Participação especial do Presidente da República de Cuba, Fidel Castro Ruz, na mesa-redonda sobre os mais recentesacontecimentos em nosso país, e o incremento das ações do governo dos Estados Unidos contra nosso povo, em 25 de abril de 2003.
Queridos compatriotas:
Tudo começou desde a chegada a Cuba do senhor Cason. A prisão de várias dezenas de mercenários que atraiçoam sua pátria em troca de privilégios e dinheiro que recebem do governo dos Estados Unidos, e a pena capital a delinqüentes comuns que, com uma pistola e cinco armas brancas, seqüestraram uma embarcação de passageiros na Baía de Havana, foram conseqüência de uma provocação urdida pelo governo daquele país e a máfia terrorista de Miami. É tão evidente, que qualquer um pode compreender.
Não se pode atribuir nenhuma responsabilidade às autoridades cubanas. É algo que me proponho a explicar, bem como as razões e objetivos de cada medida, o porquê e para quê de cada uma.
O atual presidente dos Estados Unidos, minoritário em relação ao total da votação, chega a seu cargo mediante escandalosa fraude, em que o grupo mafioso de Miami aplicou, nos Estados Unidos, os métodos herdados de seus pais batistianos e outros políticos corrompidos da neocolônia cubana dos Estados Unidos, desalojados do poder pela Revolução.
Em 4 de novembro de 2000, dezenas de milhares de afro-norte-americanos foram impedidos de votar, muitos milhares de eleitores foram induzidos a erro, com a mudança da ordem dos candidatos na cédula, e houve fraude adicional na contagem dos votos. Dessa maneira, obteve Bush, por algumas centenas de votos, a maioria no estado da Flórida, que decidiu sua eleição.
Homem agradecido, não esconde sua obrigação com a máfia de Miami e os compromissos que contraiu com ela, numa reunião no Texas.
Ainda antes da eleição, no ato comemorativo do 26 de Julho, realizado em Pinar del Río, em 5 de agosto, dirigindo-me a Bush, eu disse textualmente:
"Sei muito bem o que o senhor, em momentos de irreflexão, disse a seus íntimos e indiscretos amiguinhos da máfia cubano-americana: que o senhor pode resolver o problema de Cuba com muita facilidade, em clara referência aos métodos da época sinistra em que a Agência Central de Inteligência era utilizada diretamente em planos de assassinato contra os dirigentes de nosso país".
O compromisso de Bush foi que resolveria o problema, eliminando-me fisicamente, coisa que, realmente, depois de 40 anos de agressões e crimes contra Cuba, eu não estranhei, nem me preocupou muito.
Seu governo seria tão hostil e reacionário como todo mundo esperava. A máfia adquiriu mais poder e influência que nunca, no seio dessa Administração. Verdadeiros bandidos de origem cubana, responsáveis pela morte de milhares de centro-americanos, como o conhecido Otto Reich, estavam chamados a ocupar importantes cargos em posições chaves, para aplicar contra Cuba as políticas preconcebidas, as idéias e os compromissos de Bush. A sorte e o destino de mais de 11 milhões de cubanos nada significavam para ele.
Não me deterei explicando o que pensa o senhor Bush, ou quais são suas obsessões e idéias fixas. Nosso povo e o mundo conhecem-no de sobra.
Otto Reich seria o Secretário Assistente de Estado para o Hemisfério Ocidental. O Senado – republicanos e democratas – repudiava o sujeito. Um recesso desse órgão serviu de oportunidade para nomeá-lo provisoriamente. Desse cargo, traçou as linhas da política do Departamento de Estado contra Cuba. Choveram declarações cínicas. Um dia se dizia que Cuba preparava uma guerra eletrônica contra as comunicações dos Estados Unidos; outro, que um navio chinês carregado de armas viajava a Cuba. Nunca existiram o tal navio ou as tais armas. Entre mentiras disparatadas desse tipo, a acusação mais pérfida: Cuba desenvolvia um programa de pesquisa para produzir armas biológicas. Todas as acusações foram desmentidas e ridicularizadas.
Naquele mesmo período, em setembro de 2002, Otto Reich nomeia chefe da RINA (Repartição de Interesses dos Estados Unidos em Cuba) a James Cason, um de seus incondicionais.
Terminado o período provisional de Otto Reich, sua continuidade no cargo devia passar pela arriscada prova do Senado, onde eram muito poucas suas possibilidades de aprovação. Silêncio total. Em seu lugar, foi nomeado Roger Noriega, que havia sido assistente principal do Comitê de Relações Exteriores, presidido pelo diabólico Helms.
Pouco tempo depois, em dezembro de 2002, Otto Reich era nomeado Representante Especial do presidente dos Estados Unidos para a América Latina, no Conselho de Segurança Nacional, onde se elaboram e adotam as decisões fundamentais do Presidente. Um bandido terrorista no gatilho da superpotência, apontando para Cuba!
Que melhor prova dos maquiavélicos planos de Otto Reich, sua máfia e seu chefe, que a atuação do Chefe da Repartição de Interesses em Havana?
Que fez Cason, antes de ocupar o cargo que exibia a senhora Vicky Huddleston, mandada não a algum país da Europa ou da América Latina, como ela aspirava, mas a Mali, na África?
A designação de Cason não foi obra da casualidade. Reich soube do trabalho de Cason durante o período daquele como Diretor de Diplomacia Pública, durante a administração Reagan. Especificamente, trabalharam bem de perto, quando Cason trabalhou no setor de Assuntos Centro-Americanos do Departamento de Estado, que foi base de apoio dos chamados "contras", na guerra suja contra a Revolução Sandinista, em que o senhor Reich exerceu um papel importante, como foi demonstrado durante as audiências do Congresso do chamado "escândalo Irã-contras". Acumula também uma experiência de trabalho em outros países latino-americanos, como Honduras, onde foi Chefe Segundo da Missão norte-americana no país, em El Salvador, Bolívia, Panamá, Guatemala, Venezuela e outros.
Cason tinha declarado, em novembro de 2001, numa conferência sobre segurança nacional, após o fatídico atentado terroristas contra as Torres Gêmeas, que nosso país era "o único que não se uniu ao coro regional de sinceras condolências, apoio militar e colaboração diplomática com os Estados Unidos".
A realidade é que Cuba havia condenado energicamente aqueles atos terroristas, diante da imprensa nacional e internacional, e expressado as condolências de nosso povo ao povo dos Estados Unidos, e nossa disposição a oferecer imediatamente assistência médica e humanitária. Possivelmente foi um dos primeiros, se não, o primeiro. Ofereceu em seguida abrir seu espaço aéreo e seus aeroportos, para receber os aviões de passageiros que estavam no ar.Tinha sido proibida a aterrissagem em qualquer aeroporto dos Estados Unidos. Não estava obrigada a nenhum apoio militar às aventuras guerreiras dos Estados Unidos.
Ao tornar-se pública a nomeação de James Cason como chefe da RINA em Cuba, o diretor executivo da Fundação nacional Cubano –Americana declarou a respeito: "Esperamos que esse senhor seja capaz de levar uma política enérgica, como ordenou o presidente Bush".
De seu posto do Departamento de Estado, James Cason se apresenta como a melhor opção para implementar a já decidida política de incremento e escalada da hostilidade com Cuba.
Antes que chegasse a Cuba, foi seqüestrada, por cinco pessoas, em 6 de agosto de 2002, a embarcação Plástico 16, radicada em La Coloma, Pinar del Río. As autoridades cubanas apresentam oficialmente, através da Nota 1428, de 27 de agosto de 2002, a solicitação de que os seqüestradores fossem devolvidos a Cuba. Meses depois, os cinco seqüestradores foram postos em liberdade nos Estados Unidos.
Eis aqui uma cronologia dos passos do senhor Cason em Cuba:
10 de setembro de 2002
Chegou a nosso país, acompanhado de sua esposa, sendo recebido no aeroporto internacional "José Martí" por Louis Nigro, chefe adjunto da RINA.
Desde o primeiro instante, no contexto de um ato de boas-vindas realizado na RINA, evidenciou-se o caráter intervencionista de suas projeções, quando, durante um breve discurso ante os cabides de empregos cubanos e norte-americanos, colocou que "seu objetivo em nosso país era acelerar o processo para uma Cuba democrática, exortando a apoiar-se a todos que ajudassem essa transição".
11 de setembro de 2002
Em ato em memória das vítimas dos atentados terroristas nos Estados Unidos, efetuado na RINA, Cason se referiu às projeções do presidente George W. Bush sobre a guerra contra o terrorismo e expressou "suas esperanças de que o povo cubano jogasse um papel vital nas mudanças que deviam ocorrer em Cuba, mencionando a liberdade de expressão como fator a considerar para futuras mudanças em nosso país".
16 de setembro de 2002
Seis dias depois de sua chegada, realiza-se um coquetel na residência de Cason, com 17 cabecilhas de grupos contra-revolucionários, com o objetivo de apresentar o novo chefe da RINA e expor as necessidades e interesses daqueles.
Cason expressou que trabalharia para implementar a política anunciada pelo presidente George W. Bush, perguntando como poderia ajudar a "oposição" e em que medida tinha sido efetiva a colaboração oferecida pela RINA até aquele momento.
Manifestou estar disposto a oferecer tanto sua residência como a sede, para que os contra-revolucionários se reunissem com diplomatas de distintos países.
Expressou que percorreria o país, para ver a situação dos grupelhos. Assegurou que, entre seus planos, estava participar em atos políticos, como tribunas abertas, e colocar nos escritórios do consulado as fotografias e nomes dos "presos políticos", para que os visitantes pudessem ver.
17 de setembro de 2002
Realizou-se um coquetel na residência de Cason, com objetivos similares aos do dia anterior, com outros cabecilhas contra-revolucionários. Os temas tratados giraram em torno da emissora subversiva, "a imprensa e as bibliotecas independentes".
De 26 a 30 de setembro de 2002
A feira de produtos alimentícios dos Estados Unidos, efetuada durante esses dias, foi aproveitada pelo atual chefe da RINA para dar amostra de outra vertente de seus planos hostis.
Ao concluir uma atividade que os organizadores estadunidenses ofereceram aos expositores, no hotel Meliá Cohíba, Cason leu uma declaração à imprensa estrangeira, em que colocou que apreciava a feira como um espaço para vender, "a parte cubana vai falar muito e no final não vai concretizar nada".
Agregou que Cuba não é um mercado importante para os Estados Unidos, que tinha dívidas com todo o mundo, e que empresários de outros países estavam esperando que Cuba pagasse, acrescentando que os Estados Unidos "não querem ser parte dessa fila que espera".
Em seguida, adicionou: "Os cubanos querem créditos, e ninguém quer dá-los, porque não pagam, é um mercado pequeno, onde um cidadão ganha apenas 20 dólares. Cuba tem uma dívida de 11 bilhões de dólares e, se algum dia tiver dinheiro, não vai pagar".
Suas intenções eram muito óbvias. Em troca, não mencionou uma só palavra sobre bloqueio, guerra econômica, hostilidade e agressões dos governos dos Estados Unidos contra Cuba durante 44 anos.
3 e 4 de outubro de 2002
Cason e a chefa do programa de refugiados realizaram uma viagem de monitoração à província de Villa Clara, para visitar a emigrantes ilegais devolvidos a Cuba em virtude dos Acordos Migratórios.
No dia 3, visitaram um domicílio em Caibarién, onde estiveram com um grupo desses emigrantes ilegais, além de outras dez pessoas citadas pelo contra-revolucionário Margarito Broche, cabecilha do grupo "Associação de Balseiros Independentes, Centro Norte de Cuba, Paz, Democracia e Liberdade".
Tratava-se de um grupo de emigrantes ilegais devolvidos a Cuba e convertidos agora num grupo de "dissidentes", mimados e orientados pelo senhor Cason.
