Discurso
proferido pelo presidente da República de Cuba, Fidel Castro, no ato por
ocasião do 60º aniversário de seu ingresso na universidade, realizado na Aula
Magna da Universidade de Havana, em 17 de novembro de 2005.
(Revisado e corregido pelo autor, com
absoluto respeito à integridade das idéias
exprimidas no seu discurso).
Caros estudantes e professores das
universidades de toda Cuba;
Caros companheiros dirigentes e
convidados que compartilharam conosco tantos anos de luta:
Este é o momento mais difícil, dizer
algumas palavras nesta Aula Magna, onde já se pronunciaram tantas. Muitas
idéias apoderam-se de nossa mente, lógico, transcorreu algum tempo.
Vocês foram muito amáveis ao lembrar
hoje um dia muito especial: o 60º aniversário de meu tímido ingresso a esta
universidade.
Por aí há uma fotografia, eu a
observava: um casaquinho; o rosto assim, não sei se zangado, de mau, ou de bom,
ou indignado, porque essa fotografia não foi feita no primeiro dia, acho que já
tinham transcorrido uns quantos meses, e eu começava a reagir contra tantas
coisas como as que víamos. Não era um pensamento formado nem nada disso; era um
pensamento ávido de idéias, mas também por conhecer; um espírito talvez
rebelde, cheio de ilusões, de ilusões não posso dizer revolucionárias, teríamos
que dizer cheio de ilusões e de energia, possivelmente também de ânsias de
luta.
Bom, fui esportista, fui escalador
de montanhas. Até converteram-me primeiro — sei lá por que — numa espécie de
tenente de exploradores e, depois, converteram-me em general de exploradores.
Quer dizer que quando era estudante do ensino pré-universitário outorgaram-me
mais patentes das que tenho hoje (Risos), porque depois fui Comandante, mas
somente Comandante, e isso de Comandante em Chefe não queria dizer mais que era
Comandante chefe daquela pequena tropa de quase de 82 homens, com os que
desembarcamos do Granma.
Esse nome nasce depois do
desembarque, em 2 de dezembro de 1956. Dos 82 algum tinha que ser chefe, depois
acrescentaram o “em”. Assim, aos poucos, passei de Comandante chefe a
Comandante em Chefe, porque foi a patente mais alta durante muito tempo.
Lembrava essas coisas. A gente tem que pensar o quê foi, em que pensava, que
sentimentos albergava.
Talvez circunstâncias especiais de
minha vida fizeram com que reagisse. Passei trabalho desde muito cedo e fui
desenvolvendo, quiçá por isso, o ofício de rebelde.
Por aí falam dos rebeldes sem causa;
porém quando lembro aquela etapa, acho que era rebelde por muitas causas, e
agradeço à vida ter continuado, o tempo todo, sendo rebelde, ainda hoje, talvez
com mais razão, porque tenho mais idéias, porque tenho mais experiência, porque
aprendi muito de minha própria luta, porque compreendo ainda melhor esta terra
na qual nascemos e neste mundo em que vivemos, hoje globalizado, e em minutos
decisivos de seu destino. Não me atrevo
a dizer em minutos decisivos de sua história, porque sua história é ainda mais
breve, é realmente ínfima comparada com a vida de uma espécie que em anos muito
recentes, talvez há 3 000, 4 000 ou 5 000 anos, deu seus primeiros passos, após
sua longa e breve evolução; digo longa e breve, porque evolucionou até se
tornar ser pensante talvez nalgumas centenas de milhar de anos, e no final da existência da vida neste planeta,
que afirmam os conhecedores, se não me engano, surgiu, acho que, há 1 000 ou 1
500 milhões de anos, primeiro surgiu a vida e depois surgiram milhões de
espécies, e nós apenas somos isso, uma das muitas espécies que surgiram neste
planeta, e por isso digo que, depois de uma breve e ao mesmo tempo longa vida,
chegamos a este minuto, neste milênio que, segundo dizem, é o terceiro milênio
desde o início da era cristã.
E por que tantas reviravoltas a
respeito desta idéia? Porque me atrevo a afirmar que hoje esta espécie está realmente
em perigo de extinção, e ninguém pode garantir, escutem bem, ninguém pode
garantir que sobreviva a esse perigo.
Bom, que a espécie não sobreviveria
é algo do que se falava há dois mil anos, porque lembro que quando era
estudante ouvi falar do Apocalipse, profetizado na Bíblia, é como se há dois
mil anos alguns perceberam de que esta débil espécie poderia desaparecer nalgum
dia.
Lógico, também os marxistas.
Lembro-me muito bem de um livro de Engels, a Dialéctica, que dizia que nalgum dia o Sol se extinguiria, que o
combustível que alimenta o fogo dessa estrela que nos ilumina se esgotaria e
deixaria de existir a luz do Sol. E então me faço uma pergunta que, quem sabe,
vocês, seus professores, ou milhares e centenas de milhar de vocês alguma vez se
fizeram, e é a pergunta sobre se é possível que esta espécie possa emigrar a
outro sistema solar.
Jamais pensaram nisso? Pois nalgum
momento se farão essa pergunta, porque a gente se pergunta muitas coisas
durante a vida, e, sobretudo, quando existe uma razão para isso. E acho que o
homem teve uma razão para se perguntar isso, porque se aquele que era marxista
colocou o problema da desaparição do calor e da luz solar, e como cientista
expressou que nalgum dia não existiria o sistema solar, nós também, como
revolucionários, e deixando voar a imaginação, temos que nos perguntar que
acontecerá, e se existe alguma esperança de que esta espécie escape e possa ir
para outro sistema solar onde exista ou possa existir vida. O único que sabemos
até agora é que há um sol a quatro anos luz, entre os bilhões de sóis que
existem nesse enorme espaço, que ainda não sabemos bem se é finito ou infinito.
Pelo pouco que sabemos de física,
matemática, da luz, da velocidade da luz, e dos que viajam aos planetas mais
próximos, onde não encontram nada, e dos que viajaram a Vênus — acho que Vênus
foi na etapa dos gregos a deusa do amor —, os que ali tenham o privilégio de
chegar, vão encontrar uns furacões que são não sei quantas centenas de vezes
piores que o Katrina, o Rita, o Michelle, ou o Mitch, e todos os outros
similares que cada vez, com mais força nos açoitam, porque se afirma que a
temperatura em Vênus é de 400 graus, e são massas de ar ou de atmosfera pesada
em constante sopro.
Os que foram a Marte, que diziam que
era um lugar onde poderia existir a vida — Chávez fala de que possivelmente
existiu, ele brinca com isso —, e foi embora, desapareceu tudo, procuram alguma
partícula de oxigênio ou algum vestígio de vida. Bem, tudo pôde acontecer,
porém o mais provável é que não tivesse existido vida desenvolvida nalgum
desses planetas. Os fatores que fizeram possível a vida no planeta Terra
surgiram após bilhões de anos, essa vida frágil que pode transcorrer entre
limitados graus de temperatura, entre uns poucos graus por baixo de zero e uns
poucos graus por cima de zero, visto que ninguém sobrevive a uma temperatura na
água de 60 graus; bastariam 20 segundos na água, a 60 graus, sem proteção
nenhuma, e nenhum ser humano vive, bastariam umas dezenas de graus por baixo de
zero, sem calor artificial e não sobreviveria. Nessa limitada margem de
temperatura surgiu a vida.
Falamos da vida, porque quando falamos de
universidades falamos de vida.
Vocês, que são? Se me perguntassem
agora mesmo, eu diria que vocês são a vida, vocês são símbolos da vida.
Aqui falamos de acontecimentos de
nossas vidas, de nossa universidade, de nossa Alma Máter, dos que chagamos há
algumas dezenas de anos e dos que estão hoje aqui, que ingressaram no primeiro
ano ou que se graduam em breve, ou alguns já graduados que desempenham funções
que outros, com menos experiência, não poderiam realizar.
Eu tentava recordar como eram
aquelas universidades, a que nos dedicávamos, que nos preocupava. Nos
preocupávamos com esta ilha, esta pequena ilha. Ainda não se falava de
globalização, não existia a televisão, não existia a Internet, não existiam as
comunicações instantâneas de um extremo ao outro do planeta, apenas existia o
telefone, e, talvez, alguns aviões de hélice. Nos meus tempos, 1945, nossos
aviões de passageiros apenas chegavam a Miami e com muito trabalho, embora
quando freqüentava o ensino primário escutava falar da viagem de Barberán e
Collar, lá em Birán diziam: “Por aqui passaram Barberán e Collar”, dois pilotos
espanhóis que atravessaram o Atlântico e continuaram para o México; porém
depois não houve mais notícias de Barberán e Collar, ainda se discute qual o
lugar onde caíram, se no mar entre a província de Pinar del Río e o México, em
Iucatã, ou nalgum outro lugar. Porém ninguém nunca jamais soube de Barberán e
Collar, que tiveram a ousadia de atravessar o Atlântico num pequeno avião de
hélice que tinham construído fazia pouco tempo. Foi no começo do século que
recém passou que se iniciou a aviação.
Sim, acabava de acontecer uma
terrível guerra, que custou por volta de 50 milhões de vidas, e falo do momento
aquele, 1945, quando ingressei na universidade, em 4 de setembro; bom,
ingressei nessa época, e vocês, logicamente, decidiram celebrar aquele
aniversário num dia qualquer, pode ser no dia 4, pode ser no dia 17, pode ser
em novembro, pode ser hoje, a data que vocês escolheram, porque são tantas
comemorações que vocês não podiam realizar tantos atos e eu também não poderia
participar de todos, e a dor maior da minha vida teria sido não participar, especificamente
neste momento, de um ato na Aula Magna, convidado por vocês.
Eu todos os dias tenho muitos atos,
todos os dias converso horas e horas com multidões, nomeadamente de jovens, com
grupos de estudantes, ou com brigadas médicas que vão cumprir gloriosas missões
que quase ninguém é capaz de cumprir neste mundo ao qual me refiro, agora,
porque nenhum outro país poderia enviar a um povo irmão da América Central 1
000 médicos, como os que neste momento enfrentam a dor e a morte, perante a
maior tragédia natural acontecida nesse país.
Uma por uma, com cada uma dessas brigadas, conversei, as despedi; ou com
as que viajam ao outro lado da Terra, a 18 horas de vôo, onde aconteceu, quase
simultaneamente, uma das maiores tragédias humanas que tem conhecido nosso
mundo em muito tempo, não lembro outra, pelo lugar em que aconteceu, pelo povo
humilde que afetou, povo de pastores que vivem em montanhas muito altas, e nas
vésperas de um inverno, ali onde faz muito frio, onde a pobreza é grande e onde
o mundo insensível esbanja um trilhão de dólares todos os anos em publicidade
para enganar a imensa maioria da humanidade — que, aliás, paga as mentiras que
se dizem — convertendo o ser humano numa pessoa que, segundo parece, não tem
nem sequer capacidade de pensar, porque obrigam-na comprar o sabonete, que é o
mesmo sabonete com 10 marcas diferentes, e têm que enganá-la, porque eles pagam
esse trilhão, não o pagam as empresas, pagam-no aqueles que adquirem os
produtos em virtude da publicidade; este mundo indiferente que gasta anualmente um trilhão de dólares em objetivos
militares — já são dois trilhões —; este mundo insensível que extrai das massas
empobrecidas, da imensa maioria dos habitantes do planeta vários trilhões de
dólares todos os anos, e permanece indiferente quando lhe dizem que ali
morreram perto de 100 000 pessoas, entre elas, talvez, 25 000 ou 30 000
crianças, ou onde há mais de 100 000 feridos, e a grande maioria com fraturas
de osso nos membros superiores e inferiores do corpo, e dos quais, quiçá, foram
operados 10%, onde há crianças com membros mutilados, jovens, mulheres e
homens, idosos.
Esse é o mundo em que vivemos, não é
um mundo cheio de bondade, é um mundo cheio de egoísmo; não é mundo cheio de
justiça, é um mundo cheio de exploração, de abuso, de saque, onde milhões de
crianças morrem cada ano — e poderiam salvar-se —, simplesmente porque precisam
de uns centavos de medicamentos, um pouco de vitaminas e sais minerais, e uns
poucos dólares em alimentos, suficiente para que possam viver. Cada ano morrem,
por causa da injustiça, quase tantos como aqueles que morreram naquela guerra
colossal que mencionei há uns minutos.
Que mundo é esse? Que mundo é esse
onde um império bárbaro proclama o direito de atacar por surpresa e de maneira
preventiva 70 ou mais países, que é capaz de levar a morte a qualquer canto do
mundo, utilizando as mais sofisticadas armas e técnicas de morte? Um mundo onde
prevalece o império da brutalidade e da força, com centenas de bases militares
no planeta todo, dentre delas uma em nossa própria terra, na qual interveio
arbitrariamente quando o poder colonial espanhol não conseguiu suster-se e
quando centenas de milhar dos melhores filhos deste povo, de apenas um milhão
de habitantes, tinham morrido numa longa guerra de quase 30 anos; uma Emenda
Platt repugnante em virtude de uma resolução, de igual repugnância que, de
maneira traidora, outorgava o direito a intervir em nossa terra quando, segundo
seu critério, não existisse suficiente ordem.
Transcorreu mais de um século e
ainda ocupa pela força esse pedaço de território, hoje vergonha e espanto do
mundo, quando se divulga a notícia de que foi convertida num centro de
torturas, onde centenas de pessoas, de um lugar do mundo qualquer, lá estão,
não as levam para seu território porque nele podem existir algumas leis que
lhes dificultem poder manter ilegalmente seqüestrados e durante anos, sem
nenhum trâmite, sem nenhuma lei, sem nenhum procedimento, aqueles homens que,
também, para assombro do planeta, são submetidos a sádicas e brutais torturas.
E disso se inteira o mundo quando lá, num cárcere do Iraque torturavam centenas
de prisioneiros do país invadido com todo o poder desse colossal império, e
onde centenas de milhar de iraquianos civís perderam a vida.
Todos os dias descobrimos coisas
novas. Há pouco recebemos notícias de que o governo dos Estados Unidos tinha
cárceres secretas nos países satélites do leste da Europa, esses que em Genebra
votam contra Cuba e acusam-na de violar os direitos humanos; o país onde jamais
ninguém conheceu um centro de tortura durante os 46 anos de Revolução, porque
em nosso país jamais foi violada aquela tradição, sem precedentes na história,
de que um só homem tenha sido torturado, ou se conheça — pelo menos nós — a
tortura de um só homem; e não seriamos nós os únicos em impedi-la, seria nosso
povo que já tem um conceito altíssimo da dignidade humana.
Quem de nós, quem de vocês, qual de
nossos compatriotas admitiria tranqüilamente a história de um só cidadão
torturado, apesar dos milhares de atos de barbárie e de terrorismo cometidos
contra nosso povo, apesar dos milhares de vítimas da agressão desse império que
há mais de 45 anos nos bloqueia e tenta nos asfixiar por todo lado? E agora os
desavergonhados dizem — como dizia
recentemente um deles, perante a votação esmagadora de 182 membros das Nações
Unidas, com uma abstenção — que as dificuldades são resultado do nosso
fracasso, e um grande cúmplice desse bandido, que é o estado pró-nazista do
Israel apóia o bloqueio? Há que dizê-lo assim, porque aqueles que cometeram
esses crimes fizeram-no em nome de um povo que durante mais de 1 500 anos
sofreu a perseguição no mundo, e foi vítima dos crimes mais atrozes na Segunda
Guerra Mundial, o povo do Israel,
que não tem nenhuma culpa dessas selvajaria genocidas ao serviço do império,
que levam ao holocausto de outro povo, o povo palestino, e proclamam também o
direito repugnante de atacar por surpresa e de maneira preventiva outros países.
Atualmente o império ameaça com atacar o Irã se produz combustível nuclear.
Combustível nuclear não são armas nucleares, não são bombas nucleares; proibir
um país que produça o combustível do futuro, é como se proibissem alguém que
explore na procura de petróleo, o combustível do presente, e que está em perigo
de acabar em pouco tempo. A que país do mundo se proíbe explorar combustível,
carvão, gás, petróleo?
Nós conhecemos muito bem esse país. É um país de 70 milhões de
habitantes, que se propõe o desenvolvimento industrial e pensa com toda razão
que é um grande crime comprometer suas reservas de gás e de petróleo para
alimentar o potencial de bilhões de quilowatts/hora que precisa com a urgência
como país do Terceiro Mundo seu desenvolvimento industrial. E aí está o império
fazendo todo o possível por impedi-lo e ameaçando com bombardear. Atualmente se
debate a nível internacional quais o dia e a hora, ou se será o império, ou
utilizará — como fez no Iraque — o satélite israelense para o bombardeio
preventivo e surpresivo de centros de pesquisa cujo objetivo é obter a tecnologia
de produção do combustível nuclear.
Nos próximos 30 anos, o petróleo, 80% dele atualmente nas mãos dos
países do Terceiro Mundo, já que os outros esgotaram o seu, entre eles os
Estados Unidos, que teve uma reserva imensa de petróleo e gás e apenas lhe dá
para alguns anos, e por isso se quer apoderar, de qualquer jeito, do petróleo
do planeta, essa fonte energética, contudo, esgota-se e daqui a 25 ou 30 anos
apenas ficará uma fonte fundamental, para além da solar, a eólica, etc, para a
produção em massa de eletricidade, de energia nuclear.
É longínquo o dia em que o hidrogênio, através de processos tecnológicos
muito incipientes, seja a fonte mais idônea de combustível, sem o qual não
poderia viver a humanidade, uma humanidade que adquiriu determinado nível de
desenvolvimento técnico. Este é um problema atual.
Nosso Ministro das Relações Exteriores respondeu recentemente ao convite
de visitar o Irã, visto que Cuba será sede da próxima reunião de Países
Não-Alinhados, dentro de um ano, e aquela nação exige seu direito a produzir
combustível nuclear como qualquer outra nação entre as industrializadas e não
ser obrigada a destruir a reserva de uma matéria prima, que serve não só como
fonte energética, mas também como fonte de numerosos produtos, fonte de fertilizantes,
fonte de têxteis, fonte de inúmeros materiais que hoje têm um uso universal.
Assim está o mundo. E veremos que aconteceria se bombardeassem o Irã com
o objetivo de destruir qualquer instalação que se dedique à produção de
combustível nuclear.
O Irã assinou o Tratado de não Proliferação, como também o fez Cuba. Nós
jamais pensamos na fabricação de armas nucleares, porque não precisamos delas,
e se tivéssemos a possibilidade, quanto custaria produzi-las, e que ganharíamos
com produzir um arma nuclear perante um inimigo que tem milhares de armas
nucleares. Seria participar do jogo dos confrontos nucleares.
Nós temos outro tipo de armas nucleares, são nossas idéias; nós temos
armas nucleares: a magnitude da justiça pela qual lutamos; nós temos armas
nucleares em virtude do poder invencível das armas morais, Por isso jamais
pensamos em fabricá-las, e também não procurar armas biológicas, para que?
Armas para combater a morte, para combater a Aids, para combater as doenças,
para combater o câncer, a isso dedicamos nossos recursos, apesar do bandido
aquele— já nem me lembro do nome desse cara, não sei se Bolton, Bordon, sei lá,
que designaram representante dos Estados Unidos nas Nações Unidas, mentiroso
demais, desavergonhado. Ele inventou que Cuba estava fazendo pesquisas para
produzir armas biológicas no Centro de Engenharia Genética.
Também nos acusaram de colaborar com o Irã, transferindo tecnologia com
aquele objetivo, e o que fazemos realmente é construir, entre o Irã e Cuba, uma
fábrica de produtos anticâncer, isso é o que fazemos. Também querem proibir
isso, vão para o demônio ou para onde vocês quiserem, idiotas, que aqui não vão
assustar ninguém! (Aplausos).
Mentirosos, desavergonhados!, todo mundo sabe que até a própria CIA
descobriu que era mentira o que dizia o atual representante do governo dos
Estados Unidos na ONU, e obrigaram um homem a que renunciasse por dizer que
isso era mentira, e outros no Departamento de Estado também perceberam que era
mentira e o sujeito estava furioso, convertido num basilisco contra todos
aqueles que diziam a verdade. Esse é o representante do “Bushecinho” perante a
comunidade das Nações Unidas, onde recentemente tiraram 182 votos contra seu
infame bloqueio. Esse é o mundo onde pretendem impor-se pela força, na base das
mentiras e do monopólio quase total dos meios de comunicação social. Vejam só
que batalha travamos neste momento. E designaram o sujeito por cima do
Congresso, e por um tempo quando o mundo inteiro sabe que é um desavergonhado e
um mentiroso repugnante.
Todos os dias o cavalheiro que governa os Estados Unidos é descoberto
com um novo truque, um novo delito, uma nova canalhice de seus membros, e vão
caindo, gotejando um após um como esgalho de coco, como diria um camponês da
zona leste; sim, assim vão caindo, com um pouco de barulho. Já não resta nada a
inventar, porém continuam fazendo barbaridades.
Falava-lhes dos cárceres que existem
em vários países, cárceres secretos onde têm seqüestrados sob o pretexto da
luta contra o terrorismo, e já não só Abu Ghraib, não só Guantánamo, em
qualquer parte do mundo encontra-se um cárcere secreto onde torturam os
defensores dos direitos humanos; são os mesmos que em Genebra, como
cordeirinhos, votam, um a um, contra Cuba, o país que não conhece a tortura, para
honra e glória desta geração, para honra e glória desta Revolução, para honra e
glória de uma luta pela justiça, pela independência, pelo decoro humano que
deve manter incólume sua pureza e sua dignidade! (Aplausos).
