costumam estar esquecidos, e os países da União Européia, aqui no Rio de Janeiro. Isto tem um significado histórico, não eram fáceis esses documentos, pois há muitos interesses em contraposição, e esses países, por uma parte têm contradições com os Estados Unidos e por outra, são os aliados militares dos Estados Unidos (APLAUSOS).

Posso afirmar-lhes que não descobri nenhuma felicidade durante essa reunião com essa aliança . Foi um momento singular. Eu pensava proferir este discurso de sete minutos, de sete porque eu o li com um pouco mais de tempo, não é?, para ajudar os tradutores, porque se o faço rápido eram quatro minutos, tinha tempo a mais, ao extremo de que um dos presidentes da reunião, nada menos, nada mais, que o chanceler alemão, Gerhard Schröder, quando terminei, apesar de que utilzei uma linguagem construtiva, mas crítica, muito franca e sincera, felicitou-me por ter falado estritamente o tempo correspondente, coisa que não todos fizeram. Vocês não imaginam a quantidade de coisas que se podem dizer em dois minutos, em três minutos.

Eu devo confessar-lhes que tive que meditar muito intensamente, ontem, día 29, quando não pensava falar na reunião que se iniciou de tarde; era de supor que alguns que estavam designados pela área para falar podiam fazê-lo durante cinco minutos e depois, pedir, se desejavam intervir no debate, falar quatro minutos. Ouvia todos com miuta atenção, mas ouvi algumas coisas, algumas frases sobre determinados pontos, associados à guerra genocida que acaba de ter lugar no coração da Europa.

Nenhum crime, nenhuma limpeza étnica justifica o genocídio dum povo inteiro, o genocídio de milhões e milhões de crianças, de mulheres, de mulheres grávidas, de homens, de anciãos, os quais ficarão para sempre com o trauma do ruido espantoso das bombas, mais o ruido estridente das sirenas, o ruido ensurdecedor dos aviões a jacto voando a baixa altura. São coisas que os que têm três, quatro, cinco, seis, sete e oito anos a correrem para os refúgios todas as noites, não esquecerão jamais. Há crianças que só por alguém mostrar temor pelos trovões perto deles, é suficiente para que durante toda a vida experimentem temor pelos trovões. Imaginem só, quase 80 dias de bombas e mais bombas, de vôos a baixa altura e sirenas a soar. O qué é ficará nas mentes desses milhões de pessoas? Toda a riqueza dum país destruída em questão de minutos.

Pretender que o sistema eléctrico dum país constitui um objetivo militar é como dizer que podem começar a cair bombas neste teatro, porque há nem sei quántas luzes acessas; cortar a energia eléctrica no inverno a milhões e milhões de pessoas, isto é, a luz, a calefação e o combustível para cozinhar, é, sem dúvidas, uma ação genocida. É a tentativa de obrigar a render-se um povo mediante armas e métodos de extermínio massivo. Se todas as pontes são derrubadas, se as comunicações desaparecem, se os serviços mais vitais, inclusive o serviço das salas de cuidados intensivos dos hospitais, ou das salas pediátricas, desaparecem, que é isso senão genocídio?

Sem ir tão longe, nós pensamos que o bloqueio dum país para fazê-lo render por doenças e fome, ainda mais quando esse povo tem a suficiente vergonha, dignidade e o patriotismo para não render-se, o bloqueio é genocídio (Aplausos prolongados e exclamações).

Estamos na hora de chamar as coisas pelo seu nome!

Dizia-lhes que eu tive um momento -anteontem, de tarde- de muita tensão, tinha de tomar uma decisão, compreendia a necesidade de cumprir um dever, porque se tratava dum tema muito sério, muito grave, que tem a ver com a soberania de todos nossos países, tem a ver com os problemas e conflitos que a fome vai trazer ao mundo com esta ordem que se tem imposto, conflitos sociais, conflitos de todo tipo. Eles, segundo parece, temem isso, compreendem isso, pretendem preparar-se para esmagar qualquer tentativa de rebelião dos povos, pelos menos semear o terror, com o qual não impedirão o inevitável.

No meio da guerra da Iugoslávia, a guerra mais covarde da história, porque é a única guerra na história do mundo onde os agressores não perderam nem uma só vida; guerra tecnológica, quase quase pela Internet, fazendo uso e abuso do desenvolvimento tecnológico que têm, utilizando, muitas vezes, as inteligências dos países do Terceiro Mundo, que nas suas pátrias não têm laboratórios, não têm os recursos e eles contratam-nas e levam embora.

A guerra genocida estava se desenvolvendo , casualmente, no dia do 50 aniversário da NATO. Nesse momento estavam realmente bastante frustrados. Levavam um mês de bombas e tinham calculado três dias e alguns , cinco dias; mas enfrentaram-se com a vontade dum povo realmente heróico que lutou contra o fascismo, que parou divisões nazis durante a Segunda Guerra Mundial, que sofreu holocaustos.

Esse é um tema sobre o qual não quero estender-me, mas sobre ele falei neste discurso num congresso de intelectuais (mostra o folheto), que por aí há creio que 400 ou 500, e se não são suficientes, posso enviar-lhes mais para que cada uns dos convidados possa recebe-lo. O nosso embaixador encarregar-se-á disso , pois imprimimos 10 mil aqui no Brasil em 24 horas. De Cuba trouxemos 2 mil, mas os distribuimos lá na conferência. Este tem bastante material sobre este tema do holocausto, e haverá muito que investigar sobre isso, e muito que escrever sobre isso, pois há que desmascarar os hipócritas (Aplausos), há que destruir algumas mentiras e demonstrar algumas coisas que nos ocultam, que Ocidente nos ocultou.

Em 24 de Abril, na celebração , com champanhe, por ocasião do 50 aniversário dessa aliança militar concebida como aliança defensiva, que só podia agir, segundo os seus estatutos, dentro dos limites do território dos países que pertencem a ela - na Iugoslávia violaram esse limite - para os próximos 50 anos proclamaram o novo conceito estratégico da aliança, e é aqui onde estava o perigo, foi o que motivou uma intervenção de três minutos, porque eu só disse 4 parágrafos de 16 que tinha sublinhado sobre o tema, que trouxe de Cuba; mas o tempo disponível era muito breve. Usei quatro parágrafos e três perguntas.

