Discurso proferido pelo Comandante-em-Chefe Fidel Castro Ruz, Primeiro Secretário do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba e Presidente dos Conselhos de Estado e de Ministros, no ato de inauguração dos Cursos de Superação para Trabalhadores Açucareiros, em áreas da usina de açúcar “Eduardo García Lavandero”, no município de Artemisa, em 21 de outubro de 2002.
(Versões Taquigráficas - Conselho de Estado)
Caros trabalhadores açucareiros;
Caros novos estudantes:
O dia de hoje com certeza se tornará um dia histórico. Como foi apontado aqui, pela primeira vez se põe em prática o conceito do estudo como emprego, e certamente um dos mais importantes empregos. Mas não é só isso que está acontecendo aqui hoje, senão que, ao mesmo tempo, um contingente de vários milhares de trabalhadores, excedentes, poderíamos dizer, como conseqüência da reestruturação da indústria açucareira, inicia um ambicioso e grandioso programa de superação dos trabalhadores açucareiros. Isto é, são duas coisas.
Agora, para compreender o significado e a necessidade da reestruturação, temos de fazer alguma referência à história; estou certo de que não restará nenhuma dúvida e que, ao mesmo tempo em que se adota uma medida de grande utilidade e valor para a economia, inicia-se uma etapa nova no setor açucareiro imensamente promissora.
Observo o silêncio quase absoluto que há neste ato, entre as 10.000 pessoas aqui reunidas.
Dizia que era imprescindível fazer referência à história da produção e da indústria açucareira. Começou há mais de 150 anos. Durante a primeira metade do século XIX, o item principal de produção e de exportação do país era o café; também o foi o tabaco, durante um período, há que lembrar as primeiras lutas, em nossa história, dos fumicultores de Santiago de las Vegas, que se levantaram contra o que chamavam, creio eu, a estagnação do tabaco.
Penso que, com os estudos da história que se fazem hoje, muitos de nossos compatriotas terão conhecimentos sobre essa época. Eram, a cana, o tabaco e o café, fontes muito importantes das receitas do país.
Li sobre dois grandes furacões, quase consecutivos, de graus 4 e 5, com ventos de mais de 300 quilômetros, que ocorreram entre os anos 1844 e 1845, que praticamente arrasaram as plantações de café no ocidente de Cuba. Naquela época, os cafezais não estavam em nenhuma montanha, em nenhuma serra, aqueles eram terrenos virgens, sobretudo na zona da atual província de Havana. Estendiam-se, inclusive, a Matanzas pelo leste e até Cayajabos pelo oeste, onde ainda há algumas ruínas dos agricultores franceses que, vindos do Haiti, chegaram até essas regiões – logicamente, o primeiro lugar foi a atual província de Guantánamo, muito próxima da ilha vizinha onde se encontram São Domingos e Haiti – quando teve lugar, quase no início daquele século, nos anos 1800, uma grande rebelião, da enorme massa de escravos que se encarregava lá da produção de café.
Quando aquela colônia francesa era a fornecedora de café do mundo, muitos daqueles colonos cafeeiros emigraram para a ilha de Cuba. Às vezes traziam uma parte das dotações de escravos; mas o que traziam, fundamentalmente, era a experiência, e encontraram excelentes condições naquela província, de tal maneira que, na guerra de 1868, foi imprescindível aos patriotas lançar uma ofensiva sobre a mesma.
Naturalmente, todos aqueles oligarcas e escravistas, produtores de café, apoiavam o governo colonial, e foram muito duras, as batalhas. Maximo Gómez chefiou aquela ofensiva, e lá estavam os irmãos Maceo.
A história fala de violentos combates. Cada um dos cafezais se converteu quase num fortim; os cafezais chegavam perto de Santiago de Cuba. Próximo da Gran Piedra, ainda há ruínas deles. Já as visitamos e ficamos admirados com o nível técnico alcançado, de como utilizavam o fertilizante, sobretudo a cal, para criar as condições de solo ideais, as correntes de água serviam para a lavagem do café, realizavam-se todas essas operações hoje feitas pelas máquinas. Lá, perto de Santiago, restam ruínas, como também, eu dizia, há ruínas em Cayajabos, na zona montanhosa que faz limite com Pinar del Río. Mas, na realidade, o grande desenvolvimento cafeeiro ocorreu em terras planas e férteis da província de Havana, e logicamente, todo aquele desenvolvimento era à base de mão-de-obra escrava.
Quando aqueles fenômenos naturais liquidaram praticamente as plantações de café, recebeu um grande impulso a cultura da cana.
Anteriormente, Cuba chegou a ser o principal produtor e exportador de café do mundo, e os donos daqueles cafezais, os donos daquelas terras, e dos escravos, impulsionaram o cultivo da cana, e Cuba começou a tornar-se também – não me lembro de outro país naquela época – no principal produtor e exportador de açúcar.
Naquela época, o número de escravos era cerca de 300.000; a maioria se dedicava, logicamente, aos trabalhos da cultura e produção de açúcar. Desde então começou a criar-se um mercado nos Estados Unidos para o açúcar de Cuba; Cuba fornecia açúcar também a Espanha, a Europa, mas o principal mercado começou a ser o mercado dos Estados Unidos. Por isso, quando começou o bloqueio e o cancelamento das quotas açucareiras de Cuba, depois de 1959, destrói-se um mercado criado ao longo de mais de um século.
Desde então nasce a idéia de que, sem açúcar, não há país, o que foi uma verdade até anos recentes; não existiam essas grandes usinas, capazes de produzir dezenas de milhares de toneladas de açúcar, e algumas, mais de 100.000, mas havia centenas, não sei se, entre as províncias de Havana e Matanzas, chegaram a ter umas 1.000 pequenas usinas, onde ainda não se usava o vapor, empregava-se a tração animal; mas avançava-se ao longo da segunda metade desse século, criando-se usinas, algumas usinas maiores e mais modernas. Nessa etapa, começou-se a introduzir as máquinas, o vapor; a capacidade daquela indústria ia crescendo, e crescendo a produção açucareira. Disso vivia a colônia espanhola – era uma das principais receitas da Espanha, receitas procedentes de suas colônias. Perdera as demais colônias no continente, mas esta colônia era chamada a jóia da coroa, fundamentalmente por suas produções açucareiras.
A idéia central de Máximo Gómez, Maceo e dos grandes chefes da guerra de 1868, a chamada Guerra dos Dez Anos, era invadir ocidente; porque a guerra se inicia numa zona oriental, onde havia muitos camponeses ou produtores independentes, embora alguns fossem também grandes coronéis, junto aos camponeses independentes; salvo em Guantánamo, não prevalecia o sistema da escravidão, e por lá foi que se iniciou a guerra. Havia algumas usinas de açúcar; Carlos Manuel de Céspedes era dono de uma delas, e o primeiro ato, naquele 10 de outubro de 1868, foi a libertação dos escravos. Não eram províncias escravistas, repito, eram mais de agricultores e pecuários, embora existisse cana, na zona por onde começou aquela guerra. Em Camagüey, sobretudo, havia gado, não existia uma produção açucareira importante, mas pecuária; Las Villas já tinha maior quantidade de usinas de açúcar, mas também eram províncias fundamentalmente de agricultores. Por isso, a guerra que começa nas zonas orientais estende-se facilmente para Camagüey e para Las Villas.
Tenta-se todo o possível para estender a invasão; os mambises tentavam alcançar a zona que sustentava a colônia espanhola, o exército espanhol, com suas produções e lucros. Quando começa a última Guerra de Independência – antes houve a chamada Guerra Pequena – em 1895, a idéia martiana era, em verdade, de uma guerra rápida, que fosse iniciada por toda parte; mas se inicia em condições precárias, difíceis, conhecidas por todos, quando perderam o armamento; mas, de qualquer forma, a luta se desenvolve com o desembarque de Maceo pela zona de Baracoa, e o de Martí, pela zona de Playitas, na atual província de Guantánamo.
O levantamento em Oriente é grande, rapidamente se generaliza, e desde o primeiro momento prevaleceu a idéia de invadir o ocidente, com a estratégia de levar a guerra a todo o país e, fundamentalmente, destruir a fonte principal que sustentava o governo espanhol e a fonte principal dos lucros para o orçamento colonial da Espanha, e se sabe que as usinas eram destruídas, e os canaviais queimados. E aquela invasão chegou até Mantua, não ficou um canavial ao longo da ilha, em nenhuma parte. Vejam a influência que já tinha a cana na vida do país.
Ao findar aquela guerra, com a intervenção dos Estados Unidos, inicia-se a reconstrução da indústria açucareira; primeiro, o restabelecimento das plantações existentes, e depois o início das enormes plantações canavieiras nas províncias de Oriente e de Camagüey. Os interventores tinham as condições ótimas, ideais, para investir nessa indústria, nessa produção que tinha ficado destruída durante os anos da última guerra, E é assim que, em parte com capitais crioulos, mas fundamentalmente capital norte-americano, restabelece-se a indústria e estende-se o cultivo para aquelas zonas virgens, podemos dizer, de Camagüey até Guantánamo.
Na verdade, grandes plantações de florestas, de mogno e madeiras preciosas, foram cortadas, e a madeira preciosa empregada como combustível nas usinas de açúcar. Naquela época não existia nem sequer mercado para aquela madeira, abundava a madeira neste hemisfério e em outras partes. Assim foram criadas as plantações, a que fiz referência naquele dia, em Holguín, no ato a que compareceram 400.000 holguinenses e o grande aguaceiro, os enormes latifúndios que rodeavam o lugar onde nasci, lá por Birán. Mas esses enormes latifúndios estavam em toda parte, alguns tinham mais de 100.000 hectares, a United Fruit Company; outras companhias chegaram a ter até 200.000 hectares de cana. A força de trabalho não era suficiente, e ocorrem as grandes imigrações antilhanas, dezenas e dezenas de milhares de antilhanos, principalmente haitianos.
Poucos anos antes, tinha sido abolida a escravidão, sem que isso implicasse praticamente nenhuma melhora, creio que foi em 1886 quando foi abolida, e as condições de vida dos antigos escravos continuaram sendo exatamente as mesmas ou, às vezes, piores que quando eram escravos, porque os donos, quando morria um escravo, perdiam capital; depois não se importavam pela preservação da vida, se adoeciam ou passavam fome. Ninguém se preocupava com eles.
A economia do país começou a girar em torno da safra e junto à safra, o chamado tempo morto. Mas não há dúvidas de que a produção açucareira era a espinha dorsal, era o mais importante da economia do país, os outros eram produtos de autoconsumo.