Em 4 de outubro, fizeram o mesmo na cidade de Santa Clara, com outro grupo de emigrantes ilegais, igualmente devolvidos em virtude dos Acordos Migratórios.
Por isso, vários tentam de novo viajar ilegalmente para os Estados Unidos, sabendo que assim que pisem solo norte-americano serão privilegiadamente acolhidos. Enquanto isso, o senhor Cason recruta "dissidentes" entre eles.
Tanto o chefe da RINA, quanto a funcionária que o acompanhou utilizaram, durante as entrevistas, uma linguagem agressiva, fazendo referências, com freqüentes críticas e em tom depreciativo, à figura do Presidente do Conselho de Estado.
Dessa forma, o Chefe do Repartição de Interesses monitora e doutrina os que, por seus antecedentes penais e sociais, não recebem vistos, viajam ilegalmente e são devolvidos a Cuba.
7 de outubro de 2002
O chefe da RINA realiza um café da manhã em sua residência, do qual participaram os dirigentes contra-revolucionários Martha Beatriz Roque Cabello, René Gómez Manzano e Félix Bonne Carcasés, bem como outros funcionários da sede diplomática.
Cason conta que tinha viajado a Villa Clara e podido verificar "a miséria" em que se encontra essa província; e realiza outros comentários sobre sua estadia no interior do país.
10 de outubro de 2002
Cason oferece um café da manhã em sua residência, de que participam os cabecilhas contra-revolucionários Oswaldo Payá Sardiñas, Osvaldo Alfonso e Vladimiro Roca Antúnez; pela parte estadunidense, participaram dos secretários de assuntos políticos e econômicos da RINA, Francisco Sainz e Ricardo Zúñiga.
No encontro, trataram-se os seguintes temas: o "Projeto Varela", as eleições no Brasil, situação na Venezuela, e sobre os grupelhos contra-revolucionários em geral.
30 de outubro de 2002
Durante a tarde, com a participação de seis funcionários da RINA, efetuou-se, na residência de James Cason, uma reunião de trabalho relacionada com o projeto "Assembléia para promover a sociedade civil em Cuba", organizado e promovido pela dirigente Martha Beatriz Roque Cabello. Contou com a participação de 24 contra-revolucionários.
O senhor Cason manifesta que sabia das dificuldades que tinham para reunir-se, razão por que oferecia sua residência, bem como lhes ratificava seu apoio material e moral, demonstrando a posição de seu governo para "democratizar" a ilha. Pediu desculpas por não poder acompanhá-los, devido a outras funções na sede.
Deixava-lhes sua residência, garantidas pela imunidade diplomática e pelos serviços gastronômicos pertinentes.
5 de novembro de 2002
Às 15h 15min, Cason e seu segundo-secretário, Zúñiga, foram à casa de um ex-preso contra-revolucionário que se corresponde e recebe prêmios diretamente do presidente Bush, Oscar Elías Biscet González, que, sancionado por ações que realizou, cumprindo instruções da fundação terrorista cubano-americana, tinha sido posto em liberdade cinco dias antes.
Fizeram-lhe uma infinidade de perguntas sobre pontos que lhes interessavam para seus objetivos políticos contra-revolucionários. o senhor Cason manifestou ao contra-revolucionário o propósito de incitar a funcionários de outras sedes diplomáticas a fazer contactos com eles.
11 de novembro de 2002
Reunião na residência de Cason, dos cabecilhas Oswaldo Payá Sardiñas, Osvaldo Alfonso Valdés, Vladimiro Roca Antúnez e Oscar Elías Biscet González, com uma delegação norte-americana em visita a Cuba.
Isso era habitual, por exigência dos chefes do Repartição da Interesses, com toda delegação e representante norte-americano que visitasse a Cuba. O propósito era sabotar as relações políticas e econômicas de Cuba com o exterior, mediante o uso de todas as calúnias e infâmias que podiam ocorrer a esses mercenários a soldo de um governo belicoso e agressivo, que ameaça a nosso heróico povo.
Nesse mesmo dia, 11 de novembro de 2002, um pequeno avião AN-2 de fumigação foi seqüestrado para os Estados Unidos. O Ministério de Relações Exteriores, através de suas notas 1778 de 2002 e 180 de 2003, reclamou ao governo norte-americano a devolução dos seqüestradores e do avião. As autoridades norte-americanas nem sequer levantaram acusações contra os seqüestradores, que foram postos em liberdade quatro dias depois. O avião foi embargado, leiloado e, de fato, roubado, numa aberta e clara manobra anticubana.
21 de novembro de 2002
Reunião de Cason na casa da dirigente contra-revolucionária Martha Beatriz Roque Cabello, com mais 13 de seus agentes a soldo. Cason falou-lhes de material fílmico com ataques pessoais ao Chefe de Estado cubano. Indagou, ademais, sobre vendas de rádios de onda curta e média nas lojas de divisas, e referiu-se à introdução destes através dos malotes diplomáticos da RINA, etc., etc. Em seguida, abasteceu os presentes com nada menos que quatro caixas cheias de exemplares da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Isso, como obséquio do governo de um país que nos bloqueia há mais de 40 anos e ameaça destruir nosso país, da mesma forma que fez em outras partes do mundo.
Anunciou-lhes, também, a intenção de combinar um encontro, em janeiro de 2003, entre uma delegação de médicos norte-americanos e os contra-revolucionários ali presentes.
Esses médicos bem que podiam viajar à América Central, a países da América Latina ou da África, onde milhares de heróicos médicos cubanos prestam assistência e salvam, a cada ano, dezenas de milhares de vidas, em lugares remotos onde não se costuma ver os médicos norte-americanos do senhor Cason.
22 de novembro de 2002
Reúnem-se, na residência de Cason, os cabecilhas Orlando Fundora Álvarez, Yolanda Triana Estupiñán, José Barrero Vargas, convocada pelo primeiro dos contra-revolucionários mencionados. Objetivo principal: recopilar informação sobre pessoas prejudicadas pela Revolução – leia-se camelôs clandestinos ou associados à droga e outros delitos e ilegalidades – para reclamar do governo de Cuba uma retribuição.
Essa foi a primeira ocasião em que os grupelhos utilizam locais da RINA para suas reuniões, sem a presença de diplomatas norte-americanos.
27 de novembro de 2002
James Cason e vários funcionários visitam a província de Ciego de Ávila, em viagem de "familiarização".
Ao chegarem ao município sede, dirigiram-se à casa de um contra-revolucionário, onde se reuniram com outros quatro integrantes dos grupelhos.
Cason interessou-se pela situação dos contra-revolucionários, do processo de instrução contra eles, sobre o qual estes se referiram mentindo, como era de se esperar, a supostas surras, abusos corporais e perseguição a familiares.
O "dissidente" visitado, junto com outros elementos de mesma laia, tinha representado uma desordem pública no Hospital Provincial de Ciego de Ávila, interrompendo os serviços de urgência e de pronto-socorro pelo período de duas horas aproximadamente. A provocação desses elementos ocasionou afetações a diversos pacientes.
Que fazia ali o senhor Cason?
19 de dezembro de 2002
À noite, desenvolveu-se uma atividade de "caráter social", encabeçada por James Cason e outros doze funcionários da referida sede, dez membros do corpo diplomático, entre os quais encontravam-se representantes do Reino unido, da República Tcheca, Polônia, Grécia e Chile, além de 52 contra-revolucionários de diferentes agrupamentos.
Diferentemente de outras atividades realizadas pela RINA com esses elementos, naquela ocasião não houve discursos de boas-vindas nem de despedida. Sem formalidades protocolares, cada convidado que chegou à sede dirigiu-se ao lugar desejado, onde tinham a possibilidade de ingerir os alimentos e bebidas á vontade, sem restrições, e de conversar alegremente sobre temas afins. Apesar disso, houve uma reunião de 30 minutos dos 52 "dissidentes" convidados com vários dos principais cabecilhas: Elizardo Sánchez Santacruz Pacheco, Vladimiro Roca Antúnez, René Gómez Manzano e Félix Bonne Carcasés.
Pediram fotos para a história. Estavam em casa. Que agradável, encontrar-se na representação diplomática da superpotência, conspirando contra o povo cubano, que defende frente ao monstro imperialista sua pequena e bloqueada ilha!
21 de dezembro de 2002
Cason concede entrevista ao canal 51 de Miami.
Há um fragmento da entrevista que, embora já tenha sido publicado, convém inseri-lo nesta informação:
Jornalista –... como Chefe da Repartição de Interesses dos Estados Unidos em Havana, o senhor já está viajando, reuniu-se com o cubano comum, com dissidentes em Cuba. Também já se reuniu com líderes das organizações anticastristas do exílio?
James Cason – Sim, por duas ou três vezes. Cada vez que eu viajo a Miami, quero reunir-me e me reúno com todos os grupos, a Fundação Nacional Cubano-Americana, o Conselho para a Liberdade de Cuba, grupos independentes e todos os grupos aqui, porque eu quero explicar o que vi em Cuba, o que está sucedendo, e escutar seus pontos de vista sobre o que nós estamos fazendo, para ver se há algo que queremos fazer e não estamos fazendo. É uma conversação muito amena, e uma de minhas mensagens é que o importante em Cuba é que, se há uma oposição, são isolados, perseguidos, mas insistem e têm muita coragem, e o importante é que eles se reúnam, se unam e que se concentrem sobre o essencial, sobre os direitos que não têm e sobre as liberdades que devem ter.
Então, não enfocar sobre personalismos, sobre diferenças de ideologia; o importante é que a oposição tem de ganhar espaço, porque virá o dia em que haverá uma transição. Há uma transição agora, mas vai haver uma Cuba nova algum dia, e eles têm de tomar sua parte em formar e decidir o futuro de Cuba. Então, têm de ganhar seu espaço, começar a discutir o que é preciso fazer de outra maneira, para que Cuba mude; então, é importante que enfoquem o importante, não o não-essencial.
Jornalista – Das reuniões que o senhor teve com os dissidentes – não sei se quer entrar nesse tipo de detalhes –, mas onde o senhor vê que talvez a dissidência não esteja atuando bem? Que mensagem tem para a dissidência? Antes de pedir ao senhor, se me permite, uma mensagem para os grupos anticastristas em Miami. Que mensagem o senhor envia à dissidência em Cuba, o que gostaria de dizer-lhes, a partir do que viu?
James Cason – Bem, primeiro, que o futuro de Cuba..., não somos nós, os norte-americanos, que vamos determinar qual é o futuro de Cuba, e sim, os cubanos, fora de Cuba e dentro de Cuba. Eles devem, em meu ponto de vista... . meu conselho é enfocar o essencial. Quais são os fatores importantes? Não se dividir, reunir-se e tratar de combinar ou chegar a um acordo sobre 10 pontos, por exemplo, com os quais todos estejam de acordo, e não falar do que não têm acordo; porque, na democracia, todo mundo tem diferenças, há ações, mas o importante é que isso é uma ditadura militar, em que, se as pessoas não se reúnem, não vão ter muita chance de prosperar. Então, que se concentrem sobre o essencial e busquem pontos de coincidência, não de diferenças.
Jornalista – Uma de suas prioridades também é ajudar a dissidência em Cuba. Como o senhor pretende ajudar à oposição castrista?
James Cason – Bem, como eu disse antes, oferecendo informação, apoio moral, espiritual, de que não estão sozinhos, de que o mundo sabe o que está sucedendo em Cuba. Uma manifestação disso é o fato de que muitos dos líderes receberam prêmios de direitos humanos europeus e de outras partes do mundo, então o mundo sabe o que está sucedendo em Cuba, e nós estamos lá para dizer-lhes esta realidade e ajudá-los em tudo que seja possível.