Porém a coisa não acaba aí, hoje de
manhã chegavam notícias informando sobre o uso de fósforo vivo em Al-Fallüjah,
ali onde o império descobriu que um povo, praticamente desarmado, não podia ser
vencido e os invasores viram-se numa situação onde não podiam ir embora nem
ficar: se iam embora, voltavam os combatentes; se ficavam, necessitavam essas
tropas noutros lugares. Já morreram mais de 2 000 jovens soldados
norte-americanos, e alguns se perguntam, até quando continuaram morrendo numa
guerra injusta, justificada com mentiras grosseiras?
Mas nem pensem que possuem
abundantes reservas de soldados norte-americanos, cada vez menos
norte-americanos se inscrevem, converteram a entrada ao exército numa fonte de
emprego, contratam desempregados, e muitas vezes tentam contratar o maior
número de negros norte-americanos para suas guerras injustas, e chegam notícias
de que cada vez menos negros norte-americanos estão dispostos a se inscreverem
no exército, apesar do desemprego e da marginalização a que são submetidos,
porque são cientes de que são usados como isca. Nos guetos de Louisiana, quando
o governo gritou salve-se quem puder, abandonaram milhares de cidadãos que
morreram afogados ou nos asilos de idosos, ou em hospitais, e nalguns casos
aplicaram-lhe a eutanásia por medo do pessoal facultativo de vê-los morrer
afogados. São histórias reais que se conhecem e sobre as quais se deveria
meditar.
Procuram latinos, imigrantes que,
tentando escapar da fome, atravessaram a fronteira, essa fronteira onde todos
os anos morrem mais de 500 imigrantes, muitos mais em 12 meses que os que
morreram durante os 28 anos que durou o muro de Berlim.
O império falava todos os dias do
muro de Berlim; daquele que se construía entre o México e os Estados Unidos,
onde morrem 500 pessoas cada ano, pensando escapar da pobreza e do
subdesenvolvimento, tentado emigrar, não dizem uma palavra. Esse é o mundo em que vivemos.
Fósforo vivo em Al-Fallüjah! Isso significa o
império, e secretamente. Quando foi denunciado, o governo dos Estados Unidos
disse que o fósforo vivo era uma arma normal. Se é uma arma normal, por que não
o publicaram? Por que ninguém sabia que estavam usando essa arma proibida pelas
convenções internacionais? Se o napalm é proibido, o fósforo vivo é ainda mais
proibido.
Todos os dias chegam notícias desse
tipo, e todas essas coisas estão relacionadas com a vida, todas essas coisas
têm relação com este mundo. Veja que enorme diferença daqueles tempos em que
nós chegávamos à universidade, todos cheios de ideais, cheios de sonhos, cheios
de boa vontade apesar de não estarmos nutridos da experiência da ideologia
profunda e das idéias que se adquiriam na passagem do tempo. Assim entravam os
jovens nesta universidade, que não era, certamente, a universidade dos
humildes; era a universidade da classe média, a universidade dos ricos do país,
mas os jovens não se importavam com as idéias de sua classe e muitos deles eram
capazes de lutar, e assim o fizeram ao longo da história de Cuba.
Oito estudantes foram fuzilados em
1871 e foram o alicerce dos mais nobres sentimentos e do espírito de rebeldia
de nosso povo, que ficou indignado perante aquela colossal injustiça; como os
nove, cuja morte comemoramos hoje, assassinados pelos nazistas, em Praga,
aquele 17 de novembro de 1939, vésperas da Segunda Guerra Mundial.
Na história de nossa juventude
sempre estiveram esses estudantes de medicina, e esses estudantes de medicina
lutaram contra os governos. Mella foi um deles, também pertencente à classe
média; porque os das classes mais pobres, os filhos dos camponeses, não sabiam
ler nem escrever, como podiam ingressar na universidade, como podiam ingressar
no bacharelado.
Eu, porque era filho de
latifundiário, pude terminar a sexta série e depois pude freqüentar o ensino
pré-universitário, já com a sétima série.
Quem não tivesse vencido o
bacharelado, podia freqüentar a universidade?
Quem fosse filho de um camponês, de
um operário, que morasse numa vila de uma usina açucareira, ou em qualquer dos
muitos municípios que não fossem municípios como o de Santiago de Cuba, Holguín,
talvez Manzanillo e dois ou três mais, não podia ser bacharel, nem sequer
bacharel! Ainda menos universitário, porque, então, depois de ser bacharel,
tinha que vir para a Havana.
Eu pude vir à Havana porque meu pai
era tinha dinheiro, e assim foi que pude formar-me como bacharel e assim por
acaso consegui ingressar na universidade. Será que sou melhor que qualquer
daqueles rapazes, quase nenhum deles chegou à sexta série e nenhum deles foi
bacharel, nenhum deles ingressou na universidade?
Meu próprio caso, como o de mais
outros, mencionei Mella, poderia mencionar Guiteras, poderia mencionar Trejo,
que morreu numa dessas manifestações um 30 de setembro, na luta contra Machado;
poderia mencionar nomes como os que vocês aqui destacaram no início deste ato.
Antes da Revolução, sempre houve
estudantes nobres que estavam contra a tirania batistiana, dispostos ao
sacrifício, dispostos a dar a vida. E assim, quando a tirania batistiana voltou
com todo seu rigor, muitos estudantes lutaram e muitos estudantes morreram, e
aquele jovem de Cárdenas, Manzanita, como lhe chamavam, sempre rindo, sempre
amável, sempre carinhoso com os demais, se destacava pela sua valentia, sua
integridade, quando descia pelas escadarias, quando enfrentava os carros de
bombeiros, quando enfrentava a polícia. Assim surgiram todos eles.
Se você visita a casa onde viveu
Echeverría — José Antonio, vamos chamá-lo assim —, percebe que é uma casa boa,
uma excelente casa. Vejam só como os estudantes não se importavam com sua
origem social, nessa idade de tanta esperança, de tantos sonhos.
Naquela universidade, para estudar
medicina havia apenas uma faculdade e um só hospital docente, e muitos ganhavam
prêmios, primeiro prêmio em medicina e alguns, inclusive, de cirurgia sem terem
operado nunca a ninguém.
Alguns o conseguiam, eram ativos e
conseguiam se relacionar com alguns professores que os ajudavam, deixavam que
eles participassem de alguma prática, os levavam a algum hospital. Assim
surgiram bons médicos, não uma massa de bons médicos — sim havia uma massa com
muita vontade de viajar aos Estados Unidos —, que não tinham emprego, e quando
triunfou a Revolução, foram precisamente para os Estados Unidos, e ficou a
metade 3 000 e 25% dos professores. E daí partimos para o país de hoje, que se ergue
já quase como capital da medicina mundial.
Hoje nosso povo dispõe, ao menos, de 15 médicos muito melhor
distribuídos, por cada um dos que ficaram aqui no país; tem dezenas de milhar
no exterior oferecendo o seu serviço solidário, e aumentam. Neste momento há —
pedi a cifra exata — 25 000 estudantes de medicina; no primeiro ano, são perto
de 7 000, e ingressarão não menos de 7 000 todos os anos, e já tem mais de 70
000 médicos. Não falo das dezenas de milhar de estudantes de outras ciências
médicas, em nosso país temos a idéia de que estudam na área da medicina por
volta de 90 000, quando você inclui as enfermeiras, as que estudam a
licenciatura em enfermagem e outras carreiras relacionadas com a saúde, dentro
do enorme caudal de estudantes que hoje freqüentam nossa universidade.
Eu queria salientar a diferença
desse ano em que comecei meus estudos universitários, que era o nosso país?
Temos que nos perguntar isso e meditar, o que é hoje nosso país, em todos os
campos. E poderíamos fazer-nos a mesma pergunta relacionada com oito, dez,
quinze, vinte coisas. Não existe comparação nenhuma.
Falava de que Barberán e Collar
morreram num pequeno avião cheio de tanques de gasolina, porque era o único que
podíam fazer nesse tempo, decolaram, saíram quase como nós do México, em 1956:
se saímos, chegamos; se chegamos, entramos; se entramos, triunfamos”. Parece
que anteriormente outros homens realizaram uma ação tão audaz como essa, a de
atravessar o Atlântico. Saíram e chegaram a Cuba; saíram novamente; porém só isso,
chegaram ao México, mas chegaram ao México sem vida.
Falava de um avião que decolava;
este era um avião que decolava nos primeiros tempos, um pequeno avião, que
parecia movido pela força de uma tira elástica. Vocês jamais viram esses
brinquedos, os soltam, decolam e chegam?
Quando triunfou a Revolução neste
hemisfério, ao lado do império e rodeado de satélites do império, com alguma
exceção, iniciávamos um caminho muito difícil. Era outra época, foram uns
quantos anos após nosso ingresso na universidade.
Nós ingressamos na universidade
finalizando o ano 1945, e iniciamos nossa luta armada no quartel Moncada em 26
de julho de 1953, realmente, quase oito anos depois, e a Revolução triunfa
cinco anos, cinco dias e cinco meses após o Moncada, e depois de um longo
percurso pelos cárceres, pelo exílio, e pela luta nas montanhas. Foi um tempo,
se o vemos historicamente, se o comparamos com as lutas anteriores, tão duras e
tão difíceis de nosso povo, um tempo relativamente breve, e foram duas etapas:
a entrada na Universidade, a saída e o golpe de Estado de 10 de março de 1952.
Essa etapa quando iniciávamos a
luta, é o ponto donde há que partir agora; começávamos, tentávamos começar, não
conhecíamos nem sequer muito bem as leis de gravidade, íamos encosta acima
lutando contra o império, já que era o mais poderoso, mas quando ainda existia
outra superpotência, como a chamávamos; foi encosta acima, marchando encosta
acima que ganhamos experiência, que nosso povo e nossa Revolução se
fortaleceram até chegar aqui.
Oxalá tivesse mais tempo para falar,
porém este agora de agora, é um agora sem precedente, é uma hora muito
diferente das outras, não se parece em nada com a de 1945, com a de 1950 quando
nos graduamos, porém possuidores de todas aquelas idéias das que falei um dia,
quando afirmei com amor, com respeito, com entranhável carinho, que nesta
universidade aonde cheguei simplesmente com um espírito rebelde, com algumas
idéias elementares da justiça, me fez revolucionário, marxista-leninista, e
adquiri os sentimentos que ao longo deste ano tive o privilégio de jamais
sentir-me tentado, nem no mais mínimo, a abandoná-los alguma vez. E por isso
atrevo-me a afirmar que jamais os abandonarei.
E se de confissões se trata, quando
terminei nesta universidade eu achava que era muito revolucionário, e,
simplesmente, iniciava mais outro caminho, muito mais extenso. Se sentia-me
revolucionário, socialista, se tinha adquirido todas as idéias que fizeram de
mim, e não podia existir nenhuma outra, um revolucionário, garanto-lhes
modestamente que hoje sinto-me dez vezes, vinte vezes, talvez cem vezes mais
revolucionário do que era nessa altura (Aplausos). Se nesse momento estava
disposto a dar a vida, hoje estou mil vezes ainda mais disposto a entregar a
vida que naquela altura (Aplausos).
A gente, inclusive, entrega a vida, por uma nobre idéia, por um
princípio ético, por um sentido da dignidade e da honra, ainda antes de ser
revolucionário e também dezenas de milhões de homens morreram nos campos das
batalha da Primeira Guerra Mundial e noutras guerras, apaixonados quase por um
símbolo, por uma bandeira que acharam emocionante, um hino que acharam
emocionante, como foi A Marselhesa em sua época revolucionária, e depois hino
do império colonial francês. Em nome desse império colonial e das partilhas do
mundo morreram em massa nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial, milhões de
franceses. Se o homem é capaz de morrer, o único consciente de entregar a vida
voluntariamente, não luta pelo instinto, como temos tantos animais que lutam
pelo instinto, praticamente as leis da natureza o conduziram a essa estirpe; o
homem é uma criatura cheia... o homem e a mulher, quando digo homem..., e cada
vez mais é preciso dizer as mulheres, sim; tenho razões, não sei se terei tempo
para dizê-las. Mas o ser humano é o único capaz, conscientemente, de passar por
cima de todos os instintos, o homem é um ser cheio de instintos, de egoísmo,
nasce egoísta, a natureza lhe impõe isso, a natureza lhe impõe os instintos, a
educação impõe as virtudes; a natureza lhe impõe as coisas através dos
instintos, o instinto de sobrevivência é um deles, que o pode levar à infâmia,
enquanto a consciência o pode levar a realizar os maiores atos de heroísmo. Não
importa como sejamos cada um de nós, quão diferente sejamos cada um de nós, mas
entre todos nós fazemos um.
É impressionante que, apesar da
diferença entre os seres humanos, possam ser um numa dada altura ou possam ser
milhões, e só podem ser milhões através das idéias. Ninguém acompanhou a
Revolução por culto a ninguém ou por simpatias pessoais de ninguém. Quando um
povo chega à disposição para o sacrifício que quaisquer daqueles que com
lealdade e sinceridade tentem dirigi-los e tentem conduzi-los rumo a um
destino, isso só é possível através de princípios, através de idéias.
Constantemente, vocês estão lendo
homens de pensamento, constantemente lêem na história, e na história de nossa
Pátria lêem Martí, lêem outros muitos patriotas destacados, e na história do
mundo, na história do movimento revolucionário lêem os teóricos, os grandes
teóricos que nunca abriram mão dos princípios revolucionários. São as idéias as
que nos unem, são as idéias as que nos fazem um povo combatente, são as idéias
as que nos fazem já não só individualmente, mas sim coletivamente revolucionários,
e é então quando se une a força de todos, quando um povo jamais pode ser
vencido e quando o número de idéias é muito maior, quando o número de idéias e
valores que se defendem se multiplicam, muito menos um povo pode ser vencido.
E assim, quando lembramos os
camaradas, e vemos os jovens que têm importantes tarefas; os outros, muitos deles foram líderes desta
universidade, e têm longos anos de luta, uns deles mais; uns podem; alguns
podem ter mais de 50, outros podem ter mais de 40 e hoje cada um deles em sua
responsabilidade, muitos deles estudantes, outros de origem humilde, como os
que vejo aqui, pessoas que estiveram no ataque ao quartel Moncada e pessoas que
vieram no iate Granma, lutaram na serra Maestra e participaram de todos os combates;
vejo-os aqui, a cada um deles, defendendo uma causa, uma bandeira.
Vejo, por exemplo, nosso caro
companheiro Alarcón. Lembro-me dele porque aqui muito se falou da batalha pelos
cinco heróis presos e ele tem sido um batalhador incansável pela justiça em
relação a esses companheiros. Foi a tarefa que recebeu da Revolução, e a
recebeu por suas qualidades, por seu talento, por seu caráter de presidente da
Assembléia Nacional (Parlamento).
Vejo o companheiro Machadito, velho
médico, mas não médico velho, que nos acompanhou lá nas montanhas. Vejo
(Esteban) Lazo, vejo (Carlos) Lage, vejo (José Ramón) Balaguer, vejo muitos
desde aqui - ainda vejo algo (Risos) - acho que vejo (Pedro Sáez), acho que
vejo o ministro da Educação Superior, acho que vejo (Luis Ignacio) Gómez - é
Gómez, talvez um pouquinho mais gordo - e um pouco mais para lá vejo Abel
(Prieto), nome bíblico, que acaba de ter um papel de destaque, lá em Mar del
Plata, onde se travou uma batalha muito gloriosa.
Vejam o mundo, vejam as mudanças,
vejam os objetivos que hoje estamos perseguindo. Vejam as estratégias que
estamos desenhando, que nos introduzem na estratégia do mundo, sendo um
minúsculo país, aqui a 90 milhas do colossal império, o mais poderoso que
existiu jamais ao longo da história, e passaram 46 anos e lá está mais distante
que nunca conseguir fazer ajoelhar a nação cubana, aquela que ofenderam e
humilharam durante algum tempo (Aplausos); aquela da que foram donos, donos de
tudo: jazidas, terras, centenas de milhares das melhores hectares; de seus
portos, de suas instalações, de seu sistema elétrico, do transporte, do setor
bancário, comercial, etecétera, etecétera, e os muito idiotas acham que vão
voltar aqui e vamos pedir a eles ajoelhados: "Venham salvar-nos mais uma
vez, salvadores do mundo, venham, que vamos entregar tudo a vocês outra vez, e
essa universidade, para que ponham nela 5 000 e não meio milhão, porque meio
milhão é muito e para a mentalidade de vocês , que queriam ver desempregados e
famintos, para que essa porcaria do capitalismo funcionar, porque é só à base
de um exército de reserva; venham e reproduzam outra vez os desempregados
analfabetos que faziam filas nas proximidades dos canaviais, sem que ninguém
lhes levasse uma gota de água, nem café da manhã, nem almoço, nem alojamento,
nem transporte. Procurem e tentem encontrá-los porque cá estão seus filhos
estudando nas universidades às centenas de milhares" (Aplausos).
Eu vi, ninguém me contou, eu vi, há
apenas 48 horas, eu vi lá no Palácio das Convenções, primeiramente em um grupo
de várias centenas, com as camisetas azuis, eu vi através daqueles jovens que
se formaram como trabalhadores sociais e hoje são todos, todos sem exceção!,
estudantes universitários, de primeiro a quinto ano da carreira, depois de um
ano de estudos intensos para se tornarem trabalhadores sociais, depois de
vários anos nessa carreira, e eram primeiro 500 e agora são 28 000.
Acho que foi (Ignácio) Agramonte,
outros dizem que (Carlos Manuel de) Céspedes, quem, respondendo aos
pessimistas, e dizem que quando ficou com 12 homens, exclamou: "Não
importa aqueles que não tenham confiança - que com 12 homens se faz um povo, se
com 12 homens se faz um povo, quantas vezes somos hoje 12 homens. E 12 homens,
multiplicados sei lá quantas vezes, armados de idéias, de conhecimentos, de
cultura, que sabem como é este mundo, sabem de história, sabem de geografia,
sabem de lutas, porque têm isso, isso que se chama uma consciência
revolucionária, que é a soma de muitas consciências, é a soma da consciência
humanista, a soma de uma consciência da honra, da dignidade, dos melhores
valores que pode ter um ser humano. É filha do amor à Pátria e de amor ao
mundo, não esquece aquilo de que Pátria é humanidade, proferido há mais de 100
anos. Pátria é humanidade deve ser repetido todos os dias, quando vem alguém e
se esquece daqueles que vivem no Haiti, ou estão na Guatemala, golpeada, entre
outras mazelas, pelo desastre natural, sofrendo dores indescritíveis, pobreza
indescritível, como acontece habitualmente na maior parte do mundo.
Essa é a única coisa que pode exibir
o infame império e seu nojento sistema, resultado da história no longo caminho
da espécie procurando uma sociedade de justiça nunca atingida ao longo de
milhares de anos, que é a brevíssima história relativamente conhecida da
espécie procurando uma sociedade justa. E sempre estiveram tão longe quanto tão
perto da mesma forma em que hoje nos sentimos perto dessa sociedade justa, e
para demonstrar que é possível, se trata precisamente da sociedade que queremos
construir, mas me atrevo a acrescentar, por cima do monte de defeitos que ainda
temos, de erros, de faltas, que é a sociedade na história humana que está mais
perto de poder ser qualificada como sociedade justa.
Onde está a justiça que não a vejo?
Não a vejo porque aquele recebe vinte vezes, trinta vezes mais do que eu como
médico? Ou mais que eu como engenheiro, ou mais que eu como catedrático da
Universidade onde está e por quê. O que é que aquele produz? Quantos educa?
Quantos cura? Quantos são felizes com os conhecimentos dele, com os seus
Livros, com a sua arte? A quantos faz
felices construindo-lhes uma moradia? A quantos faz felizes cultivando algo
para se alimentarem? A quantos faz felizes trabalhando nas fábricas, nas
indústrias? Nos sistemas elétricos, nos sistemas de água potável, nas ruas nas
instalações elétricas, ou atendendo as comunicações, ou imprimindo livros? A
quantos?
Existem, e devemos dizê-lo, dezenas
de milhares de parasitas que não produzem nada e recebem 1000 ou 1200 pesos,
pode ser tanto como aquele que leva num calhambeque, comprando e roubando
combustível pelo caminho, de Havana a Guantánamo, a um desses jovens
estudantes, que teve que viajar, agora quando as circunstâncias do transporte
são muito difíceis. Ele sabe, ao longo dessas estradas cheias de buracos em
muitos lugares e carentes de sinais que não pudemos acabar por diversas razões,
por falta de recursos que não tínhamos, por incapacidades que não tínhamos
superado, por falta de controle daqueles que administram ou dirigem.
Sim, devemos tê-las em conta e não
esquecê-las porque temos pela frente uma grande batalha que devemos travar, que
começamos a travar, que vamos travar e vamos vencer. Isso é o mais importante.
Sim, somos conscientes e muito
conscientes disso, e nisso pensamos mais do que nenhuma outra coisa: em nossos
defeitos, em nossos erros, em nossas desigualdades, em nossas injustiças.