O café aparecia como item de menor importância. Quando da ocupação norte-americana, e com a implantação de um governo neocolonial neste país, estabeleceram-se acordos comerciais que, inclusive, limitavam o desenvolvimento de outras culturas; concedeu-se ao país o mercado que já tinha e o crescente mercado que, a partir dessa data, foi o mercado dos Estados Unidos. As novas produções eram exportadas para aquele país, e sob o acordo de que, sim, compravam açúcar; estavam limitadas as produções de outros artigos alimentícios, inclusive do arroz e outros. De qualquer forma, das receitas do país, que não eram as do povo cubano..., o povo cubano ficava com os resíduos, os restos, mas algo lhe tocava pelos serviços que realizava durante a safra ou nas culturas entre uma safra e outra; o país vivia, fundamentalmente, da cana, e se podia dizer: “Sem açúcar, não há país”.
Essa realidade continuou sendo uma verdade, podemos dizer que até há cerca de 10 ou 12 anos. Teve seus altos e baixos. Na época de guerras, então, o fornecedor de todo o açúcar que os Estados Unidos necessitavam era Cuba, coisa curiosa, paradoxal, com algo que é imoral: cada vez que havia uma guerra, surgia a alegria entre os agricultores e os colonos, porque, em razão das guerras, o preço do açúcar subia, e subia bastante.
Assim acontece na Primeira Guerra Mundial, de cuja segunda metade os Estados Unidos já participam, visto que o país se tornou, praticamente, o único fornecedor de açúcar daquela nação, de cujas produções, muitas eram de companhias proprietárias de grandes plantações canavieiras.
Estava recordando que, depois daquela guerra e da destruição e problemas que provocou, teve lugar uma grande demanda de açúcar. Parece-me que esta chegou – isso teremos de consultar nos arquivos – a alcançar um preço de até 20 centavos a libra. Uma enormidade naquele tempo.
Surge assim, depois da guerra, um breve período de que ouvi falar, quando era rapaz, como o período da dança dos milhões. Já quase ninguém fala nisso, mas se falava muito, nos anos trinta e quarenta, da dança dos milhões, quando o açúcar sobe de preço seis ou sete vezes. Logicamente, não era a dança dos milhões do povo; era a dança dos milhões das grandes empresas açucareiras, dos donos das usinas de açúcar; mas alguma coisa sempre ia para o povo, as sobras eram para o povo, e não é o mesmo ter as sobras numa época em que o açúcar vale dois, três ou quatro centavos, que quando alcança preços como 20 ou mais centavos de dólar a libra.
A dança dos milhões não durou muito. De repente, caiu o preço do açúcar, e o que veio foi uma catástrofe. Não se sabe quantos donos de indústrias as perderam, donos de terras, donos de usinas de açúcar também perderam suas propriedades, que foram adquiridas por outras empresas norte-americanas, ou por alguém de nacionalidade cubana que tinha muito dinheiro.
De modo que, depois da dança dos milhões, veio a catástrofe. Calculem vocês quantos sofrimentos significaria aquilo para o povo que não tinha nada, nem terra, embora a população fosse muito menor.
A situação do trabalhador açucareiro, que era a mais importante fonte de emprego do país, era muito dura Não poderia dizer agora quantas pessoas trabalhavam, seriam talvez 200.000, 300.000 ou mais – não tenho o dado exato, os historiadores podem procurá-lo –, quando acontece uma catástrofe como aquela, depois da dança dos milhões.
Nessa década de 20, os preços foram se recuperando pouco a pouco, a economia, etc., até que veio outra catástrofe, a da crise do ano 1929, quando quebra a bolsa de valores de Nova Iorque. Bom, essa catástrofe afetou os Estados Unidos, dezenas de milhões de desempregados, afetou o mundo inteiro e, logicamente, o nosso país.
Essa crise durou muitos anos e se aprofundou, sobretudo a partir de 1930, 1931, 1932, 1933. O açúcar chegou a valer um centavo, porque, além da crise internacional, os Estados Unidos estabeleceram um imposto para o açúcar, e o preço que alcançou foi de até um centavo.
Mas vejam bem, algum historiador, alguns economistas poderiam realizar estudos sobre aquela época, para comparar o valor ou o poder aquisitivo de um centavo de dólar nos anos trinta, sobretudo em 32, 33. Coincide com o governo de Machado, é a etapa do chamado machadato, situação extremamente dura e difícil que surge, e as situações de extrema crise favorecem, como é lógico, a luta social, a rebeldia e os processos revolucionários.
Tem lugar um grande processo revolucionário em nosso país, depois das Guerras de Independência; foi o processo que se inicia com aquela crise, sob um governo repressivo, sangrento e, como regra geral, corrupto.
Bom, naquela época se construíram algumas obras, o Capitólio; isto é, investiram no Capitólio, que hoje é a Academia de Ciências, graças a um empréstimo norte-americano. Depois, durante um monte de anos, aparecia um imposto na caixinha de fósforos e em outros produtos, que era para pagar aqueles empréstimos.
Foi feita uma boa obra, a Rodovia Central. Houve algumas outras obras que foram úteis, mas o Capitólio, creio que foi construído com uma polegada a mais. Vejam só o nível de imitação e de chauvinismo, para que fosse maior que o Capitólio de Washington. Acho que o que temos aqui é maior que o Capitólio de Washington, acho que uma polegada. Bom, podemos alugá-lo. Teríamos de pedir licença à Academia de Ciências, não é? Num intercâmbio de serviços, poderíamos alugar nosso Capitólio, irmão gêmeo do Capitólio de Washington. Esse era o nível de imitação que tínhamos, mas foram alguns desses empréstimos que se fizeram numa primeira etapa daquele governo, quando ainda não tinha começado a crise de 1929.
Essa crise se prolongou praticamente até o ano 1940, quase até o início da Segunda Guerra; foi a época em que nos Estados Unidos triunfa um estadista, Roosevelt. Pode-se dizer que Roosevelt salva o capitalismo norte-americano, e o salva injetando dinheiro na circulação, aplicando determinadas teses de um famoso economista, que colocava que uma das formas de levantar a economia é proporcionar capacidade de compra às massas. Roosevelt, dentro do sistema capitalista e fazendo obras públicas, represas, um monte de coisas, injetou dinheiro na circulação e começaram pouco a pouco a espantar a crise.
Tais teorias, até os neoliberais mais recalcitrantes vêm-se tentados a aplicá-las, e algumas vezes as aplicam. Essa mesma teoria de reduzir os impostos, que foram reduzidos nos Estados Unidos, fundamentalmente para os setores mais ricos, está inspirada no conceito de que, ao diminuir os impostos a dezenas de milhões de trabalhadores, aumenta seu poder aquisitivo e cresce a demanda de produtos, põem em movimento as fábricas. Há que ver agora, que a situação é bem complicada, como funcionam essas teorias, mas as notícias que chegam, em geral, da economia mundial são muito ruins, e nos Estados Unidos é muito incerta a situação de sua economia; mas o princípio deve ser injetar dinheiro.
Se Roosevelt o fez construindo, investindo dinheiro em construções e em gastos públicos de todo tipo, neste caso o fazem, de alguma maneira, reduzindo impostos; embora beneficiem mais os mais ricos, equivale, simplesmente, à possibilidade de que as pessoas tenham mais dinheiro e recomecem as compras de automóveis, construção de casas; enfim, todos esses gastos suntuosos que se tornaram símbolo das sociedades de consumo.
O que sofreram nossos trabalhadores e nosso povo em geral, naqueles anos de crise, foi terrível, 20 anos depois ainda era lembrado, nos anos cinqüenta, cinqüenta e tanto, falava-se ainda daqueles anos do machadato; porque as pessoas identificam o machadato como os anos de fome, de grande miséria, que, na verdade, independentemente das culpas dos governos corrompidos, dependia da crise econômica mundial, uma segunda etapa de crise do açúcar. Mas veio uma Segunda Guerra Mundial, e mais uma vez Cuba volta a ser o fornecedor de açúcar; os submarinos alemães estavam por toda parte, os Estados Unidos em guerra na Europa e no Pacífico, o fornecimento fundamental de açúcar, eles recebiam de Cuba. Os preços, para o custo que tinha, eram razoavelmente satisfatórios, era uma industria que se custeava, rentável, altamente rentável, porque se beneficiava de determinadas quotas preferenciais, que tinham um preço superior ao do mercado mundial. Não me lembro, mas, se no mercado mundial valia quatro centavos, ali eram seis centavos ou sete, teríamos que procurar os dados de tudo isso, significava receitas importantes para o país.
Cuba tinha uma quota açucareira entre 3 e 4 milhões – também é um dado a precisar –, e a luta de Jesús Menéndez era exatamente para que houvesse uma melhor distribuição daqueles preços preferenciais, daqueles lucros, entre os trabalhadores. Ele se inicia e se destaca como lutador e líder inesquecível dos trabalhadores açucareiros, pedindo uma distribuição mais justa daquelas enormes receitas, que os trabalhadores recebessem alguma coisa mais. Por isso, os trabalhadores açucareiros sentiam verdadeira adoração por Jesús Menéndez, perfidamente assassinado depois, na época do macarthismo.
O governo constitucional que seguiu ao governo de Batista, antes de acabar a Segunda Guerra Mundial, em 1944, de um professor de medicina, Grau San Martín, estava constituído por muita gente que em 1933 tinha adquirido algum renome e mérito; mas, na verdade, o que estavam era desesperados por chegar ao governo, para especular e roubar por todas as vias possíveis. Quando triunfa aquele governo, ainda em plena guerra, havia escassez de gordura, de muitos desses produtos, havia um certo racionamento, e havia os que faziam grandes negócios com todos aqueles produtos racionados. O governo de Grau é substituído pelo governo de Prío, acho que foi entre os dois governos que começaram os assassinatos dos líderes operários. Como as lideranças operárias mais prestigiosas eram os líderes do Partido Socialista Popular, o que era o Partido Comunista, começaram a matar os dirigentes que tinham muita força, grande prestígio e capacidade de mobilização dos trabalhadores, a eliminar os dirigentes, o que fazia parte da política seguida em nosso país.
Aquela guerra havia reafirmado mais uma vez que sem o açúcar não há país. Por acaso, seria a última? Não, faltava um capítulo importante da história, o triunfo da Revolução, e como quiseram estrangular-nos, e foram diminuindo as quotas açucareiras até a supressão total, e para obter mais apoio da OEA – essa imundície! – e apoio dos países membros da OEA, uma boa parte de nossa quota de xis milhões foi repartida entre os países latino-americanos. Bolo para todos, como diria Grau San Martín.