Não damos, não é verdade, como diz Castro, que estamos financiando a oposição; a oposição insiste no fato de que o sistema fracassou, e nós estamos lá para oferecer o apoio do povo americano e do restante do mundo democrático ao que estão fazendo, que é advogando por ter os direitos básicos humanos que Cuba firmou na Declaração de Direitos Humanos, nas declarações universais, e que não cumpriu em todos esses anos.
Lidas essas paladínicas declarações do senhor Cason, quão injusto seria afirmar que o governo dos Estados Unidos e o chefe de sua Repartição de Interesses praticam alguma ingerência nos assuntos internos de Cuba, ou que os "nobres patriotas" ali reunidos eram contra-revolucionários a soldo dos Estados Unidos.
9 de janeiro de 2003
James Cason havia informado ao MINREX que iria a Pinar del Río com outros quatro funcionários da RINA. Foi comunicado de que essa viagem não estava autorizada.
Sabia-se que Cason realizaria contactos com vários elementos. Nesse mesmo dia, um empregado da RINA trasladou nove caixas que continham rádios e literatura enviados a contra-revolucionários daquele mesmo território.
16 de janeiro de 2003
Participa em atividade realizada na residência do cabecilha Héctor Palacios Ruiz, para a apresentação de um livro de marcado conteúdo contra-revolucionário, associado ao plano das chamadas "bibliotecas independentes"; tinha sido divulgado nas feiras do livro de Guadalajara e Miami.
Entre os dias 19 e 25 de janeiro de 2003
James Cason e Ricardo Zúñiga realizaram, durante seis dias, um percurso pelas províncias de Las Tunas, Holguín, Granma, Santiago de Cuba e Guantánamo, solicitado para realizar visitas privadas, dedicando-se ao abastecimento material dos grupelhos contra-revolucionários, em função de fortalecer e unificar a chamada "oposição" e estabelecer contactos com o meio religioso.
Foram significativas as manifestações de Cason sobre a existência de um plano denominado "seis mil milhas", que consiste em fazer viagens periódicas por todas as províncias, dirigidas a estimular e apoiar os grupelhos contra-revolucionários com recursos para seu desenvolvimento.
Como se estivéssemos na época da intervenção norte-americana, depois da última guerra de independência contra a Espanha, o procônsul do império organizando um partido político.
29 de janeiro de 2003
Ocorre o seqüestro da embarcação de cimento armado "Cabo Corrientes", da Ilha da Juventude, a qual foi conduzida a território norte-americano. As autoridades cubanas apresentaram nota diplomática reclamando a devolução dos quatro seqüestradores da mencionada embarcação. Os Estados Unidos não contestaram a nota cubana reclamando os seqüestradores, que foram postos em liberdade de imediato.
6 de fevereiro de 2003
Seqüestro de uma lancha rápida de tropas guarda-fronteiras, que se dirigiu aos Estados Unidos. Até o momento, não se tem conhecimento de que as autoridades norte-americanas tenham acusado a algum dos quatro seqüestradores. O Ministério de Relações Exteriores apresentou nota à RINA, exigindo a devolução dos seqüestradores e protestando por essa nova manobra anticubana. O Departamento de Estado não respondeu à mencionada nota de Cuba.
7 de fevereiro de 2003
À noite, atividade na residência de Cason em homenagem a uma delegação cultural norte-americana. Entre os presentes, encontravam-se 21 membros dos grupelhos e cinco diplomatas da SINA. Nessa atividade, Cason consolida uma prática que havia começado no final de 2002: a inclusão de contra-revolucionários em atividades sociais oficiais da Seção, para as quais convidava também profissionais cubanos.
22 de fevereiro de 2003
Cason deu uma entrevista coletiva a um grupo de jornalistas estrangeiros credenciados em Cuba, na qual criticou a nosso país e colocou que as autoridades cubanas tinham temor a que se importassem livros e outros materiais, fazendo referência a livros de Martin Luther King, John Steinbeck e Groucho Marx, que figuravam num lote de livros confiscados pelas autoridades cubanas após terem sido enviados pelo governo do Washington, esquecendo-se de mencionar títulos abertamente contra-revolucionários e subversivos que vinham no mesmo lote.
Um cabo da AP tem como título: "Denuncia James Cason confisco de livros enviados pelos Estados Unidos". Alguns de seus parágrafos dizem textualmente:
"Aos diplomatas norte-americanos foi dito que era ‘uma firma decisão do governo’ não permitir a entrada de livros a Cuba para sua distribuição a grupos dissidentes, inclusive para as bibliotecas independentes da ilha, disse o chefe da Repartição de Interesses dos Estados Unidos em Cuba, James Cason.
"‘Disseram que não se tratava dos livros em si, senão de seus destinatários’, disse Cason a um grupo de jornalistas internacionais. Acrescentou que a missão norte-americana tinha importado livros similares em ocasiões anteriores.
"‘É o temor de perder o controle político’, disse Cason, que chegou a Havana há cinco meses."
24 de fevereiro de 2003
James Cason e dois outros funcionários da Repartição participam de uma coletiva de imprensa realizada no domicílio da dirigente Martha Beatriz Roque, nada menos que para celebrar os aniversários do início da guerra de independência e o derrubamento dos aviões da organização da máfia terrorista de Miami "Irmãos ao Resgate".
Cason foi entrevistado pelos correspondentes da imprensa estrangeira. Além de responder a perguntas, leu um documento e realizou declarações públicas de aberto corte intervencionista, ofensivas e de desafio às autoridades cubanas, e chamou as demais missões diplomáticas radicadas em Havana a seguir o exemplo da RINA.
Nesse mesmo dia, a mencionada organização terrorista "Irmãos ao Resgate" realizou uma transmissão ilegal de televisão a nosso país, do espaço aéreo internacional. Apesar de as autoridades cubanas terem advertido o Governo dos Estados Unidos, antes do dia 24 de fevereiro, sobre os planos da mesma, e terem estabelecido claramente que sua realização seria uma violação do Regulamento de Telecomunicações da União Internacional de Telecomunicações, as autoridades norte-americanas não fizeram absolutamente nada para impedir a mencionada transmissão.
28 de fevereiro de 2003
Toma-se conhecimento de que as autoridades penais norte-americanas, seguindo indicações do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, estabelecem um regime violador dos direitos humanos de nossos Cinco Heróis, confinando-os na cafua.
Realmente, já era demais.
6 de março de 2003
No quadro de minha intervenção, no encerramento da reunião da Assembléia nacional do Poder Popular, fiz declarações, respondendo à grosseira entrevista do chefe da Repartição de Interesses na reunião com contra-revolucionários, do dia 24 de fevereiro.
E lhes digo que não as fiz antes porque, em meio ao colossal esforço em que estamos envolvidos, para superar obstáculos e levar adiante nossos programas revolucionários, não sabia em detalhes até que ponto chegava a insolência, a ousadia e a audácia do enviado de Otto Reich.
Entre outras coisas, disse:
Em 24 de fevereiro passado, nada menos que o dia em que se comemora o início, ao chamado de Martí, da última guerra de independência, um senhor chamado James Cason, chefe do Repartição de Interesses dos Estados Unidos em Cuba, reuniu-se, num apartamento de Havana, com um grupo de contra-revolucionários pagos pelo governo dos Estados Unidos, nada menos que para comemorar o Grito de Baire, data patriótica e sagrada para nosso povo. Outros diplomatas receberam convite, mas apenas esse ilustre personagem esteve presente ao evento.
Mas o fato não se limitou a uma discreta presença. Perguntado por um jornalista se sua presença no ato não confirmava a acusação do governo cubano, Cason afirmou: "Não, porque eu creio que convidaram a todo o corpo diplomático, e nós, como país, sempre apoiamos a democracia e as pessoas que lutam por ter uma vida melhor. Eu estou aqui como convidado".
"Não tenho medo", respondeu sucintamente a outra pergunta dos repórteres, sobre se sua presença na atividade opositora não poderia ser considerada um gesto inamistoso contra o governo cubano, que denuncia aos dissidentes como grupos subversivos.
Depois, grosseiro e insultante, acrescentou em perfeito espanhol: "Infelizmente, o governo cubano sim tem medo, medo à liberdade de consciência, medo à liberdade de expressão, medo aos direitos humanos. Este grupo está demonstrando que há cubanos que não têm medo. Eles sabem que a transição para a democracia já está em marcha. Queremos que saibam que não estão sozinhos, que o mundo inteiro os apóia. Nós, como país, apoiamos a democracia, as pessoas que lutam por ter uma vida melhor e por ter justiça".
A nota de imprensa que informava sobre a declaração, assinalava: "Embora diplomatas estrangeiros costumem reunir-se com dissidentes, não é usual que apareçam em atos públicos ou expressem opiniões sobre o governo aos meios de imprensa".
O senhor Cason finalizou sua declaração afirmando: "Estou como convidado e irei a todo o país, visitando a todas as pessoas que sim querem liberdade e justiça".
Acrescentei, naquela ocasião:
Qualquer cidadão compreende que se trata de uma provocação desavergonhada e desafiante. Pelo que parece, ele e os que lhe ordenaram essa grosseria de valentão com imunidade diplomática estavam revelando precisamente medo. Do contrário, é tão estranho, que qualquer um teria direito de perguntar-se que quantidade de bebidas foi consumida naquele "patriótico" ato.
Como Cuba realmente tem muitíssimo medo, terá toda a calma necessária para decidir a conduta a seguir com esse estranho funcionário. Talvez os numerosos membros da Inteligência norte-americana que trabalham nesse Escritório de Interesses lhe expliquem que Cuba pode prescindir tranqüilamente do referido escritório, incubadora de contra-revolucionários e posto de mando das ações subversivas mais grosseiras contra nosso país. Os funcionários suíços que os representaram por muito tempo realizaram durante anos um excelente trabalho e não faziam atividades de espionagem nem organizavam a subversão. Se isso é realmente o que desejam provocar com tão insolentes declarações, é melhor que tenham a vergonha e a coragem de dizê-lo. Algum dia, não importa quando, o próprio povo dos Estados Unidos enviará um verdadeiro embaixador de seu país, ‘sem medo e sem mancha’, como se costumava dizer dos cavalheiros espanhóis.
7 de março de 2003
O Departamento de Estado confirma que nossos Cinco Heróis tinham sido transferidos a unidades especiais (cafua), e que, a partir daquele momento, o Bureau de Prisões aplicaria novos procedimentos para as visitas consulares.
10 de março de 2003
O MINREX entrega a Nota Diplomática nº 365 ao Chefe da RINA, em que são respondidas fortemente suas ações e declarações públicas intervencionistas de 24 de fevereiro, e se comunica à mesma que, em reciprocidade com as medidas tomadas contra nossos funcionários em Washington, e tendo em conta a atividade subversiva e ilegal da SINA, com aplicação imediata, mudam as regras para as viagens fora da área de livre movimento daquela missão diplomática, e o regime de notificação para viajar se transforma em solicitação de permissão para viajar. A partir deste momento, para sair da Cidade de Havana, os funcionários da SINA devem solicitar permissão e esperar por uma resposta do MINREX.
11 de março de 2003
O Departamento de Estado confirma à Repatição de Interesses de Cuba em Washington (SICW) a aplicação de novas medidas para a realização das visitas consulares a nossos Cinco Heróis.
12 de março de 2003
Realiza-se, na residência de Cason, atividade com um grupo de 18 contra-revolucionários.
O MINREX entrega a Nota Diplomática nº 390 à RINA, protestando pela piora das condições carcerárias de nossos Cinco Heróis, e demandando que cesse o regime de violação a que tinham sido submetidos, que se restituam todos os seus direitos e a possibilidade de contacto direto e sem condições com todos os seus familiares, seus advogados e os funcionários da Repartição de Interesses de Cuba em Washington.