E não me atreveria a mencionar o
tema aqui, se não tivesse a mais absoluta convicção e a mais absoluta certeza,
que exceto catástrofes mundiais, guerras colossais, estamos nos aproximando
aceleradamente da hora de reduzi-las e vencê-las, para que se cumpra uma coisa,
escutem bem, que os cidadãos deste país que numa dada altura estavam
desempregados, o índice de desemprego era de 10%, 15%, 20% ou mais, os cidadãos
deste país que numa dada altura eram analfabetos, mais de um milhão, ou eram
analfabetos ou semi-analfabetos até 90%, neste povo de hoje, e, sobretudo, de
um amanhã muito próximo, cada cidadão viva fundamentalmente do seu trabalho e
viva fundamentalmente de suas pensões.
Não esquecer jamais aqueles que
durante anos foram nossa classe operária e trabalhadora, que viveram as décadas
de sacrifício, os bandos mercenários nas montanhas, as invasões como a da Baía
dos Porcos, os milhares de atos de sabotagens que custaram vidas de nossos
trabalhadores açucareiros, da cana-de-açúcar, industriais, do comércio ou na
marinha mercante, ou na pesca, os que de repente eram atacados com canhões e
bazucas, só porque éramos cubanos, só porque queríamos a independência, só
porque queríamos melhorar a sorte de nosso povo; e lá os bandidos cometendo
malfeitorias, lá os bandidos recrutados e treinados pela CIA, os criminosos, os
terroristas que faziam explodir nossos aviões no ar ou tentavam faze-los
explodir, sem importar os que morressem, os que organizavam atentados de todo
tipo e atos de terrorismo contra o nosso país. Por acaso mudou o império? E
onde está, senhor 'Bushecito', o senhor Posadita Carriles, amável cavalheiro
que, muito a pesar de suas coisas vergonhosas e conhecidas, cavalga e tenta
levar as rédeas desse império? Quando vai responder aquela pergunta sã e
simples que fizemos muitas vezes? Por onde entrou Posada Carriles aos Estados
Unidos? Em que navio, por qual porto? Quais os príncipes herdeiros da coroa o
autorizou, seria o irmazinho gordinho da Flórida? - e que me perdoe o
qualificativo de gordinho, não é uma crítica, mas sim a sugestão de que faça
exercícios e faça regime, não é? (Risos), é uma coisa que faço pela saúde do cavalheiro.
Quem o recebeu? Quem lhe deu
permissão? Por que passeia pelas ruas da Flórida e de Miami quem o levou de
forma tão desavergonhada? O que se fez daquela academia? De que era, de
navegação ou de criação de peixes? Quem era o bárbaro aquele?, aquele que
através de um telefone falou com outro terrorista que tinha umas latas cheias
de dinamita e ao perguntar-lhe, e era sua voz, reconheceu o cara, reconheceu-o
diante de todo o mundo, não se podia negar, quando lhe perguntou o quê devia
fazer com aquelas latinhas, disse-lhe: "Vai a Tropicana, joga-as por uma
janela e acaba com tudo aquilo". Vejam que pessoal tão nobre, que respeita
tanto as leis, as normas internacionais, os direitos humanos. E o sem-vergonha
de "Bushecito" não quis responder, ainda está caladinho, ninguém mais
respondeu.
As autoridades de nosso irmão país,
o México, tampouco tiveram tempo, -parece que sim, muito trabalho- para
responderem a pergunta, que não custa nada, senhor, dizer que Posadita
Carriles, essa criança ingênua, ingênua e inocente criança, entrou naquele
navio, por aquele porto e da forma em que Cuba o denunciou.
Mas vejam se são descarados, dizem
todas as mentiras do mundo, pois lhes fazem uma perguntinha ingênua, uma
simples pergunta, e passam meses e não respondem. Assim passaram meses e não
sabiam onde estava Posadita.
Essa garota inteligente, como se
chama?, a que é secretária de Estado (Risos), Condoleeza ou Condoliza?, bom,
Condessa Rice (Risos), tampouco sabe, ignora, e os porta-vozes ignoram; não
disseram nenhuma mentira, não cometeram nem o mais mínimo pecado venial, são
puros, merecem o aplausos e a confiança do mundo.
É mentira, nunca torturaram ninguém;
é mentira, nunca foram cúmplices do terrorismo; é mentira, nunca inventaram o
terrorismo; é mentira, nunca torturaram ninguém; é mentira, nunca utilizaram
fósforo vivo em Al Fallüjah. Bom, dizem que é verdade, mas que é muito legal,
muito legítimo e muito decente usar fósforo vivo. Vão intimidar alguém?
Fomos testemunhas, e lembrava isso
quando observava os companheiros cá, via Abel, da colossal batalha travada lá
em Mar del Plata, no estádio e no recinto onde se reuniram os chefes de Estado
e de Governo; não vou comentar esse ponto, mas nosso povo teve a chance de ver,
e acompanhar- eu conheço os estados de opinião - aquela grandiosa batalha, uma
na rua e outra lá, onde estavam reunidos os chefes de Governo.
E falando de história, nunca na
história deste hemisfério deu-se alguma coisa parecida com aquela batalha, em
que o cavalheiro aquele da triste figura, não por seus ideais cervantescos, mas
da triste figura porque faz coisas raras, caretas, olha, fica aborrecido, o
deitam à meia-noite, qualquer dia, dos porta-aviões descolam os aviões e
bombardeiam aqueles bandidos por culpa dos quais, por estarem um pouco ocupados,
interromperam o sono do cavaleiro que leva as rédeas do império, porque
enquanto ele dorme, o cavalo pode ir por qualquer lado; afinal, é possível que
o cavalo conduza melhor os destinos do império do que o próprio cavaleiro que
deve se deitar cedo (Aplausos).
Realmente, é pena que a madrugada
não durar mais, porque pelo menos, o mundo poderia estar melhor.
Assim é tudo. Temos visto coisas que
não podem ser esquecidas.
Alguns andam perguntando se Cuba
falou ou não falou, se Cuba tomou o partido ou não tomou o partido a favor de
alguém. Advirto, porque alguns andam armando intrigas de forma ridícula, acerca
dessas coisas. Cuba fala quando tenha que falar e Cuba tem muitas coisas que
dizer, mas não está com pressa nem impaciente. Sabe muito bem quando, onde e
como pode desferir um golpe ao império, a seu sistema e a seus lacaios.
Ao que parece, alguns crêem ou
fingem crer que não havia um só cubano lá em Mar del Plata, que não existia uma
força revolucionária cubana de primeirissíma ordem naquela passeata gloriosa de
dezenas de milhares de cidadãos do mundo
e nomeadamente argentinos, aos quais o imperador ofendeu estacionando os
porta-aviões, levando um exército, alugando todos os hotéis e empregando
milhares de policiais. Ninguém ia ter contato físico com ele, se o que desejava
era que lhe atirassem um ovo podre; não, ele não merece tão alta honra (Risos),
de maneira nenhuma.
E os bem civilizados cidadãos argentinos, e os
cada vez mais conscientes e experientes cidadãos deste hemisfério, onde a ordem
imposta já é insustentável e insalvável, sabem o que fazem. Disseram que seria
uma manifestação pacífica, que não seria jogada nem uma casca de laranja, e ao
mobilizarem, sob aquela chuva fria tanto pessoal, que marchou durante horas até
o estádio, para formar uma enorme massa naquele estádio, deram uma lição
inesquecível ao império, porque demonstraram que são pessoas, são povos que
sabem o que fazem e quem sabe o que faz essa marcha rumo à vitória é
absolutamente certo. E os que não sabem o que fazem são esmagados pelos povos.
Não queremos dar pretextos ao
império para armar um show. Neste xadrez de 50 peças veremos no fim quem dá o
xeque-mate, xeque-mate que se vou por
aqui não posso, vou por cá e não
posso, vou por aqui e tampouco posso; por aqui tampouco, realmente o império
vai arrebentar.
Quando falo em império não digo o
povo norte-americano, entendem bem. O povo norte-americano salvará muitos dos
valores éticos, salvará muitos princípios que foram esquecidos, deverá se
adaptar ao mundo em que vivemos, se este mundo pode ser salvo e este mundo deve
ser salvo. E todos nós, entre todos e em primeira fileira devemos lutar para
que este mundo possa se salvar e as nossas melhores e invencíveis armas são as
idéias.
Alguém fala da batalha de idéias,
sim, aquela batalha de idéias que travamos durante anos, está se tornando uma
batalha de idéias a nível mundial. As idéias triunfarão. Transmitamos essas
idéias, abramos os olhos a esta humanidade condenada a extinção. Se não vai ser
eterna se é muito provável que até um dia a luz do sol vai se apagar, então com
certeza não haverá forma de transladar matéria viva e sólida a uma distância
que fique a anos-luz deste planeta e as leis físicas são muito mais rigorosas,
muito mais exatas do que as leis históricas ou sociais, ou de outra índole. As
ciências exatas não são iguais do que as ciências sociais.
De todas as formas, acho que esta
humanidade e as grandes coisas que é capaz de criar, devem ser preservadas
enquanto possam ser preservadas. Uma humanidade que não se preocupe pela
preservação da espécie seria tal qual o jovem estudante ou o quadro ou
dirigente que sabe que sua vida é limitada a um número reduzido de anos e,
porém, fica preocupado só por sua própria vida.
Mencionei vários nomes de
companheiros aqui presentes, aos quais ainda restam alguns anos, para outros
restam menos, e ninguém sabe quantos, eu jamais penso que algum deles esteja
pensando em se preservar, sem lhe importar qual será o destino deste admirável
e maravilhoso povo, ontem semente e hoje árvore crescida e com raízes
profundas; ontem cheio de nobreza em potência e hoje cheio de nobreza real;
ontem cheio de conhecimentos em seus sonhos e hoje cheio de conhecimentos
reais, quando apenas está começando nesta gigantesca universidade que é hoje
Cuba.
E vejam como vão surgindo novos
quadros e quadros jovens. Eis Enrique, que lidera este exército dos 28 000,
trabalhadores sociais mais os 7 000 que estão estudando e aperfeiçoando essa
nobre profissão.
Como vocês sabem, estamos em meio de
uma batalha contra os vícios, contra os desvios de recursos, contra o roubo e
lá está essa força, com a que não contávamos antes da batalha de idéias,
desenhada para travar essa batalha.
Vou dizer uma coisa, para ver se os
trabalhadores da construção recuperam seu amor-próprio; quando querem ser
heróicos são mesmo. Mas não pensem que o roubo de recursos e de materiais é de
hoje, ou do 'período especial', o 'período especial' agravou isso, porque o
'período especial' criou muitas desigualdades e o 'período especial' tornou
possível que muitas pessoas tivessem muito dinheiro.
Lembro, que estávamos construindo na
vila de Bejucal um centro de biotecnologia importantíssimo. Perto havia um
pequeno cemitério. Eu visitava o lugar de vez em quando, um dia passei pelo
cemitério, e lá existia um mercado colossal onde aquela força de construtores,
seus chefes e a participação de um alto número de pedreiros, tinham lá um
mercado de venda de produtos: cimento, vigas, madeira, pintura, tudo quanto é
usado para construir.
Vocês sabem que sempre, e ainda
hoje, o problema da construção é muito sério. Temos recursos, às vezes faltaram
materiais, ou vamos tendo e surge a possibilidade de ter cada vez mais recursos
para construir; mas vejam a tragédia com os construtores, as fraquezas dos
chefes de brigada, dos que devem dirigir.
Mas isso não é novidade. Do tempo
que estou falando, para produzir uma tonelada de betão, se consumiam 800 quilos
de cimento e uma tonelada de um
bom betão, desse que utilizamos para
fundir, pisos ou colunas, antes da época em que foram construídos o Morro e La
Cabana, que duram mais que muitas das coisas que o mundo moderno constrói hoje;
então, a despesa deve ser de mais ou menos 200 quilos. Vejam como se esbanjava,
vejam como se desviavam recursos, como se roubava.
Nesta batalha contra os vícios não
haverá trégua com ninguém e cada coisa será chamada por seu nome, e nós
apelaremos à honra de cada setor. Estamos certos de uma coisa: de que em cada
pessoa há uma alta dose de vergonha. Quando ela fica pensando não é um juiz
severo, apesar de que, segundo minha opinião, o primeiro dever de um
revolucionário é ser sumamente severo consigo próprio.
Fala-se em crítica e autocrítica,
sim, mas nossas críticas costumam vir só de um grupinho, nunca utilizamos a crítica
mais ampla, nunca utilizamos a crítica num teatro.
Se um funcionário da Saúde Pública,
por exemplo, falsificou um dado, acerca da existência do mosquito Aedes
Aegypti, é chamado, criticado. Eu conheço alguns que dizem: "Sim, me
autocritico", e ficam tão tranqüilos, rindo! São felizes! Ah!, você se
autocritica? E todo o dano que fez e todos os milhões que se perderam em
conseqüência deste desleixo ou desta forma de agir?
Crítica e autocrítica, é muito
correto, isso não existia; mas não, se vamos travar a batalha devemos usar
projéteis de maior calibre, é preciso utilizar a crítica e a autocrítica na
sala da aula, na organização de base do Partido, e depois fora dela, depois no
município e depois no país.
Utilizemos essa vergonha que, sem
dúvida, têm os homens, porque conheço muitos homens aos que chamamos de
sem-vergonhas, e são justamente qualificados de sem-vergonhas, que quando em um
jornal local aparece a notícia do que fez, então fica envergonhado.
O ladrão engana, ou o que merece uma
crítica por sua falta, engana, é também mentiroso.
A Revolução tem que usar essas
armas, e vai usá-las se for necessário! Não deveria ser necessário. A Revolução
vai estabelecer os controles que forem necessários.
Havia muitos desses personagens
felizes da vida, como diz uma canção. "E como vai você?". Isso podia
ser perguntado a muitos dos que andavam com a mangueira na mão, pondo gasolina
nos tanques desses calhambeques, ou recebendo dinheiro dos novos ricos, que nem
sequer queriam pagar a gasolina que consumiam.
Vejam vocês se o que eu digo não era
mais ou menos real e existia uma desordem geral, não só nisso, mas entre outras
coisas, com perdas de dezenas de milhões de dólares, poderiam ser 80 - veja,
repare que 80 é um monte de milhões!- podem ser 160, podem ser 200 milhões. Por
acaso vocês sabem o que são 200 milhões? Vocês estudaram aritmética. Mas vocês
ouviram falar das universidades deste país, verdade? Sim ou não? Vocês são
dirigentes das universidades, e já todos os estudantes têm seus direitos, de
uma forma ou de outra, todas as categorias; estudantes, regulares diurnos,
regulares noturnos, estudantes disto e do outro. E vocês sabem qual o total de
estudantes universitários, de nível superior? Se não sabem podemos analisar, eu
cheguei aqui perguntando dados: vamos ver, me digam o dado exato: 360 000. Sim,
360 000 em conseqüência da universalização do ensino superior.
Acho que Vecino (Fernando Vecino,
ministro da Educação Superior) sabe. Vecino não se incomoda se eu lhe pergunto
esses números, não os conhece bem, não sinta pena por isso.
Quantos estudantes regulares diurnos
têm todos os centros de ensino do país, incluindo os militares?
Se ele não sabe ninguém deve saber.
(Dizem-lhe que 230 000).
Enrique, coincide com teus dados.
(Enrique explica a composição do
número de estudantes).
Sim, 500 000, mas devemos continuar
somando.
Os da universalização são esses, os
regulares como diurnos juntos, esses dois números, é o que eu vinha discutindo,
são 500 000.
Mas existem outras categorias, eu as
tenho cá.
(Enrique esclarece que se incluem os
professores adjuntos, com o que somam 75 000, unidos aos 25 000 professores
universitários, que se aproxima do número os 100 000).
Aqui diz que está subdividido:
"141 000 estudantes no curso regular diurno".
Concordamos com isso?
"Um número de 141 000 estudando
no curso para trabalhadores".
São mesmos ou não?, ou foram
incluídos no de 360 000? Foram incluídos nos 360 000 do programa de
universalização. É isso correto ou não?
(Enrique explica que é independente,
que existe o curso regular diurno, o curso para trabalhadores e a
universalização.)
Regular diurno? (Esclarece-lhe que
esse era o número que existia).
Temos cursos para trabalhadores que
na universidade, quando entrem na universidade imagino que já estejam nesse
número dos 360 000; 32 000 estudando no ensino à distância, esses em que
categoria estão? Na de 360 000? Não estão na de regular diurno, não estão no
curso para trabalhadores e são estudantes. Vem existindo essa modalidade de
ensino.
Bem, vamos procurar o número mais
conservador, que para os fins que eu
pretendo atingir, resolve.
Atualmente temos mais de 500 000,
estudantes universitários.
Além do mais, vocês sabem que temos
958 sedes universitárias. Por isso vocês, os membros da Federação dos Estudantes
Universitários (FEU), estão nos municípios, onde se estudam 45 especialidades
universitárias e cresce o número por ano. Temos 169 sedes universitárias
municipais, do Ministério da Educação Superior; 130 sedes universitárias para o
setor "Álvaro Reinoso", delas 84 em povoados perto das usinas? Muitos
destes estão na cifra anterior há 18 sedes nas prisões, sedes de estudo
superior que têm 594 matriculados na Licenciatura de estudos socioculturais,
ainda não são muitos; 240 sedes Universitárias do INDER, 19 sedes em prisões
onde também estão estudando 579 matriculados, 200 que acabaram o primeiro ano
da carreira. Isto também é novo: sedes universitárias nas prisões. Por outro
lado existem 169 sedes universitárias municipais de saúde, 1 352 em policlínicas,
em unidades de saúde e bancos de sangue, em todos esses lugares estão estudando
diferentes licenciaturas associadas à saúde pública.
Temos quase 100 000 professores
entre titulares e adjuntos das universidades. Muitos deles faziam parte do
aparelho burocrático das usinas açucareiras e de outros lugares, hoje estão
dando aulas, são professores adjuntos, cresceu a massa de professores de nível
superior. Entre os dois - e não falo de outros trabalhadores das universidades
- entre estudantes e professores somam mais de 600 000. E entre os estudantes
mais de 90 000 que não tinham matrícula nem emprego, jovens, muitos deles de
origem humilde, que hoje estão tendo excelentes resultados os estudos
universitários.
Faço perguntas ou digo, mais ou
menos, quais os dados que tenho?
Estive perguntando até agora, qual a
despesa, o orçamento dos centros do ensino superior. Carlitos me deu um dado.
Acho que disse 830. Vecino deve saber, porque ele conhece esses dados. Lembra
desse dado, Vecino?
Vecino lembra que no ano letivo
passado foram 230 milhões de pesos).
Não, tomara que fosse assim. Aqui
tenho um dado que alguém deveria conhecer.
Vejam, este é o Ministério das
Finanças. Esse é o ano 2004, este do 2005 é o que eu estou perguntando, nesse
cresceu enormemente. O do ano passado não me serve, Vecino.
Bom, o que acontece a Vecino nos
acontece a todos e é um tema de vida ou morte. Há poucos dias, estava na frente
de um grupo de 200 profissionais universitários, bem preparados, e lancei uma
pergunta. "Qual de vocês conhece o que se paga em seu lar pelo consumo de
eletricidade?" Escutem bem, companheiras e companheiros. Quantos vocês
acham que responderam? Façam um cálculo, segundo sua lógica.
O que você acha, você que falou
agora? E o companheiro parece esperto, todos são espertos, mas alguns conseguem
falar mais facilmente. Quantos vocês acham que responderam à pergunta que fiz
aos 200 profissionais universitários? (Dizem-lhe que 100).
O que você acha? Você sabe quanto
consome? (Diz que tem uma idéia) Quanto é a idéia, diz-me em dinheiro e em
quilowatts? (Risos) Não, espera, eu vou dizê-lo, inclusive, se você me diz
quantas lâmpadas incandescentes tem, a marca da geladeira, se o televisor é a
preto e branco ou a cores e de que ano, o tipo de ventilador que tem, quanta
água ferve no dia, em que a ferve, se com gás, com querosene ou com gás
líquido. Não, é que eu não quero fazer a pergunta a vocês, porque os estou
cuidando, a única coisa que eu perguntei é que me façam um cálculo de quantas
pessoas responderam minha pergunta, dos 200 a que eu perguntei, acerca de
quanto pagavam pelo serviço elétrico...
Você, que está rindo, vamos ver, um
cálculo, uma estimativa, 50, 70, 120 (Alguém lhe diz que a terceira parte) E
Você? (O garoto diz que não menos de 100) Você deve estar tentando lembrar o
que está gastando e com medo de que lhe perguntem, mas não lhe vou perguntar
(Risos).
Vocês sabem quantos daqueles 200
responderam a pergunta? Vocês sabem quantos? Uma proporção de 0.0000 até o
infinito. Vocês estudaram algo de aritmética, então podem compreender: nenhum,
absolutamente nenhum.
Eu acho que todos os cidadãos deste
país deviam meditar sobre isso.
Posso fazer uma pergunta a vocês?
Por que aconteceu isso? Vamos ver, temos que meditar. Temos dito que é preciso
mudar o mundo, que é preciso salvá-lo, que estamos em um mundo em sua hora
crítica e quase perto de um trágico final, não estou exagerando aqui para
impressionar vocês todos. Pode ser que vocês tenham menos anos que eu e esse
fenômeno acontecer. Falo por vocês, e pelos filhos de vocês, e pelos irmãos de
vocês, mais novos ou mais velhos. Jamais se pode afirmar isso, ao longo da
história breve do homem, não da história selvagem quando era homem e tinha
desenvolvido uma capacidade mental, embora não vivesse na sociedade, não tinha
desenvolvido a língua escrita, nem sequer uma tecnologia rudimentar.