Eles repartiram nossa quota entre todos os países da América Latina que produziam açúcar e, inclusive, beneficiaram a alguns países asiáticos, como Filipinas e outros, com a partilha de nossa quota que tinha preços preferenciais, e deixaram o país com seu açúcar como principal fonte de trabalho, e preços mundiais que estavam sempre abaixo desse preço preferencial. É então que se inicia outra etapa para a indústria açucareira, e poderíamos dizer que a melhor de todas; porque quando aqueles já tinham deixado de comprar açúcar – não foi de uma vez –, os soviéticos ofereceram comprar um milhão de toneladas de açúcar, primeiro benefício que recebíamos de nossas relações com o campo socialista, encontramos um mercado; quando aqueles iam reduzindo, eles nos iam comprando e quando suprimiram totalmente a quota, compraram-nos o açúcar ao preço do mercado mundial.
Nos primeiros anos não havia preços preferenciais. Depois se intensifica a campanha, o bloqueio. Isso foi desde os primeiros meses, os planos de agressão, sabotagens, a invasão de Girón, etc. Acho que foi por volta de 1961, talvez, não recordo exatamente o momento em que liquidaram totalmente a quota, e já tínhamos encontrado mercado na União Soviética. Mais para frente, na medida em que aumentava o bloqueio, também estabeleceram um preço preferencial. Era por volta de dois centavos nos primeiros anos, e, logicamente, se havia oscilações, e os preços se caracterizaram muitas vezes por oscilações, eles nos pagavam o preço elevado que se produzia no mercado mundial. Elevou-se a seis, oito, nove, e geralmente, cada vez que ocorria uma dessas oscilações, eles mantinham o preço. De tal maneira, que o açúcar começava a jogar, ou estava jogando um papel fundamental.
Bom, os soviéticos não gostavam muito de fumar. O charuto era vendido em outras partes. Nós vendíamos produtos e também açúcar, em parte, no mercado mundial, procurando divisa conversível, e na URSS e depois em outros países socialistas, no intercâmbio de mercadorias que tínhamos.
O comportamento soviético foi extraordinário. Recordo quando tivemos aqui uma praga estranha e fulminante na cana, que reduziu consideravelmente a produção, e não podíamos cumprir a entrega; eles cumpriram todas as entregas de mercadorias conveniadas, ainda quando nós conseguimos apenas cumprir, talvez, 50% das entregas de açúcar que tínhamos de fazer.
Assim passaram os anos. Eram cada vez mais estreitas as relações. Eles nos compravam o níquel, outros produtos; desenvolveram-se as culturas de cítricos, fundamentalmente com o objetivo de fornecer à URSS. Assim aconteceu um fato de extraordinária importância. Quando assinávamos um convênio por cinco anos, já eram estabelecidos os preços dos produtos, independentemente das questões que podiam aparecer com as oscilações. Nós observávamos, em virtude do fenômeno do intercâmbio desigual, que é o que impera no comércio entre os países industrializados e os países subdesenvolvidos, a capacidade de compra de uma tonelada de açúcar: no início do qüinqüênio era xis, e no final do qüinqüênio era 80% de xis. Isto é, nossa moeda, que era o açúcar, ia diminuindo de valor, ou de poder aquisitivo, porque os preços dos produtos industriais cresciam – e nesses convênios você pode fixar o preço do açúcar, de alguns produtos, mas não de milhares de itens. Nós colocávamos que tínhamos de buscar uma forma de compensar isso, e assim chegamos ao acordo que foi chamado preço deslizante, ou seja, se aumentavam os preços dos produtos fundamentais que eles nos exportavam, o preço do açúcar aumentava proporcionalmente.
Logicamente, nós comprávamos centenas, milhares de produtos de todo tipo, produtos alimentícios, industriais, tratores caminhões, tudo o que se podia adquirir lá; televisores, máquinas de lavar, enfim, o povo é o que mais conhece disso, de todas as coisas que importávamos. Penso que se fez uma cesta de vários produtos soviéticos, e entre esses produtos estava o petróleo, porque eles eram nossos fornecedores de petróleo, e isso acontece antes da explosão daqueles preços petroleiros.
Quando a Revolução triunfa, o preço era de 14 dólares a tonelada, não o barril; o barril valeria dois dólares.
Por causa dos conflitos do Oriente Médio, num desses momentos, aparecem medidas de resposta. Aparece uma organização, e os preços se elevaram consideravelmente, até um máximo que chegou a ser, eu me lembro, de até 35 dólares por barril – mas não sei agora o ano exato, há que precisar—; foi subindo, subindo, até que depois começou a baixar, a baixar lentamente, por uma razão ou outra. Aumentou muito, a produção de petróleo. Os países industrializados procuraram substitutos.
França, por exemplo, desenvolveu um plano de energia atômica, até alcançar 80% da produção de eletricidade a partir da energia nuclear. Alguns países, como a Itália, não construíram usinas nucleares, havia muita resistência, e então, de madrugada, quando sobrava energia para os franceses, compravam-lhes creio que a 4 centavos o quilowatt de eletricidade, paravam as termoelétricas, e importavam energia do excedente francês nessas horas. As termonucleares, por suas características técnicas, não podem param, sem apagar o reator; as termoelétricas podiam parar de madrugada, economizando petróleo, que estava muito caro, e importar energia elétrica barata.
Resumindo, os países industrializados tinham várias vantagens: a primeira, que todo o excedente de dinheiro produzido pelos colossais preços, ia parar nos bancos da Europa e dos Estados Unidos. Lá tinham o dinheiro para comprar o petróleo que necessitassem, o dinheiro recirculava; não com os países do Terceiro Mundo, mas com os países ricos. Mas aqueles que estavam industrializados foram procurando motores de veículos que caminhassem o dobro por litro ou por galão, ou o triplo. Os soviéticos não tinham essas preocupações, porque chegavam a produzir até 600 milhões de toneladas de petróleo e 700 bilhões de metros cúbicos de gás, que equivale a 700 milhões de toneladas; ou seja, a URSS contava com o equivalente a 1,3 bilhões de toneladas de petróleo, além de algumas termonucleares, e além das hidroelétricas que haviam construído; o combustível lhes sobrava, e a demanda mundial não era tão alta.
Às vezes penso que não se preocuparam muito porque, com certeza, não tinham onde guardar a gasolina e, para não ter que jogá-la no mar, consumiam-na nuns motores que, como vocês sabem, o do Zil, por exemplo, fazia nove quilômetros por galão, e alguns ônibus, sobretudo os veículos a gasolina, caminhões, que eram os que fundamentalmente nós adquiríamos, ajustando-nos às ofertas que recebíamos: os a diesel eram um pouquinho mais econômicos. Isso tem importância, porque foram os caminhões com os que depois ficamos, quando acabou o petróleo. Vão somando.
Os países industrializados aplicaram suas tecnologias, seus centros de pesquisa e suas outras opções, e foram multiplicando, poderíamos dizer, a utilização da energia contida em uma tonelada de petróleo, compensando aqueles aumentos de preço, pelas vias apontadas e outras; também na indústria, pouparam combustível, o principal sempre, para a produção de cimento, de aço, qualquer coisa; o fundamental era a economia de energia, economia de combustível, e tinham os meios para desenvolver essas tecnologias, mais o dinheiro guardado em seus bancos.
Os países do Terceiro Mundo não tinham nem dinheiro guardado em seus bancos, nem possibilidades de desenvolver as tecnologias, e o que fizeram foi endividar-se extraordinariamente, porque, ao ter tanto dinheiro depositado, procedente do petróleo, os bancos o emprestaram a muitos países, entre eles a América Latina. Quando a Revolução Cubana triunfou, nos primeiros anos, 1959, 1960, acho que a dívida externa da América Latina estava em cerca de cinco bilhões de dólares, a dívida externa praticamente não existia; ela cresce um pouco quando triunfa a Revolução, e os vizinhos do Norte lhe começaram a emprestar e a dar vantagens aos países, que nunca tinham dado aos países latino-americanos.
Quando veio a dança dos milhões do petróleo, emprestavam dinheiro procedente do petróleo sem perguntar nada, e assim se esbanjou e se gastou muito dinheiro. Mas há outra coisa que acontece nesses países latino-americanos: como seu dinheiro, qualquer moeda, tenha o nome que tiver, peso, real, como seja, todas são instáveis, e nos últimos tempos mais que nunca, o dinheiro que chega lá, os donos desse dinheiro têm medo de que se desvalorize, e quem tenha o equivalente a 100.000 dólares, isso se converta em 50.000, ou em 20.000, ou em menos, portanto a tendência do dinheiro que aqueles emprestavam, era voltar para eles, fosse como pagamento de importações, ou como dinheiro fugido. Vejam só como funciona a economia, ou funcionava, porque isso não vai durar muito tempo.
O dinheiro do petróleo guardado em seus bancos, esse dinheiro emprestado para o sul, e do sul de novo para seus bancos. Em cada uma dessas voltas, o que vai ficando é a miséria e cada vez mais pobreza e mais desigualdade entre os países pobres e ricos. De tal maneira que este hemisfério, que não tinha dívidas, hoje deve por volta de 900 bilhões de dólares, e as catástrofes, como a que acabamos de ver na Argentina ou no Uruguai, ameaçam a não se sabe quantos em meio a essa crise econômica; porque uma parte importante das exportações tem de ser dedicada ao pagamento dessa dívida gigantesca, que já foi paga uma vez, e estão voltando a pagá-la, e como cresce cada dia mais, alguém poderia perguntar: Qual será o futuro desses países? Não há que ser um grande conhecedor da história, nem nada assim, e das realidades econômicas, para compreender que o que lhes espera é uma crise após a outra, até que as crises sejam universais e irremediáveis neste hemisfério.
O que nunca se viu é que num país como a Argentina, com duas cabeças de gado per capita, 60 milhões de toneladas de grãos, auto-suficiência em petróleo e outros combustíveis, um determinado nível de desenvolvimento industrial, a metade da população esteja passando fome. Isso é resultado do capitalismo tornado capitalismo neoliberal e, logicamente, a globalização neoliberal traz essas situações.