13 de março de 2003
O Departamento de Estado entrega Nota Diplomática à Repartição de Interesses de Cuba em Washington, em resposta à nossa de 10 de março, aplicando o regime de permissão de viagens a nossos funcionários em Washington.
Nossa Repartição de Interesses recebe, através do Departamento de Estado, a solicitação de viagem a nosso país dos congressistas anticubanos Christopher Smith (Republicano por Nova Jersey) e Frank Wolf (Republicano por Virgínia), que pretendiam reunir-se com os grupos de "oposição civil" de nosso país. Essa visita tinha um caráter abertamente provocador e se enquadrou na escalada movida contra nosso país, pela Administração Bush. No dia 18, o Departamento de Estado nos comunica que essa viagem ficava sem efeito.
14 de março de 2003
Novamente se realiza, na residência do Chefe da Repartição de Interesses dos Estados Unidos em Havana, uma reunião com cabecilhas contra-revolucionários – já era praticamente a cada dois dias. Tratava-se de um curso de ética para supostos jornalistas. Era o pior lugar do mundo para falar de ética. Estiveram presentes vários funcionários daquela missão. Facilitou-se o acesso da imprensa estrangeira à atividade contra-revolucionária.
Como expliquei em minha intervenção no Programa Especial de 4 de abril, e repito:
Ninguém ignora que o senhor Cason, novo chefe da Repartição de Interesses, veio instruído para levar a cabo provocações de todo tipo contra Cuba, e pretendeu converter sua sede diplomática e sua própria residência em local para organizar, instruir e dirigir a mercenários que atraiçoam a pátria, a serviço de uma potência estrangeira, ou violam outras leis com ações que ocasionam graves prejuízos ao país, pretendendo total impunidade. Várias dezenas deles já estão sendo julgadas pelos tribunais que atendem aos delitos contra a segurança do país.
Em nome de sua segurança, quantas coisas não fez o governo dos Estados Unidos, até uma brutal guerra, sem maior consideração. Nós, em troca, temos de admitir a impunidade dos que atraiçoam o país, pagos por eles, ocasionando considerável prejuízo em muitas ordens. São pessoas que atuam contra os interesses de nossa pátria e contra a segurança de nosso povo, numa nova e perigosa etapa.
Um erro! Deviam convencer-se um pouco mais de que povo é este; seus níveis de conhecimento, de cultura, de organização, de preparação, para lutar em todos os terrenos, se este país é invadido. Começaria a guerra dos 100 anos em Cuba; não o desejamos, mas nos vemos na necessidade de prevê-la ou travá-la, se nos é imposta.
Estão sendo julgados pelos tribunais que atende a delitos contra a segurança do país, e isso enfurece a seus amos.
17 de março de 2003
Convoca-se ao MINREX o Chefe da Repartição de Interesses dos Estados Unidos, para entregar duas Notas de protesto: 1) pela atitude de ingerência, contra-revolucionária e que viola a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas de 1961, do Sr. James Cason, Chefe da RINA; 2) pelas transmissões de televisão ilegais realizadas pelos terroristas de Irmãos ao Resgate em 24 de fevereiro, e pela passiva atitude das autoridades norte-americanas, que nada fizeram para impedir essa atividade que viola as normas internacionais que regem as transmissões de televisão, apesar da advertência cubana.
17 e 18 de março de 2003
Realizam-se duas Mesas-Redondas, nas quais se desmascara a atuação subversiva e contra-revolucionária da RINA e particularmente de Cason.
18 de março de 2003
Elabora-se Nota Oficial sobre a desavergonhadas e reiteradas provocações do Chefe da RINA, que saiu publicada no Granma em 19 de março.
São detidos 32 contra-revolucionários, por suas atividades mercenárias a serviço de uma potência estrangeira. A decisão é tomada na noite de 14 de março, imediatamente após saber-se da reunião de mercenários na casa de Cason, apesar das reiteradas advertências, públicas e por via diplomática, de Cuba, exigindo que cessasse tão inadmissível ingerência, três dias antes de o senhor Bush decidir lançar seu ultimato a Iraque, em 17 de março.
19 de março de 2003
O Departamento de Estado informa a proibição de várias viagens propostas pela Repartição de Interesses de Cuba em Washington, incluindo as visitas consulares a Gerardo Hernández e Fernando González.
São detidos outros 33 contra-revolucionários, por suas atividades mercenárias a serviço dos Estados Unidos.
19h 24min. Realiza-se o seqüestro de uma aeronave tipo DC-3 da Empresa nacional de Serviços Aéreos, que cobria a rota Gerona – Cidade de Havana. A dez milhas ao sul do Aeroporto de Boyeros, quando tudo estava pronto para aterrissar, o capitão da aeronave informou ao Controle de Trânsito Aéreo (ATC) de Boyeros que tinha problemas políticos a bordo e que se dirigia com rumo norte, para o que pedia as coordenadas da rota mais direta, porque tinha pouco combustível, orientando-se rumo a Cayo Hueso.
19h 30min. O ATC de Boyeros comunicou ao ATC de Miami que um avião DC-3 estava sendo desviado de sua rota por pessoal armado a bordo, e que se dirigia a Miami. Algo inesperado e muito estranho: o seqüestro de um avião de passageiros em pleno vôo. Fazia muitos anos que não ocorria um fato semelhante, desde a assinatura dos Acordos Migratórios, que, inclusive, pode ter sido induzido pela máfia de Miami. Não temos como sabê-lo. Eles têm em seu poder os seqüestradores e os cúmplices, que receberam residência, e não informam absolutamente nada.
21h 35min. Os Estados Unidos começam os bombardeios contra Bagdá e outras cidades do Iraque – isso ocorre realmente duas horas e nove minutos após o seqüestro do avião.
20 de março de 2003
Convoca-se o Chefe da RINA e entrega-se a ele uma Nota diplomática em que se exige a devolução de todos os passageiros e tripulação da aeronave, dos seqüestradores e da própria aeronave. Nota similar é entregue em Washington, ao Departamento de Estado.
Durante os dias 20 e 21 de março, as autoridades cubanas mantêm contacto com o Departamento de Estado e a RINA, para continuar exigindo a imediata devolução de todos os passageiros e tripulantes da aeronave seqüestrada, dos seqüestradores e do avião.
São detidos outros seis contra-revolucionários, entre estes, quatro dos cabecilhas mais ativos, por suas atividades mercenárias a serviço de uma potência estrangeira.
Divulgam-se duas Notas Informativas sobre o seqüestro do avião DC-3, que se publicam no Granma de 21 de março, para informação da população.
21 de março de 2003
As autoridades norte-americanas informaram ao MINREX e à Repartição de Interesses de Cuba em Washington que não devolveriam os seis seqüestradores da aeronave cubana DC-3, e que estes haviam sido formalmente acusados de pirataria aérea, e que o avião estava embargado, por decisão de uma corte norte-americana, em resposta a uma demanda interposta por uma contra-revolucionária de Miami.
Nesse período, o congressista anticubano Lincoln Díaz-Balart fez circular na Câmara de Representantes o relatório elaborado pela RINA e vazado pelo Departamento de Estado para a imprensa, sobre a suposta perseguição de que são objeto os funcionários dessa missão, pelas autoridades cubanas.
É detido outro contra-revolucionário, por atividades mercenárias.
Divulga-se a Nota Informativa que se publica no Granma de 22 de março com o título "Nova Informação sobre o DC-3 Seqüestrado".
22 de março de 2003
Compareço ao Programa Especial de televisão sobre o seqüestro do avião DC-3 ocorrido em 19 de março, e expresso:
Não querem falar agora de terrorismo, em relação ao DC-3 seqüestrado? Claro que não querem usar a palavra terrorismo, é melhor dizer pirataria, embora seja uma palavra bem grosseira, porque dizer terrorismo é admitir que está sendo praticado, a partir dos Estados Unidos contra Cuba, agora, neste momento em que se está desenvolvendo uma guerra terrível numa nação árabe da explosiva região do Oriente Médio, guerra que comoveu o mundo.
Não, não podem dizer que vão julgar os seqüestradores por terrorismo, porque seria reconhecer a verdade. Por que esses sujeitos vão pra lá? Porque estão absolutamente seguros de sua impunidade. Por que mais vão pra lá esses sujeitos, além da garantia de impunidade? Porque lá são recebidos imediatamente como heróis e servem de matéria-prima para a propaganda contra Cuba.
Vão pra lá, porque existe uma lei, há 37 anos, que se chama Lei de Ajuste Cubano, lei assassina – como a chamamos – que custou milhares de vidas e criou inúmeros problemas.
Chegaram muito recentemente, com barcos tomados a força, com aviões tomados a força, e andam livres e passeando pelas ruas de Miami. A total certeza de impunidade e os privilégios e vantagens que essa lei lhes oferece é um poderoso estímulo ao terrorismo.
De quem é a culpa disso? Os governos dos Estados Unidos são os culpados fundamentais, mais que os próprios terroristas, com uma lei que se aplica unicamente aos cidadãos deste país.
Veio gente até da Índia e do Paquistão a Cuba, ouvindo falar dessa Lei de Ajuste, pensando que podiam se beneficiar da mesma; bateram quase até matar e estiveram dispostos a assassinar trabalhadores do turismo, dos quais tomaram a embarcação para chegar lá, felizes quando chegam! Até agora não sabemos nada, o que fizeram com eles, se algum está sancionado, se o enviaram a alguma prisão, e aqueles que golpearam brutalmente aos companheiros, deixando alguns inconscientes, e só não os atiraram todos ao mar, porque necessitavam de alguém que manejasse aquela embarcação para chegar à Flórida. E as autoridades norte-americanas sabem de tudo isso.
Sabem também das ameaças, das tentativas de amedrontar, as teorias belicosas contra Cuba da atual administração, e esses seqüestradores pensam, como pensam alguns mercenários, que isso vai intimidar o nosso povo. Sentem que estão fazendo um favor aos que elaboram e praticam tais teorias, como a do ataque de surpresa e preventivo. Não vou falar desse tema, porque teria muito a dizer, e não quero afastar-me do fundamental do tema que nos reúne neste programa especial, mas deve ficar bem claro que nosso país não pode ser amedrontado por nada nem por ninguém, porque é um país que, sem renunciar ao combate em qualquer terreno, sabe lutar e luta, em primeiro lugar, com as idéias, com uma moral altíssima, muito acima do dilúvio de calúnias com que pretenderam sepultar sua exemplar obra revolucionária, que sabe o que faz e sabe que sua conduta é limpa; não apenas limpa, é inatacável, é exemplar, e foi capaz de resistir e demonstrar ao mundo sua capacidade política, sua consciência, sua cultura. Não quero advertir, mas também que ninguém pense que este é um país de tontos e idiotas.
Voltando ao tema do seqüestro do DC-3, onde estão os culpados? É o que temos de perguntar uma vez mais. E por que diabos não se tem sequer a elegância de devolver esse avião? Nessa nota que eu disse que era construtiva, expressava o desejo de que o avião pudesse ser devolvido, e vemos que o país fica impotente para impedir que fiquem com o avião, enquanto que chegaram a Cuba dezenas e dezenas de aviões, e neste país jamais se reteve um único avião; eram só alguns minutos para reabastecer, e voltar imediatamente. Tratava-se com amabilidade a todas as pessoas seqüestradas, não se lhes dizia uma bazófia à uma da manhã; eram atendidas em todos os sentidos, em todos os problemas, além de fazer-se o possível – como no caso daquele avião – para que não houvesse um acidente. Entretanto já é um hábito confiscar a qualquer avião de Cuba seqüestrado: estímulo para os seqüestradores potenciais e os loucos.