Eu não sei o que se publicou sobre isso. Hoje não tive tempo. Deitamo-nos às 5 da manhã, saimos muito cedo para Niterói para cumprir outros programas , dormi, ainda por cima aproximadamente 20 minutos no caminho quando vinha para cá. Deve ter sido profundo. De repente, acordei e por um instante não me lembrava nem para onde ia, nem onde estava, disseram-me que estávamos chegando à Universidade, quando cheguei pedi um chá, conversei com um grupo muito agradável de pessoas que na entrada esperavam por nós.

Contava-lhes que por causa do tempo tive de reduzir os 16 parágrafos a 4, e, além disso, três perguntas. Dizia-lhes também que não sei se foi publicada alguma coida sobre isso. Não sei nada sobre isso (Alguém disse-lhe que sim.). Tu dizes que sim. Pela rádio, em Cuba, mas aqui não sei... (dizem-lhe alguma coisa). Pois. Onde? (Do público dizem-lhe alguma coisa) Ah! originou polêmica, qué bom, muito bem.

É bom, mais digo-lhe a verdade, não era fácil a decisão, pois estava numa reunião e naquela reunião havia 11 países da NATO membros da União Europeia. Posso advertir-lhes que nem todos têm a mesma posição, devo dizê-lo com muita honradez, e reparei que é possível que uma maioria esteja realmente envergonhada pelo que aconteceu na Europa, dessa guerra calculada para cinco dias ao máximo, e que se prolongou durante 79, uma guerra na qual estavam já derrotados. Destruiram o país, quase não tinham nada a perder. Utilizaram todas as suas influências desde todas as direções para impor-lhes aos sérvios uma fórmula política que continha practicamente todas as exigências e todos os objetivos dos agressores da NATO. Sobre isso discutiam lá, fortemente no Conselho de Segurança das Nações Unidas os primeiros dias de junho, onde o nosso Embaixador interveio duas vezes, e creio que o fez realmente brilhante, porque os outros não tinham argumentos.

Naquele momento preocupou-nos muito que pela primeira vez lançaram-se ao ar determinadas teorias e determinadas doutrinas como preparação do caminho. Lá houve um país europeu da NATO que evidentemente declarou que a Carta das Nações Unidas era anacrónica e que os outros direitos contidos nessa Carta estavam subordinados aos seus novos e nobres sentimentos humanitários.

Aqueles que matam de fome milhões e milhões de pessoas no mundo descobriram, de repente, que têm os mais profundos e elevados sentimentos humanitários (APLAUSOS).

Aqueles que mataram 4 milhões de vietnamitas e que invalidaram outro número de milhões, envenenaram as terras, as florestas e empregaram produtos químicos que nem sabemos quais consequências vão ter durante muito tempo, hoje proclamam a desaparição do direito da soberania e da segurança dos países, proclamam o anacronismo da Carta das Nações Unidas e, além disso, o direito à intervenção global.

Coisas estranhas que coincidem: o 50 aniversário, nova doutrina da aliança militar, discussão, se não me engano, em 10 de junho, nas Nações Unidas um país que proclama abertamente, alí nas Nações Unidas, e pela primeira vez, coisas que se falavam em voz baixa - já as proclamavam assim, e não foi um dos maiores, mas sim um país relativamente pequeno da Europa, associado ao grande chefe dessa aliança militar, concordaram, o nosso Embaixador adivinhou-o e preparou algumas notas rápidas ao comprender que ia produzir-se um debate -, e outro país, curiosamente deste hemisfério, e que não é, precisamente, os Estados Unidos, mas membro também da OTAN, que nunca foi metrópole, que sempre tratou com respeito e discreção aos países da América Latina e do Caribe e o qual nunca teve presunção imperialista nem de intervenção, também apoiou imediatamente sem rubor, aquela proclamação do direito à intervenção e à subordinação dos mais sagrados princípios contidos nessa Carta às interpretações impúdicas da NATO sobre diferentes causas que poderiam originar uma intervenção militar. Vou mencionar quatro: uma, por exemplo, a droga, outra, terrorismo; outra violações maciças dos direitos humanos- é uma das que assinalam a esses que matam tantas pessoas e que cometem tantas violações todos os anos; poderiamos dizer mais alguma coisa, todos os dias-, e, além disso, conflitos internos. Intervenções humanitárias as que eles considerem e decidam.

Se a gente se põe a pensar, por exemplo, na Colømbia, que foi vítima do desenvolvimento das droga, pois a sua tragédia surge do grande mercado norte-americano das drogas, que tornou milhões de pessoas nesse país socialmente em narcodependentes daquele mercado, e onde há conflitos internos, essas poderiam constituir duas razões para que qualquer dia a OTAN decida começar a lançar milhões de bombas e mísseis sobre a Colômbia.

É verdade que os nossos vizinhos do Norte, ao longo deste século que está terminando não necessitaram de nenhuma aliança atlântica, nenhuma nova concepção estratégica para intervir em todos aqueles lugares que quisseram. Ficaram com o Porto Rico, que heroicamente defendeu a sua cultura, semelhante a nossa; ocuparam o istmo do Panamá, já se tinham apoderado de mais da metade do México; interviram na América Central; interviram várias vezes no Haití e em Santo Domingo, não por ameaças globais, mas sim para cobrar-lhes os juros e a amortização de dívidas equivalentes a dezenas de milhões de dólares; ocuparam as alfândegas, cobraram a dívida do Haití e deixaram alí a Papá Doc, do clã dos Duvalier. Fizeram o mesmo em Santo Domingo, cobraram suas dívidas e deixaram o clã dos Trujillo. Em 1965, Caamaño, com um grupo de militares, revolta-se, e imediatamente 400 soldados foram enviados pelo presidente Johnson para ocupar aquele país e esmagar a rebelião.

Interviram em Granada com o pretexto de que estudantes duma escola norte-americana estavam em perigo e nunca estiveram mais seguros. Nós sabemos porque estavamos em Granada a construir um aeroporto e sabemos o que lá aconteceu.

Invadiram o Panamá sem nenhum convénio, nem acordo, nem doutrina; fazem o que eles querem e nem sequer há uma condenação no Conselho de Segurança.