Por que? Vocês são obrigados a
pensar. Que tipo de líderes universitários são vocês? Carlitos, donde saiu esta
tropa que não é capaz de dar uma idéia das razões pelas quais 200 profissionais
universitários não responderam a pergunta sobre a despesa de energia? Que tempo
precisam para meditarem? Basta com um minuto? (Um companheiro explica que é
porque a família cubana tem a facilidade de pagá-la, não é como noutros
lugares, que tem que estar pendente dessa situação.)
O que você acha? (Respondem-lhe que
é porque nenhum universitário tem que ir para a rua, buscar dinheiro para pagar
a eletricidade.)
O que achas? (Disse que isto acontece porque é insignificante o que se
paga).
O que achas? (Pensa que a Revolução subsidia a maior parte das despesas
de nossa população e poupar é uma preocupação).
Tudo bem, vou a fazer-lhes outra
pergunta. Vocês estão ficando perto da
razão exata, pelo menos tal e como eu a veo, não quer dizer que veja a razão só
nisso. Há algumas perguntas que podem
embaraçar-se ainda mais, mas é necessário fazer com que as pessoas pensem e
chamar a todos nossos compatriotas honestos, e inclusive até aos desonestos,
poderia existir qualquer desonesto que diga, tal vez, a verdade: “Por isto.” Há
muitas. Simplesmente porque praticamente
a eletricidade é de graça, a eletricidade se oferece. Bom, eu posso demonstrar-lhes isso.
Posteriormente poderão surgir outras
perguntas: Quanto ganhamos? Caso surgir
a pergunta de quanto ganhamos, começaria a compreender-se o sonho de cada quem
viva de seu salário ou de sua justíssima aposentadoria.
Acrescentem-lhe um pouquinho: quando
você pensa em duas irmãs, uma delas foi mestra, agora estão juntas, tem
problemas, dificuldades, recebiam 80 pesos pela aposentadoria, porque
antigamente os salários eram mais baixos, e depois vieram períodos: “Pago a Você por horário irregular, pago a
você porque é no período da tarde, pago mais a você porque é a noite, pago mais
a você porque tiveste que vir um domingo
de cada mês”, nada disso influía no
salário básico, influi na receita individual do mestre, mas não no salário do
mestre, nem nas aposentadorias, segundo as leis, e muitas dessas leis eram
velhas, e já tínhamos que começar a modificá-las e lhes posso assegurar que
temos ganhado consciência e que a vida toda é um aprendizado, até o último
segundo, e começas a ver muitas coisas num momento, e entre o milhão de temas
em que estas pensando, ficas distraído, não reparas nenhum fenômeno, que os
acréscimos de receitas pessoais quando chegou o período especial, quase todos
foram feitos através dessas normas e não de um salário básico, e por isso não
houve nenhuma vacilação, recentemente, quando se acrescentou até 150 o salário
mínimo do trabalhador, e a senhora ganhava 80 pesos, quer dizer que o acréscimo
no salário mínimo foi de 50 pesos numa categoria, noutra 190 e noutra 230. Agora, imagina o mestre aquele, ou a mestre
que passaram 40 anos, antes do surgimento do mercado livre camponês e os
intermediários assaltaram a república.
Sim, porque todos sabem que o camponês não venderá três libras de arroz
em nenhum lugar. O camponês não é
comerciante; o camponês é produtor. Um
deles tem um caminhão pequeno porque o roubou, ou porque o comprou, ou porque é
com dinheiro roubado, porque colocou um motor, muitas coisas.
Não, isto não é falar mal da
Revolução, isto é falar muito bem da Revolução, porque estamos falando de uma
revolução que pode falar disto, pode encarar as coisas, pode pegar ao tourinho
pelos chifres, melhor do que um toureiro de Madri. Aquele lhe mostra um pano vermelho, e depois
o touro virá, o homem fecha os olhos, as vezes investe e lhe crava um ferrinho,
uma bandarilha, fica enfurecido, mas é necessário pegar ao tourinho pelos
chifres para obter o prêmio.
Nunca gostei dos touros, embora
tenha lido a Hemingway, mas de quando em vez freqüentava uma corrida de touros
no México, não sei como se chama. E
depois, o premio: bom toureiro, cauda, orelha.
Quem o fazia perfeito lhe entregavam as duas orelhas, a cauda, um nome
glorioso e a festa romana do toureio.
Não tenho nada a ver com isso.
Lembro que no começo da Revolução
não sei a quem de nós, ou a qualquer de nós, se nos ocorreu falar em
toureio. Éramos tão ignorantes que falávamos
do toureio, porque já o tínhamos visto lá em México e porque podia atrair ao
turismo. Vejam quanto nós sabíamos, e já
éramos, ou acreditávamos que éramos, muito revolucionários.
Vocês estão rindo, fico contente,
porque fico animado para contar-lhes mais outras coisas.
Uma conclusão que tirei após muitos
anos: entre muitos erros que todos temos cometido, o erro mais importante foi
acreditar que alguém sabia de socialismo, ou que alguém sabia como se constrói
o socialismo. Parecia ciência sabida,
tão sabida como o sistema elétrico concebido por alguns que se consideravam
peritos em sistemas elétricos. Quando diziam: “Esta é a fórmula”, este é quem
sabe. Se alguém é medico. Tu não vai a debater com o médico ao respeito
de anemia, de problemas intestinais, de qualquer especialidade, ninguém discute
com o médico. Pode acreditar que é bom
ou mau, sei lá, pode obedecê-lo ou não, mas a ninguém discute. Quem de nós iria discutir com um médico, um
matemático, ou com um perito em História, em Literatura ou qualquer
matéria? Mas seriamos estúpidos se
acreditarmos, por exemplo, que a economia –e que me perdoem as dezenas de
milhares de economistas que há no país- é uma ciência exata e eterna, e que
existiu desde a época de Adão e Eva.
Perde-se todo o senso dialético
quando alguém acredita que essa mesma categoria de hoje é igual a aquela de 50
anos atrás, ou 100 anos, ou a 150 anos, ou é igual a época de Lênin ou a época
de Carlos Marx. A mil léguas de meu
pensamento o revisionismo, faço um verdadeiro culto a Marx e a Lênin.
Um dia eu diz: “Nesta universidade
me converteram num revolucionário”; mas foi porque contatei com esses
livros, e antes de fazê-lo, pela minha
própria conta e sem ter lido nenhum desses livros, já estava questionando à
economia política capitalista, porque naquela época me parecia irracional, e
estudava economia política no primeiro
ano por Portela, 900 páginas em
mimeógrafo, muito difícil, quase todos reprovavam. Aquele professor era o terror.
Uma economia que explicava as leis
do capitalismo, mencionava as diversas teorias sobre a origem do valor, e
mencionava também aos marxistas, os utópicos, os comunistas, em fim as mais
diversas teorias sobre economia. Mas
estudando economia política do capitalismo comecei a ter grandes dúvidas, a
questionar aquilo, porque eu, além disso, tinha vivido num latifúndio e
lembrava coisas, tinha idéias
espontâneas, como tantos utópicos que houve no mundo.
Posteriormente, quando soube o que
era comunismo utópico, descobri que eu era um comunista utópico, porque todas
minhas idéias partiam de: “Isto não é bom, isto é mau, isto é um erro. Como vão
a chegar às crises de superprodução e a fome quando há mais carvão, mais frio,
mais desempregados, porque há precisamente, mais capacidade de criar riquezas. Não seria mais simples produzi-las e
reparti-las ?
Naquela altura parecia, como também
achava Carlos Marx na época do Programa de Gotha, que o limite à abundancia
radicava no sistema social; parecia que na medida em que se desenvolviam as
forças produtivas podiam produzir, quase sem limites, o que o ser humano
precisava para satisfazer suas necessidades essenciais de tipo material,
cultural, etc.
Já todos leram aquele Programa, e é,
por acaso, muito respeitável.
Estabelecia com clareza a diferença em seu conceito entre distribuição
socialista e distribuição comunista, Marx não gostava de profetizar ou planejar
o futuro, era muito serio, jamais fez isso.
Quando escreveu livros políticos,
como O 18 Brumário, As lutas Civis na França, era um gênio escrevendo, tinha
uma interpretação claríssima. Seu
Manifesto Comunista é uma obra clássica.
Você pode analisá-la, pode ficar mais o menos satisfeito com umas coisas
ou com outras. Eu passei do comunismo
utópico para um comunismo baseado em teorias serias do desenvolvimento social
como materialismo histórico. No aspecto
filosófico apoiava-se no materialismo dialético. Havia muitas filosofias, muitas pugnas e
disputas. É lógico que sempre é
necessário oferecer a devida atenção às diversas correntes filosóficas.
Neste mundo real, que deve ser
mudado, como táctico e estratega revolucionário, todo revolucionário tem o
dever de conceber uma tática estratégia e uma estratégia que guiem ao objetivo
fundamental de cambiar este mundo.
Nenhuma tática ou estratégia que divida seria boa.
Tive o privilégio de conhecer aos da
Teologia da Libertação uma vez no Chile, quando visitei a Allende no ano 1971,
e lá encontrei muitos padres ou representantes de diversas denominações
religiosas, e colocavam a idéia de juntar forças e lutar, sem levar em conta
suas crenças religiosas.
O mundo está precisando
desesperadamente de uma unidade, Sé não conseguirmos conciliar o mínimo dessa
unidade, não chegaremos a lugar nenhum.
Dizia ontem numa reunião com o
representante da Santa Sé em nosso país, ao comemorar-se o 70 Aniversário das
relações ininterrompidas entre Cuba e o Vaticano, que uma das coisas que
apreciei muito em João Paulo II foi o espírito ecumênico. Porque estudei em
escolas de mestres e professores religiosos desde a primeira classe até a sexta
classe, nas escolas dos Irmãos da Salle e de jesuítas, eram religiosas, e tinha
que ir a missa todos os dias. Não critico a quem desejar ir a missa, mas não
concordo com que obriguem a ir todos os dias,
que era o que acontecia comigo.
Bom, muitas coisas. Ontem conversei com os bispos muitos temas
com respeito e bom espírito; lembrava o que dizia sobre o ecumenismo, e também
lembrava que em minha época observava uma guerra a morte, todas as religiões,
umas contra outras; a católica contra a judaica, a protestante, a muçulmana, e
assim cada uma delas, falar de uma religião à outra era como falar do diabo.
Anos mais tarde, com surpresa ia
vendo, acho que foi após do Concilio que teve lugar em Roma, O Vaticano II.
Influiu muito na criação de um espírito ecumênico, de respeito às crenças do
resto das pessoas.
Imaginem numerosas e poderosas
igrejas, a Igreja Católica, o conjunto do resto das igrejas cristãs, a Igreja
Muçulmana. Nós próprios estamos
observando coisas muito interessantes, que não conhecíamos, das fortíssimas
culturas, crenças e costumes religiosas dos muçulmanos, porque lá estão os
médicos num país muçulmano salvando vidas.
Tratam-nos com grande afeto e respeito.
Não entrarei em detalhes, mais são coisas de grande impacto. Há diversas religiões muito fortes e algumas
até tem milhares de anos, 2,500, 3,000, outras um pouco menos 2,000 anos,
outras centos de anos.
É um bom exemplo, porque se o
sentimento religioso não se junta, quaisquer que sejam as idéias éticas, os
valores morais, ou os objetivos que persiga qualquer religião, não alcançarão
jamais, si se trata da luta de numerosas igrejas, sete, oito, dez, ou mais –há
muitas mais-, lutando todas umas contra as outras e repelindo-se entre sim.
Fez-me pensar nestes temas a idéia,
para mim, clara, de que os valores éticos são essenciais, sem valores éticos
não há valores revolucionários.
Não sei por que os comunistas foram
imputados da filosofia de que o fim justifica os meios, e às vezes, inclusive,
nós perguntamos por que não se defenderam ainda mais os comunistas de aquela
acusação de que o fim justificava os meios; já me explico isso, inclusive por
razões históricas, pela enorme influencia
exercida pelo primeiro Estado socialista e pela primeira e verdadeira revolução
socialista, a primeira na história, que surge num país feudal, com hábitos e
costumes feudais , em grande parte ainda, analfabeta a maioria da população;
mas foi a primeira revolução proletária a partir das idéias de Marx e Engels,
desenvolvida por outro grande gênio que foi Lênine.
Lênine, sobre tudo estudou as
questões do Estado; Marx não falava da aliança operário-camponesa, morava num
país com grande auge industrial; Lênin viu o mundo subdesenvolvido, viu aquele
país onde 80% ou 90% era camponês, e embora tivesse uma força operária poderosa
nas ferrovias e nalgumas industrias, Lênine viu com absoluta clareza a necessidade da aliança operária camponesa,
da qual ninguém tinha falado, todos tinham filosofado, mas não tinham falado ao
respeito. E num enorme país semi-feudal,
semi-subdesenvolvido, é onde se produz a primeira revolução socialista, a
primeira tentativa verdadeira de uma sociedade igualitária e justa; nenhuma das
precedentes que foram escravistas, feudais, medievais, ou anti-feudais,
burguesas, capitalistas, embora falassem muito em liberdade, igualdade e
fraternidade, nenhum se propôs jamais uma sociedade justa.
Ao longo da história, o primeiro
esforço humano sério tentando criar a primeira sociedade justa, começou há
menos de 200 anos; em 1850 acho que se escreveu o Manifesto Comunista, e faltam
45 anos, sim, faltam 45 anos para completar 200 anos e pode apreciar-se após a
evolução do pensamento revolucionário.
Com dogmatismo jamais se tivesse
chegado a uma estratégia. Lênine nos ensinou
muito, porque Marx nos ensinou a compreender a sociedade; Lênine nos ensinou a
compreender o Estado e o papel do Estado.
Todos esses fatores históricos
influíram grandemente no pensamento revolucionário, e logicamente houve
práticas abusivas e em ocasiões repugnantes.
Isso impulsionou a caluniosa
imputação de que para o comunista “o fim justifica os meios.” Eu tenho pensado
muito no papel da ética. Qual é a ética
de um revolucionário? Qualquer
pensamento revolucionário começa por um pouco de ética, por um pouco de valores
que lhe inculcaram os pais, lhe inculcaram os mestres, ele não nasceu com essas
idéias; da mesma maneira que não nasceu falando, alguém o ensinou a falar. A influencia da família também é muito
grande.
Quando nós estudamos os casos dos
jovens que estão em prisão entre 20 e 30 anos de idade, vemos a procedência,
níveis culturais dos pais, e tem influencia decisiva, de tal maneira que
durante a batalha de idéias, nós, fazendo todo tipo de pesquisas sociais dessa
índole, chegamos à conclusão de que o delito em Cuba estava estreitamente
ligado ao nível cultural e ao status social dos pais; era incrível a baixíssima
porcentagem de filhos de profissionais universitários e intelectuais que
cometiam delitos. Como também era
incrível o número de aqueles que procediam de famílias humildes onde não
existia essa base cultural. Outro
problema que influía muito: era a desintegração do núcleo numa família humilde
de baixo nível cultural. Alguns filhos
não ficavam nem com o pai nem com a mãe, mas sim com uma tia, uma avô com
dificuldades de saúde ou outros problemas, isto exercia uma notável influencia no destino da criança.
Foi então quando usamos aquelas
brigadas universitárias que visitavam os bairros mais pobres, ou um dia quando
decidimos mobilizar 7 000 estudantes aos que depois entreguei a cada um, um
diploma, os assinei no avião quando voltava de África, pelo caminho, ninguém
sabe as horas intermináveis que fiquei assinando milhares de diplomas, pelo
valor que lhe concedia a aquele trabalho.
Os que visitava em sua tarefa, e como apreendemos. Havia que ver o que estava acontecendo ali na
sociedade. Queríamos saber muitas coisas
e não as sabíamos: como viviam as pessoas.
Foi naquela ocasião que descobrimos
que, por exemplo, uma mãe podia estar trabalhando, receber um salário, ter ao
mesmo tempo um filho com retardo mental severo, em cama e com necessidade de
atendimento o tempo todo, havia que fazer-lhe tudo. Qualquer parente cuidava dele enquanto ela
trabalhava. Um dia esse parente ia
embora ou morria e aquela mulher tinha que escolher entre o trabalho, do qual
recebia a sua manutenção ou atender o filho.
Quero que saibam que naquela vez
decidimos que qualquer mulher naquelas condições devia optar, segundo seu
ofício, segundo as necessidades e importância de seu trabalho para a sociedade,
por receber um salário para cuidar da criança, ou o Estado suportar o salário
de alguém que cuidasse dessa criança, enquanto ela trabalhava. Este é um exemplo entre muitos.
As brigadas de estudantes também
ajudaram a salvar vidas de pessoas, por exemplo, pessoas que iam suicidar-se
por enfermidade mental ou depressão por outra causa. Como descobrimos coisas! Havia não sei se 20 000 ou 30 000 pessoas de
mais de 60 anos de idade que moravam sós e muitas delas não tinham nem uma
campainha para avisar a alguém caso sofressem uma dor muito forte no peito ou
qualquer outro problema dessa índole.
Essa era a sociedade.
Vimos as quantidades que recebia
qualquer cidadão por pensão ou assistência social. Muitos dados não apareciam
em nenhuma estatística, em nenhum recenseamento. Íamos descobrindo, descobrindo e descobrindo
coisas, e fazendo coisas, forjando idéias.
Chegamos a forjar mais de 100 programas sociais, muitos deles se estão
cumprindo há muito tempo. Não temos divulgado o que foi feito. Que dias gloriosos aqueles nos que, partindo
fundamentalmente dos quadros da juventude e com o apoio do Partido e de todas
as instituições, se desenvolveu aquela batalha de idéias ao redor do regresso
da criança seqüestrada pelos Estados Unidos de América.
Ainda teremos que ficar gratos das
circunstancias que aceleraram de tal maneira nosso conhecimento da sociedade e
nosso aprendizado. Acho que talvez hoje
não estivéssemos fazendo o que estamos fazendo se tivéssemos vivido aquela
experiência.
Criamos o primeiro curso de
trabalhadores sociais. Tivemos que saber
quais eram os salários mínimos. Quero
que saibam que o acréscimo deste foi feito após percorrer todo o país, e a
assistência social foi a terceira parte da que se estabeleceu neste ano,
levando-a a 129 pesos a media. Foi mais
forte ainda o trabalho feito quando se elevaram as aposentadorias e pensões,
quando a mínima se elevou até 150, a 190 a seguinte categoria e a 230 a
subseqüente. Também o salário mínimo se
elevou grandemente.
Falávamos da importância do fator
ético. Haveria que investigar as razões
da confusão. Acho que aconteceram fatos
históricos que influíram na idéia de que para um comunista o fim justificava os
meios, acontecimentos internacionais difíceis de compreender –já os mencionei
em mais de uma ocasião-, apesar de todo
o antecedente que constava da tentativa franco britânica, as duas grandes
potencias coloniais, as maiores do mundo, de lançar Hitler contra a URSS. Acho
que os planos imperialistas de lançar a Hitler contra a URSS jamais teriam
justificado o pacto de Hitler com Stalin, foi duro. Os partidos comunistas, que se caracterizavam
pela disciplina, todos se viram obrigados a defender o Pacto Molotv-Ribbenntrop
e a se desgastarem politicamente.
Antes desse pacto, a necessidade de
juntar-se na luta antifascista levou a Cuba à aliança dos comunistas cubanos
com Batista, e já Batista tinha reprimido a famosa greve de abril de 1934 que
veio após do golpe de Batista contra o governo provisório de 1933, de
inquestionável caráter revolucionário e fruto, em grande parte, da luta heróica
do movimento operário e os comunistas cubanos.
Antes daquela aliança antifascista, Batista tinha assassinado não se
sabe que quantidade de pessoas, tinha roubado não se sabe que quantidade de
dinheiro, era um lacaio do imperialismo ianque; mas chagou a ordem de Moscovo:
de organizar as fontes antifascistas. A
pactuar com o demônio. Aqui pactuaram com o ABC fascista e com Batista, um
fascista de outro tipo, um criminoso e um saqueador do tesouro público.
São acontecimentos muito difíceis,
mas aconteciam uns após outro, e os comunistas mais disciplinados do mundo,
digo isto com sincero respeito, eram os partidos comunistas de América Latina e
entre eles o Partido de Cuba do qual sempre tive e conservo um altíssimo
conceito.
Hoje podemos falar do tema porque
vamos marchando para novas e novas etapas.
Os militantes do Partido Comunista
de Cuba eram os cidadãos mais disciplinados, mais honestos e mais sacrificados
deste país, contribuíam ao Partido; os legisladores do Partido entregavam uma
parte de sua receita, eram as pessoas mais honestas deste país, apesar da linha
errada imposta por Stalin ao movimento internacional. Como culpá-los. Ponha-os no dilema de aceitar ou não algo,
segundo minha opinião, absolutamente correto: a união de todos os
comunistas. “Proletários de todos os
Uni-vos!”, ou romper abertamente, naquelas circunstancias, a disciplina.