Há mais: como um governo pode dizer que não pode devolver uma parte da tripulação do avião seqüestrado, e não aceitar outra fórmula que a humilhante injusta fórmula de mantê-los ali à força? Estão seqüestrados de fato, foram levados por uns bandidos terroristas, que arriscaram a vida de mulheres, crianças e outros passageiros. Ah, têm de ficar lá, porque deu na telha de um juiz, nada menos que da Flórida.
Como podem ignorar a gravidade do fato de realizar o seqüestro com grandes facas no pescoço dos pilotos?
Como podem esquecer que usaram essa mesma maneira como seqüestram aviões de passageiros, os que depois chocaram contra as Torres Gêmeas de Nova York e contra o Pentágono, e até tentaram atirar um contra a Casa Branca? Será que é uma piada ou uma coisa insignificante, naquele país que viu morrer a milhares de norte-americanos? Com métodos exatamente iguais: seqüestrar aviões com facas na garganta dos pilotos e depois atirá-los contra um objetivo.
Se há um país no mundo onde o seqüestro, com uma faca na garganta do piloto, deve causar indignação e horror, é nos Estados Unidos. E agora, quando ocorre esse ato em Cuba, com crianças, com mulheres, com pessoas de certa idade, pessoas aposentadas, gente honesta como essas que falaram aqui, elas são maltratadas, trancadas e fazem com elas tudo o que contaram aqui.
Como se pode explicar que, enquanto na fronteira com o México já estão morrendo mais de 500 pessoas todos os anos, para impedir que gente pobre e desesperada cruze a fronteira, onde vão receber depois um salário dez ou quinze vezes maior, ou alguns que há anos vivem lá como ilegais e têm de ir e voltar para ver a família, e estão morrendo às centenas, desde antes dos fatos ocorridos em 11 de setembro, e que agora se anuncia que há não sei quantos novos dispositivos, com não sei que equipamentos excepcionais, os mais sofisticados do mundo, para impedir que imigrantes mexicanos cruzem a fronteira e desestimular toda tentativa ali, onde se perdem tantas vidas, como se pode explicar que fiquem com o avião seqüestrado e usem isso como pretexto para conceder todos esses privilégios a uma quantidade de adultos – são pelos menos sete – que participaram, de uma forma ou de outra, como cúmplices desse seqüestro, sem investigá-los?
Podiam, inclusive, devolvê-los, receber todas as garantias, porque nós sabemos dar uma garantia, e sempre que damos, cumprimos; mas pelo menos devolvê-los, e não abrir o precedente de que se pode seqüestrar um avião, e os cúmplices ficam lá, e oferecer a todo aquele que viaje, sem exceção, que fique no país. Onde está o decoro? Onde está a vergonha? Onde está a moral dos que aplicam semelhante política? Isso se chama estímulo aos seqüestradores de aviões.
Conhecemos bem as armadilhas e os truques que utilizaram. Bem, já começou o grande escândalo da máfia terrorista, a favor dos seqüestradores.
24 de março de 2003
O Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros do Departamento do Tesouro norte-americano emite novos regulamentos, reforçando o bloqueio dos Estados Unidos contra Cuba e ajustando-o aos fins subversivos da política anticubana desenvolvida pela administração Bush.
É detido outro contra-revolucionário, por atividades mercenárias a serviço de uma potência estrangeira.
25 de março de 2003
É detido um contra-revolucionário pela mesma causa.
26 de março de 2003
A USAID anuncia que concederá fundos ao projeto de transição para Cuba, da Universidade de Miami, por um milhão de dólares.
31 de março de 2003
O Departamento de Estado publicou o relatório sobre os direitos humanos no mundo, o qual contém uma parte dedicada a Cuba, em que se priorizam as falsas acusações contra nosso país e se expressa um claro apoio à contra-revolução interna. A diatribe anticubana do Departamento de Estado teve características similares às dos anos anteriores.
Nesse mesmo dia, começam a ocorrer as conseqüências previsíveis que denunciei no Programa Especial do dia 22 de março, como conseqüência da conduta adotada com os seqüestradores do DC-3, e os privilégios concedidos aos cúmplices, concedendo-lhes residência nos Estados Unidos.
Às 22h 10min, o Presidente da Aeronáutica Civil informa que o capitão de um avião AN-24, rota Ilha da Juventude – Havana, com 46 pessoas, reportou problemas a bordo. Disse que não tinha combustível para seguir, e o avião aterrissou no Aeroporto "José Martí". Estava no meio da pista. O seqüestrador, com uma granada na mão, ameaçava explodir o avião, se não lhe fosse fornecido combustível para prosseguir o vôo para os Estados Unidos.
22h 45min. Dou instruções a chefes do Ministério do Interior e da Aviação Civil:
"Muita paciência. Não tomar nenhuma decisão, sem uma análise ou consulta direta conosco. Esta é uma responsabilidade que deve ser assumida pelo governo. De modo que, assim que seja possível, estaremos em contacto, porque também temos de dar alguns passos por via diplomática e ver como fazê-lo, porque é de noite.
"Um homem com uma granada é um problema sobre o qual é preciso pensar seriamente. É preciso conversar com ele, se possível.
"Tratem de comunicar-se com ele, para ter mais dados: se é um, se são vários. São dados que temos de saber, porque aqui se informou que há seis crianças na aeronave.
"Nós estamos pensando em fórmulas para resolver o problema sem o uso da força".
Disse-lhes extensamente e em detalhes o que devia ser feito.
23h 14min. Por indicação minha, Carlos Valenciaga chama por telefone ao Chefe da Repartição de Intereses de Cuba em Washington e lhe transmite o seguinte:
"Dagoberto, é preciso tratar de chamar imediatamente ao Chefe do Bureau Cuba, Whitaker, e informar-lhe o seguinte: que um avião AN-24, com 46 pessoas a bordo, entre elas, seis crianças, quando viajava da Ilha da Juventude ao aeroporto de Rancho Boyeros, foi seqüestrado por um indivíduo que portava, segundo informa o piloto, uma granada de mão, exigindo que o conduzissem aos Estados Unidos.
"Que o piloto, não dispondo de combustível suficiente, não teve outra alternativa que aterrissar na pista de Rancho Boyeros, onde o seqüestrador exige combustível para prosseguir viagem.
"Que, neste momento, o seqüestrador se encontra na parte traseira do avião, com o que parecem ser duas granadas de mão.
"Que, sem dúvida, isso é conseqüência da conduta adotada pelas autoridades dos Estados Unidos, com o avião seqüestrado no dia 19, e inclusive do anúncio, amplamente divulgado pela imprensa, de que os seqüestradores seriam postos em liberdade sob fiança.
"As instruções que foram dadas às autoridades cubanas que se encontram no aeroporto são, em primeiro lugar, não realizar ação de força, conversar com ele e tentar persuadi-lo a desistir. Será utilizado o argumento de que a notícia divulgada, de que os seqüestradores anteriores seriam postos em liberdade sob fiança, é falsa. Dizer-lhe que estão presos e acusados de pirataria, que é um delito grave.
"Que, em primeiro lugar, quisemos comunicar-lhe os fatos, a linha que vamos seguir, e sugerimos que pensem se é possível, de alguma forma, fazer chegar a ele, ou seja, ao seqüestrador, a posição dos Estados Unidos contra esse tipo de atos e a sanção que têm. Em duas palavras: alguma forma de colaboração para resolver esse problema, não apenas pelo perigo que representa fazer a viagem nessas condições, com uma ou duas granadas na mão, que não sabemos se estão travadas.
Segundo, porque cremos que seria nocivo, para o governo dos Estados Unidos, que esse segundo avião aterrissasse lá, doze dias após o primeiro seqüestro.
"E terceiro, que esses antecedentes poderiam, sem dúvida, desatar uma onda de ações dessa índole, que não convém que ocorram, nem aos Estados Unidos nem a Cuba, porque põem em perigo a segurança do transporte de passageiros. Tais ações tendem a ser imitadas, inclusive por pessoas irresponsáveis ou desequilibradas. Rogamos que analisem inclusive a possibilidade de que algum funcionário da Repartição de Interesses dos Estados Unidos em Havana possa comunicar-se diretamente com o seqüestrador. Seria algo realmente construtivo e útil".
23h 57min (hora de Cuba). Dagoberto fala com Whitaker e lhe transmite tudo o que lhe havia sido indicado. Whitaker lhe faz algumas perguntas para precisar. Disse que começaria a dar telefonemas e o chamaria em minutos.
1º de abril de 2003
12h 55min (hora de Cuba) [11h 55min, hora de Washington]. Whitaker, Chefe do Bureau Cuba do Departamento de Estado, chama a Dagoberto, Chefe da Repartição de Interesses de Cuba em Washington, para dizer-lhe que falou com seu chefe e com Cason, em Havana, que estão desejosos de cooperar e passar mensagem através dos canais apropriados, dizendo que esse é um crime muito sério, e que, se fossem para os Estados Unidos, seriam detidos e submetidos a um julgamento muito severo.
Atendeu-se o caso de comum acordo e coordenando esforços – entre ambas as partes.
Cason foi ao aeroporto. Pela primeira vez, ele e Dausá, Diretor do Departamento da América do Norte do MINREX, foram aliados durante duas horas, na vã tentativa de persuadir o seqüestrador.
A partir das quatro horas da manhã, tudo ficou a cargo das autoridades cubanas, que informaram constantemente, á Repartição de Interesses dos Estados Unidos em Cuba, a evolução dos acontecimentos. Conseguiu-se obter a liberação de 22 reféns para carregar o avião com combustível suficiente para aterrissar em Alabama, e não no feudo extremista da Flórida.
Primeiro, parecia algo impossível, pelo combustível que podia carregar o avião repleto de pessoas. Depois foi possível, porque desembarcaram 22 reféns. Assim se comunicou à Repartição de Interesses. Abastecer de combustível o AN-24 não constituiria problemas, se as autoridades dos Estados Unidos atuassem com a seriedade prometida e permitissem o regresso do avião, da tripulação e dos demais passageiros.
Segundo parece, o assunto foi discutido em altas esferas.
Na manhã de segunda-feira, esperou-se durante cinco horas pela resposta de Cason, que, por sua vez, esperava a decisão do governo. O compromisso com o homem da granada – o que havíamos assumido –, depois da saída das 22 pessoas, era abastecer o avião e que decolasse às 11 horas. O chefe da RINA solicitou mais 40 minutos. Esperando a resposta; já se sabia que o avião tinha combustível para aterrissar em outro Estado. Conseguiu-se adiar a saída por 55 minutos, até quase o meio-dia. Ainda não havia resposta. Quando esta chegou, o avião estava no ar. A absurda e estúpida decisão foi que o AN-24 aterrissasse em Cayo Hueso. Ali, a história se repetiu: maltrato brutal e humilhação aos passageiros, privilégios para cúmplices, mão de seda com o seqüestrador, avião confiscado, retenção da tripulação. Era nojento!
Prevaleceram Otto Reich e a máfia da Flórida. Disso, não culpo a Whitaker, nem ao subordinado de Otto Reich. Cason se mostrou prudente e sensato, pelo menos por 24 horas.
A notícia de que o avião seqüestrado tinha sido abastecido para seguir viagem teve o nefasto efeito que se tentava evitar: uma segura onda de seqüestros violentos de aeronaves e embarcações de passageiros.
2 de abril de 2003
Não haviam passado 24 horas do referido anteriormente e, à 1h 40min da madrugada, o Ministério do Interior informa que se acaba de saber, por seu Centro de Direção do MININT, que a lancha Baraguá estava saindo pela boca da baía, que levava passageiros, sem precisar a quantidade, e que tudo parecia indicar que tinha sido seqüestrada.
O Ministro do Interior orientou a que fosse acompanhada pelo patrulheiro 040 das Tropas Guarda-Fronteiras, e que uma lancha rápida de incorporasse ao acompanhamento.