A Cuba tem feito o que vocês sabem durante muitos anos, além disso, estão os documentos desclassificados, por aí há outro folheto que também contém a Demanda que o povo de Cuba apresentou ao governo dos EUA por danos humanos e indemnização, ascendente à quantidade de 181 100 milhões de dólares pela morte de 3 478 compatriotas que morreram em Girón ou quando a explossão de La Coubre, ou quando a sabotagem de Barbados, ou na luta contra os bandos organizados e equipados pelos Estados Unidos, e todo com base, não só nas nossas provas, mas também nos documentos secretos já desclassificados por esse país.

Meses antes, eles decidiram congelar os fundos que deviam enviar-nos por pagamento dos serviços de telefone entre os dois países. Cada país lhe corresponde o pagamento desses serviços, e no mês de dezembro do ano passado congelaram 19 milhões de dólares que tinham que entregar-nos as companhias telefónicas norte-americanas, em virtude de contratos e de acordos nos quais o próprio governo desse país participou para cobrar uma indemnização no valor dos 187 milhões, em nome dos familiares de três cidadãos norte-americanos, de origem cubana, que levavam anos cometendo violações e provocações sobre nossas águas territoriais e sobre nosso espaço aéreo. De maneira que, depois de várias advertências e de expressar-lhes a nossa preocupação porque poderia se produzir um incidente, tanto provocaram que, em efeito, um dia, infelizmente, teve lugar um incidente. Foi o que tomaram como pretexto para aprovar a Helms-Burton, que o próprio Clinton qualificou de lei absurda que custaria a Cuba a insuportável cifra de 100 bilhões de dólares.

Mas não foi um incidente ocorrido perto de Washington, nem perto de Miami, nem de Nova York, foi um incidente ocorrido nas proximidades da cidade de Havana, por acções de uma organização suportada e estimulada para provocar esses incidentes. Morreram três, e por esses três cidadãos que em ações ilegais provocadoras contra o nosso país morreram, reclamaram 62 542 637 dólares por cada um deles; e desde que estabeleceram a reclamação congelaram os fundos a espera da sanção por um juiz, como muitos que eles têm, porque alí, nem uma só vez em 40 anos se tem dado o caso de que um juiz conceda a razão a Cuba. Pessoas que cometeram assasinatos brutais, que tomaram uma lancha e que se refugiaram alí, são libertadas quase de imediato.

Vocês sabem, além disso, algo concebido exclusivamente para Cuba: é o único país do mundo cujos cidadãos, se desejam emigrar com só colocar um pé no seu território já têm o direito à residência. Isso sempre fez parte dos seus planos de agressão; pois claro, exibindo constantemente as suas riquezas e tendo dividido as famílias , aqueles privilégios que concediam aos cidadãos que decidiam emigrar para os Estados Unidos ilegalmente serviam não só de material de propaganda, serviam aos interesses dos políticos e aos lobbies, porque os que foram embora de Cuba, em primeiro lugar, depois do triunfo revolucionário, eram os fazendeiros e os mais ricos que foram embora com o seu dinheiro, houve muitos criminais de guerra que levaram com eles milhões de dólares, o seus administradores e o pessoal técnico, por isso foram os que mais rapidamente prosperaram. Têm muito dinheiro e pagam campanhas, inclusive, presidenciais, não só de deputados, prefeitos e senadores.

A nossa Demanda foi pela morte de 3 478 compatriotas entre eles os que morreram em Girón.

Aproximadamente 5000 ações terroristas levaram a cabo em dois anos, em virtude dos planos do gioverno dos Estados Unidos e não somos nós que dizemos, dizem-nos os bem informados ex-dirigentes da Agência Central de Inteligência, que escreveram depois sobre cada um desses planos, e passados 30, 35, quasi 40 anos desclassificaram-nos. Não os desclassificaram todos, porque eles guardam alguns dos mais comprometedores e bochornosos e a alguns dos que desclassificam tiram-lhe alguma coisa, mas há instituições que se dedicam a perseguir e reunir documentos dessa natureza.

Na nossa Demanda reclamamos 30 milhões cada um dos cubanos que morrerram por conceito de dano humano e 10 milhões por prejuízos, quer dizer, 40 milhões de dólares, muito menos que o que eles reclamaram e pelo qual um juiz norte-americano penou Cuba.

Nós pedimos muito menos, mas sabem quánto tivessemos reclamado se tivessemos utilizado a mesma base de cálculos que eles? Vou explicar-lhes brevemente. Como a demanda era contra o governo de Cuba e contra a Força Aérea, eles calcularam que a Força Aérea dispunha de 100 aviões MIG, que cada um deles custava 45 milhões (oxalá pudessemos vender no mercado cada um daqueles supostos MIG de 45 milhões! multiplicaram os 45 milhões por 100, resultado: 45 milhões; o juiz condenou a pagar por danos 1% do valor total da Força Aérea e 1% de 4 500 milhões equivale a 45 milhões. Essa foi a base de cálculo, 45 milhões por cada um dos que morreram e eram três; esta cifra constituiu a maior parte do montante dessa demanda, à qual acrescentaram uma quantidade adicional por outros factores.

Vocés sabem o que tivesse acontecido se nós tomamos essa base de cálculo? Se calculamos que a Força Aérea dos EUA tem um valor de 500 000 bilhões , e com certeza os seus B-2, que custam 2 000 bilhões cada um, os seus B-2, os seus porta-aviões e além disso os seus milhares de aviões, dos mais modernos, os calculássemos nessa essa cifra e não pelo valor real, que deve ser muito mais que o dobro, sem incluir a marinha e o exército, porque os seus navios de guerra trouxeram, por exemplo, os invasores de Girón, os tanques de guerra que traziam eram do exército , os aviões que bombardearam o nosso país, disfarçados com insígnias cubanas eram das forças armadas norte-americanas. Se juntam tudo isso e os sancionamos a pagar o 1porcento, calculem a cifra, mas limito-me à Força Aérea, asigno-lhe um valor de 500 000 milhões, 1 porcento de 500 000 milhões é 5 000 milhões. Então, nós poderiamos reclamar não uma soma que poderia parecer exagerada, mas sim ao contrário, muito conservadora, quase 2 milhões de milhões de dólares, e se calculamos a partir do valor real do equipamento das suas forças armadas, bom, seria uma cifra maior que o produto Interno Bruto dos Estados Unidos num ano, todo com a lei e as provas na mão.