E eu não sou daqueles que criticam
às personagens históricas satanizadas pela reação mundial para agradar os
burgueses e aos imperialistas; também não vou cometer a tolice de não me
atrever a dizer algo que tenho o dever de dizer um dia como hoje. Nós devemos ter o valor de reconhecer os
nossos próprios erros precisamente por isso, porque só assim se atinge o
objetivo que se pretende alcançar. Pois,
sim, se criou um tremendo vício de abuso de poder, de crueldade, e muito
especialmente o hábito de impor autoridade de um país, de um partido
hegemônico ao resto dos países e
partidos.
Há mais de 40 anos que mantemos
relações com o movimento revolucionário de América Latina, e relações muito
estreitas. Jamais se nos ocorreu dizer a
nenhum deles o que devia fazer. Íamos
descobrindo, ademais, a dedicação com que cada movimento revolucionário defende
seus direitos e suas prerrogativas.
Lembro momentos cruciais, contarei
aqui só uma pequena parte: quando a URSS se derrubou e ficou só, muita gente,
entre elas nós, os revolucionários cubanos.
Mas nós sabíamos o que devíamos fazer, e o que devíamos fazer, quais
eram nossas opções. Também estava o resto dos movimentos revolucionários em
muitas partes travando sua luta. Não
direi quais, não vou dizer quem; mas se tratava de movimentos revolucionários
muito sérios, nos perguntaram se negociavam ou não perante aquela situação
desesperada, se continuavam lutando ou não, ou se negociavam com as forças
contrarias procurando uma paz, quando nós sabíamos a que conduzia aquela paz.
Eu lhes dizia: “Vocês não nos podem
pedir nossa opinião, são vocês os que iriam a lutar, são vocês os que
morreriam, não somos nós. Nós sabemos o que faremos, e o que estamos dispostos
a fazer; mas isso só pode ser decidido por vocês.”. Ai estava a mais extrema manifestação de
respeito ao resto dos movimentos e não a tentativa de impor baseados nos nossos
conhecimentos e experiências e o enorme respeito que sentiam por nossa
Revolução para saber o peso de nossos pontos de vista. Naquele momento não podíamos pensar nas
vantagens ou desvantagens para Cuba das decisões que tomaram: “Decidam Vocês”,
e assim cada um deles, em momentos decisivos, decidiu sua linha. Nós somos um pequeno país aqui no Caribe, a
90 milhas do império e a umas polegadas de sua base ilegal, mil vezes mais
fraca do que era a URSS na época de seu pacto com Hitler, ou quando estava
dando ordens aos líderes dos partidos comunistas. Já na época da República de Weimar que surgiu
na Alemanha após a primeira Guerra Mundial, a incrível crise econômica
desencadeada produto do Pacto de Versalles imposto a aquele país pela
Inglaterra, França e Estados Unidos de América, por um lado fortalecia ao
movimento revolucionário e por outro às forças nacionalistas mais reacionárias.
Hitler triunfa eleitoralmente
perante os partidos burgueses liberais e perante as forças comunistas
combativas e revolucionárias; mas naquela situação foi mais forte o terrível
ressentimento do povo alemão pelas condições leoninas estabelecidas pelos
vencedores. E assim é como Hitler chega
ao poder. Este, num livro que escreveu, tinha declarado desenfadadamente seu
objetivo de procurar espaço vital no território da URSS para a raça alemã, a
custa dos russos, segundo sua opinião raça inferior. Tudo isso já estava
escrito, e o movimento comunista se educou dentro das idéias e conceitos muito
claros contra o nazi-fascismo.
Em nosso país, após a queda de
tantos revolucionários, sendo os comunistas os mais cientes, os melhores
militantes, a gente honrada, o partido marxista leninista foi norteado, no
entanto, a aquela aliança com Batista, que tanto reprimiu aos estudantes e ao
povo em geral. Os jovens eram muito
rebeldes a seu poder; os operários, que viam seus interesses defendidos
continuamente pelos dirigentes comunistas, eram firmes e leais ao Partido; mas
na juventude e em amplos setores populares havia muita rejeição
justificada a Batista.
Acho que a experiência do primeiro
Estado Socialista, Estado que deveu compor-se e jamais destruir-se, tem sido
muito amarga. Não pensem que não temos
pensado é muitas ocasiões nesse fenômeno incrível mediante o qual uma das mais
poderosas potências do mundo, que conseguiu equiparar sua força com a outra
superpotência, um país que pagou com a vida de mais de 20 milhões de cidadãos a
luta contra o fascismo, um país que esmagou ao fascismo, desabou como se
desabou.
Será que as Revoluções estão
chamadas a se derrubarem, ou será que os homem podem fazer com que as
revoluções se derrubem?. Os homens podem ou não impedir, a sociedade pode ou
não pode impedir que as revoluções se derrubem?. Até poderia acrescentar-lhes uma pergunta
imediatamente. Acham que este processo
revolucionário, socialista, pode ou não derrubar-se? (Exclamações de: “Não!”) Pensaram nisso
alguma vez? Pensaram-no com profundeza?
Sabiam de todas estas desigualdades
que estou falando? Conheciam certos hábitos generalizados? Sabiam que alguns ganhavam no mês quarenta ou
cinqüenta vezes o que ganha um desses médicos que está lá nas montanhas da
Guatemala, membro do contingente “Henry Reeve”? Pode estar noutros lugares
distantes da África. Pode até estar a milhares de metros de altura, nas
cordilheiras do Himalaia salvando vidas e ganha 5%, 10% do que ganha um ladrão
destes que vende gasolina aos novos ricos, que desvia recursos dos portos em
caminhões e por toneladas, que rouba nas lojas de divisa, que rouba num
hotel cinco estrelas, talvez trocando a garrafa de rum por outra que procurou,
a põe no lugar da outra e arrecada todas as divisas com as que vendeu os goles
que podem sair da garrafa de um tipo de rum mais ou menos bom.
Quantas formas de roubo há neste
país? Por que nos estados de opinião leio todos os dias que muitos perguntam,
quando vão os trabalhadores sociais para as lojas de divisas, quando vão para
as farmácias, quando vão para aqui ou para lá? Encheram-se de admiração e
simpatias esses jovens trabalhadores sociais de origem muito humilde, e muito
bem preparados.
Vi aqueles rostos, como posso ver
estes, e os rostos dizem mais que qualquer artigo, dizem mais que qualquer
livro, dizem mais que qualquer clichê.
Vocês conhecem muito bem que desde que esta civilização existe, desde
que a propriedade privada existe, também surgiu a diferença de classes e que o
mundo só conheceu a sociedade de classes, o resto é pré-histórico.
E como posso saber que vocês provêm
de setores humildes? Nenhum de vocês
chegou à universidade porque era filho de um proprietário de importantes
extensões de terra.
Cá estamos nós, me honraram
colocando-me aqui. Quem de vocês tem um
pai que possua 1000 hectares, ou que trabalhe 10 000 hectares? Não lhes vou perguntar a cada um de vocês,
basta-me vê-los, se por acaso é filho de algum profissional, alguns de camadas
médias. Vocês aplaudiram muito bem
porque eu seu de onde vocês vêm, e vocês também sabem que hoje não há ninguém
para cortar a cana de açúcar.
E quem a cortava?
Também se pode explicar por que hoje
já não talhamos mais a cana, não há quem a corte e as pesadas máquinas destroem
os canaviais. Os abusos do mundo
desenvolvido e os subsídios levaram os preços do açúcar que foram, naquele
mercado mundial, o preço do lixeiro de açúcar, enquanto que em Europa pagavam
duas ou três vezes mais a seus agricultores.
Quando a URSS nos pagava o açúcar a
27 ou 28 centésimos e a pagava com petróleo, para eles o açúcar era mais barata
pagada com petróleo, que o açúcar de beterraba produzida quase artesanalmente
nos campos da URSS, um país no qual a economia crescia extensivamente, não
intensivamente e, por tanto, a força de trabalho nunca bastava, a beterraba
para fazer açúcar precisava de muita gente.
Mas vamos chegando –eu tenho
chegado, e há muito tempo- a perguntar-me, face esse poderoso império que nos
observa, nos ameaça, tem planos de transição e planos militares de ação, em
determinado momento histórico.
Eles estão aguardando um fenômeno
natural e absolutamente lógico, que é o falecimento de alguém. Neste caso me
honraram consideravelmente ao pensar em mim será uma confissão do que não
conseguiram fazer desde há muito tempo.
Se eu fosse um vaidoso, poderia
ficar orgulhoso de que aqueles caras digam que têm que aguardar até que eu
morra, e esse é o momento. Aguardar que
morra, todos os dias inventam alguma coisa, que sim Castro tem isto que se tem
o outro, se tal o mais qual enfermidade.
A última coisa que inventaram é que tem Parkinson.
Sim, eu tive uma queda muito grande,
ainda estou reabilitando-me deste braço (assinala), e vai melhorando. Agradeço muitíssimo as circunstancias em que
se quebrou meu braço, porque me obrigou a ter ainda mais disciplina, mais
trabalho, a dedicar mais tempo, a dedicar quase as 24 horas do dia a meu
trabalho, se já eu estava dedicando-as durante o período especial, agora dedico
cada segundo e luto mais do que nunca, ademais, me sinto, por sorte, melhor do
que nunca, justo porque estou sendo mais disciplinado e faço mais exercícios
(Aplausos).
Falaram em Parkinsonismo, e lembro
que no dia seguinte da queda, tinham-me falado em fissuras, em plural, na parte
superior do úmero, e quando fui escrever para informar o acontecido, me
disseram: “Não, porque fissura em plural quer dizer fratura.” Naquela hora não
tinha outra hipótese que dizer: “Escrevam fissura, que eu lhe explicarei ao
povo, que não havia nenhuma fissura, mas sim que havia fissuras.” Inclusive o
teria dito, porque sim, em qualquer circunstancia, não lhe tenho medo ao
inimigo; achava que estava em plenas faculdades, que o problema era um
acidente, não recebi golpes na cabeça, se tivesse recebido golpe na cabeça, com
certeza agora não estaria aqui; entrei numa ambulância e vim para cá, onde,
primeiro, me fizeram uma rótula nova com os oito fragmentos da anterior e o
resto das coisas. Aqueles que me mataram
tantas vezes estariam quase felizes; mas sofreram desilusões mais desilusões, e
me obrigaram a fazer um trabalho duro no que diz respeito à reabilitação, dia a
dia para que a rótula funcione melhor ainda.
E, quem sabe: se derramaram dois litros de sangue no interior do ombro e
a parte superior do braço, que não apareciam na imagem radiográfica.
Tenho envidado esforços, continuo a fazê-los,
o que tenho aprendido é que até o último segundo estarei fazendo exercícios,
não deixo de fazer nada, e tenho mais vontade que nunca para comer o que devo e
não comer um grão a mais, do que não devo.
Agora dizem que a CIA descobriu que
eu tenho Parkinson. Esse caso é como
aquele do cara que descobriu que eu era o homem mais rico do mundo. Que engano colossal! É uma pequena conta que
ainda esta pendente. A vocês lhes digo que não tenho falado disso porque nos
últimos tempos não tive nenhum espaço livre na televisão: Posada Carriles por
cá, o bandidismo por lá, milhões de coisas.
Mas esse assunto ainda fica pendente, perderam a luta, e o cara e todos
os que o apoiaram vão passar um mau momento por ter cometido um erro tão
grande, agora não sabem o que fazer,
talvez o único recursos que lhes resta seja retificar. Disseram que tinha Parkinson. É claro que quando a gente faz exercícios, o
braço tem que ir fortalecendo-se músculo por músculo. A quantas pessoas já tive que cumprimentar?
Milhares, e alguns chegam e quase me arrancam o braço, e a gente não pode fazer
a mesma coisa. Tem que fazer como
alguns, que quando tocam por essa parte que se esta curando, põem o ombro duro
para que pensem que é fortíssimo e que é de ferro. Cada vez que me cumprimentam faço isso. Esse
aqui tem mais força do que esse outro (assinala para o braço direito). O que é o que acham?
Mas a CIA tinha descoberto que eu
tinha Parkinson. Bom, não tem importância se sofresse de Parkinson. O Papa tinha Parkinson e ficou muitos anos
percorrendo o mundo, tinha uma grande vontade, lhe fizeram atentados, e eu fiz
assim: “Deixa ver como é que está meu Parkinson, deixa apontar (aponta
fixamente com o dedo indicador) (aplausos e exclamações), e então eu digo: Essa
é a direita”.
Sempre tive boa pontaria, foi uma
sorte, e a tenho conservado, sem mirilha telescópica, não é?, logicamente.
Ao dia seguinte do acidente, me
enviaram para um hospital, me tiraram de ali, me levaram para outro ponto, não
protestei, mas a gente sabe tudo o que estão fazendo, porque comigo tiveram que
debater a intervenção cirúrgica, e o que faziam com o joelho, e como o faziam;
o que faziam com o braço, eu diz: coloquem anestesia local”, porque se na
realidade não me sinto em condições de fazer qualquer coisa, chamo o Partido e
digo: “Vejam bem, não me sinto em condições de fazer nada.” Por isso tenho
criticado aos médicos, porque a gravidade de algumas coisas a reduziram um
pouquinho. Um dizia cirurgia, tudo bem; outro reabilitação, expressei: “Tudo bem, a
final eu não serei o lançador da próxima taça de beisebol, nem participarei nas
olimpíadas”, disse: Era mais perigoso
submeter-se a uma intervenção cirúrgica, com pregos ortopédicos e isso tudo. A uma pessoa de 20 ou 25 anos de idade têm
que fazer-lhe isso; mas em fim, tinha que ser feito o correto, e se você pensa
que não está em condições de cumprir com seu dever, deve dizer: “Está acontecendo isto comigo, por favor,
alguém que assuma o comando, eu não posso nestas circunstancias.” Se vou morrer, morro, se não morro e recupero
minhas faculdades, de todas as maneiras a gente já tem alguma experiência,
certa autoridade e não ganha com a mentira e a desonra. Tinha que preocupar-me por todas essas coisas
naquele momento.
Uma vez disse que no dia em que morrer
de verdade ninguém ia acreditar nisso, podia andar como o Mio Cid, que após a
morte foi levado a cavalo ganhando batalhas.
Nunca devemos confiar no
imperialismo, é traído e capaz de qualquer coisa: Torturas em Guantánamo,
torturas nas prisões do Iraque, prisões de torturas em países ex-socialistas,
usa fósforo vivo, e depois afirma: “É a mais inocente e legítima das
armas.” Em qualquer uma das
circunstancias é devemos supor que você em meu caso disponha de uma arma e
esteja em condições de usá-la. Cumpro
esse princípio. Disponho de uma
Browning, de 15 tiros. Já atirei muito
na minha vida.
A primeira coisa que eu quis
verificar, foi se meu braço tinha força
para manipular essa arma que eu sempre usei.
Essa arma está ao lado da gente, a gente a tem. Movimentei o carregador, a carreguei, botei o
seguro, tirei o seguro, tirei o carregador, atirei as munições, e disse:
Tranqüilo. Isso foi ao dia seguinte. Tinha forças para disparar.
Tomamos medidas, medidas previstas
para que não exista surpresa, e o nosso povo deve saber com exatidão o quê
fazer em cada caso. Olhem bem, é preciso
saber o quê fazer em cada caso.
Não vamos a descrever, não lhe vamos
a contar a Bushezinho quê medidas temos. Se posso dizer-lhe: “Olhe,
cavalheirinho, você vai estourar, caso não lhe dêem um pontapé por onde Deus
salve o lugar e seja tirado daí por violar as leis dos Estados Unidos.” Sim, todo o mundo esta rebelando-se contra
ele, todo o mundo, todo o mundo e não encontram mais do que crimes, crimes,
crimes, crimes e crimes.
É assim como estou dizendo as
coisas, mas nesses planos, e sempre inventando.
Hoje eu não quero – e tomara que não
tenha que fazê-lo - sugerir à CIA, que está investigando minha saúde e o grau
de Parkinson que tenho sugerir várias investigações em torno do imperador.
Acredito que não é preciso fazê-lo.
O meu objetivo não são as ofensas
pessoais. Digo-lhes isto, porque refletem conceitos, refletem desprezo,
refletem a idéia clara que temos da mediocridade, da estupidez e de muitas
outras coisas; mas não quero referir-me a certos temas, temos muitíssimo material, e podemos sugerir à CIA – que está
muito zangada, certamente, porque foi ignorada, foi humilhada – algumas
investigações sobre a saúde do imperador. Claro, a CIA também não disse nada
sobre como foi que entrou Posada Carriles nos Estados Unidos. Ninguém, ninguém,
ninguém!
Eu fiz uma pergunta para vocês,
companheiros estudantes, que não esqueci, nem sequer, e pretendo que vocês não
a esqueçam nunca, e é a pergunta que faço diante das experiências históricas
conhecidas e peço-lhes a todos, sem exceção, que reflitam: Pode ser ou não
irreversível um processo revolucionário? Quais seriam as idéias ou o grau de
consciência que tornariam impossível a reversão de um processo revolucionário?
Quando os que foram dos primeiros, os veteranos morram e surjam novas gerações
de líderes, o quê fazer e como fazê-lo? Se, nós afinal de contas, temos sido
testemunhas de muitos erros, e nem nos damos conta disso.
O poder que tem uma liderança quando
goza da confiança do povo, quando confiam na sua capacidade. São terríveis as
conseqüências de um erro daqueles que têm maior autoridade, e isso aconteceu em
mais de uma ocasião nos processos revolucionários.
São coisas que a gente medita.
Estuda a história, o quê aconteceu aqui, o quê aconteceu lá, o quê aconteceu
lá, medita sobre o que aconteceu hoje e sobre o quê acontecerá amanhã, para
onde conduzem os processos de cada país, para onde vai o nosso, como marchará o
nosso, que papel desempenhará Cuba nesse processo.
O país tem tido limitações de
recursos, muitíssimas; mas este país não fez mais do que esbanjar recursos,
tranquilamente, e daí para frente, enquanto vocês recebiam um pequeno sabonete
inodoro e creme de dentes para que se escovassem os dentes disciplinadamente, a
cada mês, não sei quanto, embora que em algumas escolas descuidassem o
atendimento a determinadas atividades que provocaram, por exemplo, a
excelentíssima dentadura de nossos jovens, e existiram descuidos desse tipo.
Houve pessoas que acreditaram que com métodos capitalistas iam construir o
socialismo. É um dos grandes erros históricos. Não quero falar disso, não quero
teorizar; mas tenho muitos exemplos de que não se deu certo em muitas coisas
que foram feitas, aqueles que se consideravam teóricos que tinham estudado em
profundidade os livros de Marx, Engels, Lênine e os outros teóricos.
Foi por essa razão que eu disse
aquela palavra de que um dos nossos maiores erros no começo, e muitas vezes ao
longo da Revolução, foi acreditar que alguém sabia como se construía o
socialismo.
Em minha opinião, hoje temos idéias
bastante claras sobre como se deve construir o socialismo, mas precisamos de
muitas idéias bem claras e de muitas perguntas encaminhadas a vocês que são os
responsáveis sobre como é possível preservar ou será preservado o socialismo no
futuro.
Qual sociedade seria esta, ou que
digna de alegria quando nos reunimos em um lugar como este, um dia como este,
se não soubéssemos o mínimo do que se deve saber para que nesta ilha histórica,
este povo heróico, este povo que escreveu páginas não escritas por nenhum outro
povo na história da humanidade preserve a Revolução? Vocês não pensem que quem
lhes fala é um vaidoso, um charlatão, alguém que gosta do bluff.
Transcorreram 46 anos e a história deste
país é conhecida, os habitantes deste país a conhecem; a daquele império
vizinho também, o seu tamanho, seu poder, sua força, sua riqueza, sua
tecnologia, seu domínio sobre o Banco Mundial, seu domínio sobre o Fundo
Monetário, seu domínio sobre as finanças mundiais, esse país que tem-nos
imposto o mais brutal e incrível bloqueio, sobre o qual se falou lá nas Nações
Unidas e Cuba recebeu o apóio de 182 países que passaram e votaram livremente
ultrapassando os riscos de votar abertamente contra esse império. E isso foi
conseguido pela ilha, e não precisamente contando com o apóio do campo
socialista da Europa, quando esse campo socialista desapareceu e quando a URSS
também se derrubou. Não apenas fizemos esta Revolução com o nosso próprio risco
durante muitos anos, em determinado momento, tínhamos a certeza de que jamais
se fossemos atacados direitamente pelos Estados Unidos lutariam por nós, nem
podíamos pedi-lo.
Com o desenvolvimento das
tecnologias modernas era ingênuo pensar ou pedir ou esperar que aquela potência
lutara contra a outra, se intervinha nesta pequena ilha que está aqui a 90
milhas, tivemos a certeza total de que nunca receberíamos esse apóio. Ainda
mais: um dia lhes perguntamos isso direitamente vários anos antes do seu
desaparecimento: “Digam-no-lo francamente: “Não.” Responderam o que já sabíamos
que íamos a responder, e então, mais do que nunca, aceleramos o desenvolvimento
da nossa concepção e aperfeiçoamos as idéias tácticas e estratégicas com as que
triunfou esta Revolução e venceu, com uma força que inicia a sua luta com sete
homens armados contra um inimigo que dispunha 80 000 homens entre marinheiros,
soldados, policiais, etc, tanques, aviões, todo tipo de armas modernas que
naquela época podia-se possuir, era infinita a diferença entre nossas armas e
as armas que tinha aquela força armada treinada pelos Estados Unidos, apoiada
pelos Estados Unidos e fornecida pelos Estados Unidos. Mais do que nunca, após
essa resposta, nos arraigamos em nossas concepções, as aprofundamos e nos fortalecimos
a um nível tal que nos permite afirmar hoje que este país é invulnerável
militarmente e não em virtude das armas.