Teríamos que perguntar aos teóricos do Norte, de qualquer parte, aos catedráticos, como vão resolver esse problema, porque, quando encontram um alívio, estão se afundando ainda mais. E as crises, por essa via, vão se repetir cada vez mais. Vamos supor que consigam sair da atual, quanto vai durar? Já passaram coisas demais nesta última década, para pensar que pode haver um imediato período de crescimento, quando se pensa nisso, por cada crescimento, vai se aprofundando o abismo, o sistema no nível dos próprios países capitalistas e no nível mundial.
Nós estamos agora – este país – rodeados por essa crise, é impossível que não nos afete de alguma maneira; mas, se comparamos a situação atual de nosso país, vemos um quadro de novas escolas que se criam, que o número de alunos por salas de aulas se reduz, na capital, de 37 alunos, há apenas dois anos, a 20 ou menos, porque está abaixo de 20; um monte de programas novos para a formação de professores emergentes para o ensino fundamental, de trabalhadores sociais, escolas de todo tipo que oferecem ao jovem a oportunidade de realizar estudos universitários, oportunidades praticamente sem limites; e, ao mesmo tempo, o desemprego não aumenta, diminui, e já neste ano estaremos por volta de três e meio ou menos.
Cria-se uma fonte de emprego, de todo tipo, para os jovens; muitos jovens que não tinham perspectiva, cujos pais se preocupavam por seu destino, porque as famílias têm dois anseios, ou têm um grande anseio e uma grande preocupação: o anseio número um é que seus filhos tenham a possibilidade de estudar nas universidades; a preocupação número um é que seus filhos, sem estudar nem trabalhar, possam desviar-se pelos caminhos do crime e possam ser sancionados e presos.
Todos esses planos que são feitos com dezenas de milhares de jovens, significam emprego a jovens relativamente novos, conhecimentos, dignidade, auto-estima e possibilidade de ir aumentado suas perspectivas futuras, sua auto-estima futura, e o reconhecimento social. Já o vimos.
Uma escola construída em seis meses para 2.000 trabalhadores sociais, em Santiago de Cuba, que já formou seus primeiros estudantes e está preparando a segunda graduação; uma escola em Holguín de outros 2.000, e aqui uma escola de 2.000, neste caso de enfermagem, porque começamos a perceber um déficit de enfermeiras na Cidade de Havana; dezenas de programas sociais em funcionamento, em meio à batalha de idéias e surgido da batalha de idéias, porque a batalha de idéias fortaleceu a Revolução e lhe deu uma experiência extraordinária.
Observando o que acontecia em toda parte e trabalhando por toda parte, íamos descobrindo novas possibilidades, para satisfazer novas necessidades, aliás, velhas necessidades, algumas das quais não eram conhecidas.
Eu me estenderia, se lhes explico os programas sociais e o significado que têm.
Já vi muitos visitantes admirados, que tinham a cabeça cheia de calúnias e mentiras sobre Cuba, compreendendo que há aspectos em que já estamos ultrapassando os demais países, incluindo os países desenvolvidos. E vamos embora, não nos alcançarão.
Em educação não nos vão alcançar, nem na saúde, um serviço de saúde de excelência, não o que temos neste instante, quando o país apresenta as conseqüências do período especial e também de erros e de fatores subjetivos no enfoque de alguns problemas; mas vamos ter uma medicina de excelência,
A cultura está se revolucionando, há uma explosão cultural no país, e a idéia, que poderia parecer um sonho, de ser o país mais culto do mundo, no sentido mais amplo da palavra —como dissemos aos artistas na sala “García Lorca” há uns dias—; um país possuidor de uma cultura geral integral, que compreende não apenas os conhecimentos profissionais, mas os conhecimentos relativos às ciências, às letras e às humanidades. Será por ampla margem, dentro em breve – e em algumas coisas já o somos –, o país mais culto do mundo.
De capital humano, que é o essencial, temos mais, hoje, que qualquer outro país desenvolvido do mundo. Eles não reúnem 500, nem mil pessoas para enviar a América Central; eles não conseguem reunir mil médicos. A Europa e os Estados Unidos juntos não reúnem, independentemente do dinheiro que lhes paguem, os quase 3.000 médicos e os trabalhadores da saúde que Cuba tem em 21 países do mundo subdesenvolvido; nem podem ter uma escola como a de Ciências Médicas, com 6.000 alunos, a imensa maioria procedente de áreas pobres da América Latina, mais outros mil procedentes do Caribe e de outras áreas.
Portanto nosso país, hoje, em meio a essa crise, não teve de fechar uma escola, não teve de sacrificar nenhum dos passos, nenhum dos programas que está fazendo, quando vemos que a catástrofe nos rodeia por toda parte.
Falo-lhe com otimismo; mas é que vocês não podem imaginar as possibilidades que tem nosso país, se faz as coisas como deve fazer. Nunca vi tantas possibilidades, que vão acabar por destruir, fazer em pedaços as calúnias e as campanhas contra Cuba, que fortalecerão nosso país em todos os terrenos, e chegará o momento em que esse imenso capital humano se torne riqueza econômica. Não vou explicar agora por quê, mas sabemos bem.
Falei do panorama que vemos e do contraste com o nosso; e quando digo fazer as coisas que devemos fazer, aqui, neste ato, está estreitamente ligado com essas idéias, o que devemos fazer está muito claro.
Posso oferecer-lhes um dado, qual era o plano nessa situação de imensa crise. Em primeiro lugar, é preciso lembrar: Derrubam-se o campo socialista e a URSS, e nosso açúcar, que em determinado momento chegou a alcançar até 40 centavos de dólar —equivalente, logicamente em rublos, rublo e dólar—, 40 centavos de dólar, a maior parte do açúcar que exportávamos para a União Soviética, na URSS chegou a alcançar esse preço, em outros países socialistas menos, é lógico. Os soviéticos tinham um recurso com o qual pagávamos, fundamentalmente, o petróleo; os demais países socialistas, na medida de suas possibilidades, também outorgaram preços preferenciais, 15 centavos – era um preço excelente -, e uma parte que vendíamos no mercado mundial. Ao tornar-se a URSS um consumidor importante de açúcar importado, tudo isso também tinha sua influência nos preços e tinha sua influência nos mercados.
Em determinado momento, baixou um pouco, porque o petróleo começou a baixar de preço, embora nós defendêssemos com tenacidade os preços alcançados, argumentando o princípio de que o socialismo significa, em primeiro lugar, a procura do desenvolvimento dos países menos desenvolvidos dentro da comunidade socialista.
Esse princípio foi aplicado até pelos capitalistas na Europa, na Comunidade Européia. Havia entre seus membros países como Portugal, Espanha ou outros, com um produto per capita que podia ser a metade de outros países, e se uniram, criaram fundos para ajudar a esses países da Europa que tinham um desenvolvimento menor, para colocá-los no mesmo nível, com o objetivo de criar a Comunidade Européia, que é uma realidade, e que hoje emite a única moeda que pode concorrer com o dólar. Antes o dólar era tudo e único, agora existe o euro; vamos ver como continua o processo, sua consolidação, se o euro se torna um concorrente real, forte do dólar. Então o dinheiro que foge não iria apenas para o dólar, continuaria fugindo, logicamente, porque não têm maneira de evitar que fuja, não apenas por corrupção, mas porque o sistema os destrói e os obriga, e porque o Fundo Monetário Internacional os obriga a fazer isso, a pagar dívidas, a fechar escolas, a fechar hospitais, e a chantagem constante a que submetem os países, para dar-lhes um empréstimo. Essas são realidades que ninguém pode negar.
Um Prêmio Nobel prestigioso acaba de escrever um livro contando coisas incríveis, e foi um dos dirigentes do Banco Mundial, falando da ordem econômica estabelecida; não é um adversário, não é um marxista que escreve, é um economista americano Prêmio Nobel. Valeria a pena ir falando e comentando o que diz, é incrível, e não é que tenha uma teoria nova sobre o que se deve fazer, fala das barbaridades que fizeram e que levam ao abismo.
Caberia perguntar se é o mais lógico, e é quase a única coisa que se pode perguntar, se tal sistema pode libertar-se de tais métodos. Teria de deixar de existir, tem de aplicá-los e, por aplicá-los, também terá de deixar de existir. Essas são leis. As formas? Vão ser muito variadas; ainda estão por aparecer, há um arsenal de fórmulas. Na Argentina mudaram o governo duas vezes ou três; na Indonésia ocorreu, como vocês sabem, crise econômica, era o gendarme, um exército poderoso apoiado pelo Ocidente, e a fortuna do chefe desse governo era de 40 bilhões de dólares.
O povo aprenderá e adotará suas medidas, em alguns lugares, quanto aos fatores subjetivos. Vejam, por exemplo, a votação alcançada por Lula; e agora chegam notícias do Equador, onde também uma liderança considerada radical, de origem militar, a quem imputavam ser muito simpatizante de Chávez, ficou em primeiro lugar nas eleições primárias. Imagino que agora se reúnam todos para tentar bloqueá-lo, mas esses fenômenos não aconteciam antes.
Veremos o que acontece no próprio Uruguai, por uma via ou por outra, pela via da Argentina ou pela via brasileira, produz-se o acesso ao governo. Não pensem que isso significa uma revolução, significa o acesso a posições de poder das forças populares e progressistas, e vão encontrar umas economias tão maniatadas e dependentes de todas essas fórmulas inventadas, que não será nada fácil, que não se pode esperar revolução ou mudanças radicais imediatas; não, começará a luta dos povos, os povos cada vez terão mais consciência, mais conhecimentos.
Nessa luta pela mudança dessa ordem econômica, haverá também muitos cidadãos dos países desenvolvidos e muitos cidadãos norte-americanos, que se organizam através da Internet. Cidadãos norte-americanos, canadenses e de outros países desenvolvidos, com apoio de intelectuais e lutadores latino-americanos, organizaram grandes lutas em Seattle, em Quebec, e em outras cidades norte-americanas ou européias; quando há reuniões do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, é extraordinária a resistência crescente, que vinha crescendo já antes da crise, preocupada pelas catástrofes naturais, pela destruição do meio ambiente, pessoas que tomaram consciência da pobreza e da fome que há no mundo, no mundo que tem hoje 6,3 bilhões de habitantes e problemas muito sérios de todo tipo.
O que vai fazer esse mundo? Não podem começar a atirar bombas atômicas. Esse mundo pressiona por emigrar para os países desenvolvidos, quase, quase a invadi-los, com o risco de morrer. Só na fronteira mexicana, calcula-se que cerca de 500 morrem a cada ano, tentando emigrar. A pressão migratória crescerá, porque não teria outra alternativa senão a do desenvolvimento do Terceiro Mundo, e nada do que é feito contribui para isso, pelo contrário, são medidas para torná-lo cada vez mais pobre, medidas para esgotá-lo e explorá-lo cada vez mais.