Eles colocaram o precedente, mas nessa Demanda que apresentamos está resumida, em 30, 40 páginas, a história indignante das agressões dos EUA contra Cuba, os pretextos repugnantes que propuseram ao Estado-Maior dos Estados Unidos e que num momento foram aprovados pelo presidente dos EUA e que em determinado momento foram aprovados pelo Presidente desse país para justificar uma agressão directa. Estão contidos em três páginas vergonhosas. Tudo isso foi discutido e aceite pela administração norte-americana. Tudo isso trouxe como conseqüência gaves perigos para o mundo. As medidas adoptadas por nós face o iminente perigo provocaram a famosa Crise de Outubro de 1962, que quase se torna numa guerra mundial termonuclear. Essa foi uma das consequências das suas absurdas e incríveis irresponsabilidades.

Quando vocês tenham a amabilidade de ler essa demanda, terão uma maior informação sobre o nosso país. E posso afirmar-lhes que nós, que trabalhamos nesse material, juntamente com os advogados, procuradores e outros comopanheiros, procurando documentos, provas, encontramos algo que eu não sabia com exatidão, e que foi investigado pelo Ministério do Interior, o número total de conspirações para eliminar-me fisicamente. Eu sabia que eram muitas, um dia o Senado reconheceu um número delas. Sabem quanto somam, em maior ou menor grau, directas ou induzidas? Eles usam três métodos: um, organizam um plano directo para eliminar uma pessoa, outro consiste em organizar grupos que levam seus nomes e que aparentemente são indepedentes, perfeitamente treinados e que adquirem personalidade internacional e o direito de actuar pela sua pròpria conta. Qual é esse direito? O direito de matar qualquer um de nós. E um terceiro método, o método induzido: Ao demónio há que matá-lo, ao demónio há que matá-lo, ao demónio há que matá-lo (Risos), então aparece em muitos anjos do céu , o desejo de matar o demónio.

Sabem, em resumo, a cifra das conspirações, investigadas econhecidas e de 637, não há dúvidas de que sou um campeão (Aplausos). Se quiserem dar-me algum prêmio por isso, estaria mais disposto a recebé-lo que as imerecidas honras que me deram nesta tarde.

De que sou campeão?, do recorde olímpico de conspirações que o imperialismo preparou para por fim a minha vida revolucionária: na felicidade e o prazer que me provoca a sua incapacidade para eliminar-me. É possível que finalmente tenham êxito e que consigam que eu morra de tanto rir (Risos e aplausos).

Admiro os homens que trabalharam para evitá-lo. Eu sou o menos preocupado, digo isto sinceramente. Inevitavelmente quando tenho de viajar ao estrangeiro, comigo viaja um número maior do pessoal de segurança do que aquele que viaja com outros visitantes. Sempre coordenam e cooperam estreitamente com as autoridades do país, cujas normas e funções respeitam de maneira estricta.

Sabem quantos aviões tenho de utilizar dois. É verdade que são dois aviões soviéticos e há muitos tempo que a União Soviética desapareceu, mas ainda temos algumas peças sobresselentes. Eu brinco com os meus colegas e digo-lhes: Sou mais valente do que vocês, porque sou o único que ainda voa num velho, avião soviètico com, relativamente, poucas peças. Acontece que os nossos pilotos, os nossos mecânicos e os nossos técnicos se são campeões.

Há que viajar com dois aviões porque sempre estão a fazer algum plano: utilizar, por exemplo, um Stinger, uma seta, que podem ubicar a quilômetros do aeroporto. Os Estados Unidos levaram esse tipo de equipamento pelo mundo, apoiando às forças que empregam nas suas guerras sujas.

Na penúltima Cimeira ibero-americana, efetuada na Venezuela, prepararam um atentado. Quando os autores viajavam de Miami, foram capturados nas proximidades do Porto Rico, por um guarda-costas norte-ameruicano que procurava droga, ocuparam-lhe dois fuzis automâticos calibre 50, que podem perfurar um blindado a 400 metros, que podem disparar sobre um avião a aterrar ou decolar com mira telescópica, raios infra-vermelhos para a escuridão e as balas necessárias para disparar automaticamente quando for necessário. Foram presos e postos a disposição dos tribunais do Porto Rico. E quem organizou esse plano? O Presidente e os principais líderes da chamada Fundação Cubano-Americana, vários deles tem aparecido fotografados junto ao presidente dos Estados Unidos, muito orgulhosos. Não é pouco o dinheiro que dão aos candidatos de ambos os partidos. Os envolvidos directamente, não assim o Presidente da benemérita Fundação e outros responsáveis principais, estão sujeitos a processo judicial, vamos ver como termina esse julgamento.

Muitas vezes estiveram próximos de conseguir os seeus planos. No Chile, por exemplo, com uma câmera que tinha uma ametralhadora no foco, acreditados como jornalistas com passaportes e documentos venezuelanos entregados por agentes e funcionários corruptos, estiveram muito perto, a poucos metros, mas, felizmente, não eram fanáticos, assustaram-se e não dispararam. Em mais duma ocasião estiveram perto. Então, parece que tenho tido um pouco de sorte , de qualquer forma, tenho-a utilizado o melhor possível, porque todos os anos, cada mês, cada semana, cada dia, cada hora da minha vida tem sido de luta, e não por espírito de vingança, mas sim por lealdade às minhas convicções. Os perdoo-os, de antemão, pelas suas tentativas para me matarem , em definitiva, prestam-me a homenagem de me considerar muito mais importante do que sou, muito mais, e outorgaram-me um recorde. Os seus métodos são, simplesmente, repugnantes.

Quando trabalhávamos no material da Demanda, quando vimos todas as suas acções e o conjunto dos seus crimes contra o povo cubano ao longo de 45 anos, creiam que se sentiamos despreço pelo império, se tinhamos uma opinião realmente péssima da sua falta de escrúpulos e de moral, sem temor a exagerar, diria-lhes que nos sentimos 30 ou 40 porcento, mais revolucionários. E não é porque o ignorassemos, já que um dia aparecia um telex, outro dia outro , um relatório, uma notícia falando destes temas, mas quando você junta tudo isso numas quantas páginas, produz um efeito realmente forte, um impacto forte, e eu mesmo, que tenho vivido a experiência de todos estes anos, cheguei a sentí-lo. Não há nenhuma exageração, são provas irrefutáveis e documentos oficiais do governo dos Estados Unidos. Conhecemó-los muito bem.