A embarcação seqüestrada navegava para o norte, a seis nós por hora.
Às três da madrugada, os seqüestradores comunicam por rádio que levam a bordo umas 50 pessoas, entre elas, 6 a 8 crianças e 5 ou 6 estrangeiros, e exigem que lhes seja dada uma embarcação para continuar viagem para os Estados Unidos. Caso contrário, começariam a lançar reféns ao mar.
Pela primeira vez se faz uma exigência desse tipo. Agora, só faltava que seqüestrassem um "camelo", pusessem uma faca na garganta de algumas pessoas e exigissem ir ao aeroporto e buscar um avião para ir para os Estados Unidos. É absolutamente claro que isso é simplesmente inconcebível.
Às 11h 45min, a lancha Baraguá, projetada para navegar em águas interiores, esgotou seu combustível, ficando ao pairo a 30 milhas da costa, em mar força 4, com grave risco de emborcar e provocar a morte das 40 pessoas que realmente iam a bordo, entre eles, 29 reféns, incluídas mulheres e crianças.
Às 14h 32min, as forças Guarda-Fronteiras conseguem atar a proa da embarcação seqüestrada, salvando-a do perigo de naufragar, conduzindo-a em direção ao porto de Mariel. Os seqüestradores, que aceitaram a operação de resgate, mantiveram uma atitude sumamente agressiva, ameaçando assassinar aos reféns, se não lhes forneciam combustível ao chegar ao porto. Colocavam as facas na garganta de várias mulheres, cada vez que pediam alguma coisa. Somente 40 horas depois do seqüestro, com a cooperação dos próprios reféns, que se atiraram na água, todos puderam ser resgatados ilesos. Não foi necessário abordar a embarcação, o que seria último recurso.
Dias depois, em 10 de abril, soube-se, através do Centro de Direção do MININT da Ilha da Juventude, que, entre as 17h 30min e 18h, cinco indivíduos, de forma surpreendente e violenta, arrebataram um fuzil AK-M de um soldado do Serviço Militar que estava de guarda num depósito de reserva das FAR, fugindo num automóvel.
No plano, estavam envolvidos oito indivíduos. Sua intenção era concentrar-se no salão de espera, momentos antes da chegada do avião, esperar que baixassem entre seis e dez pessoas – é óbvio, porque eles são oito, têm de esperar que baixem alguns, porque, do contrário, não cabem no avião –, nesse momento romper com os pesos a parede de cristal que está em frente à pista, abordar o avião á força e tomar como reféns os demais passageiros, que, calcula-se, seriam mais de 30.
Nesse mesmo dia, a agência NOTIMEX informou que um juiz federal dos Estados Unidos ratificou a decisão de um magistrado da Flórida, de liberar sob fiança os seis cubanos acusados de seqüestrar e desviar, em março passado, um avião DC-3 de Cuba, com 31 pessoas a bordo.
Em apenas duas semanas, haviam ocorrido os seqüestros de dois aviões em pleno vôo, repletos de passageiros, de uma embarcação com capacidade para 100 pessoas, que, por sorte, levava só 40, e eles disseram 50; o ataque a um soldado, para arrebatar seu fuzil automático e tomar à força, com o emprego deste e de três armas brancas, outro avião com passageiros, que estava a ponto de aterrissar num aeroporto.
As notícias transmitidas pela imprensa, de que um juiz da Flórida havia concedido, aos seis seqüestradores do DC-3, a liberdade sob fiança, levaram a um imediato incremento da atividade do potencial migratório que, por seus antecedentes delitivos comuns e características anti-sociais, inclinam-se às saída ilegais mediante a utilização desses métodos.
Desde 19 de março, quando ocorreu o primeiro seqüestro, do DC-3, verificaram-se 29 projetos e idéias de seqüestrar embarcações e aeronaves, com emprego da força, coisa que não ocorria há muitos anos.
Quarenta e oito horas depois do seqüestro do AN-24, que recebeu combustível para seguir viagem, investigaram-se no mesmo dia dois novos projetos; em 3 de abril, investigaram-se dois; em 5 de abril, investigaram-se quatro; em 7 de abril, investigaram-se três; em 9 de abril, investigaram-se outros três; em 10 de abril, investigaram-se dois. Era preciso cortar radicalmente aquela onda de seqüestros, que os fatos ocorridos desde o assalto ao DC-3, em 19 de março, e os dados mencionados correspondentes aos primeiros dias de abril, demonstravam que estava em pleno desenvolvimento. Era preciso aplicar, sem qualquer vacilação, as sentenças impostas pelos Tribunais e ratificadas pelo Conselho de Estado, aos seqüestradores do barco "Baraguá".
A medida não será completa, se não aviso aqui que não se voltará a fornecer combustível a nenhum avião ou embarcação seqüestrada de Cuba, que o exija para continuar viagem para os Estados Unidos ou qualquer outro país, e os seqüestradores devem saber que serão submetidos a juízos sumaríssimos nos tribunais correspondentes e que não devem esperar clemência do Conselho de Estado. Fica completo agora o que devem saber. É também uma medida dura, mas imprescindível, porque é preciso arrancar pela raiz tais ações.
A experiência demonstra que, quando os autores sabem que não têm alternativa, abstêm-se de cometer tais crimes. Demonstrou-se de forma irrebatível, quando, em setembro de 1980, dois indivíduos – neste caso, infelizmente, de origem cubana –, apesar das advertências oportunas que foram feitas, seqüestraram um avião de passageiros norte-americanos e o trouxeram a Cuba. Foram imediatamente devolvidos aos Estados Unidos. Nunca mais, em 22 anos, um avião norte-americano foi seqüestrado para território cubano, porque até os loucos, os desequilibrados sabem que são devolvidos. Assim devia agir o governo daquele país, e não continuar oferecendo apoio e impunidade, em seu território, aos autores de tais atos, que tanto risco implicam, irmãos gêmeos da assassina Lei de Ajuste Cubano, que tantas vidas custou a nosso povo.
Sabe-se que os que tentam viajar ilegalmente aos Estados Unidos não são aqueles que solicitam e recebem vistos, dentro da quota dos Acordos Migratórios, que são pessoas, em geral, tranqüilas, sem antecedentes penais por delitos comuns, nível de educação não inferior a 9ª série, muitos técnicos médios, e quantos professores, médicos e profissionais a RINA queira recrutar, sem sorteio, ou com sorteio. Os que viajam ilegalmente são pessoas que nunca receberiam visto, por sua falta de nível educacional ou técnico, e seus antecedentes penais e sociais. Eles filtram bem a quem concedem vistos, de uma longa lista que fizeram uma vez, tratando de saber, e que queriam refazer todos os anos e lhes dissemos que não; queriam ter mais canteira de onde recrutar, de onde roubar cérebros do país, ou privá-lo de técnicos que a economia do país necessita. De maneira que o que se vão ilegais são os que não recebem vistos ali. Estes últimos são os mais violentos e perigosos. Seu potencial é suficiente para desatar uma onda de assaltos com uso de armas brancas ou de fogo, tomar reféns e ameaçar a tranqüilidade e segurança de nosso povo.
O mais grave da conspiração contra Cuba do grupo mafioso de Miami e da gente colocada por eles nos círculos mais próximos de Bush, inimigo jurado dos Acordos Migratórios e da débil abertura à venda de alimentos a nosso país, depois de quatro décadas de cruel bloqueio, é o propósito de romper os Acordos Migratórios e forçar uma emigração em massa, cujo principal instrumento é a absurda e assassina Lei de Ajuste Cubano, e cujo potencial está constituído por ex-presos por delitos comuns e os piores elementos anti-sociais que ainda existem em nossa sociedade, que somente desaparecerão com os programas educacionais e sociais, sem precedentes na história do mundo, que hoje de aplicam em Cuba.
A sinistra idéia de provocar um conflito armado entre Cuba e os Estados Unidos. Nisso põem a esperança de liquidar a Revolução, esquecendo o que Maceo advertiu, e que hoje ganha mais vigência que nunca: "Quem tentar apropriar-se de Cuba, recolherá o pó de seu solo encharcado em sangue, se não perece na luta".
Mais de 40 anos de fracasso após fracasso deveriam persuadir a qualquer governo dos Estados Unidos de que as mais sofisticadas armas não poderiam vencer a resistência de nosso povo, que sabe de antemão que tática deve utilizar e que formas de luta empregar, para anular até reduzir a zero a superioridade tecnológica do atacante.
Não se conquista um país com divisões blindadas, milhares de tanques, helicópteros, aviões de bombardeio e de caça, dezenas de porta-aviões e cruzeiros, e dezenas de milhares de mísseis. Ocupadas as cidades e todo o território – isto deve ser considerado um princípio fundamental –, é preciso governar a milhões de pessoas em cidades e campos. Se crêem que serviriam para alguma coisa em Cuba, os grupos mercenários de Miami, estes durariam o mesmo que um pirulito na porta de uma escola. Mortos todos os líderes principais, nenhum doa quais jamais levantará a bandeira branca, dezenas de milhares de combatentes ocuparão os postos de cada chefe que morra, e geração após geração, o povo de Cuba lutará contra as tropas de ocupação. Ou seja, no momento em que nosso país for ocupado não termina a guerra, é aí que começa.
Nunca, em nenhuma época, nenhum exército, em nenhuma parte do mundo, lutou contra homens e mulheres de um povo de centenas de milhares de profissionais revolucionários e milhões de pessoas com um elevado e profundo nível de conhecimentos, cultura e consciência, que sabem que sua obra de justiça e humanidade, criada sob decênios de bloqueio, hostilidade e agressões da potência mais poderosa que poderia existir, não tem paralelo na história.
O governo dos Estados Unidos, por exemplo, acaba de lançar-se, no Oriente Médio, à aventura de conquistar um país de 24 milhões de habitantes, rodeado de centenas de milhões de pessoas que, a partir da mesma nacionalidade, da mesma fé religiosa e da mesma cultura – que se caracteriza pela indiferença ante a morte física –, convertem-se numa temível comunidade, cujo potencial de resistência e luta deveria ser suficientes para roubar o sono dos atuais estrategistas políticos da superpotência, às portas do que poderia ser uma tragédia muito maior que a do Vietnã.
Os xiitas do Iraque já estão reclamando a retirada dos invasores, a devolução de seu petróleo e um Estado islâmico.
Não se pode esquecer que um movimento constituído pelos muçulmanos xiitas do Irã, vaga após vaga de massas desarmadas, sem que lhes importasse quantas vidas se perdiam, varreu o Xá do Irã, o mais poderoso e armado gendarme dos Estados Unidos naquela região do mundo. Os muçulmanos sunitas não ficarão atrás. Nunca tiveram mais razões para se unirem.
Continuando com o informe do que esteve acontecendo em nosso país, devo assinalar que o grupo que assaltou a embarcação de passageiros Baraguá estava constituído por 11 pessoas, que converteram em reféns a 29 passageiros, entre eles, quatro garotas turistas, duas francesas e duas nórdicas, que eram as primeiras a que ameaçavam matar, conscientes do dano que tal ação provocaria à economia do país. Ou seja, não tinham objetivos políticos, mas sabiam onde podiam fazer mais dano para obter seus propósitos, ameaçando matar em primeiro lugar as turistas. Ameaçavam a uma com a pistola, que, aliás, tinha o gatilho levantado, sem trava.
A propaganda infame do imperialismo e seus aliados é que os condenados à pena capital eram dos chamados "dissidentes", ou seja, os que foram presos, julgados e sancionados por delitos de traição ao país, ao atuar como mercenários a serviço de uma potência estrangeira, que há mais de 40 anos nos bloqueia e ameaça destruir a Revolução, fazendo com Cuba o que acabam de fazer com o Iraque. Nenhum desses foi condenado a prisão perpétua, como fizeram os tribunais de Miami com os cinco heróis cubanos, prisioneiros do império por lutar contra os atos terroristas com que o governo dos Estados Unidos inundou nosso país.