A eles lhes sobram todos os tanques,
e a nós não nos sobra nenhum, nenhum! Toda a sua tecnologia se derruba, é gelo
ao meio dia no centro de um parque caloroso. E mais uma vez, como quando
tínhamos sete pequenos fuzis e poucas balas.
Hoje temos muito mais do que sete fuzis, temos todo um povo que aprendeu
a utilizar as armas, todo um povo que, apesar de nossos erros, tem tal nível de
cultura, de conhecimento e de consciência que nunca permitiria que este país se
tornasse novamente em uma colônia deles.
Este país pode-se autodestruir-se a
si mesmo; esta Revolução pode destruir-se, são eles os que hoje não podem
destruí-la; nós sim, nós podemos destruí-la e seria a nossa culpa.
Tenho o privilégio de viver muitos
anos, isso não é um mérito, mas é uma excepcional oportunidade para dizer-lhes
a vocês, a todos os líderes da juventude, a todos os líderes das organizações
de massa, a todos os líderes do movimento operários, dos Comitês de Defesa da
Revolução, das mulheres, dos camponeses, dos combatentes da Revolução
organizados em todas as partes, lutadores durante anos que em cifra de centenas
de milhar cumpriram gloriosas missões internacionalistas, estudantes como
vocês, inteligentes, preparados, saudáveis, organizados, que estão em todas as
partes, em cada uma dessas novecentas e tal sedes, nas mil e tal, nas duas mil
e tal que vamos ter aceleradamente e continuará crescendo até mais de 500 000,
600 000 e não será muito maior porque irão formando-se muitos anualmente. E os
que vão formando-se, como os nossos médicos lá na Venezuela, todos estarão
estudando com os computadores, os vídeos, os meios audiovisuais necessários, na
procura de um título científico, um mestrado ou um doutorado em ciências
médicas, todos, cem por cento.
Hoje se pode falar de tantas dezenas
de milhares de especialistas em medicina geral integral e amanhã, embora não
queiramos, haverá que falar de dezenas de milhares de títulos ou de mestrados e
doutorados em ciências médicas, por apenas citar um ramo. Não devemos esquecer
que um dia tivemos 3 000 e não tínhamos professores universitários, e desta
mesma universidade foram embora muitos e hoje se fala de que em poucos anos
serão 100 000 médicos, e quando precisemos 150 000 os teremos, e haverá alguns
que serão professores universitários como teremos dezenas de milhares de
programadores e desenhadores de programas e pesquisadores, em muitas e várias
mudanças temos que saber muitas cosas ao mesmo tempo, muitas mais do que os
diversos títulos que consigamos.
Agora eu lhes falava sobre uma
batalha, perguntei quanto custava. Não pensem que estes jovens vão suar e
perder o tempo, os 28 000 trabalhadores sociais, já lhes exprimi como foi que
me percebi de que pertenciam ao setor mais humilde deste país, eu o via nos
seus rostos, involuntariamente foi-se desenvolvendo o hábito de adivinhar até a
província de origem dos compatriotas. Eu já disse brincando e digo-o aos
médicos que marcham a cumprir missão, aos trabalhadores sociais, que cada um
deles pertence a uma microtribo. Conheço aos que são de Manzanillo, por
exemplo, os de Havana, os de Guantánamo, os de Santiago; é impressionante ver
os mais humildes setores sociais deste país convertidos em 28 000 trabalhadores
sociais e centenas de milhar de estudantes universitários, universitários!
Vejam que força! E em breve veremos também em ação a aqueles que formamos há
pouco tempo na cidade esportiva.
A cidade esportiva nos ensina sobre
o marxismo-leninismo; ensina-nos sobre as classes sociais; a cidade esportiva
reuniu há pouco tempo aproximadamente a 15 000 médicos e estudantes de medicina
e a alguns da ELAM, e outros que vieram inclusive de Timor Leste para estudar
medicina, nunca poderá se esquecer. Não acredito que se trate de um sentimento
pessoal de qualquer de nós.
Nunca esta sociedade esquecerá essas
imagens das 15 000 batas brancas que ali se reuniram no dia em que se formaram
os estudantes de medicina, no dia em que foi criado o contingente “Henry
Reeve”, que já em um número considerável enviou suas forças para os lugares
onde aconteceram fenômenos excepcionais em um tempo muito mais breve do que
imaginávamos.
Pouco tempo depois formamos àqueles
jovens instrutores de arte, mais de 3 000, era a segunda vez, após aquela
primeira formatura em Santa Clara. Já são 3 000 novos, já estão atuando; também
estão atuando os outros 3 000 que cursam o último ano. Assim vão-se multiplicar
e um dia reuniremos pelo menos, a metade dos trabalhadores sociais que hoje
estão desenvolvendo uma das tarefas mais importantes que realizara nunca um
grupo de jovens, um grupo de especialistas no trabalho social, unido a uma
força de jovens estudantes universitários, porque são, pela sua vez, a mesma
coisa.
O que poderá resultar do trabalho
desses jovens? Vamos pôr fim a muitos vícios desse tipo: muito roubo, muitos
desvios e muitas fontes de fornecimento de dinheiro dos novos ricos.
Pensará alguém que vamos confiscar o
dinheiro? Não, o dinheiro é sagrado; toda pessoa que tenha o seu dinheiro num
banco, é intocável.
Vejam algo novo, vai travar-se um
combate contra uma série de vícios, roubos, desvios, um por um, numa ordem que
ninguém sabe. O suspeitavam? É muito bom!
Mas que nível de arraigo tem determinados
vícios. Começamos por Pinar del Rio para ver o que acontecia com os postos de
gasolina que vendem combustível em divisas. Logo descobrimos que o que se
roubava era tanto como a receita. Roubavam quase a metade e nalguns outros
lugares mais da metade.
Bom, o quê acontece em Havana?
Mudarão? Que nada!, tranqüilos e felizes. Talvez pensassem que esses
trabalhadores sociais erão bobos, meninas e meninos. Porque o curioso é que 72%
dos trabalhadores sociais são mulheres –não sei se alguma vez aconteceu algo
semelhante-, como também os médicos que estão dando glória a este país, dando-lhe enorme prestígio e abrindo
vias para que o país utilize o seu
capital humano, que vale muito mais do que o petróleo. Repito, vale muito mais
do que o petróleo ou o ouro. Qualquer país que tenha petróleo, diz: “Ouça, que
sorte, tenho este recurso natural que está esgotando-se!” Nós também, e vamos incrementar a produção de
petróleo, sem dúvidas. É uma sorte não tê-lo encontrado antes para não tê-lo
esbanjado.
O capital humano não é um produto
renovável; é renovável, mas, além disso, multiplicável. A cada ano o capital humano cresce e cresce,
recebe o que no meu tempo chamavam de juro composto: soma o que vale e recebe
juros pelo que valia e o que ganhou pelo que valia, aos cinco anos é muito mais
capital, e aos cem anos é nem sequer é possível imaginar-se.
Permitam-me dizer-lhes que hoje
praticamente o capital humano é, ou avança aceleradamente para tornar-se o mais
importante recurso do país, ultrapassando inclusive a o resto todos juntos. Não
estou exagerando.
Eu perguntava quanto custava, qual
era o custo econômico de todas as nossas universidades.
Apenas com as novas receitas
arrecadadas pelas garagens – e, sem dúvidas, eles não estarão ai o tempo todo,
não se imaginem – em três meses, a partir de agora; e se o ano próximo vocês
forem mais outro 50%, arrecadariam o necessário em quatro meses. Isso por si
só, obrigando os novos ricos a pagarem o combustível que consumem, poderiam
pagar anualmente não menos de quatro vezes o que custam os 600 000 estudantes
universitários e os seus professores. Mais vale pouco do que nada, não é?
Vocês sabem o que é “ñapa”?, os
santiagueros o sabem. Quando alguém comprava algo no mercado recebia como
prêmio um doce à base de amêndoas, coco e mel ou algo semelhante. Essa era a
“ñapita”. Os trabalhadores sociais pagam isso com uma “ñapita” do que
arrecadem.
Chegaram a Havana e de repente em
Havana começam a arrecadar o dobro. E os que estavam não arrecadavam mais? Não,
tiveram que chegar os trabalhadores sociais lá. Eu disse: “Será possível que
não escarmentem e se auto-corrijam?”.
No fim vão-se auto-corrigir os que
não queiram entender, mas de outro jeito; sim, vão-se sujar com o seu próprio
lixo. Não querem compreender.
O que acontecia nesse momento em
Matanzas e na província Havana? A arrecadação aumentou apenas um pouquinho,
12%, 15%, 20%, mas o comportamento era semelhante que em Pinar del Rio e na
capital antes de serem controlados.
Na província Havana muitos
aprenderam a roubar como loucos.
Hoje os trabalhadores sociais estão
nas refinarias, hoje os trabalhadores sociais vão num caminhão-cisterna de 20
000 ou 30 000 litros e vão vendo, mais ou menos, por onde é que vai, e qual deles se desvia da
rota.
Por ai descobrimos postos de
gasolina privados, alimentados com o combustível dos motoristas destes
caminhões-cisterna.
Algo que é conhecido é que muitos
dos caminhões do Estado vão por um lado ou por outro e sempre alguém aproveita
a ocasião para visitar um parente, um amigo, uma família ou a namorada.
Lembro aquela vez, há vários anos
antes do chamado período especial que vi rápido pela Quinta Avenida uma
suntuosa carregadeira frontal Volvo quase acabado de comprar, que naquela época
custavam 50 000 ou 60 000 dólares. Senti curiosidade de saber para onde é que
ia a aquela velocidade e pedi ao escolta: “Espera, pergunta-lhe para onde vai,
que te fale francamente.” E confessou que ia visitar à namorada com aquele
Volvo, que corria a toda velocidade pela Quinta Avenida.
Vereis coisas, Mio Cid – dizem que
alguém disse lá, seria Cervantes-, que farão falar às pedras.
Pois coisas como essas aconteceram.
E, geralmente, o sabemos tudo, e muitos disseram: “A Revolução não pode; não,
isto é impossível; não, ninguém pode solucionar isto.” Sim, isto vai
solucioná-lo o povo, isto vai solucioná-lo
a Revolução e de que maneira. É apenas uma questão de ética? Sim, é,
antes de mais, uma questão de ética; mas, além disso, é uma questão econômica
vital.
Este é um dos povos mais esbanjadores
de energia combustível do mundo. Aqui ficou demonstrado, e vocês com toda a
honradez o disseram, e é muito importante. Ninguém sabe quanto custa a
eletricidade, ninguém sabe quanto custa a gasolina, ninguém sabe o valor que
tem no mercado. Ia dizer-lhes que é muito triste quando uma tonelada de
petróleo pode custar 400 e de gasolina 500, 600, 700 e por vezes chegou a
atingir 1000, e é um produto cujo preço não vai diminuir, alguns apenas
circunstancialmente e não por muito tempo, porque o produto físico se esgota;
simplesmente se esgota, como um dia vão esgotar-se muitos minerais.
Nós vemos as nossas minas de níquel,
que vão deixando o buraco onde houve muito níquel. Isso também está acontecendo
com o petróleo, as grandes jazidas já apareceram e cada vez são menos. Esse é
um tema sobre o qual pensamos muito.
Sabem, por exemplo, um caminhão
marca Zil-130 quantos quilômetros caminha por um litro? 1,6 quilômetros e
transporta cana ou reparte a merenda dos estudantes do ensino secundário.
Quando lhe perguntaram ao Ministério do Açúcar: Vamos ver, quantos caminhões te
sobram para ajudar ao Ministério da Indústria Alimentar a distribuir a merenda
gratuita do ensino secundário, que já alcança 400 000 estudantes, o iogurte que
devem receber ou o pão? É claro, que dos caminhões que lhes sobravam lhe deram
os de gasolina, os que mais consumiam.
Se você troca esse caminhão Zil de
1,6 litros por outro que tenha, em primeiro lugar, o tamanho adequado, por
vezes está substituindo uma caminhonete de duas toneladas e ele é de cinco, por
vezes até uma caminhonete de 1,2 toneladas. Isto começamos vê-lo em uma discussão com a empresa da indústria
elétrica, colocaram o problemas de seus caminhões para reparar as redes
elétricas e disseram: “Temos que mudar 400 equipamentos soviéticos que consumem
muita gasolina, consumimos tanto e tanto.” Começamos a estudar cada caso,
quanto consumiam, com que deviam ser substituídos. Tivemos que discutir
bastante, não pensem que os diretores de nossas empresas têm o hábito da
disciplina. E não todos podem ser muito felizes, lhes advirto, e os advirto a
eles também, porque esta vai ser uma luta dura. Até hoje ninguém tem
protestado, mas existiam, se não me engano aproximadamente 3 000 entidades que
operavam divisas convertíveis e decidiam com bastante amplitude as despesas em
divisas convertíveis de seus lucros, se compro isto ou aquilo, se pintar, se
comprar melhor um carrinho e não continuo com o carrinho velho que temos. Nós
compreendemos que nas condições deste país essa situação devia ser ultrapassada
e realizamos uma reunião com as principais empresas e aquela situação começou a
mudar.
Se você estivesse em uma guerra e
tem muitas balas não lhe importa se os fuzis disparam bem ou não; se tiver
poucas balas, isso era o que sempre nos acontecia, devíamos conhecer as balas
de cada fuzil e até as marcas das balas, embora que fossem do mesmo calibre,
porque algumas funcionavam melhor com determinados fuzis, outras os estragavam
e por vezes para poupar tínhamos que proibir que disparassem, dispare apenas se
quiser tomar a trincheira. Assim
estávamos nós.
Os bancos, nós temos excelentes
instituições bancárias. Hoje são alocados recursos para todas as despesas do
país, são administrados pelos bancos, o entregam de acordo com o programa
estabelecido e nenhum diretor vai almoçar com o representante de uma poderosa
empresa e nunca é convidado a um restaurante, nem é convidado a viajar para
Europa para alojá-los na residência do dono ou num hotel de luxo; porque,
afinal de contas, alguns de nossos funcionários eram compradores de milhões, e
compradores de milhões por uma parte, e a arte de corromper que tem muitos
capitalistas, mais sutis que uma serpente e por vezes piores que os ratos,
anestesiam na mesma medida em que vão mordendo e são capazes de arrancar a uma
pessoa um pedaço de carne em plena noite, dessa forma iam adormecendo à
Revolução e arrancando-lhe a carne. Não poucos evidenciavam sua corrupção, e
muitos o sabiam ou o suspeitavam, porque viam o nível de vida e, em ocasiões,
por tonteiras este mudou o carrinho, o pintou, lhe colocou isto ou lhe colocou
umas faixinhas bonitinhas porque se tornou vaidoso; isso já o ouvimos vinte
vezes aqui, lá e é preciso tomar medidas aqui ou lá; mas isso não se resolvia
facilmente.
Assim que há desvio de recurso nos
postos de gasolina. Aqui há determinadas faculdades para fornecer combustível
porque aquele cavalheiro, que pode ser muito amigo meu, está empregando o seu
carro de uma maneira muito útil e, por tanto, lhe entrego uma quantidade de
combustível. Essa é uma das mil formas, há dezenas de formas de esbanjar ou
desviar recursos, e se os controles estabelecidos não são exercidos ou senão
descobrimos a verdadeira maneira de acabar com isso, continua e se repete.
Agora, neste país pode-se poupar
mais energia, inclusive, que em outros, porque este país tem 2 400 000
geladeiras antiquadas na área dos núcleos familiares, que consumem quatro ou
cinco vezes mais eletricidade por hora, e esse consumo fazem-no durante 24
horas.
Um pequeno dado, para que não o
esqueçam. Pinar del Rio tem 143 000 geladeiras, deles aproximadamente 136 000
são marca INPUD, Minsk e outras antigas marcas soviéticas, Frigidaire e outras
marcas capitalistas, consomem, calculo eu, pelo menos, aproximadamente 20% - eu
utilizo outra cifra, perante vocês vou usar esta ainda mais conservadora – da
eletricidade que as termelétricas produzem para Pinar del Rio nas horas de
maior demanda elétrica.
Antes lhes falei sobre um caminhão
marca Zil, como esse há milhares, muitos milhares. Há piores coisas, muitos
organismos têm seus caminhões parados e não foram desativados, e por outro
lado, a administração central acostumou-se, de certa forma, a negociar com os
ministérios. A administração central do Estado não tem que negociar com nenhum
ministro, tem que dar-lhes ordens aos ministros: Quantos caminhões tem o
ministério? ”Tenho tantos ou tantos caminhões”. Analisar em profundidade os
problemas e tomar decisões.
Quando a indústria canavieira, que
antes produzia oito milhões de toneladas e hoje apenas consegue um milhão e
meio, porque tivemos que suspender definitivamente a preparação das terras e a
semeia quando o combustível já atingiu 40 dólares por tonelada e era a ruína do
país, sobretudo, quando isso acontecia unido a furacões cada vez mais freqüentes
, ou secas mais prolongadas e porque o campo de cana apenas durava quatro ou
cinco anos, antes eram 15 anos ou mais, e quando o preço do mercado mundial era
de sete centavos, lembro inclusive o dia que fiz uma pergunta sobre o preço do
açúcar e outra sobre a produção no final de março a uma empresa
comercializadora de açúcar e não sabiam nem sequer o açúcar que estavam
produzindo mensalmente e ao perguntar o custo em divisas de uma tonelada de
açúcar ninguém o sabia, se soube apenas aproximadamente um mês e meio depois.
Houve simplesmente que fechar as
usinas açucareiras ou íamos para a Fossa de Bartlett. O país tinha muitos
economistas, muitos, muitos e não tento criticá-los, mas com a mesma
honestidade que falo sobre os erros da Revolução posso perguntar-lhes por que
não descobrimos que a manutenção daquela produção, quando havia tempo que a
URSS se derrubou, o preço do petróleo era de 40 dólares por tonelada e o preço
do açúcar estava muito baixo, por que não se racionalizava aquela indústria e por
que era preciso semear 20 000 (1 caballeria = 13,6 hectares) esse “caballerias”
ano, quer dizer, quase 270 000 hectares para o qual é preciso lavrar a terra
com tratores e charrúas pesadas, semear uma plantação de cana que depois é
necessário limpar com máquinas, fertilizar com custosos erbicidas, etc., etc,
etc. Nenhum economista dos que o país tem, pelo visto, percebeu isso e
simplesmente houve que dar uma instrução, quase uma ordem para deter aquelas
preparações da terra. É como se lhe dizem: “O país está sendo invadido”, você
não pode dizer: “Espere-se, que vou reunir-me trinta vezes com centenas de
pessoas”. É como se durante a invasão da Bahia dos Porcos tivéssemos dito:
“Vamos realizar uma reunião e discutir três dias as previdências que tomaremos contra
os invasores.” Posso assegurar-lhes que a Revolução tem sido ao longo de sua
história uma verdadeira guerra e constantemente o inimigo vigiando, o inimigo
disposto a bater e batendo quantas vezes lhe demos uma oportunidade.
Na verdade, eu falei com o ministro
e lhe perguntei: “Olha, por favor, quantos hectares tem lavradas?” Responde:
“Oitenta mil.” Lhe digo: “Não lavres nenhum hectare mais.” Não era o meu papel,
mais não tive outra alternativa, você não pode deixar que o país seja afundado
e em abril o país estava lavrando 20 000
( “caballerias”).
Temos feito coisas assim, coisas que
fariam com que as pedras falassem. Vocês não são culpados; mas o que estava nos
acontecendo? Por que não o percebíamos? Que coisas más estávamos fazendo? O que
devíamos retificar? Havia muito tempo que a URSS tinha-se derrubado, ficamos
sem combustível do dia para a noite, sem matérias-primas, sem alimentos, sem
produtos para a higiene pessoal, sem nada. Talvez fosse preciso que acontecesse
o que aconteceu, talvez foi necessário que sofrêssemos o que sofremos,
dispostos, como estávamos a dar a vida cem vezes antes de entregar a Pátria,
antes de entregar a Revolução, a Revolução na qual acreditávamos.
Talvez foi necessário porque temos
cometido muitos erros, e são os erros que estamos tentando retificar, se
quiserem, que estamos retificando.
Uma das grandes retificações que
fizeram o Partido e o Governo foi essa de pôr fim à prerrogativa de 3 000
cidadãos de administrar as divisas do país, se contraiam dívidas –podiam
contrair uma dívida de tal ou qual volume –ninguém tinha a certeza se era
possível pagá-la ou não; quando chegava o momento de pagá-la, porque podia ser
um investimento desnecessário ou disparatado, ou subjetivo, o Estado tinha que
pagá-la, e se o Estado não a pagava o seu crédito se afetava muito.
Hoje não acontece assim, desejo
exprimir-lhes que o país está pagando até o último centavo, sem retrasar-se um
segundo e o seu crédito cresce, cresce e cresce. O dinheiro já não se esbanja;
o esbanjamos, mas não em colossais disparates como o da indústria canavieira.