Por que essa tentativa, junto com a guerra da Iugoslávia, de lançar abertamente a doutrina do direito à intervenção global por qualquer razão? Tinhamos de combater isso. Foi a razão pela qual disse o que disse. Não é que não pensara falar e escrever sobre estas coisas, mas sim que me preocupava ter que fazê-lo naquele cenário precisamente, com o risco de parecer impertinente e inclusive descortés com as personalidades europeias presentes naquele construtivo intercâmbio. Mas não havia alternativa. Li os meus três minutos e acho, realmente, que ali houve sangue congelado, silêncio total, absoluto, e era de supor que na reunião privada discutir-se-ia, porque tinha assinalados, como dizia-lhes 16 parágrafos, só li quatro. Se vocês mo permitirem leio os quatro e mais alguns, não os 16, talvez 10 ou 11 , para abundar um pouco, porque em direito o que abunda não faz dano, e "se não queres canja dou-te três pratos cheios".

Eu sabia que dispunha de quatro minutos se solicitava a palabra, ainda ficou meio minuto, fiz um esforço especial, concentrei-me e disse o que era indispensável dizer. Tenho a certeza de que se tivesse regresado a Cuba sem fazê-lo, estaria envergonhado. Era como atravessar o Rubicón, pois ali esses quatro parágrafos e essas três perguntas golpeavam directamente coisas sensíveis de interesses e forças muito poderosas. Em primeiro lugar, a denúncia franca e necessária naquele importante fórum da nova concepção estratégica da OTAN, que não tem podido ocultar porque muitos telex já o divulgaram..

Segundo ponto sensível. Se o projeto de documento da Cimeira , aprovado pelos 15 países da União Europeia, onde expressamente se reconhece que "esta associação estratégica tem base no pleno respeito ao direito internacional e nos propósitos e princípios contidos na Carta das Nações Unidas, nos princípios de não intervenção, o respeito à soberania, a igualdade entre Estados e a autodeterminação", significava isto que os Estados Unidos, chefe e aliado principal, também se comprometiam com esses princípios’? De não ser assim, qual seria a actitude da Europa se os Estados Unidos em qualquer momento, com qualquer pretexto, começam lançar bombas e mísseis sobre qualquer dos paìses latino-americanos ou caribenhos ali reunidos?.

Já eu disse que os EUA invadiram o Haiti e Santo Domingo por dívidas não pagas, ascendentes a várias dezenas de milhões. Se se lhes ocorre considerar que uma dívida incobrável como a da América Latina, de mais de 700 bilhões de dólares, que não poderá ser paga jamais porque enquanto mais se paga mais cresce, é uma ameaça global e portanto, razão suficiente para uma "intervenção humanitária", poderiam começar a lançar bombas, dezenas de milhares sobre nossa região ou sobre qualquer país da nossa região.

Terceira questão delicada: Pela primeira vez foi necessário aludir abertamente num foro internacional a realidade de que o Ocidente, especialmente os Estados Unidos, ajudou a que o Estado do Israel criasse centenas de armas nucleares , sobre o qual sempre se manteve um estranho e hermético silêncio. E isto tinha uma estreita relação com a gravidade e arbitrariedade da nova concepção estratégica da NATO. Não mencionava isto para sugerir, nem muito menos, que a NATO lançasse bombas e mísseis contra o Israel, como fez contra a Sérvia. Naquele Estado do Médio Oriente, vivem israelenses, palestinos e cidadãos de diversas étnias , religiões e culturas. Defendo com absoluta firmeza o direito de todos à vida e à paz. Um caso como esse, onde teve lugar uma proliferação maciça e clandestina de armas de destruição maciça, uma das causas da intervenção militar segundo a nova doutrina da NATO, demonstra quão absurda, irreal e contraditória é essa doutrina, porque nesse pequeno território há conflitos internos, proliferação de armas de destruição maciça, limpezas étnicas e constantes perigos de guerra, que tudo isso unido poderia ser a causa duma intervenção militar da NATO, e ninguém seria capaz de pensar que tão complexo problema poderia se resolver lançando dezenas de milhares de bombas contra instalações generadoras de eltricidade e redes de distribuição, fábricas, estradas, pontes e serviços vitais, sem os quais não poderiam sobreviver milhões de pessoas inocentes que não têm nenhuma culpa dos problemas que ali se tem acumulado. Qualquer um compreende que isto não pode resolver-se com os métodos da NATO, sem perigo de provocar uma segura e colossal catástrofe.

Para quem e para o quê se concebeu esta estúpida e criminal doutrina? Unicamente para aplicá-la aos países que não possuam armas nucleares, nem pertençam a poderosos blocos militares, nem possam dar lugar a sérias complicações. América Latina toda, o Caribe, África e a maior parte dos países da Ásia, estariam compreendidos na área de risco. Nenhum país, verdadeiramente digno, disposto a lutar vai-se deixar intimidar. Sabemos muito bem que uma agressão semelhante se pode derrotar.

Essa aliança militar que os Estados Unidos lidera, acaba de travar uma guerra desapiedada e genocida contra um povo europeu com grandes méritos históricos que não tem nenhuma culpa dos erros dos governos da Europa e da Iugoslávia, durante os últimos 10 anos nos Bálcãs. Realmente, o governo que dirigia o que restava da Iugoslávia não era um governo socialista; há mais de 10 anos que deixou de sê-lo, eliminou o nome de República Socialista Federativa da Iugoslávia para adoptar, simplesmente, o de República Federativa da Iugoslávia, com todas as normas que o Ocidente exige: livre mercado e o tipo de organização política, burguesa e capitalista, que os Estados Unidos e a Europa pretendem impor como receita universal aos outros. Contudo, a Iugoslávia socialista, onde durante quase meio século reinou a paz, foi desintegrada, e é responsabilidade do Ocidente a desintegração da Iugoslávia, que quase de imediato desatou todo o tipo de conflictos étnicos, culturais e nacionais. Todos os povos que a integravam sofreram as conseqüências.

Nem sempre os conflitos foram étnicos, já que croatas, sérvios e bósnios são etnicamente eslavos, só que alguns são católicos romanos, outros católicos ortodoxos, outros muçulmanos,e , efetivamente, tiveram lugar os conflitos culturais, religiosos e nacionais. Em Kosovo foi um conflito que sim tinha, além disso, ingredientes étnicos.