Todos os participantes dos três seqüestros mencionados, e na tentativa de seqüestrar um terceiro avião de passageiros, quase sem exceção, têm antecedentes penais por delitos comuns.
Dos três condenados à pena capital – e não desejo mencionar seus nomes, simplesmente para não ferir aos familiares –, o chefe principal dos seqüestradores havia estado implicado em 15 processos ou expedientes penais por delitos de caráter comum, em várias ocasiões foi condenado a penas de prisão, 28 vezes foi advertido oficialmente por assédio a turistas, e em 119 ocasiões foi conduzido às delegacias de polícia, por diferentes causas.
O segundo foi processado cinco vezes por delitos comuns, e condenado em quatro deles.
O terceiro esteve envolvido em sete processos penais, entre eles, um por agressão com arma branca a um trabalhador da construção – era um chefe de microbrigada da que estavam construindo–, em conseqüência da qual este morreu.
Dos restantes cinco condenados a elevadas penas, apenas um não tinha antecedentes penais.
Porta-vozes do governo dos Estados Unidos falam de sua preocupação com um êxodo massivo de emigrantes ilegais. Tal preocupação não poderia ser mais hipócrita, quando, deliberada e friamente, com fins sinistros, a máfia terrorista de Miami e seus mais importantes aliados em altos círculos de poder, como Otto Reich e Roger Noriega, promovem o seqüestro em massa de aeronaves e embarcações cubanas, por ex-presidiários e delinqüentes comuns, tomando a passageiros e outras pessoas inocentes como reféns, para trasladar-se aos Estados Unidos, com o que se busca um inevitável êxodo massivo – como ocorreu nos fatos de 5 de agosto de 1994 –, que sirva de pretexto para uma agressão militar a Cuba.
A direção revolucionária de Cuba estava plenamente consciente do custo político das medidas que se viu obrigada a adotar. Ninguém pense que isso não foi bem analisado, em todos os seus aspectos. Já de antemão nos doía ferir a muitos de nossos amigos e a um grande número de pessoas no mundo, cuja sensibilidade por motivos de caráter religioso, humanista ou filosófico com relação à pena de morte conhecemos perfeitamente bem, e que, em muitos aspectos, nós mesmos compartilhamos.
Há poucas semanas, um ilustre escritor quis fazer-me uma entrevista e abordou, entre muitos outros temas, o da pena de morte. Tomo a liberdade de utilizar alguns elementos daquela entrevista. Não vou citar o nome do entrevistador.
O escritor – Comandante, em muitos países do mundo se está suprimindo a pena de morte. Todos os países da União Européia suprimiram, e muitas pessoas se perguntam por que em Cuba, onde há tantos progressos sociais, ainda não foi suprimida a pena de morte.
Fidel Castro – Penso que é uma pergunta interessante.
Questionávamos a pena de morte, quando nos fizemos revolucionários, quando lutávamos, ou quando triunfa a Revolução? Nós a questionávamos naqueles anos de invasões, guerra suja, atentados e tudo o mais? Não, certamente não a questionávamos. O que pensávamos era sobre as formas, os procedimentos e os aspectos legais do tema. O que aconteceu?
Os movimentos políticos tiveram de defender-se, tanto as revoluções como as contra-revoluções se defenderam através de procedimentos de um tipo ou de outro. Para nós, o essencial era defender-nos através de normas, de procedimentos legais, e evitar injustiças, acima de tudo, evitar o que fosse extralegal e extrajudicial, que evitamos e estamos evitando a todo custo.
Não é que nos sentíssemos felizes de aplicar a pena de morte. Olhávamos desse ângulo, como uma questão de vida ou morte. Em geral, os que participam nessas contendas partem do princípio real de que é uma batalha de vida ou morte. Se os revolucionários não se defendem, sua causa é derrotada e têm de pagá-lo com suas vidas. (Neste caso, poderíamos falar das vidas de milhões de pessoas deste país, combatendo, ou assassinadas depois.) Isso era, para nós, uma idéia clara. E o vimos e aprendemos em nosso processo. Muitos dos que estavam em atividades terroristas não estavam pensando em derrotar, eles, a Revolução. Todos viviam com a convicção de que os Estados Unidos e sua força militar seriam os que derrotariam a Revolução. Os contra-revolucionários tinham a convicção de que sua causa triunfaria por uma razão ou por outra, neste caso muito especial, porque a luta era contra os Estados Unidos. Para eles, a questão era fazer alguns pontos; estar nas prisões não os preocupava muito, nem os desanimava. Esperavam a intervenção dos norte-americanos para derrotar a Revolução. Como podíamos brecá-los? Há muito mercenarismo nos contra-revolucionários; defendem interesses, não idéias. Felizmente, não tínhamos de lutar contra fanáticos de idéias ou de causas. Tivemos o privilégio de lutar contra gente que estava movida principalmente por ambições de tipo material, de tipo econômico e de tipo social (Recordem aquele cavalheiro que jurou, depois do golpe de Estado de 11 de abril, na Venezuela, e por pouco não foi preso pelos próprios escoltas de Chávez que ainda estavam ali, porque mantiveram a guarnição que havia ali; pensavam que eram soldados de chumbo, que aqueles não eram seres humanos.) Dos fanáticos, não teríamos podido livrar-nos; então, sim, não teria saído vivo das centenas de planos de atentados que elaboraram contra mim. Uma vez me tiveram diante de uma câmara como essa (até mais perto) – que nos filmava –, tinha dentro uma metralhadora, quando visitei o Chile em 1971 (numa coletiva de imprensa). Eles certamente iam morrer ali, se disparavam com aquela arma. Mas quando a vida está em perigo não disparam.
Os que acreditavam que, cometendo atos de terrorismo e matando gente, assassinando professores, sacrificando vidas de camponeses e vidas de soldados que constituem nossa força, com a esperança de ter depois um prêmio, temiam a morte. Por isso, os delitos mais graves eram sancionados com a pena capital. Esse era o pensamento que prevalecia. Foi-se travando, foi-se ganhando aquela batalha e, de fato, por motivações de tipo contra-revolucionário, há muitos anos não se aplica. O último plano de atentado foi naquela reunião do Panamá, organizado e dirigido por Posada Carriles, o autor da explosão do avião de Barbados.
O escritor – Na reunião da Cúpula Ibero-Americana?
Fidel Castro – Sim, e foi capturado.
Nós o descobrimos por métodos de penetração, busca de informação e até por métodos técnicos. Nós também podemos saber de onde alguém está falando com um celular, por exemplo, Qualquer alfabetizado tecnicamente sabe. Agora a luta é porque querem deixá-lo em liberdade. Tudo isso foi pago dos Estados Unidos.
Surgiu outro tipo de delito: enviavam rapazes jovens da América Central, para colocar bombas, por cinco mil dólares – guatemaltecos, salvadorenhos e outros. Não vinham eles (ou seja, os grandes chefes e cabecilhas), faziam isso com mercenários. Nenhum dos que foram sancionados à pena capital foi executado.
O escritor – Foram condenado à pena de morte?
Fidel Castro – Foram condenados à pena de morte, mas não foram executados.
Isso não implica uma renúncia à aplicação dessa pena (ou seja, refiro-me à lei). A lei não deixou de existir, a lei que a estabelece, porque não se sabe que tipo de coisa bárbara podem aplicar contra Cuba. Se explodirem um avião cheio de passageiros, nosso povo não aceitará um perdão, nem um indulto para seus autores. Em geral, a posição das pessoas sobre esse tema costuma ser dura, embora nem sempre um governo tenha de fazer o que as pessoas pedem. De fato, a pena capital não vem sendo utilizada nos últimos anos, mas não se renuncia a ela (à pena capital, para um ou outro tipo de delito). Não creio que estejamos vivendo num mundo para fazer isso.
Se começam a aplicar o terrorismo contra o país, se cometem crimes e matam crianças numa escola, eu garanto que seria muito difícil, nessas condições, que não se fizesse uso das leis mais severas, porque não sei o que é e como se pode chamar colocar bombas numa escola, no interesse de uma potência ou de um governo estrangeiro.
Os europeus não estão bloqueados, nem lhes estão pondo bombas todos os dias. Não sei o que fizeram, quando tinham alguns grupos como as Brigadas Vermelhas. Ouvi algumas histórias do que aconteceu com alguns membros das Brigadas Vermelhas. Também ouvi falar de algumas pessoas executadas no exterior. como é o caso, por exemplo, dos bascos.
O escritor – O senhor se refere aos GAL [Grupos Antiterroristas de Liberação], por exemplo? Porque na Espanha não há pena de morte.
Fidel Castro – Não há pena de morte, mas agora ocorreu o que nunca nós fizemos, que se executasse a alguém, e na Europa executaram a dezenas de pessoas.
O escritor – Extrajudicialmente.
Fidel Castro – Que se escreva a história dos membros da Brigada Vermelha executados extrajudicialmente, ou que se escreva a história real dos membros do ETA executados extrajudicialmente, quando não há pena de morte. Aqui existe essa pena, mas não há execuções extrajudiciais, não há um único caso.
Para que você veja as aparências e diferenças, onde pode estar a verdade e onde pode haver teorias demagógicas e hipócritas. Há de tudo.
Nós garantimos que aqui nunca haverá uma execução extrajudicial, e que nunca haverá tortura. Podem perguntar a esses que puseram as bombas, se eles disseram alguma palavra à base de tortura, ou se receberam um golpe. Claro, não são fanáticos, são mercenários, imediatamente falam, basta que você lhe demonstre irrefutavelmente. Eles mesmos explicam como trouxeram o explosivo num televisor pequenino, o plástico dessa ou daquela cor, elaborado para que os cães não pudessem farejá-lo, um tipo especial de explosivo; onde vinham os detonadores, nuns fiozinhos; o relógio digital que traziam para colocar no artefato e fazê-lo explodir, quando quisessem, aos cinco minutos ou depois de 99 horas. Muito sofisticado.
Este queria um recorde olímpico: cinco bombas que explodissem quase simultaneamente; enquanto, em Miami, a Fundação declarava que era gente da Inteligência Militar e da Segurança do Estado, que estava descontente, o que, para eles, era correto e legítimo. Sobre isso, há um montão de publicações.
O salvadorenho colaborou muito, com serenidade, para desvendar os métodos e técnicas que usava Posada Carriles, para levar a cabo os atos terroristas contra os hotéis (que causaram a dolorosa morte de um jovem), o que contribuiu para desmascarar os verdadeiros autores e acabar, até hoje, com essas ações. (Realmente, devo dizer que houve uma colaboração extraordinária. Há aqui companheiros que poderiam explicar até que ponto colaborou, desde o primeiro momento, e até que, inclusive, recebeu chamadas, falou, fez tudo o que foi pedido, e o fez tranqüilamente; veio a família e o viram. Deram-se tais circunstâncias, que, até os que durante longos meses trabalharam com esse jovem não gostavam da idéia de que lhe fosse aplicada a pena capital pelo delito cometido. É a verdade, e eu lhes dou razão. Com isso respondo. Ainda há alguns que perguntam: "Mas como...? Este prestou um serviço importante e ajudou a capturar outros, porque sabemos todos os dados que sabia, tinha bastante conhecimento". Sim, mas devo dizer isto com franqueza, o que aconteceu com essa situação. Quase todo mundo, à medida que tinha conhecimento da forma como colaborou, reagia igual.) Jovens como ele, há potencialmente milhares na América Central, que podem ser utilizados da mesma maneira. Há alguns aos quais ofereciam ( a máfia terroristas de Miami) até dois mil dólares por bomba, mais a passagem e as despesas de estadia. Aproveitaram a facilidade do turismo.