Chamaria mais a atenção se lhes digo
que, segundo os inventários, esse ministério tem de 2 000 a 3 000 caminhões
mais que os que tinha quando produzia 8 milhões de toneladas de açúcar. É
difícil, mas o digo e o digo e não se sabe as vezes que deva dizê-lo e as
críticas que faça publicamente, porque não tenho medo de assumir as
responsabilidades que tenha que assumir, não podemos atuar com fraquezas. Que
me ataquem, que me critiquem, eu sei como são as coisas, o sei muito bem. Tem
que haver muitas pessoas magoadinhas: reis, zares, imperadores.
Todos são assim? Não! Todos os
nossos ministros são assim? Não! Alguns de nossos ministros foram deficientes e
deficientes de mais em seu desempenho. Por vezes temos sido fracos com
funcionários que ocupam importantes cargos, mas eu tenho um velho hábito de
muito tempo: costumo trabalhar com aqueles companheiros que tinham cometido
erros, tenho-o feito muitas vezes ao longo da minha vida, enquanto veja qualidades
neles e o que falta é a orientação correta ou muitas vezes sofrem cegueira,
apesar de todos os mecanismos e instituições que tem o país para defender-se
para lutar, para combater honradamente, sem abusos de poder. Olhem bem: sem
abuso de poder!, nada justificaria jamais que algum de nós tentara abusar do
poder. Sim, devemos atrever-nos, devemos ter coragem de dizer as verdades, e
não todas, porque você não está obrigado a dizê-las todas de uma vez, as
batalhas políticas tem a sua táctica, a informação adequada, seguem também o
seu caminho. Eu não lhes digo tudo, eu vou dizendo-lhes aquilo que é
indispensável. Não importa o que digam os bandidos e as notícias que cheguem
amanhã ou depois de amanhã, ri melhor quem ri por último.
Por ai há uns cabograminhas dizendo
coisas: que Castro lançou uma ofensiva, que Castro lançou os trabalhadores
sociais, que estamos renunciando aos avanços progressistas conseguidos. O
avanço progressista é que vendam uma libra de arroz a quatro pesos, que enganem
o cidadão. Que aposentado pode comprar isso? Um aposentado, por um lado, 80
pesos, cinco librinhas de arroz na caderneta de racionamento. Havana não, era
privilegiada, tinha seis, a Havana recebeu mais uma libra adicional e Santiago
também recebeu uma, o resto das províncias receberam cinco libras. É preciso
medi-las onça por onça, 100 gramas, como cresce, o que acontece com a caderneta
de racionamento, a pessoa que tem açúcar a troca por arroz, e aquele ao qual
lhe sobra uma coisa ou outra.
Hoje todo o país recebe mais duas
libras de arroz. Gostaria de ver o momento em que esse produto satisfaça as
nossas necessidades. Já não está tão longe, longe, longe, salvo se o utilizarem
como razão animal para frangos. Bom, já isso é outra coisa. Nos aproximamos ao
momento em que o arroz satisfaça as necessidades. Também vamos criando
condições para que a caderneta de racionamento desapareça. Vamos criando
condições para que algo que resultou indispensável em umas condições, e que
agora atrapalha, mude. E se você quer comprar mais arroz, compra mais arroz e
menos açúcar ou mais quantidade de uma coisa ou da outra, e não apenas feijão
preto este ou feijão vermelho ou outro. Não, para comprar se quiser vermelho,
preto, ervilhas, lentilha, fava, feijão branco e os saiba cozinhar. Advirto-lhes,
vão ter que prestar atenção à cozinha, com certeza, em breve.
Assim também alguns falavam sobre o
“chocolatinho”: “Eu acreditarei nisso quando o veja.” Assim também aconteceu
com a panela de pressão, pois agora há milhões de pessoas que acreditam nisso.
Outros diziam sobre o “chocolatinho”: “Como é? Quanto custa?” “Oito pesos”.
“Para ser racionado está caro”!” Moral: Todo produto racionado tem que ser a
preços muitos baixos como a eletricidade. “para ser racionado, quanto custa?”
Ah!, oito pesos.” Quantos centavos em dólares, ao câmbio, depois da
revalorização? Trinta e dois centavos. O que é que tem? Ah, tem 200 gramas;
cada 11 gramas, sete são de leitelho ou leite magro em pó, aqueles que não
acreditavam nisso que o averigúem, que o levem a um laboratório e o examinem;
quatro gramas de cacau, que é muito forte, é tão forte quanto saudável, e já
Cuba é hoje, possivelmente, o país com mais alto consumo de cacau per capitã, a
criança consume o seu, mais o pai também o consume, do mesmo jeito que o pai também
consume o café do filho, visto que a criança nasceu e está inscrita, então é
preciso dar-lhe um pacotinho de café, com café de verdade, a cinco pesos. “Para
ser racionado, está caro!” O mais que pode dizer-se é: Está muito menos
subsidiado.
O caminho para conseguir o que
dizia: que o trabalhador receba mais, e que toda pessoa que trabalhe receba
mais, e que todo aposentado receba mais, não é esse; acontece que nós falamos
de ter mais receitas e mais produtos.
Ai há dois, não são mus e alguns
estão descobrindo o chocolate. Sei que os médicos lá na cordilheira de
Cachemira todas as noites tomam “chocolatinho”, esse pacotinho que para ser
racionado está caro e lhes podem acrescentar o leite. Se quiserem, ao
“chocolatinho” da criança podem acrescentar mais, lhe acrescentam a água, ou
acrescentam leite, e tem proteína.
Posso-lhes assegurar que medimos
todas as proteínas que tem cada um desses grãos de feijão e cada ovo. Uma boa
parte do país recebia cinco, em Havana recebiam oito. Hoje há mais de 100 municípios
que recebem 10 e cada um dos novos
recebeu um aumento. Sim, se somados: 5 vezes 9 são 45, mais 5 vezes 15 centavos
são 75, significa que com 5,25 centavos podem comprar-se 10 ovos, e aquele que
menos recebeu, daquelas pessoas que receberam os benefícios da previdência
social, recebeu 50 pesos; o que menos recebeu pode comprar 5 novos ovos por
4,50. Correto.
Ah!, mas, depois apareceu o
“chocolatinho” que são 8 pesos, ou o
“cafezinho” que são 5 pesos e somando 8 são, 13 e 13 mais somando 5,25 são 18,25.
Bom, é que há mais duas libras de
arroz, e essas duas custam 90 centavos de peso cada uma delas, digamos , algo
menos de quatro centavos de dólar. Sim, é nova, o país tem que gastar 40
milhões de dólares por conceito de essas outras duas libras de arroz e não
duvidou em gastá-los. Quem recebeu o aumento de 50 pesos já começa a ter um
pouquinho menos, mas já estamos pensando quanto aumentar de imediato ao
aposentado para que comprem isso e outras coisas, e que o dinheiro esteja
garantido antes de distribuí-lo. A questão não é imprimir notas e distribuí-las
sem terem equivalente em mercadorias ou serviços, porque então aqueles ilustres
intermediários vão cobrar 5 pesos pelo o arroz ou qualquer outra coisa e não 3.
Não esqueçam que são piratas que podem cobrar o que quiserem. Se quiserem
poderiam dizer: Me pagam a libra de feijão a 8 pesos.
Quero dizer que todos aqueles que no
país eram 5 milhões-recebiam 10 onzas de feijão, já estão recebendo 20, e todos
os que recebiam 20 já estão recebendo 30
quer dizer, que a quantidade de feijão ou grãos foi triplicada, salvo o arroz e
o milho. Cinco milhões, três vezes mais
e o resto 50% mais. Isso custou algumas dezenas de milhões de dólares.
Não quis vós perguntar de onde é que
saem ou como podem sair, porque o discutem os teóricos: “Isto é pouco”- Ideal
seria o triplo. E de onde? Cavalheirinho, me quer dizer de onde é que saem, a
quem é necessário assaltar ou zombamos de vocês dando muito mais do que isso
para não resultar enganado?
Há algumas
perguntinhas que devemos fazer aos tolos, porque nem toda pessoa que opina é
tola, porém há muitas tolices devido à ignorância: isto é caro, isto é caro,
tudo é caro.
Finalmente
demos as casas de presente, alguns as compravam, eram donos, pagaram 50 pesos
mensais, 80 pesos, bom, segundo a troca, se o recebiam de Miami, eram
aproximadamente US$ 3.00; alguns vendiam-na, US$ 15.000, US$ 20.000, no final
dos anos a tinham pagado com menos de US$ 500.
Pode o país pode resolver seu problema de
habitação presenteando casas? Quem as recebia, o proletário, o humilde? Muitos
humildes receberam a casa de presente e depois venderam-na ao novo rico. Quanto
podia pagar o novo rico por uma casa? e isso é socialismo?
Pode ser uma
necessidade num momento determinado, também pode ser um erro, visto que o país
sofreu um golpe esmagador, quando de um dia para o outro aconteceu o
derrubamento da grande potência e nos deixou sozinhos, e perdemos todos os
mercados para o açúcar e deixamos de receber víveres, combustível, até madeira
para poder enterrar de maneira cristã os nossos mortos. E todos achavam: “Isso se derruba”, e os
muito estúpidos ainda acreditam nisso, que isto vai cair e se não acontece
agora, depois. E quanto mais ilusões tenham e mais pensem, mais devemos pensar
nós, e mais conclusões devemos tirar, para que a derrota jamais atinja este
glorioso povo que tanto confia em nós todos (Aplausos)
Que cá jamais
exista a URSS, nem campos socialistas desfeito, dispersos! Que o império não
venha a criar cárceres para torturar homens e mulheres progressistas do resto
do continente que se ergue atualmente decidido rumo à segunda e definitiva
independência!
É melhor que
não fique nada do nosso passado nem de nenhum de nossos descendentes antes que
tenhamos que viver novamente uma vida tão repugnante e miserável.
Eu dizia que
éramos ainda mais revolucionários porque conhecemos melhor o império,
conhecemos ainda melhor do que são capazes e antigamente fomos incrédulos
inclusive perante algumas coisas, para nós eram impossíveis.
Enganaram o
mundo. Quando surgiram os meios de comunicação em massa apoderaram-se das
mentes e governavam não só com mentiras, mas também com reflexos condicionados.
Não é o mesmo uma mentira que um reflexo condicionado: a mentira afeta o
conhecimento; o reflexo condicionado afeta a capacidade de pensar. E não é o
mesmo estar desinformado que perder a capacidade de pensar, porque já
criaram-te os reflexos: “Isto é mau, isto é mau; o socialismo é mau; o
socialismo é mau”, e todos os ignorantes e todos os pobres e todos os
explorados dizendo: “O socialismo é mau” “O comunismo é mau” e todos os pobres,
todos os explorados e todos os analfabetos repetindo: “O comunismo é mau. ”
“Cuba é má,
Cuba é má”, disse o império, o disse em Genebra, o disse em vários lugares, e
todos os explorados deste mundo, todos os analfabetos e todos os que não
recebem atendimento médico, nem educação, nem te emprego garantido, que não têm
nada garantido: “A Revolução Cubana é má, a Revolução Cubana é má”. “Escute, a
Revolução Cubana fez isto e mais isto”. “Escute, não existe nenhum analfabeto”.
“Escute, esta é a mortalidade infantil”. “Escute, todo mundo sabe ler e
escrever”. “Escute, não pode existir liberdade se não há cultura”. “Escute, não
pode existir eleição”.
De que falam?
Que faze o analfabeto? Como pode saber que o Fundo Monetário Internacional é
bom ou mau, e que os lucros são mais altos, e que o mundo é submetido e
saqueado incessantemente através de mil métodos desse sistema? Ele não sabe.
Não ensinam a
ler nem a escrever as massas, todos os anos gastam um milhão em publicidade; e
não é só o que gastam, senão que gastam criando reflexos condicionados, porque
ele comprou Palmolive; aquele, Colgate; mais outro, sabonete Candado, porque,
simplesmente, o repetiram cem vezes, associaram-no a uma imagem bonita,
semearam-lhe, talharam-lhe o cérebro. Eles, que falam tanto a respeito da
lavagem de cérebro, talham-no, dão-lhe forma, tiram ao ser humano a capacidade
de pensar; e se fizessem isso com alguém formado na universidade que pode ler
um livro, seria menos grave.
O que é que
pode ler o analfabeto? Como é que percebe que o estão enganando? Como á que
percebe que a maior mentira do mundo quer dizer que isso é democracia, o
sistema podre que impera aí e na maior parte, por não dizer em quase todos os
países que copiaram este sistema? Fazem um dano terrível. E cada um vai tendo
consciência, vai tendo consciência dia a dia, dia a dia; dia a dia, mais
desprezo, mais repugnância, mais ódio, mais condena, mais vontade de combater.
Isso é o que faz com que a gente seja, transcorrido algum tempo, ainda mais
revolucionário do que era quando ignorava muita coisa e apenas conhecia os
elementos da injustiça e da desigualdade.
No momento em
que lhes digo isto não estou teorizando, embora tenhamos que teorizar; estamos
atuando, marchamos visando uma mudança total de nossa sociedade. Temos que
fazer mais outra mudança, porque tivemos tempos muito difíceis, surgiram essas
desigualdades, injustiças, e vamos fazê-lo sem abusar de ninguém, sem tirar um peso
a ninguém. Não, não vamos tirar um peso a ninguém; mas para nós, a fé que a
população tenha num banco, vale mais do que outra coisa qualquer. E porque a
Revolução cria riquezas, e porque a Revolução vai criar importantes quantidades
de riquezas que não saíram da cana-de-açúcar nem de nenhuma outra coisa,
saíram, principalmente, desse capital, também da experiência, porque é muito
importante saber o que há que fazer.
Se alguém
contar para vocês a história de todos os pontos de venda de gasolina da capital,
ficam surpreendidos; há mais do dobro do que deveria haver, é um caos. Cada
ministério decidiu pôr e pôs o seu, e reparte aqui e lá. Nos Poderes Populares
o desastre é universal, o caos, e, além disso, deram ao Poder Popular os
caminhões mais velhos, os que gastam mais gasolina, etc. Quando parecia que se
racionalizava o uso dos caminhões, o país hipotecava-se para toda a vida.
Poderia ser a
mesma conduta quando o combustível custava dois dólares, que quando custava US$
10 ou US$ 20, ou custava US$ 40, ou US$ 60? Essa foi, precisamente uma das
piores coisas que tivemos que enfrentar, acreditar nos estrategistas dos
sistemas elétricos. A gente perguntava-se, várias vezes, e descobria que o
problema fundamental era que se aplicava uma concepção que se correspondia com
a época em que o combustível custava dois dólares, e também a política com a
cana-de-açúcar se correspondia com a época que custava dois dólares.
O preço do
petróleo não se corresponde atualmente com nenhuma lei de oferta e demanda; seu
preço depende de outros fatores: da escassez, do esbanjamento colossal dos
países ricos, e ele não tem nada a ver com nenhuma lei econômica. É sua
escassez perante uma crescente e extraordinária demanda.
Mesmo hoje, de
manhã, soube de uma notícia: para o ano próximo se precisa de mais dois milhões
de barris diários, o ano próximo se necessitam mais de oitenta e quatro milhões
de barris de petróleo diários, e os Estados Unidos, principal território do
império, gasta diariamente 8,6 milhões de barris. Esse é um dos pontos chave.
Instamos o povo
todo a que coopere nesta grande batalha, que não é só a batalha do combustível,
da eletricidade, é a batalha contra todos os roubos, de qualquer tipo, em
qualquer lugar. Repito: contra todos os roubos, de qualquer tipo, em qualquer
lugar.
Quanto custa
toda a energia que o país consome, segundo os preços deste petróleo? Por volta
de US$ 3 bilhões.
Lógico, a
poupança não será a única fonte de aumento da receita, não será a única, haverá
mais, direi que algumas quantas e de grande peso. Estou quase certo — e o
resultado final estará um bocado por cima ou por baixo, não gosto de dizer a
última palavra, sempre sou conservador com o cálculo — de que o país, segundo
todos os dados que conhecemos, pode poupar, em breve tempo, as duas terceiras
partes da energia que consome, somando-as todas: eletricidade, gasolina,
diesel, fuel oil e outros; com um preço como o atual pode descer um pouquinho e
depois subir ainda mais. Isso seria mais de US$ 1,5 bilhões. E vocês se
perguntarão: E que faz atualmente o país com esse US$ 1,5 bilhão? Eu
respondo-lhes: uma parte é roubada, outra, esbanjada, e a outra é jogada fora.
Como estamos em
meio do andamento, em ofensiva e em total atividade, não posso oferecer todos
os dados; porém acho que o trabalho destes jovens trabalhadores sociais deve
dar ao país, em 10 anos, talvez US$ 20 bilhões com a poupança de energia.
Escutaram bem? Vocês sabem o que é um milhão, não é?, e 100 milhões, e um bilhão em divisas convertíveis.
Carlitos, você
me deu este papel:
Despesa total
de educação: 4,17 bilhões de pesos; despesa do ensino superior, 886 milhões.
“Informação
oferecida pelo Ministério de Economia e Planejamento, elaborada por ele junto
com o Ministério de Finanças e Preços, em 17 de novembro de 2005.”
Bem, 886
milhões. 700 milhões seriam US$ 35,4 milhões. Repito: uma pequena parte do combustível que é roubado ou desviado,
menos de 20%. É o que custam as universidades, segundo esse dado.
Quando falo de US$ 1 bilhão de poupança, faço
referência a 25 mil pesos. Todos os ordenados que se pagam no país, segundo a
troca internacional, que com relação a Cuba é arbitrária demais, seriam por
volta de 14 bilhões de pesos, que em nosso país é onde têm seu verdadeiro
valor, têm poder real de compra ainda superior. O peso foi revalorizado e pode
ser revalorizado novamente.
Cada palavra que se pronuncie deve ser pensada. Não estou improvisando, meditei muito a
respeito destes dados e estão na minha cabeça, e meço por aqui, por cá: isto
posso dizê-lo, isto não, porque há um inimigo que tenta frustrá-lo tudo e
confundir tudo, como esses que dizem que maltratamos a sagrada liberdade de
comércio. E não dizem outras coisas, entre delas: “Que conseguem com um dólar
que envie algum deles que talvez conseguiu ser um profissional? Não pagou um
centavo, vocês sabem disso. Depois do triunfo da Revolução, os que viajaram
para os Estados Unidos não eram analfabetos.
Daqui já cada ano, os que restavam da sexta série, da
sétima série, os que tinham nível de instrução, que eram aqueles setores que
estudaram na universidade, os primeiros que foram embora, procediam das classes
mais ricas, e durante mais de 40 anos o império roubou dezenas de milhar de
profissionais universitários e centenas de milhar de pessoas qualificadas, às que
impede, custe o que custar, enviar ajuda a Cuba.
Que mágoa, aquele dia em que se inauguraram as lojas
que vendem em divisas, para arrecadar um pouquinho daquele dinheiro que
enviaram e fosse gastado nessas lojas, que vendiam com preços altos, para
arrecadar parte desse dinheiro e poder redistribuí-lo aos demais que não
recebiam nada, e quando o país encontrava-se em meio de condições muito
difíceis.
Então, que fazem atualmente com o dólar? Enviam-no
para cá... Sei lá se você recebe algum dólar (Refere-se a alguém). Eu tenho
familiares que recebem dólares. Não tenho nada a ver com isso.
Um dia perguntamos e existem províncias onde 30% ou
40% da população recebem alguma coisa, um pouquinho; mas o negócio de enviar
dólares, é tão bom, tão bom!, que nos podem arruinar perfeitamente enviando
dólares devido ao enorme poder de compra que tinham num país bloqueado,
produtos racionados em grande medida subsidiados e serviços gratuitos ou
extraordinariamente baratos.
Por exemplo, falando da eletricidade, sabem quanto
custa atualmente ao país, em divisas convertíveis, produzir um quilowatt, com
esse sistema que tem tantos problemas, ao qual pertencem a “Guiteras” a
“Felton” e mais outras, que provocam a interrupção do serviço elétrico e mais
outras dificuldades? Sabem quanto custa ao país em divisas convertíveis? Por
volta de US$ 15 centavos um quilowatt, porém se você — este companheiro, que é
inteligente, no existem dúvidas, que falou muito bem — recebesse, por exemplo,
um dólar, que poderia fazer com ele? Você reconheceu que é a eletricidade é
muito barata; sea damos de presente ao aposentado, ao trabalhador, demos de
presente, e chega; porém também damos de presente ao camelô, aquele que cobrou
mil pesos por uma viagem daqui a Guantánamo, ou cobrou duas vezes o ordenado
mensal de um médico para levá-lo de Havana a La Tunas, com combustível roubado
tentando subornar o empregado do posto de gasolina.
Não tenho nada contra ninguém, mas também não tenho
nada contra a verdade. Não me casei com a mentira, para aquele que se zangar,
sinto muito, mas posso lhe advertir de antemão que perderá a batalha, e não
será um ato de injustiça nem de abuso de poder. Demos de presente a
eletricidade àquele que vendeu a livra de feijão em oito pesos. E, por favor, não deixem de vendê-la, não o
façam agora para depois me culpar por isso. Continuem vendendo-a, não vamos
proibi-lo, o que quero saber é que farão quando houver mais feijão.
Mesmo agora não sei se baixarão o preço ou não, mas
metade da população viu como se triplicou sua cota, e a outra metade viu que se
incremento em 50%. Imagino que terão que fazer alguma rebaixa. Talvez, nalgum momento, de algum dinheirinho,
da energia poupada, quando entreguemos mais 10 onças e chegue o momento, quando
esteja garantida a honradez de todos os que distribuem e não se perda nem um só
grão de feijão, e o que não se compre seja devolvido, visto que não existiria
maneira de roubá-lo, nem razão para roubá-lo, nem condições para roubá-lo, e o
especulador acabará vendendo nada ou comendo tudo.