Dessa responsabildiade não se fala. Não se fala do holocausto sérvio, de 6 de abril de 1941 até os anos finais da guerra, em que foram exterminados, em campos de concentração, de maneira sistemática e fria, centenas de milhares de sérvios, homens, mulheres, crianças, com os métodos nazis de Oswiecin, Dachau e outros lugares, em virtude da doutrina dum fascista que Hitler instalou no poder, depois da invasão, numa zona da Iugoslávia que abragia Croácia, Bósnia-Herzegóvina e uma parte de Voivodina.

Num congresso de cultura, onde havia, aproximadamente, 600 ou 700 delegados estrangeiros, quando lhes falava do tema, perguntei se algum deles conhecia esse holocausto, e só um, um alemão, alçou a mão e disse: ´¨Sim, na Alemanha publicou-se um livro que contava a história desse holocausto, e também houve alguns livros na Iugoslávia que falaram do tema.´¨ Um holocausto real¡ O ocidente manteve silêncio total , ocultou esse holocausto. Por quê? Porque eram sérvios? Porque os sérvios depois da guerra faziam parte de uma república socialista? Porquê razão realmente? Há alguns mistérios que devem ser decifrados, e é possível decifrá-los.

Neste momento devem existir muitos mais dados que aqueles que eu tinha quando falei naquele congresso cultural, em 11 de junho de 1999, há menos dum mês. Não só há que semear idéias, há que descobrir verdades, há que ilustrar ao mundo sobre a imensa e gigantesca hipocrisia do Ocidente.

Alguns políticos europeus falam sobre o endurecimento das leis cubanas, espcialmente criticam que no nosso Código Penal exista a pena capital. Qual é o endurecimento? No caso de violações de menores, aumentamos as penas e, nos casos de extrema e repugnante gravidade, pode incluir a pena capital.

O nosso país é visitado já por, aproximadamente, 2 milhões de turistas . Geralmente, são boas pessoas, muitos canadenses e europeus de exemplar comportamento. Mas também temos visitantes de qualquer procedência, que vão na procura do sexo. O nosso povo e, especialmente, as nossas crianças e adolescentes devem ser protegidos, e muito mais depois que apareceram doenças como a Aids, que tem dado lugar a inescrupulosos que desejam o prazer sem riscos de nenhum tipo e pensam que meninas ou meninos de 11 anos, 10 anos, 8 anos, 7 anos, são menos perigosas que pessoas adultas. Sempre aparecem aqueles que procuram promover tais serviços . Também aumentamos as penas contra o proxenetismo e muito especialmente contra a corrupção de menores. Nem todo o ouro do mundo vale mais que a pureza e a dignidade duma menina ou dum menino cubano(Aplausos).

Também aumentamos as sanções até a pena capital contra o tráfico de droga. O que é que significa isto? Que a partir da abertura do nosso país a milhões de visitantes entre cidadãos de origem cubana e turistas, que entram e saem com muita facilidade e, muitas vezes, sem vistos, criaram-se as condições para que alguns delinqüentes internacionais utilizem essas facilidades para traficar com pequenos carregamentos de droga. Também há empresas estrangeiras associadas a empresas cubanas, com as facilidades pertinentes para importar ou exportar matérias-primas ou produtos elaborados. Descobrimos que uma delas tinha investido com a idéia de traficar importantes quantidades de droga entre a Colômbia e Espanha.

Felizmente, foi descoberto em tempo. Tivessesmos podido capturar os supostos empresários europeu, se determinadas autoridades colombianas, segundo os convénios assinados entre ambos os países, nos tivessem transmitido informações que já tinham, antes de torná-las públicas, pelo afã de publicidade e conselhos nada transparentes de funcionários norte-americanos. Ainda esses falsos empresários, refugiados no seu país de origem não foram presos.

Cuba não pode permitir isso. É um ultraje ao nosso país, que compromete o seu prestígio e até a sua dignidade. Esta é a razão, incontestávelmente digna de se tomar em conta, pela qual o Parlamento decidiu estabelecer a pena capital para o delito de tráfico de droga em grande medida, utilizando o território nacional de Cuba. Para os casos de menor transcendência aumentamos os anos de prisão.

O nosso Código Penal inclui a pena capital, mas nas últimas modificações o Parlamento estabeleceu a prisão perpetua como alternativa da pena capital, de maneira que esta possa ser aplicada só em casos excepcionais. Além disso, em Cuba existe o Conselho de Estado, integrado por 31 pessoas com critérios próprios e muito independentes. Qualquer sentença de máxima pena, que seja ratificada pelo Supremo Tribunal, passa automaticamente ao Conselho de Estado, onde novamente é estudado cada caso – e são horríveis, repugnantes, os delitos assim sancionados – e se não há um consenso quase unânime, a sentença à pena capital avalizada pelo máximo órgão de justiça do país não é aplicada.

Em Cuba é assim. Não é como lá, no Norte, onde a pena capitalé é só para hispanos, para os índios, para os mestiços e para os negros (Aplausos).

A Europa, que há muito tempo não tem os terríveis problemas sociais que os nossos países sofrem, estabeleceu a política de eliminar a pena capital; 129 países no mundo não o tem considerado possível. Nós desejamos que chegue o dia em que também possamos eliminar essa severa pena.

Eu dizia a um dirigente europeu preocupado por este tema : Vocês os europeus estão preocupados pela pena capital. É uma idéia, um sentimento que respeito; mas há duas causas de penas capitais: uma, as sanções penais que possam provocar a morte, todos os anos, de vários milhares de pessoas cujas ações provocam a perda de muitas vidas de inocentes e desvalidos, ou que causam considerável dano à sociedade. Contudo, não considero ignóbil a aspiração de qualquer país ou de qualquer homem, ou mulher, entre os que há muitos amigos de Cuba e muitas pessoas nobres e boas no mundo que, por motivos religiosos ou por questões filosóficas se opõem a este tipo de sanção. No próprio Parlamento cubano, três deputados cristãos expressaram os seus pontos de vista e a sua objecção quando estas sanções foram acordadas para casos de delitos como os mencionados, são pessoas dignas de todo respeito as que assim pensam; o que não se pode respeitar é a hipocrisia e a mentira. Há outra causa verdadeiramente horrível de pena capital: a fome e a pobreza que todos os anos matam dezenas de milhões de pessoas no mundo.