Com relação aos delitos comuns, aplicou-se a pena capital até o mês de maio de 2000.
O escritor – E desde então não se aplica?
Fidel Castro – Não se aplicou nenhuma. (Eu estou falando algumas semanas antes destes acontecimentos.)
O escritor – Há três anos?
Fidel Castro – É uma espécie do que chamam de moratória. Mas eu quero sim advertir sobre isso: não está abolida. Há dois casos muito graves de assassinato pendentes de julgamento, entre eles, um em que mataram a um grupo de quatro familiares (dois avós residentes em Miami, um neto e uma filha destes, e o chofer do veículo, residentes em Villa Clara, que foram esperá-los no aeroporto e voltavam por rodovia). Há dois casos desses, muito graves, que criam um problema muito sério de opinião, que estão por resolver. Não há um compromisso de suspensão definitiva. (Não se pode ser mais claro.)
A pena capital, de fato, não se aplica, mas não se renunciou a ela. Explico, porque não quero enganar a ninguém.
Estamos agora estudando o delito e as causas que o originam. Realizamos estudos de todo tipo. Há casos de crimes tão horríveis, que parecem de pessoas alienadas. Quem estudou Direito sabe que existe um princípio em Direito, de que o homem alienado é inimputável.
Quantos estudos foram feitos no mundo sobre as causas mentais, que bem podem ser de origem genética ou de tipo acidental, que provocam problemas nas pessoas e as tornam violentas. Quais são os agentes genéticos ou acidentes que afetam o funcionamento da mente humana, que praticamente convertem em monstros a essas pessoas? Nós estamos estudando esses fatores.
Penso que avançamos para um futuro, em nosso país, em que estaremos em condições de abolir a pena capital, não a partir de questões simplesmente filosóficas, senão de um profundo senso de justiça e humanismo.
É que os estudos reais, profundos da mente humana e dos fatores que levam ao delito não foram estudados em nenhum lugar. Penso que Cuba é o primeiro país que está realizando essa pesquisa, calada, mas trabalhando. Desde o dia 30 deste mês já tinham sido visitadas por geneticistas, todas as pessoas incapacitadas, entre elas, e principalmente, as que têm algum tipo de retardo mental. E estamos descobrindo muitíssimas coisas. Ninguém nunca fez esse estudo, e não há quem possa fazê-lo hoje, ou que se preocupe em fazê-lo. Somos nós, os "violadores dos direitos humanos", que estamos fazendo, porque temos um povo, um capital humano, o número de médicos que quisermos, os recursos e a vontade férrea, desde o primeiro dia, de lutar pela saúde das pessoas, e de lutar pelos seres humanos.
Eu já disse quantas vidas foram salvas neste mesmo país, com a redução da mortalidade infantil à mais baixa deste hemisfério, e uma das mais baixas do mundo, mais baixa que a dos Estados Unidos, apesar dos enormes recursos que têm, e quantas estamos salvando todos os dias, os 3.000 médicos que trabalham nos programas integrais, sem cobrar um centavo dos países com os quais cooperamos.
E mais, não se pode, hoje, no mundo, fazer um programa contra a AIDS na África, um programa sério, verdadeiro, sem contar com este país "violador dos direitos humanos".
Imaginem quanta hipocrisia há nisso tudo, e tudo isso é preciso debater e discutir, para que acabem agora as historinhas associadas a isso.
Penso que, quando se aprofunde em tudo que mencionei, chegaremos à conclusão de que sempre haverá pessoas que deverão estar isoladas, por estrita necessidade, e não como castigo.
Felipe González, que tanto nos atacou nesses dias, era o chefe do governo espanhol, quando dezenas de militantes do ETA foram executados extrajudicialmente. Dizer que não sabia de nada é uma confissão de bobo ou uma declaração cínica.
Aznar, atual chefe do governo espanhol e aliado da superpotência no massacre do povo iraquiano, foi quem, em 13 de abril de 1999, num momento incerto da guerra contra a Iugoslávia, num encontro com o Presidente dos Estados Unidos, aconselhou-lhe textualmente: "Se estamos numa guerra, façamo-la completamente, para ganhá-la, e não só um pouco. Se necessitamos persistir durante um mês, três meses, façamo-lo. Não entendo por que não bombardeamos ainda a rádio e a televisão sérvias". Horas mais tarde, a OTAN ordena o início da fase 2, e se eleva a intensificação dos bombardeios, e o número e a diversidade de objetivos a destruir.
No dia 14 de abril, um comboio de refugiados albaneses em Kosovo foi alvo do ataque aéreo, perecendo 85 deles, sem contar os feridos. Duas refinarias e um bairro residencial de Belgrado são destruídos na Sérvia; 300 aviões adicionais são acrescentados ás forças da OTAN.
Em 16 de abril, incrementam-se os bombardeios sobre transmissoras de televisão e pontes. Nesse mesmo dia, ocorreu o ataque geral mais forte em duas semanas.
Entre a tarde do sábado, 17, e a manhã do domingo, 18 de abril, aviões da OTAN realizaram 500 ações de ataque, bombardeando refinarias, pontes, fábricas e dúzias de outros alvos civis, no que foi qualificado pela própria OTAN como as 24 horas mais ativas da guerra.
Em 18 de abril, refinarias de petróleo e indústrias químicas são atacadas e destruídas, em Belgrado e Novi Sad, e a rodovia que une Belgrado a Podorica, a capital de Montenegro, foi inutilizada.
Sabe-se que, dois dias antes, os atacantes tinham começado a utilizar as bombas GBU-27, conhecidas como "sísmicas", as quais se introduzem no concreto armado e produzem um forte tremor, que faz que o edifício seja derrubado e muitos outros próximos sejam afetados.
Em 19 de abril, edificações civis de Belgrado e Novi Sad, e as populações de Paracin, Kraligevo e Sremska Mitrovica são atacadas. A OTAN admite que pode ter havido erros de sua parte.
Em 21 de abril, a OTAN ataca a residência privada do Presidente da Iugoslávia, o edifício do Partido Socialista, três estações de televisão e 20 empresas do centro comercial Usche.
Em 22 de abril, dois mísseis da OTAN destroem a última ponte sobre o Danúbio e Novi Sad, cortando o tráfego por rodovia e trem, e oito estações de transmissão.
Naquele momento se sabe que os hospitais já atendiam somente casos de urgência, e dezenas de crianças e jovens entre 2 e 19 anos, em Belgrado, estavam a ponto de morrer por falta de recursos para realizar a diálise.
Em 23 de abril, às 2h 20min da madrugada, a central de televisão sérvia, no centro de Belgrado, foi totalmente destruída; no ataque pereceram 16 pessoas, outras 19 ficaram feridas, entre elas, vários jornalistas, e outras 20 se encontravam presas entre os escombros.
A OTAN anuncia que estavam enfocando os ataques contra as comunicações, a rádio e a televisão.
A Anistia Internacional, que vocês sabem como é, considerou esse ataque à rádio e televisão sérvias, num relatório de 53 páginas, um crime de guerra, por tratar-se de bombardeio direto a um objetivo civil.
Haviam passado somente dez dias, desde os conselhos do senhor Aznar, em sua reunião com o Presidente dos Estados Unidos.
Peço ao senhor Aznar que diga se isso é ou não verdade. Aqui tenho um importante documento. É longo, tem mais de 15 páginas.
A aplicação em Cuba da pena capital aos seqüestradores ocasionou muito mais incompreensão internacional que a prisão dos mercenários a soldo do governo dos Estados Unidos, por razões óbvias, explicadas anteriormente, ao que se somou um dilúvio de mentiras e desinformação, desatado pelos meios de massa do império e seus aliados. Lamentavelmente, pessoas apreciadas por nosso povo lançaram-se a emitir opiniões e juízos, sem conhecer fatos e realidades dignas de serem consideradas. Também calculávamos e prevíamos esses riscos, e não pretendemos que compartilhem nossos pontos de vista.
Há também muitos revolucionários honestos em nosso país que são contra a pena de morte, mas que, entretanto, compreendem bem o dever sagrado de lutar para impedir que milhões de cubanos sejam fuzilados pelos que tentam impor a todos os povos da Terra uma tirania mundial nazi-fascista. Quando falo de fascismo, não me refiro ao sistema político interno dos Estados Unidos. Podem-se tirar do povo dos Estados Unidos muitos direitos, ou restringi-los, mas ninguém poderia instaurar ali um regime fascista. Falo de uma ordem mundial fascista, imposta pelo governo dos Estados Unidos, baseada no imenso poder militar daquele país. Não aplico esse qualificativo nem sequer aos militares norte-americanos, educados na tradição do cumprimento estrito das ordens recebidas, com as antigas legiões romanas.
Se houve holocausto do povo judeu há apenas 60 anos, hoje trata-se de impedir o holocausto de dezenas de povos ameaçados de serem atacados e, inclusive, exterminados, já que, segundo se anuncia, todas as armas podem ser utilizadas para atacar, preventivamente e de surpresa, em qualquer obscuro rincão do planeta.
O denominado mundo ocidental e cristão deveria tomar consciência dessa realidade, antes que seja demasiado tarde, como parece que está ocorrendo, diante do gigantesco holocausto provocado pela pobreza, pela fome, o subdesenvolvimento, a falta de educação e de saúde, a globalização neoliberal e a atual ordem econômica e social imposta à humanidade, que, a cada ano, matam a dezenas de milhões de pessoas, nos países do Terceiro Mundo.
A nação cubana está orgulhosa de seus intelectuais, artistas, cientistas e de todos os seus profissionais universitários, que de maneira praticamente unânime apoiaram a Declaração do Conselho Nacional da União de Escritores e Artistas de Cuba chamando a criar uma frente mundial antifascista.
Orgulho especial demonstra igualmente o nosso povo, pelo brilhante grupo de intelectuais e artistas de reconhecido prestígio internacional, que lançaram a "Mensagem desde Havana para amigos que estão longe".
Incontáveis intelectuais, artistas, cientistas e profissionais universitários de todo o país, expressaram seu veemente desejo de subscrever essa já histórica e exemplar Mensagem. Eles querem fazer deixar registrada sua adesão, para as presentes e futuras gerações. Centenas de milhares subscreverão essas palavras, em que se denuncia com coragem que nosso pequeno país está hoje mais ameaçado que nunca antes, pela superpotência que pretende impor uma ditadura fascista em escala planetária.
Nosso povo, solidário e profundamente revolucionário, sente igual orgulho pelos Cinco Heróis Prisioneiros do Império, que mostram a têmpera de uma nação combativa e heróica, que os amos do mundo não devem ignorar, nem Hans Hertell, embaixador norte-americano na República Dominicana, nem o honorável irmão do senhor Presidente dos Estados Unidos, desde a Flórida, que nos advertem que a guerra bárbara contra o povo do Iraque constitui uma mensagem para Cuba. É, em todo caso, uma mensagem não só para Cuba, é também uma mensagem fascista para o mundo.
Também não devem ignorá-la os chamados "dissidentes", que hoje vivem do ofício de cooperar com os planos do governo da superpotência que quer destruir a Cuba, à qual querem impor uma tirania fascista em escala planetária, como diz a mensagem aos amigos que estão longe.
Cuba luta hoje contra o gigante das sete léguas que Martí foi o primeiro a descobrir, e cujos passos não se estendem somente às terras de nossa América, mas às de todas as regiões do planeta.
Obrigado a todos os valentes amigos de Cuba no mundo, que souberam defendê-la nesse glorioso momento! Continuaremos sendo íntegros e conseqüentes, como temos sido desde 1959 até hoje. Jamais terão motivos para envergonhar-se de seu nobre apoio!
Até a vitória sempre!
Os povos vencerão!
(Ovação)