Há milhões de consciências, nos próprios países desenvolvidos, que foram se formando ao redor da magnitude e da gravidade dos problemas e dos perigos que ameaçam o mundo.
Dei essa explicação para que possam ver com mais clareza ainda o que esta ordem está produzindo, e como nosso país, com seu sistema político, esse povo unido que votou hoje, segue sereno em direção ao futuro. Pode-se observar, por exemplo, um fenômeno; muitas vezes, havia em nossas listas eleitorais um registro inferior ao real, quem estava fora não aparecia na lista; bem, o número de pessoas que se registraram acima da eleição anterior, há dois anos, elevou-se a 300.000 eleitores, um crescimento espetacular!
Sáez me disse que foram às urnas mais de 98% dos cidadãos registrados, e sabemos que choveu. Na própria Cidade de Havana, ontem caiu uma das maiores chuvas que já vi; contrariamente às províncias, em Havana, ao meio-dia, podia estar em 80%, muitas pessoas votam à tarde; ontem, é claro, foi mais afetado. Segundo os dados que tenho, creio que, apesar disso, chegou, no fechamento, a 95,6%. O número de pessoas registradas que não votaram foi de 4,4%; mas foram excelentes também a assistência e o entusiasmo.
Disseram-me que em Artemisa votaram noventa e nove e fração dos registrados. Isso é incrível (Aplausos). É a unidade de nosso povo, sua educação geral e sua cultura política, seu sistema social justo, ou que tenta ser justo, tenta e tentará sempre ser cada vez mais justo.
Sabemos muito bem das desigualdades trazidas pelo período especial, entre outras coisas; mas nada disso impede que apliquemos os programas sociais, que podem ser resumidos em uma frase, assim: o filho de qualquer família cubana recebe uma educação melhor que os filhos dos milionários e multimilionários americanos.
Nossa educação, e está em período de reforma e aperfeiçoamento, porque ainda tem muitas lacunas, com lacunas e tudo – e são muitas, estamos conscientes, e sabemos também como vamos resolver esses problemas –, no ensino fundamental se estão criando todas as condições para alcançar uma ótima qualidade. Apenas 2,6% dos alunos do ensino fundamental estão em salas de aulas com mais de 20 alunos. Deve-se resolver, para o próximo ano letivo, essa percentagem deve estar em zero; e a Cidade de Havana, que era a que tinha mais alunos por sala de aulas, quase 40 alunos, e centenas delas, entre 40 e 50 alunos, agora tem professores e salas de aula com não mais de 20 alunos. É um avanço colossal!, com o qual sonharam os países industrializados, e nenhum deles conseguiu nem vai conseguir, porque não encontrarão, dentro do sistema, o capital humano. Não poderão criar os incentivos com que nós incentivamos a milhares de jovens para se tornarem professores emergentes. Agora estamos trabalhando no ensino secundário e assim por diante.
Poder dizer isso é algo que apenas um país no mundo conseguiu, e é um país do Terceiro Mundo, um país bloqueado durante mais de 40 anos, agredido, ameaçado, submetido, até data muito recente, a sabotagens, a terrorismo, podemos dizer que é o único que conseguiu.
Eu mencionei, por exemplo, o caso dos médicos. Reitero, mais uma vez, que nossa situação é diversa.
Eu lhes explicava que as medidas com relação ao açúcar tinham de remontar à história para atingir o que esta atingiu, mais extraordinário auge da riqueza, proveniente da indústria açucareira. Ao vir o colapso, vejam vocês alguns dados: ainda no ano de 1992, o preço do açúcar no mercado mundial era de 9,04 centavos, e a produção daquele ano foi de sete milhões de toneladas. Tinha caído a URSS, tinha desaparecido; já antes tinha reduzido os preços a 500 rublos e depois reduziu a zero o preço preferencial. Quando compraram algumas quantidades, foi a 9 centavos. Tivemos de buscar mercados e buscar tudo. Naturalmente, já tinham vindo as rebaixas, um monte de produtos já não chegavam, no ano de 1992; mas a esse preço a produção açucareira ainda era rentável, com um lucro infinitamente inferior; mas ainda rentável.
Qual era o preço do petróleo em 1992? Era de 15,99. Se o petróleo está a 15,99, e o açúcar ao redor de 9 ou 10, ainda é rentável.
A produção, de um ano a outro, caiu bruscamente a quatro milhões. Começa o esforço para voltar a elevá-la, mas era muito difícil. Sem combustível, sem fertilizante, com grande falta de insumos, era muito difícil elevar essa cifra. Ao contrário, baixou ainda mais, em certo momento chegou a três milhões; apesar disso, não se deixou de fazer o esforço.
No ano de 1993 já caiu de sete para 4 milhões. O preço do petróleo era de 14,25; preço mundial do açúcar, 10,24. Tinha subido um pouco mais de um ponto.
Agora vem o ano de 1994. Preço do petróleo, 13,19; preço médio do açúcar, 12,04.
Em 1995 o preço do petróleo foi de 14,62, tinha subido um pouquinho, e o do açúcar, 12,04.
Em 1996 o preço do petróleo sobe a 22 dólares o barril; o preço do açúcar baixa a 14,41.
Em 1997, o preço do petróleo baixou um pouco, 20,61; o preço do açúcar, 11,36.
No ano de 1998, o preço do petróleo baixa outra vez, a 14,19; o preço do açúcar baixa a 8,77. Ou seja, que, a partir desse ano, o açúcar esteve todo o tempo abaixo do preço do petróleo, que nesse ano sobe a 19,32.
Em 1999, tinha baixado a 6,14, quando o petróleo ainda estava a 19. Em 2000, preço do petróleo, 30,35; preço do açúcar, 8,14.
A partir desse momento, com exceção de 2002, quando baixou a 19,32, o do petróleo se manteve entre 20 e 30 dólares. Por exemplo, em 2001: preço do açúcar, 8,36, o do petróleo, 25,85.
Em 2002, na última safra, o preço médio do açúcar foi de 7,43. Isso já criava uma situação insustentável: preço petróleo para cima, preço do açúcar para baixo.
Há uma circunstância que se deve levar em conta: em 1959-1960, após o triunfo da Revolução, com uma tonelada de açúcar, aos preços do mercado mundial, podiam-se comprar oito toneladas de petróleo.
Hoje, aos preços atuais, que estiveram ao redor dos 30, são necessárias duas toneladas de açúcar para comprar uma de petróleo.
Mas então, além disso, o açúcar quase não consumia petróleo. O desenvolvimento da Revolução obrigou a mecanizar a cana; aqueles que viviam do corte de cana desapareceram totalmente, foi necessário mobilizar massas de milhares de cortadores procedentes das cidades, antes que aparecessem as máquinas para mecanizar as colheitas.
E antes da Revolução quase tudo era a mão. Salvo algumas fazendas que tinham algum trator ou algum caminhão, toda a cana era cortada a mão, cem por cento; o homem não gastava petróleo para cortar. A colheita da cana, limpinha, a mão; não era necessário transportá-la a qualquer das centenas de centros de armazenamento que há no país e que limpam a cana cortada pelas máquinas, tirando a palha, consumidores de eletricidade. Ou seja, corte, colheita, transporte e tratamento da cana, e grande parte do cultivo era a mão e com bois; usava-se muito enxadão no mês de julho e agosto, e havia gente de sobra para fazer tudo isso. Choravam pelo que chamavam um trato para limpar x hectares de cana, suplicavam por trabalho, no tempo morto, de limpar cana a mão.
Depois vieram os equipamentos. As máquinas e os caminhões compactavam o solo, vinha a subsolagem; os produtos químicos para tirar o mato, caros, custosos; fertilizantes para que as terras mantivessem a capacidade de produção.
Hoje, produzir uma tonelada de açúcar com esses preços do petróleo eleva, pelo menos, em 40% o custo em divisas convertíveis da tonelada de açúcar. E assim, qual era o plano? No plano inicial, projetava-se chegar a quatro milhões em 2002, este ano; mas antes veio um poderoso ciclone, que arrasou a cana, cortou-a. Em províncias importantes como Havana, Matanzas, Villa Clara, Cienfuegos, Sancti Spíritus, em maior ou menor escala, revolveu, destroçou a cana, com ventos de mais de 200 quilômetros.
A todos esses problemas que mencionei, de tipo histórico e econômico, acrescenta-se que vivemos numa ilha, onde pode haver secas fortes, às vezes inundações enormes – as mudanças de clima em nosso país nas últimas décadas são visíveis –, ou ciclones.
Uma coisa verdadeiramente incrível foi ver passar, neste ano, dois ciclones, pela mesma rota, com 10 dias de diferença, arrasar os cítricos da Ilha da Juventude, arrasar os cítricos de Pinar del Río; pelo solo, destroçou tudo, só deu para carregar até com pás o que sobrou, em uns caminhões, e levá-los para a indústria; mas isso foi para obter 10% do valor.
Quando passou o primeiro ciclone, vendiam-se as toranjas ao preço de 1.000 dólares a tonelada. Só com os cítricos que derrubou, arrancou do país entre 15 e 20 milhões de dólares, porque essa toranja aparece cedo, numa época em que ninguém pode oferecê-la ao mercado.
Em 10 dias, passaram dois. Vocês viram as mobilizações que se fizeram para Pinar del Río, porque agora temos de salvar a colheita do tabaco. Isso pressionou as reservas do país, de produtos e de tudo, muito; mas em Pinar del Río lhes dissemos: "Não baixem de tal número, uma quantidade de materiais, e repô-la; que nunca estejam abaixo, porque pode vir outro ciclone". Dissemos isso em Pinar del Río, no primeiro ciclone, e em dez dias estávamos novamente em Pinar del Río. Tinha passado o segundo ciclone, e ao passar o segundo ciclone, outra vez: "Que não baixem essas reservas mínimas", ainda que seja para os primeiros auxílios, levar um pouco de teto ou de alimentos. Há reservas de alimentos para essas situações. E nos ameaçava um quarto ciclone.