Expressei a dirigentes europeus: Não esperemos a que sejam criadas no mundo todas as condições para que as mortes por sanções penais desapareçam. Trabalhemos de imediato para salvar a vida de dezenas de milhões de pessoas do Terceiro Mundo que morrem todos os anos (Aplausos).

Estamos dispostos a colaborar. Olhem, sabemos que só na América Latina morrem, todos os anos, mais de um milhão de pessoas que poderiam se salvar simplesmente enviando médicos alí onde não há médicos. Nós prometemos cooperação; e estamos dispostos a enviar, inclusive, milhares de médicos.

Esse é o capital humano do qual lhes falava. De nada serviria ser o país de maior índice de médicos percapita no mundo, se como norma geral, princípios sagrados e tradição estabelecida, cada um dos nossos médicos não fosse um missionário, um pastor, um sacerdote, um mártir da saúde e da vida humana pelo qual marcham decididos até os lugares em que têm de andar, durante dias, pelo lodo, e vão sózinhos até esses lugares, as vezes são mulheres – quase a metade dos médicos no nosso país são mulheres _ onde não há energia eléctrica, onde as notícias dos familiares demoram muito, onde há mosquitos, animais perigosos e todas as calamidades que possam encontrar nalguns bosques e zonas húmidas tropicais. Ali estão os nossos médicos.

Já eu disse que nós oferecimos a América Central 2 mil médicos. Eu não sei, quase até me perguntaria se unidos, a Europa e os Estados Unidos poderiam reunir 2 mil voluntários para irem até esses lugares onde os nossos médicos estão a trabalhar (Aplausos). Só para o norte da África ao sul do Sara, onde a taxa de mortalidade infantil, nalguns países, atinge cifras superiores a 200 por cada mil nascidos-vivos, principalmente crianças, nalguns casos com uma despesa de centavos, oferecemos gratuitamente os serviços de 3 mil médicos. São os países mais pobres e de maior índice de mortalidade. Dizemos-lhe aos países ricos "Se vocês enviam os medicamentos, nós enviamos os médicos." E não só isso, enviamos os primeiros sem que nenhum país industrializado se tenha comprometido a enviar remédios , os que chegam através de alguns esforços que fazem os próprios governos, ou através de algumas organizações não governamentais de carácter verdadeiramente humanitário. A questão é que temos já um grupo de médicos salvando vidas , e com a esperança de que os países com maiores recursos contribuam com os medicamentos, que é o que menos custa.

Conversei com alguns dirigentes europeus e penso continuar a conversar para enviar aos lugares mais necessitados, em diversas partes do mundo, até 6 mil médicos; não digo mais porque 6 mil são os que nós sózinhos podemos manter, mantendo o seu salário e outras atenções a eles e aos seus familiares.

Manter uma escola de 3 400 alunos de medicina, procedentes de toda a América Latina custa milhões. Criá-la em questão de semanas depois de dois furacões que provocaram no Caribe e na América Central incríveis danos humanos e materiais, também custou alguns milhões; além disso bloqueados, e todo isso fizemó-lo com muito prazer. Dessa instituição vão sair, mais que uma escola de médicos, uma doutrina do que deve ser o médico e a responsabilidade que têm aqueles profissionais que cuidam da saúde, do bem-estar físico e da vida do ser humano.

Nós estamos satisfeitos de ter conseguido esse espírito de solidariedade e de sacrifício. Quando expressamos o problema no nosso país ofereceram-se practicamente todos os trabalhadores da saúde: incluidos enfermeiras, técnicos e o pessoal qualificado. Cada médico pode converter-se numa pequena escola de enfermaria e do pessoal técnico auxiliar, se lhe asignam jovens locais com a sexta classe como mínimo. Com o seu ensino teórico e prático, os médicos podem ensinar-lhes perfeitamente em pouco tempo.

Falo de 6 mil actuando com cuidado, porque como já eu disse, por cada um desses médicos temos determinadas despesas para além do Salário . Muitas vezes pagamos a passagem enviando-os nos nossos aviões, com as despesas correspondentes, porque alguns países não têm nem para pagar a passagem dos médicos; muitas vezes aos estudantes da Escola Latino-Americana de Medicina, sem custo para eles e para os seus familiares, pagamos-lhe a transportação para viajar a Cuba.

Todos os anos vamos receber 500 jovens da América Central e 750 do resto da América Latina. Há um pequeno grupo de brasileiros, procedentes de vários estados do Brasil, não porque este país necessite isso, mas sim porque desejamos que nessa escola estejam reunidos alunos de todos os países latino-americanos de expressão hispana e portuguesa, porque são muito semelhantes. Chegaram, além disso, 120 jovens haitianos à Faculdade de Ciências Médicas de Santiago de Cuba. Previamente deverão estudar o idioma espanhol. De maneira que todos os anos vamos receber entre 1350 e 1400 bolseiros latino-americanos para estudarem medicina. Não incluo os caribenhos que têm direito a qualquer bolsa, de qualquer especialidade, também gratuita, nas nossas universidades (Aplausos).

Temos 21 faculdades de medicina e com a latino-americana 22. Nesta última estudarão a pré-médica e os dois primeiros anos de ciências básicas, que são os mais difíceis; depois têm que se distribuir pelo país, porque a partir do terceiro ano todos os nossos estudantes de medicina trabalham nos hospitais, não só recebem um ensino teórico. Anterior à Revolução havia médicos que se formavam em cirurgia sem terem feito nenhuma prática , nenhuma intervenção cirúrgica; os estudantes cubanos de medicina desde muito cedo familiarizam-se com a atenção hospitalar. Esperamos que estes jovens, procedentes de várias regiões da nossa América, geralmente, de origem humilde, ansiosos por estudar esta nobre carreira, sejam melhores que os nossos próprios alunos. O mais importante é a disposição para cumprir qualquer missão e qualquer tarefa, em qualquer parte. Isso é o que permite o nosso país dispor do enorme potencial médico que hoje tem.

Posso acrescentar com muito prazer que se há dois sítios a onde ir e um é pior do que o outro, os nossos compatriotas, por sentido da honra escolhem o pior e não o mais fácil. Mas, graças ao esforço, ao capital humano que criamos, podemos prestar este tipo de serviço, e convidamos os países que possuem tantos recursos, que dispoem dum Produto Interno Bruto, alguns deles, 20 e até 25 vezes maior que o de Cuba, a cooperarem com remédios para salvar sei lá quantas vidas; porque sabemos onde é que morrem, quais os bairros marginais, quais os lugares mais afastados onde jamais tem chegado um médico.