A
atitude que adotamos frente a situações difíceis é sempre a mesma, damos como
acontecida e começamos a pensar o que é preciso fazer. Achávamos que teríamos
um quarto ciclone em menos de um ano, e quando está a ponto de terminar, porque
daqui a alguns dias terminará o programa de reconstrução de todas as vivendas,
reparação, reconstrução ou construção de 160.000 vivendas que nos presenteou o
furacão Michelle, tínhamos de começar a reparar as vivendas afetadas por esse
ciclone; quer dizer, nossas condições climáticas são sempre um elemento de
risco dentro de nossos planos de produção de cana e de açúcar, e quando passa o
ciclone, temos de cortar a mão uma grande quantidade dessas canas. Estou
falando de coisas objetivas.
Depois, quando o preço do petróleo sobe, vai criando situações. Qual era, por exemplo, o plano de produção? Quatro milhões de toneladas de açúcar. Programa de insumo: 412 milhões. Receitas pelos 2,9, depois de tirar o açúcar de consumo: 433 milhões. De maneira que, nessa circunstância, o trabalho de 450.000 trabalhadores diretos, dois milhões de hectares e todo o capital investido na indústria e maquinaria, colheitadeiras e caminhões, produziam para o país cerca de 30 milhões de dólares. Com o nível de cultura e conhecimento que tem nosso país, é uma situação que se vê dramática.
Falando em preços do açúcar, devo dizer-lhes como foram evoluindo neste mesmo ano: em janeiro, 7,43; o preço médio do petróleo até agora foi de 26,95, mas continua aumentando, e as ameaças de guerra do Oriente Médio – agora vão fazer uma guerra no Iraque –, podem elevar consideravelmente esses preços. Ninguém sabe nada, ninguém está em condições de dizer o que aconteceria com uma guerra no Iraque, se chega a 40 dólares. Elaboraram-se planos de contingência relacionados a uma violenta subida de preços, acima de 30, em que o essencial seria garantir serviços essenciais, alimentação, eletricidade, algumas coisas, e dizer: vamos nos entrincheirar aqui, esperando que passem dois, três ou quatro meses; porque se converte em uma situação extremamente difícil, já não para o açúcar, senão para todos os demais serviços da economia.
Sem esquecer que o atentado terrorista de Nova Iorque deu um forte golpe no turismo, que já vinha sofrendo algumas reduções nos crescimentos, porque o preço do petróleo tinha elevado os preços das viagens, e a maior parte dos turistas que vem a Cuba viaja 8.000, 9.000 quilômetros, a imensa maioria vem da Europa ou Canadá; o aumento dos preços do petróleo eleva os preços das passagens, afeta. Mas, junto a isso, já se estava produzindo uma crise econômica, era evidente desde o ano 2001, crise internacional, isso também afeta as viagens turísticas.
De modo que o turismo, durante todos esses anos difíceis, foi crescendo quase 20% ao ano, e subitamente se reduziu em 15%, um golpe forte afetou também outras exportações, as próprias exportações do tabaco.
Estava lhes dizendo como ia o açúcar neste ano: janeiro, 7,43; fevereiro, 6,25; março, 6,06; abril, 5,75; bom, em abril tornou-se imprescindível tomar com urgência uma decisão, o programa elaborado para a semeadura deste ano, de 20.000 caballerías (268.000 hectares), era absolutamente impossível aplicar, teria sido uma ruína, viu-se claramente.
Analisando a presença de açúcar no mercado, aqueles acordos de proteção dos preços da indústria tinham desaparecido com o neoliberalismo e a globalização neoliberal; aconteceu a mesma coisa com os do café, e os países centro-americanos, por exemplo, que dependem muito do café, estão sob uma catástrofe. Ou seja, que os produtos básicos de exportação dos países estão submetidos a problemas sérios.
Foi em abril que se tomou uma decisão com urgência, não se podia perder uma semana mais, não se viam perspectivas, e sim as estimativas de preço para o próximo ano muito abaixo. Imaginem que tivéssemos semeado as 20.000 caballerias... Já havia 8.000 preparadas e em parte semeadas, certo, mas não se podia semear nenhum hectare a mais naquele momento. Aí começamos a poupar, porque do gasto estimado, que ascenderia a 412 milhões – vamos dizer, teríamos que fazê-lo em 2002 –, iniciam-se medidas drásticas de redução do combustível.
Não
se esqueçam, também, de que em abril realizam uma tentativa de golpe de Estado
fascista na Venezuela, que interrompeu os fornecimentos de combustível, que
estiveram interrompidos durante meses. Isso também afetou, tivemos de gastar
mais dinheiro ainda na aquisição de petróleo; a gente tem de investir os
recursos disponíveis em situações como essas, para problemas que são vitais. É
então que se toma a decisão da reestruturação da indústria açucareira.
O que significa, no plano econômico – isso é muito importante –, o que estamos fazendo? Já, ante a perspectiva de um produto a para o qual não vemos muitas possibilidades, em que também os especuladores são donos do mercado, ninguém pode ter certeza de nenhum preço.
Ao
excesso de produção, devemos acrescentar: a Índia tem 10 milhões de toneladas
de reserva, elevaram suas produções em mais de 10, em mais de 15, teria de
precisar alguns dados; alguns me disseram que no Brasil a produção alcança 20
milhões de toneladas. A cana que semearam em um momento determinado, para
produzir álcool, porque o petróleo estava muito caro – na época em que chegou
até a 35 dólares o barril, como lhes dizia, semearam grandes quantidades de
cana para produzir álcool no lugar da gasolina, porque a gasolina valia 500
dólares –, depois, quando começaram a baixar os preços do petróleo num período,
converteram essa cana em açúcar.
México também incrementou as produções de cana; os Estados Unidos devia adquirir uma parte e não a adquiriu. Quer dizer, muitos países incrementaram, agora a situação que eles enfrentam é bem dura.
Mas a questão não é só esta, quase se poderia dizer, o principal inimigo dos preços. A indústria alimentar desenvolveu, a partir do milho, a frutose, produto natural que tem mais poder edulcorante que o açúcar. Recordo os tempos em que se falava de uns comprimidos que se davam às pessoas que não consumiam açúcar, que sim tinham efeitos na saúde; já neste caso não se pode dizer, porque provém de um produto natural, o milho. Por outro lado, aproveitam sua proteína e outros produtos. Tem muito mais poder edulcorante e custa a metade que produzir uma tonelada de açúcar de beterraba ou de outra origem.
Se assim vimos como foi baixando, que foi uma tendência a baixar e baixar, agora, com uma crise internacional, os países pobres também se vêem constrangidos a comprar menos açúcar, não se vêem perspectivas futuras, não há nenhuma base lógica para pensar que o preço possa elevar-se e ficar pelo menos em 12.
Não havia outra coisa lógica a fazer: reestruturar a indústria. O que significa? Simplesmente escolher as melhores usinas com as melhores terras, que produzem ou podem produzir o açúcar a um custo inferior, inclusive, a quatro centavos. Das 155 usinas, foram escolhidas as 71 que podem alcançar essa meta, segundo todos os cálculos, os esforços que se estão fazendo, o trabalho que Ulises mencionou aqui, de composição de cepa, etc., para diminuir esses custos a menos de quatro; se chega a quatro e meio, pelo menos não se perde dinheiro de outras receitas obtidas pelo país. O país exporta tabaco, o país exporta níquel, o país recebe receitas pelo turismo, o país recebe receitas pelos serviços, há uma fonte de receitas do país com a qual pôde ir se sustentando; mas quando se chega a um ponto como este, é impossível planejar a semeadura de 20.000 caballerías, impossível produzir o açúcar como estávamos produzindo até agora.
Bem. Mas reestruturar não significa uma coisa traumática, deixar 71 usinas das 155, não; 71 usinas bem selecionadas. Aqui está o "Lincoln", por exemplo, 71 usinas açucareiras, e 14 usinas de mel, para produzir mel enriquecido, são 85; 70 se descartam como produtores de açúcar. É grande o trauma? Não, porque, nos últimos cinco anos, estiveram paradas cerca de 45 usinas, quase todas essas, salvo duas ou três, ficaram paradas durante cinco anos; nos últimos cinco anos, uma média de 45, e na última safra foram 50, nesta em que pensávamos chegar a uma produção de quatro milhões. Realmente, as que se paralisam definitivamente são 20 usinas mais que as que estavam paradas na última safra. Pareceria um trauma terrível; mas não, há uma ilusão nisso, visto que, como tínhamos uma média de 45 usinas e, na última, 50, de fato se paralisam 20 usinas mais que as que já havia.
Segundo os fundamentos pelos quais se faz a reestruturação, isto significa a economia de 200 milhões de dólares, com a reestruturação e o plano de produção, e uma receita ao redor de 100 milhões de dólares.
Há alguns países do Terceiro Mundo que subsidiam o açúcar; o Brasil, por exemplo, subsidia, com muitos milhões de dólares, a produção açucareira, porque, se são fechadas x usinas, produz-se um problema social muito sério, pelas centenas de milhares de pessoas que ficam sem emprego. É impossível, e essa é uma das causas das maiores dores de cabeça dos produtores de açúcar de cana.
No México, pelo que entendi, as usinas que foram privatizadas quando surgiram as ilusões, agora o Estado está se encarregando delas. O papel do Estado, no capitalismo é, cada vez que uma indústria se arruína, suportar todos os custos e as despesas. Em qualquer desses países, fechar uma usina é uma tragédia.
Em nosso país não foi uma tragédia ter 50 usinas sem funcionar no ano de 2002. Nenhum trabalhador ficou sem a proteção, ou sem suas receitas, não lhe faltou nada. Nosso Estado socialista podia parar 45 usinas, sem que ninguém soubesse; ao contrário, nas usinas melhoraram muitas coisas, construíram vivendas, melhoraram a alimentação dos trabalhadores, começaram a fazer até atividades de tipo cultural, foram se organizando, criando uma estrutura de produção de cana em condições que favorecem essa tarefa.
Agora, a questão que se coloca é uma decisão que paralisa definitivamente as usinas que provocam grandes perdas, e, longe de criar problemas, sabemos a grande compreensão que tiveram os trabalhadores açucareiros, industriais e agrícolas, com os quais foram feitas reuniões, depois organizar bem a atividade e assim que foi possível. Lembrem-se de que foi em abril que se tomou a decisão.
Expliquei publicamente a necessidade de fazê-lo, mas todos sabiam que se faria uma reestruturação. Então, sim, havia preocupações, perguntas, e esses problemas já estão praticamente resolvidos.
Nenhum trabalhador será afetado em nada, pelo contrário, eles se beneficiam consideravelmente.
No momento, o país economiza 300 milhões de dólares, é como uma contribuição à economia de 300 milhões de dólares. Deixa-se de gastar 200 e entram cerca de 100; se ocorresse uma alta de preços conjuntural, entraria um pouco mais.