O que realmente resta, para concluir as minhas palavras são os pontos que fundamentam a enorme preocupação que significam os novos coneceitos estratégicos da NATO, aos quais me referi com insistência. Vou assinalar os 11 mais importantes, dos quais na Cimeira só utilizei quatro:

Primeiro: "Com o propósito de fomentar a paz e a estabilidade na Europa e num contexto mais amplo, os aliados europeus aumentam a sua capacidade para a ação, incluido o aumento do seu poderio militar.

Não estão a pensar em salvar vidas, estão a pesnar em matar pessoas, eliminar vidas (Aplausos).

Segundo: " A segurança da Aliança continua sujeita a uma ampla variedade de ricos militares e não-militares, que assumem diversos rumos e que são difíceis de prognosticar. Entre esses riscos estão a incerteza, a instabilidade na região euro-atlântica – acho que aqui mesmo estamos num porto euro-atlântico – " e nos seus arredores, e na possibilidade de crise regionais na periferia da

Aliança."

Terceiro: "Na segurança da Aliança também deve tomar-se em conta o contexto mundial. Os interesses de segurança da Aliança podem ver-se afectados por outros riscos dum carácter mais amplo."

Quarto: "A NATO procurará, em cooperação com outras organizações, evitar conflitos, ou se surgir uma crise, contribuir para a sua solução eficaz, duma forma conseqüente com o direito internacional, o qual incluirá a possibilidade de empreender operações de resposta à crise não incluidas no Artigo 5." O artigo 5 é que lhes proibe precisamente sair das suas fronteiras.

Quinto: "As forças militares combinadas da Aliança... devem estarem dispostas para contribuirem à prevenção de conflitos e realizar operações de resposta à crise não previstas no Artigo 5." Menciona-o duas vezes

Sexto: " As forças militares da Aliançã... também poderiam contribuir para a preservação da paz e da segurança internacionais ao realizar operações de apoio a outras organizações internacionais, complementando e reforçando as ações políticas dentro dum amplo enfoque da segurança."

Sétimo: "A possível participação dos associados e doutros países não membros da NATO em operações dirigidas pela NATO." Isto é, convidamos, senhores, qualquer que queira se incorporar a uma matança. "A dimensão, preparação, disponibilidade e desdobramento das forças militares da Aliança... refletem o seu compromisso com a defesa colectiva e o desenvolvimento de operações de resposta às crises, por ocasiões com pouca antelação, longe dos seus quarteis, incluidas as operações longe do território dos aliados." Longe do território dos aliados¡ Não sei se estamos aqui no Brasil longe ou perto; eu sei que Cuba está muito perto alí.

Oitavo: "Haverá um maior número de elementos de forças aos níveis de prepação adequados para efectuar operações prolongadas, quer dentro do território da Aliança, quer fora deste."

Nono: "As forças da OTAN podem actuar mais para lá das suas fronteiras." Repetem isso com obsessão.

Décimo: "A preparação e manutenção de operações fora do território dos aliados, onde haja pouco ou nenhum apoio do país receptor, impõe desafios especiais em matéria de logística."

E finalmente o décimo primeiro, que está noutro dos documentos aprovados esse dia, nomeado: "Iniciativa sobre as capacidades de defesa."

"Resulta mais provável que as possíveis ameaças à segurança da Aliança sejam por causa de conflitos regionais, étnicos ou por outras crise mais para lá do território da Aliança, assim como a proliferação das armas de extermínio e os seus vectores." Este é o parágrafo relacionado com o que diziamos daqueles arsenais que se criaram com a cumplicidade do Ocidente e que tem um número elevado de armas, que constitui um caso de proliferação clandestina e maciça de armas de extermínio com os seus correspondentes vectores.

Aqui como teve um pouco mais de tempo que lá, na Cimeira e com pessoas muito mais pacientes, quis falar-lhes deste tema como um tema como questão de muita importância, além de recomendar-lhes alguns materiais que lhe enviaremos e que realmente, desejamos que os leiam. Devemos enviar o da Demanda e também o discurso aos estudantes venezuelanos.

Carlitos, quantos vieram do material da Venezuela? Quantos tem neste momento? (Responde que mil) E restam? Os entregou todos? Olha, aqui temos uma pessoa que é capaz de produzir 10 mil num dia, pelo menos o suficente.

Quantos professores tem esta Universidade? (Dizem-lhe que 2 mil) Permitem-me enviar-lhes a cada professor um exemplar do discurso da Venezuela? (Aplausos) Tu, Carlos, não entregues agora, porque seria um pouco desordenado; envia-os aos responsáveis. Os que os convidaram têm a lista? Podes enviá-los. Este do congresso da cultura em português e o da Venezuela também em português. A Demanda também a temos em português. Três livros para entregar gratuitamente aos professores e pedindo-lhes desculpas pelas moléstias.

Oxalá possamos enviá-los aos professores doutras universidades¡ Encontrei-me com uma reunião dos dirigentes do Sindicato dos Professores Universitários. Que prémio¡ Ia descansar , a uma da madrugada e capturaram-me. Levaram-me para um salão do mesmo hotel e tive o privilégio de falar-lhes durante alguns minutos; pelo menos comprovei se falando em espanhol podiam compreender. Disseram-me que falando devagar era mais fácil, por isso, continuei a falar em espanhol aos brasileiros.

Estes três folhetos vamos enviá-los.

Os delegados do congresso dos estudantes em Belo Horizonte já têm 5 mil do Congresso da Cultura e 5 mil do discurso de Caracas.

Bom, agora algum de vocês quer fazer-me o favor de me dizer quanto tempo falei? (Risos) (Dizem-lhe que mais de três horas) Caramba¡ Que pena, realmente, peço-lhes perdão. A próxima vez serei mais breve (Aplausos).

Aqui deixo-lhes as minhas palavras e os três folhetos que serão enviados rapidamente. Entretanto, esses que você tem aí, deixa-os para que sejam distribuidos de alguma forma; mas que ninguém fique preocupado, porque enviaremos os necessários para que todos tenham, e se restam alguns, entre outros professores, ou amigos, ou intelectuais podem distribuí-los .

Muito obrigado.

(Ovação).