Essas usinas que permanecem têm capacidade para produzir até quatro milhões de toneladas; inclusive as que produzem mel, caso se considere conveniente, por uma alta de preços, podem produzi-lo. Sabemos o que produz cada hectare, quando se irriga, quando se empregam fertilizantes e se têm suficientes computadores, ou todos temos capacidade suficiente de fazer contas, para saber que nos colocamos numa situação em que não pode haver nenhum prejuízo, ao contrário, pode-se aproveitar qualquer vantagem.
Dizia-lhes que isto era histórico. Bem, antes queria dizer uma coisa. A reestruturação não significa o desaparecimento do ministério, nem das centenas de milhares de excelentes trabalhadores, tão bem organizados e com tanta consciência adquirida ao longo da história, e, sobretudo, a partir das lutas pré-revolucionárias e das lutas revolucionárias de nosso país. É muito justo que procuremos que essa força produza muito mais para o país, para a economia.
A indústria açucareira não desaparece, muito pelo contrário, desenvolverá outros itens. Posso citar-lhes, por exemplo, algumas das produções importantes: açúcar, nele, as 600.000 ou 700.000 de nosso consumo, nas quais podemos economizar algo mais de 40 milhões. Reparem, estão os ganhos que se obterão pela via de produzi-la a menos de quatro centavos e continuar lutando por diminuir ainda mais, no que nós consumimos, que não se exporta, economizamos mais de 40 milhões de dólares. Nosso açúcar, o que compramos, custará ao país menos 40 milhões de dólares em custos. Vejam as vantagens.
Produzirá energia. A indústria melhorou consideravelmente a produção de energia através do bagaço de que dispõem. Mel final, além das 14 usinas de mel, os 71 estarão produzindo sua correspondente percentagem de mel. Mel enriquecido, que é outro, não é o mel final, mas o mel enriquecido, que vão produzir essas 14 usinas de mel. Açúcar líquido, muito usado na indústria alimentícia; fermentos, que é uma forma de proteína de diversos usos; açúcar orgânico, que o mundo, aterrorizado com os pesticidas e com tudo isso, demanda cada vez mais produtos orgânicos, que não recebem pesticidas nem fertilizantes, nem herbicidas, e são fertilizados com adubo orgânico; cera de cana para a produção de alcoóis de alto peso molecular, em duas palavras, para a produção de PPG, um produto cada vez mais admirado dentro e fora do país; sorbitol, outro produto que tem diversos usos na indústria; furfural, ácidos graxos, geléias e outros produtos tradicionais ou novos. Continuamente se pesquisam novos produtos. Há, por exemplo, um álcool que chamam refinado, é um álcool de altíssimo grau e tem um preço elevado; mas um mercado até agora limitado. À medida que cresçam os mercados de alguns desses produtos, poder-se-á decidir que a usina de mel tal se dedique a produzir alcoóis desse tipo, ou a usina tal fará, o que economicamente, e após fazer bem as contas, produza mais para o país.
Outra coisa: o Ministério da Indústria Açucareira, nas áreas excedentes, produzirá vegetais, tubérculos, leite, carne, frutas e outros alimentos; adicionalmente, cultivos para madeira e polpa, que talvez seja um dos mais promissores, pelos preços altíssimos que têm a madeira e a polpa, pela crescente escassez de florestas no mundo.
Por aí estão estudando os projetos, projetos que em alguns casos podem mudar, pode surgir um produto que tenha uma maior rentabilidade.
Eles produzem também adubo orgânico; a possibilidade de hortas orgânicas é considerável, porque algum dia seus produtos poderão ser exportados e podem ser culturas altamente rentáveis.
O fato é que se poderá dispor de um milhão de hectares, algo mais de um milhão de hectares, muito dos quais não estão cultivados, reservados para a cana.
As forças que se liberam não são muito numerosas no total. Essas 20 usinas que são fechadas, às quais se acrescentam as 50 que estavam paradas, implicam um excedente de força de trabalho que oscila entre 58.000 e 60.000 trabalhadores. Grande parte deles manteve seus empregos, sem a usina funcionar, ajudam em uma ou outra tarefa. De maneira que a capacidade potencial de emprego, mediante o estudo, não ultrapassa os 60.000, é a realidade.
Felizmente, junto com a necessidade de reestruturar, de procurar solução para esses trabalhadores, surgiu um plano de superação para todos os trabalhadores da indústria açucareira que desejem utilizá-lo, e, até esse momento, quantos são os que optam pelo programa de estudo como emprego? Acho que são 33.200, mais ou menos, quantos são, Ulises? Trinta e três mil e cento e setenta estão inscritos. E sabem quantos no total se inscreveram no curso que começa neste histórico dia? Oitenta e quatro mil e duzentos e setenta e um, não é essa a cifra? Vejamos, há cinqüenta e um mil e tantos que são trabalhadores e continuam trabalhando, vão aos cursos de superação, e continuam trabalhando. Assim, que este programa concebido para aquela força excedente, vem agora e se estende a todos aqueles que continuam trabalhando, caso contrário, teriam uma desvantagem, e há cinqüenta e um mil desses, inscritos nos cursos de superação. De maneira que não se trata de cursos só para aqueles que fiquem excedentes, mas para um número maior; ninguém sabe até onde chegará o total, com certeza poderá chegar a 100.000.
Recordo as escolas para educação integral de jovens, no final do ano eram 86.000; neste momento estão matriculados 116.000 jovens entre 17 e 30 anos, com todas as possibilidades de estudo. Há mais de 30.000 que terminaram o ensino médio e já poderão começar cursos superiores. Os que desejem podem achar emprego ou podem continuar estudando. Qualquer desses trabalhadores dos cursos de superação pode estudar o que queira, praticamente o que queira. Resgata-se uma força de trabalho e se prepara, e em qualquer momento que em sejam necessários, novas indústrias que se instalem ali ou em outro lugar, poderemos ter pessoas que trabalhem em mecânica e também se formaram como técnicos médios, ou são técnicos médios e se formaram engenheiros, ou são engenheiros e se aperfeiçoaram e se converteram em mestres ou em doutores em engenharia. Vejam isso.
Agora, bem, vocês sabem que os níveis médios de conhecimento em nosso país já ultrapassam a nona série; e isso não diz tudo, vai dizer mais num futuro próximo, porque os alunos que têm a nona série, eu lhes asseguro que, com as técnicas que se estão utilizando, os programas que se estão aplicando, terão três vezes mais conhecimento que o que tem hoje alguém que terminou a nona série.
Mas há também áreas camponesas, em que alguns ainda não chegaram à sexta série, há muitos que se alfabetizaram; não tenho todos os dados por idades, a média de idade está por volta de 30, há dezenas de milhares de jovens matriculados que podem estudar o que desejem, e têm assegurado o que nenhum outro país do mundo pode fazer, não só porque o sistema não permite, senão porque precisam de uma reserva de força de trabalho; nós temos reserva estudando, preparando-se.
Nós podemos ter 19 alunos por professor primário, mas podemos ter 20, ou 19, ou 18, ou 17, ou 15. É melhor a qualidade, como faremos no ensino secundário.
Hoje um professor dá aulas a uma turma de 40, e no total tem 200 ou 300 alunos, não sabem nem o nome desses jovens, nem têm relação com a família.
O programa que estamos fazendo no ensino secundário tende a um professor que dá as diversas matérias, um professor por cada 15 alunos. No mundo, ninguém tem isso.
Tudo isso que lhes estou dizendo da educação explica por que temos segurança absoluta e total de que estaremos à frente de todos os demais, porque sabemos o que acontece em todos os demais lugares, e a impossibilidade de que apliquem as medidas que nós estamos aplicando.
De modo que há uma quantidade deles, uns 7.000, que nessas escolas estudarão a sexta série, e depois a sétima e a oitava; todos os demais ano estão acima da sexta série, e muitos do ensino secundário.
Vinte e dois mil e duzentos e trinta e nove receberão o ensino médio. Imagino que cada um escolherá, se um homem tem 35 anos e está graduado no ensino médio, vão refrescar seus conhecimentos, e ele poderá estudar uma carreira. Aos 40 anos de idade, ainda poderá trabalhar por 20 anos; se tiver 20, melhor; se tiver 35, poderá trabalhar até os 65.
Há muitas pessoas com 70 anos que não se aposentam, muitos trabalhadores profissionais e trabalhadores intelectuais que não se aposentam ao completar os 60 anos, e há algumas carreiras em que com 80 anos continuam trabalhando, sobretudo na área intelectual.
Bem: 10.639 em cursos de nivelação para o ensino superior; 5.495 profissionais universitários, porque eles, nesta reestruturação feita por uma comissão governamental, com o ministério e as organizações, trabalharam na elaboração desses programas que são experimentais. Pode ser que mude uma destas cifras, não sejam apenas os que façam o curso médio, mas também outros que atualizem ou refresquem seus conhecimentos; de maneira que podem chegar a ser 20.000, 30.000, 40.000, os que optem por estudos universitários, e os que já são formados na universidade optem por outros títulos.
A indústria açucareira, sozinha, oferece 4.433 professores, já não estou falando daquela lista, que neste momento chega a – como disse – aos 84.271.
Vejam uma forma de emprego, eles na reestruturação, revisando bem, não só os que trabalham na indústria, mas também nas estruturas ou nas empresas de apoio, podem dispor de milhares de profissionais universitários e, no momento, não só cinco mil e tanto vão realizar estudos, sendo já formados universitários, senão que contribuirão com 4.433 professores. Já vêem vocês uma forma de emprego, esses trabalhadores se convertem em professores.
Aqui tivemos a sorte de ver alguém que foi professora e depois, durante muitos anos, responsável por quadros, o orgulho com que colocou converter-se em professora dos trabalhadores açucareiros. É impressionante o que ela disse, o entusiasmo com que ela disse aqui. Este programa já está criando, por essa via, 4.433 professores, que se acrescentam às centenas de milhares, mais de 200.000 professores, do Ministério de Educação. Vejam as vantagens.
O Ministério da Educação dará 1.617. Não temos de construir nenhum edifício, essas aulas começam às 17 horas, já não há alunos, e em todas essas usinas, como em todo o país, estão as escolas de ensino médio, com laboratórios de computação e meios audiovisuais. Uma das primeiras coisas que já podem estudar, com um nível determinado, é a computação, sem que se gaste nem um centavo; eventualmente, em determinado caso, ampliar o número de máquinas; sem construir nada; os meios audiovisuais, sem gastar um centavo; alguns professores, que não representam nenhum acréscimo de gasto no orçamento de educação.
Eu penso que eles desejam continuar sendo trabalhadores açucareiros, e, se assim o desejam, há que respeitar o direito desses professores.
Tudo se enriquece, as perspectivas futuras se enriquecem, e há apenas 84.000, veremos.
Cerca de 100 usinas açucareiras têm escolas técnicas, construídas pela Revolução há alguns anos, têm de tudo. Caso seja necessário preparar mais locais, alguns desses locais que se liberem podem ser preparados.
Agora temos de prestar atenção a tudo o que acontece, dia a dia, a quanto ascende, quantos se entusiasmam a estudar, e não como emprego, mas para superar seus conhecimentos. Eu posso assegurar-lhes que no país há uma febre de estudo.
Idiomas certamente estarão compreendidos nos programas, computação, conhecimentos gerais, meios audiovisuais, programas que se transmitem diretamente por televisão.
Posso assegurar-lhes que, dentro de alguns meses, sete meses talvez, oito meses, todas as capitais de província e grande parte das áreas rurais já terão o canal televisivo, o novo canal, que hoje abrange a Cidade de Havana, província de Havana e Santiago de Cuba. A população será informada sobre o dia em que começarão a funcionar. Estão realizando os últimos testes numa província, mas não desejo roubar a notícia à televisão educativa, que sejam eles os que informem o dia que começará.
Assim, que nosso país terá, já ao final deste ano, para dar mais apoio a todos esses programas, o Canal Educativo; mas tem, também, 12 horas nos outros canais, 2 horas sábado, 2 horas no domingo. Cresce o poderio educativo.
Há outras coisas que não menciono: este país está fazendo um centro educacional de excelência de nível superior; mas não devemos adiantar-nos aos acontecimentos. Já está feito e funcionando, e chegará a ter, pensamos, 10.000 alunos. Os primeiros 2.000 já estão estudando, escolhidos entre os melhores que graduados no ensino médio do país. Não é pouca coisa, esse capital, quando comece a andar, posso garantir. Vê-se por toda parte; enquanto, em outros lugares, fecham-se universidades, e os orçamentos diminuem, aqui os serviços ao povo, em questões vitais, incrementam-se, duplicam ou triplicam, especialmente em qualidade.
Todos vocês foram testemunhas das 779 escolas da capital que se reconstruíram, entre elas, 33 novas, 779 escolas, e foi feito em menos de dois anos. Começaram a construir-se em novembro ou dezembro de 2000. Quando os visitantes vêm, não podem acreditar.
Também temos planos pilotos sendo aplicados no ensino secundário, e milhares de alunos; no próximo ano, teremos perto de 7.000 professores emergentes para o ensino secundário, sob os novos princípios. Não temos de pensar em quantidades, temos de pensar em qualidades.
Vejam se este momento tem importância ou não. Isto é algo mais que o objetivo inicial, que era o emprego como estudantes, para os que ficassem excedentes na indústria açucareira.
Não apenas foram reorganizadas as usinas, mas também, em todas as empresas de apoio que tem o ministério, tem-se realizado um excelente trabalho, e quanto melhor seja, mais enviaremos a estudar; mas com uma vantagem: que já não terão de viajar à Colina Universitária, a Havana, ou a Santa Clara, ou a qualquer outro lugar, para estudar um curso universitário. Desde a própria usina açucareira, estudarão essas carreiras, caminhando de suas casas, e até de algumas das cooperativas agropecuárias ou UBPC, poderão ir lá em seu cavalinho.
O fato real que hoje podemos proclamar aqui, é que cada usina açucareira se converte em uma sede universitária (aplausos). É preciso ver quantos há que não terminaram o ensino superior. Converte-se em sede universitária, repito, isso, sim, que é uma coisa estranha no mundo, verdade? Qualquer povo que tenha uma escola secundária, ou uma escola técnica.
Quando seja necessário fazer uma escola, fazemos, e podemos fazê-la se poupamos, se não jogamos fora o dinheiro, se não atiramos carretas de divisas ao mar, e estamos poupando, e não pensem que é apenas nisso, estão sendo tomadas umas tantas providências que poupam divisa, e não só isso: incrementa-se a produção de petróleo e de gás do país, e já neste ano, no final deste ano, estaremos produzindo o equivalente a 4.100.000 toneladas.
Outra coisa, já no próximo ano, praticamente toda a eletricidade será produzida com nosso combustível. O que significa isso? "Guiteras", quando comece a funcionar, em virtude de determinados investimentos, economizará, aos preços atuais do óleo combustível, 50 milhões de dólares de combustível, e Cienfuegos, que é a única central elétrica que falta, com um investimento inicial – será preciso fazer outro durante os próximos anos –, já estará economizando 30 milhões de dólares.
Somem 50 mais 30: 80, e simultaneamente fazemos investimentos em perfurações petroleiras, com prioridade absoluta; investimentos também em empresas mistas em terra. O petróleo que se compartilha com as companhias internacionais custa um pouco mais caro, mas o nosso pode ser produzido em 40 dólares a tonelada, enquanto o óleo combustível pode ser adquirido a 160 dólares neste momento. Nas mistas, somos sócios, o custo dedo petróleo é um pouco maior, porque nesse caso temos de acrescentar a parte que corresponde à empresa estrangeira associada, a qual se reduz em determinada medida, quando o investimento é amortizado. O custo será ao redor de 60 dólares a tonelada. Posso acrescentar que já está em vigor o programa de investimento em petróleo, para alcançar, no próximo ano, 4,8 milhões de toneladas de petróleo e gás. Um incremento de 700.000 toneladas de petróleo equivalente, que servem não só para substituir o óleo combustível nas usinas termoelétricas, mas também para outras importantes produções.
Para continuar incrementando o aproveitamento do gás associado, conclui-se neste ano a segunda etapa do ciclo combinado em Matanzas, a segunda etapa do ciclo combinado; a primeira está em produção. Constrói-se, e se usa em parte a primeira etapa, aqui ao norte de Havana, de outra planta. As duas plantas significarão, aproximadamente, a capacidade de um dos reatores nucleares que durante tanto tempo estivemos fazendo em Cienfuegos. Trabalharão 24 horas e aproveitarão quase 60% da energia de um metro cúbico de gás.
São avanços de um tipo, de outro, de outro, e somando e somando, poderia ser possível que nosso país dispusesse em recursos, no próximo ano, de uns 600 milhões de dólares a mais que neste ano, em meio a toda essa situação, e sempre preparados para tempos difíceis. É preciso pensar em todas as variantes.
Se a crise econômica se agudiza, se ocorre uma guerra, ninguém sabe as conseqüências dessa guerra em um dos principais produtores de petróleo, é o país que tem uma das maiores reservas do mundo, das maiores! Temos de estar preparados e organizados para a resposta no campo econômico pertinente, sempre sabendo o que é sagrado e o que é fundamental, e isso não se toca. Este é um país perfeitamente preparado para resistir por três meses, cinco meses, seis meses, se tivermos de fazer restrições especiais, digamos, por problemas desta índole.
Essa é a situação atual do nosso país, na qual se insere essa reestruturação, esse ato que estamos celebrando, e o início das aulas para oitenta e quatro mil e tantos compatriotas.
Sei que me estendi; mas me parecia necessário ocupar a atenção de vocês, para oferecer-lhes os elementos de juízo que considero conveniente em um dia como hoje, para que exista o maior conhecimento do que estamos fazendo.
São idéias novas que surgiram – eu lhes advirto – em meio à batalha de idéias; numa situação em que o país criou, organizou-se, desenvolveu capacidades. Não ignoro erros, mas há tempo para falar de erros, cada vez que é possível se fala, sempre com a disposição de dizer a verdade ao povo, sem nenhum tipo de temor, é o que contribuirá sempre a ter cada vez mais cultura política.
Não sei como podem arranjar-se nesses países com desastres tão grandes, digamos, por exemplo, há países onde governos recém-eleitos, que tinham o apoio de 70%, hoje têm o apoio de 12%, de 13%, de 14%. Como se podem resolver os graves problemas sociais de qualquer país, sem o apoio de uma maioria da população, pelo menos, sem o apoio das massas? Todo o mundo sabe que já ninguém confia em nenhum partido, foi tempo demais prometendo, prometendo e prometendo, por um caminho que leva ao abismo.
Poderíamos resolver os problemas que estou mencionando, se nosso povo não tivesse uma confiança total em nosso Partido, em nossas organizações juvenis, nas organizações operárias, camponesas, dos estudantes, das mulheres, nos Comitês de Defesa da Revolução, de milhões e milhões? Algum de vocês imagina que poderíamos abordar problemas dessa índole, nestes momentos, sem essa confiança, sem essa unidade de um povo ao qual nunca se enganou, de um povo que já foi capaz de escrever a proeza que não teria escrito nenhum outro país? É difícil resistir a 43 anos de bloqueio e ter feito o que se fez em 10 anos de período especial. Está chegando a hora de colher os frutos.
No entanto, quando o período especial chegou para todos os demais e alguns proclamaram que era o fim das idéias do socialismo, aqui têm a um país progredindo, avançando, fazendo coisas que nem em sonhos podem acontecer nos países que vivem sob o sistema capitalista. Sim, o caso de nossa proeza vai se convertendo em caso único na história.
Agora veremos como eles sairão de seu período especial, com todo o consumismo que criaram, a pobreza mundial, os 2,5 trilhões de dívida. Seria interessante observar os acontecimentos, e sempre informando: conseguiram isto, obtiveram um pequeno avanço, retrocederam por aqui e por ali. E nosso povo terá cultura mais que suficiente para saber o que é o mundo, o que está acontecendo no mundo. Por isso é tão importante a história, a de nosso país, para que saibam onde está ocorrendo e quais foram as raízes do que hoje faz nosso povo; e no mundo, porque no mundo realmente se globalizaram as comunicações, tudo, a economia, foi imposta uma globalização neoliberal que os levou à situação atual.
Devemos continuar trabalhando com mais afinco, preparados sempre para qualquer situação difícil que se apresente, profundamente esperançosos, porque o porvir que nos espera se constrói sobre sólidos alicerces.
Não tenho nada mais a acrescentar, e termino com a certeza de que, mais que nunca, cada patriota e cada revolucionário cubano, que já é um título honorífico grandioso, cumprirá seu dever.
Viva o socialismo! (Exclamações de "Viva!")
Pátria ou Morte!
Venceremos!
(Ovação)