O camponês produtor consome o seu e vende o excedente.
O especulador rouba e não produz nada. Uma notícia da Reuter apresenta o
governo golpeando os “avanços progressistas” dos tempos vindos com o período
especial. O progressista é tudo isto do que falo.
Eles não dizem que o bandido, ou aquele, qualquer que
seja, possivelmente não é um bandido, aquele afortunado te envia um dólar e
você gasta muito pouco em eletricidade, você consume menos de 100 quilowatts,
gastou nove pesos cubanos por cada quilowatt de eletricidade, viu? Divide 24
entre nove (Calcula).
O de você são 2.400 centavos, e por cada 100
quilowatts pagou 900 centavos, não chegou nem à metade do dólar, restam-lhe
1.500 centavos, mas apenas gastou 100 quilowatts; você é um rapaz muito
poupador, você apaga a lâmpada, você apaga o outro, você não têm lâmpadas
fluorescentes, todas as que você possui são fluorescentes, sua geladeira gasta
menos de 40 watts/hora, você não tem nenhuma geladeira velha herdada de sua
avó, você é bom demais (Risos).
Quiçá agora você gasta 150 quilowatts, vai te custar
um pouquinho mais caro porque os outros 50 custam 20 centavos em vez de nove,
são 10 pesos; então você, que pagou um pouquinho mais caro esses 50, gastou 19
pesos. Mas, olhe bem, você ainda não gastou um dólar, você não vive na Flórida,
você vive em Cuba. Aquele que mora na Flórida é um avaro, desavergonhado, paga
a eletricidade lá a US$ 15 centavos, porém te envia um dólar para que por menos
de um dólar pagues 150 quilowatts; mas, finalmente, você, apesar disso, é
moderado, tem muitos aparelhos elétricos velhos, pode ser um ar condicionado e
outras coisas, e gasta 300 quilowatts. Você calcula e diz, os primeiros 100,
igual a nove pesos; os segundos 200 seriam 40 pesos, somo os dois e são 49
pesos. Você gasta finalmente US$ 1,9 por cada 300 quilowatts de eletricidade;
quer dizer, um preço de US$ 0,63 centavos por um quilowatt cubano de
eletricidade. Que maravilha!
Quanto gasta o povo de Cuba, por
culpa desse dólar que enviaram a você de lá? Porque este não foi um dólar que
você ganhou, ou um peso, trabalhando, nem aquele intermediário ganhou-o
vendendo a libra de feijão a oitos pesos; te mandam de lá, alguém que foi
sadio, tudo o que estudou foi gratuito desde que nasceu, não está doente, são
os cidadãos mais saudáveis que chegam aos Estados Unidos, têm uma lei de
ajuste, e, além disso, lhe proíbem enviar remessas.
Bom, por menos de US$ 2.00 o país
gastou, em troca, US$ 44 para subsidiar esse dólar que enviaram dos Estados
Unidos. Este é um país nobre, subsidia os dólares que estão lá, que em vez de
lhe ajudar notavelmente, lhe dirão: “Olha, vou te enviar dois dólares para
eletricidade, porém não gaste tanta, por favor, poupe, apague luzes”. “Olha,
vou te enviar, aliás, uma geladeira, ou vou te dar o dinheiro para que compres
na loja” Depois o generoso remissor de dólares continua: “Não se preocupe, vou
te enviar o que necessitas, eu sou bom, eu sou nobre, eu vou para o céu, eu te
garanto os 300 quilowatts que você lhe gasta a esse idiota Estado socialista
que diz ser revolucionário e que vai lutar até a morte defendendo a Revolução”.
Pode existir um cidadão que saiba que nós somos bons, mas pode pensar, com toda
razão, que somos tolos; e, inclusive, tem uma parte da razão, cuidado!
Agora, para arrecadar US$ 45, temos
que arrecadar 4.500 centavos. Tenho que pedi-lo a vocês. Quantos cabem neste
lugar? (Lhe dizem que 405) Quatrocentos e cinco? Pois antes que todos irem
embora, olhem bem, por favor, deixem 11 centavos, que isso o pagam vocês, esse
dinheiro com que o Estado paga, é o dinheiro de vocês, quer dizer, o povo de
Cuba. Deixem todos 11 centavos para subsidiar o consumo de eletricidade dele
num mês. Não esqueçam! Vamos colocar alguém ai para vigiá-los e também para que
os reviste (Risos). É verdade ou não?
Porém se a ele lhe dão uma cota de
arroz, e esse arroz, essas primeiras cinco libras, quanto lhe custaram? Bom,
pois com um dólar, quanto lhe pode custar, quantas pode comprar com um dólar,
ainda com seu desconto, ainda com a revalorização que fizemos ao peso? Compra
100 libras de arroz, não em um só dia, como acham alguns tolos, se o guardei
para este mês, para o outro, e demais meses.
Lógico que você não gastou nem um
centavo do que lhe enviaram em medicina, a medicina está subsidiada, se a
comprou numa farmácia, essa que não se levaram nem venderam por ai, você gastou
10% do que custam em divisas. Se você foi para o hospital e talvez o operaram
do coração, do tornozelo, sua operação pode custar US$ 1.000, US$ 2.000, US$
10.000, lá nos Estados Unidos se você sofreu um enfarte e lhe colocam um
válvula, pode ser o que lhe custou a um empregado nosso lá na Repartição de
Interesses, US$ 80.000. Você jamais
deixou de receber atendimento; podem existir alguns maus-tratos num hospital,
mas, você freqüentou algum hospital onde não foi atendido? Lógico, nosso
sistema não tinha a organização que começa a ter e terá, nem os equipamentos
que começa a ter e já tem, de grande qualidade e padronizados, e, portanto, com
possibilidade de serem mantidos, ou um tomógrafo computadorizado multicorte, de
64 cortes, os melhores do mundo, que já começam a chegar, que já foram
comprados e pagados. Vejam. Com que? Com as poupanças e com as receitas do país
que começa a crescer. Não lhe custa nada.
Você se gradua desde que ingressa no
ensino pré-escolar até que recebe o honroso título de doutor em ciências
agrícolas, ciências físicas, ciências médicas, não lhe custou um centavo. Recebe um apartamento, se tem sorte, embora o
mais provável seja que não tenha nenhuma sorte desse tipo — bom, oxalá seu pai
o tenha recebido por que foi construtor —, porém você não paga pela casa, você
não paga imposto. Quiçá você é um pouquinho mais inteligente e dize: “Vou
alugá-la a uns visitantes, e em divisas convertíveis. Bom cobram-me 30 centavos
de impostos por cada dólar de ingresso; bom, ganhei de presente esta casa,
custou-me US$ 500, eu cobro US$ 800 num mês, dou US$ 240 ao Estado, e ganho US$
500; cinco vezes dois 10, 12.500 pesos”. Você pode ir, em virtude desses
sacrossantos direitos da liberdade de comércio, pagar a três pesos a libra de
arroz no mercado livre, você pode dizer a um empregado do posto de gasolina:
“Olha, eu tenho um calhambeque que comprei àquele e ao outro, lhe paguei em
divisas ou em pesos conversíveis, e tenho quem me garante a gasolina, eu vou
viajar 300 quilômetros, tenho três namoradas”, e esse carro é atrativo com os
problemas que há nos transportes. A quem eu não conquisto com este calhambeque?
(Risos).
Se vocês quiserem caros estudantes,
posso-lhes acrescentar que os que consomem 300 quilowatts, consomem 40% da
eletricidade da zona residencial que o país produz; 40% dessa eletricidade
podem significar — cautelosa e conservadoramente — por volta de US$ 400 milhões
que o estado generoso e lhes entrega a todos os que mais gastam. E quais são os
que mais gastam? Visitem um novo rico e averigúem quantos aparelhos elétricos
tem.
Lembro quando analisava aquele
assunto do consumo de eletricidade e do preço, e descobrimos que um restaurante
privado consumia 11.000 quilowatts e este Estado idiota subsidiava o dono, ao
qual tanto gostava aos burgueses levar visitantes para que saboreassem a
lagosta e o camarão, como milagre da empresa privada, tudo isso roubado em
Batabanó por alguém. Não! E, logicamente, este Estado totalitário, abusador é
inimigo do progresso, porque é inimigo do saqueio. Então o Estado subsidiava
esse restaurante privado com mais de US$ 1.000 cada mês, e soube disto porque
perguntei quanto gastava, quanto valia, e ele pagava a eletricidade a esse
preço, 11.000 quilowatts; acho que depois de ultrapassar a cifra de 300, pagava
30 centavos por quilowatt. Você não sabia disso? Não, nenhum de vocês sabe nada
(Lhe dizem alguma coisa). Não, não invente, eu averigüei muito sobre isso, e
muitas vezes me desinformaram. São 30 centavos, 11.000 quilowatts, pagava 3.000
pesos. Olha que era o que pagava, o Estado se enriquecia, porque ele pagava
3.000 pesos cubanos, perto de US$ 120; porém ao Estado custava-lhe, naquela
ocasião calculei a 10 centavos de dólar o quilowatt, hoje os 11.000, a um custo
para o Estado de 15 centavos, obriga a fazer uma coleta adicional aqui, não sei
como estão suas economias, mas este restaurante privado tem que ser subsidiado,
e como são US$ 1.250 mensais, e vocês são 400, quando vão embora não deixem só
os 20 centavos, por favor, deixem mais ou menos US$ 3.00, para o pagamento de
um mês, assim que levem bem a conta, porque alguém tem que subsidiar este
restaurante. Isso é liberdade de comércio, isso é progresso, isso é
desenvolvimento, isso é avanço.
Nós vamos lhe ensinar o que é
progresso, o que é desenvolvimento, o que é justiça, o que é acabar com o
roubo. E advirto-lhes: com o apoio mais decidido do povo. Nós sabemos o que
estamos fazendo, está nas matemáticas e nos números. Nós sabemos quanto custa
cada uma das coisas que vamos poupar. Não vou falar do que estamos comprando
agora, nem quero dizer muita coisa, os bilhões, apesar de que vão acabar os
cortes elétricos, certamente vão acabar, podem estar convencidos.
Já temos no país perto de dois milhões
e meio de panelas de pressão elétricas que podem ser graduadas, não só as
panelas para fazer arroz; também teremos uns aparelhos que poupam mais de 80%
da energia que vocês gastam para ferver um litro de água.
Estou certo de que posso fazer uma
pergunta e vocês vão responder. Levantem a mão todos os que não usam água tíbia
em agosto para tomar banho. Sim, mas com
toda honestidade. Cuidado, não se
confundam.
(Uma jovem levanta a mão)
Bom, você jamais utilizou água
tíbia? (Ela diz que não) E no inverno? (Também diz que não). Parabéns. Você faz
parte, aproximadamente, dos 10% da população que faz isso.
Você sim, em inverno? (Um jovem
responde que sim) Olhe, você é um homem sério (Risos). Eu perguntei para outras
pessoas, não como aqui, aos estudantes; perguntei às companheiras
trabalhadoras, e pedi que levantassem a mão aquelas que não a usavam. Sabem
quando? No dia do meu aniversário, 13 de agosto; perguntei para 10 delas qual
não esquentava a água para tomar banho e nenhuma delas alçou a mão. Isso é para
tomar banho; há também quem o faz para que a água fique limpa, também pela
criança, no verão. Um dia desses tão frios, eu quero ver quem de vocês toma
banho sem água tíbia (Risos).
Vocês sabem o que fazem os
bolsistas, o que eles fazem com esses aparelhos para esquentar a água? Vocês
sabem? (Exclamações). Ah! E por que não averiguam que quantidade de
eletricidade gastam? Posso dizer-lhes que existem várias formas de esquentar a
água, que significam um consumo de energia quarenta vezes maior, quarenta vezes!
Digam-me sinceramente, nenhum de
vocês jamais utilizou em casa a eletricidade com um fogão artesanal quando
acabou o gás? Não falo daqueles que têm gás canalizado, esse é o mais
econômico, esse não se deve tocar. Dos que cozinham com gás liquefeito ou
querosene, nenhum de vocês jamais usou um fogão rústico para cozinhar alguma
coisa? Levantem a mão os que jamais o
utilizaram.
Vamos ver, quem está aqui? Aquele
que levantou a mão. Olhem para lá. Investiguem-no, quiçá não consigo avistá-lo
muito bem.
Certamente, levantem a mão os que
não a usaram. Uma. Põe-te de pé, rapariga. Por favor, vem cá. Sim, você, a que
levantou a mão, você mesma, põe-te de pé. Por favor, vem. Olha, responde minha
pergunta, você não diz nada que não seja verdade? (Responde que não) Você
jamais utilizou isso. Onde você mora? (Explica que no campo, em Santa Maria) Há
eletricidade? (Responde que sim).
Queria ver a cidadã ideal, essa que
jamais utilizou uma panela elétrica rústica.
Diga-me uma coisa, alguma vez sentiu
calor ali? Diga-me mais outra: você tem ventilador, porque lá há mosquitos, não
é verdade? Que tipo de ventilador você tem? Qual o motor de seu ventilador?,
Aurika? (Risos). (Diz que não, que é um Sanyo de motor elétrico eficiente).
Você é filha de agricultores, não é?
(Responde que sim)
Mas você não vende nada nesse
mercado (Risos). É honrada, ela tem um pouquinho mais de recursos.
Você não tem nenhuma lâmpada
incandescente? (Responde que sim)
Quantas? De que tamanho? De quantos
watts? (Expressa que tem duas de 60 watts).
Você vê bem com eles? (Ela diz que
sim)
Quantas horas durante o dia as
mantêm acesas (Ela diz que várias).
Cinco, ou seis? (Esclarece que há
uma que está acesa a noite toda).
Uma a noite toda, um total de horas.
Lógico para evitar a escuridão,
12, 10? (Responde 12 horas).
Doze horas. Que bom!
E a outra, quantas horas? (Expressa
que se mantém acesa das 6 h da tarde até às 10 h e mais).
Até passadas às 10 horas, vamos
calcular seis horas. Doze mais quatro, são 16 horas; por 60 são 960 watts. Em
vez de gastar 960 watts, receberá duas lâmpadas fluorescentes que gastarão sete
watts, cada uma trabalhando 12 e quatro horas; 16 por sete é igual a 112 watts
e mais luz.
Você quer dar um presente para o
país? Você quer? Acho que sim. Você mora lá? Eu não quis perguntar, mas já, o
problema se resolveu. Vou-lhe dizer quanto você vai dar ao país em breve, a
partir de amanhã mesmo.
Enrique manda-lhes duas lâmpadas de
sete watts, se você quer de 15 ou de 20, vão ver mais do que vêm com a lâmpada
incandescente e menos ladrões vão se aproximar
desse lugar. O gasto dessas duas lâmpadas de sete watts, já eu fiz o cálculo, é
de 112 watts, que o resto dos 960 que gastam hoje as incandescentes: 960-112
igual a 858 watts, multiplicado por 365 dias do ano, se não é bissexto, somam
313,17 quilowatts, dividido entre 1.000 são 313,17 quilowatts, multiplicando
por 15 centavos, seu custo de produção em divisas é de US$ 46 com 97 centavos.
Agradeço de antemão, você vai dar de presente ao país — espere lá, ainda
não vá —, do pagamento que tem que fazer agora, visto que você vai dar de
presente a Cuba 12,7 centavos cada dia, em 100 dias você obsequiará US$ 12,7, e
no próximo ano dará de presente a todos nós US$ 46,45, para comprar um
pouquinho mais de feijões ou de outra coisa qualquer — exatamente, vou lhe
dizer, e não é um imposto, e vai ver com mais clareza —, você nos vai
presentear, com a simples substituição de duas lâmpadas, US$ 46,45; não lhe vamos cobrar nada nem a
você nem aos outros pelas lâmpadas, duram cinco vezes mais que as
incandescentes e são mais frescas, terá que usar menos o ventilador Sanyo que
você tem.
Mesmo assim, vejam o exemplo. Imaginem que em vez de duas lâmpadas sejam
15 milhões, e não só as que estão nas casas dos cidadãos, que têm mais que as
calculadas, senão as que estão nas escolas, nos armazéns, em bancas de todo
tipo, 15 milhões. Lógico, ela apenas tem duas e usa-as durante bastante tempo,
há outros que as usam muito menos e alguns muitas vezes, desta maneira não pode
aplicar a mesma norma a todos. Porém devemos poupar, possivelmente, durante
umas quantas horas, de dois a três usinas de 100.000 quilowatts, como potência,
mas as despesas de combustível e outros para produzir a eletricidade que é
esbanjada, potência que o país precisa para que essas lâmpadas estejam acesas
durante uma hora, que o obrigam a este gasto.
De que falam vocês? Por que riem? (Mostram-lhe o teto da Aula Magna com
grande quantidade de lâmpadas incandescentes). Ah! Não estou disposto a pagar
algo para que o mantenham aí, estão muito bonitas. Isso não é esbanjar,
trata-se de um enfeite tradicional e histórico e, além disso, aqui não se
realizam atos todos os dias nem a todas as horas, e, de outra maneira, eu só o
único culpável, porque este lugar tem estado aceso todo o tempo em que
permaneci nesta tribuna.
Bom, muito obrigado.
(Agora fala com uma rapariga da província de Ciego de Ávila que se
encontra junto da outra de Havana) Uma pergunta: Você tem geladeira em sua
casa? (Ela responde que está avariada).
Avariada? Mas, não lhe colocaram a borracha da porta nem o termostato?
(Ela disse que sim).
E por que se avariou novamente? (Diz que a máquina se queimou)
Queimou-se a máquina? Quando? (Responde que há tempo)
Que marca é? (Diz que é russa)
Russa, marca Minsk, ou fabricada com motores russos, INPUD, da província
de Santa Clara e avariada, teu consumo sim era maior do que o dessas lâmpadas.
Suponhamos que não estivesse avariada, agora temos que dizer que faremos
com você, porque temos que substituir essa geladeira, é um gasto elétrico muito
alto.
Dizia que anteontem despedia uns trabalhadores sociais que iam averiguar
onde é que estavam alguns caminhões e tratores, onde viviam, como se chamavam,
a placa, quanto combustível gastavam, se é diesel por hora ou quantos quilômetros
por litro; porém não temos que conhecer muito para saber que o de você que está
avariado, marca Minsk, consume muitíssima eletricidade. Não lembra? Aço que
gastou perto de 300 watts/hora, você sim acaba com a república, porque essa
geladeira avariada deveria gastar uns sete quilowatts diários. Se em vez dessa
tem uma nova, que gasta menos de 40 watts/hora, você podia estar — vou-lhe
dizer o que estaria poupando , vou tentar , vou calcular apenas 200 watts/hora
— gastando 4,8 quilowatts ao dia. Aprendam a multiplicar, porque vocês vão ter
que fazer isso (Calcula). Ela, a 15 centavos o quilowatt, nos vai presentear 15
e 15, 30 e 30, quase 72 centavos diários. Ela vai ter sua geladeira. Vamos
anotá-la, Enrique.
Você não tem nenhuma agora? (Ela responde que a está sendo consertada).
Donde vai tirar esse motor, diga-me? (Esclarece que vão consertá-lo).
Espera lá, vamos acrescentar quase 30%, porque esses motores reparados
são um desastre. Enrique, quanto gastam os motores reparados? Isso é o que têm
feito muitas pessoas; seu motor avariou-se, não tinham mais outra solução, elas
não têm culpa. O Estado tem culpa, posso-lhe assegurar uma coisa: antes de seis
meses você terá uma geladeira que não gastará mais de 40 watts/hora. Falo do
que se esbanja, do que botam, com você devemos poupar perto de 200 por hora.
Poupe isso, é pena que as 150 que tínhamos de reserva recém a repartimos.
Talvez, Enriquinho, ainda temos sete, podemos fazer uma prova lá. Neste momento
fazemos 150 provas na cidade, vamos ter uma reunião com os representantes do
município Arroyo Naranjo, onde há quase 30.000 pessoas consomem gás liquefeito.
Serão
visitados.
Enrique, quantos saíram visitar os
moradores de Arroyo Naranjo, umas 50 000 famílias? (Enrique diz que hoje saíram
1 098 trabalhadores sociais que visitaram por volta de 55 000 famílias.
Esclarece que a média de visitas de cada um se aproxima das 20 casas por dia,
pelo qual se calcula que hoje tenham visitado umas 20 000).
Em dois dias já terão visitado
todas. Teriam tomado notas dos eletrodomésticos que existem nesse município.
Estamos levando a cabo fortes experiências sociais. Vamos mudar o gás,
possivelmente estejam me escutando, eles são os mais pobres da cidade, e estão
recebendo gás liquefeito. Preço do gás liquefeito: mais de 700 dólares a
tonelada 30 000 por 10 (Faz as contas) são 300 000 quilos, 300 toneladas de gás
liquefeito, como mínimo, é a despesa mensal de Arroyo Naranjo. É de 3 milhões
de dólares cada ano a despesa aproximada de desse município no gás liquefeito,
se realmente são só 300 000 o que o consomem; um equipamento que tem que
levá-lo, deslocá-lo, a incerteza se acaba ou não.
Vamos a realizar uma importante
experiência, mas vamos recolher todos os dados, vamos nos reunir com todos os
representantes diretos dos quarteirões, dos conselhos, dos conselhos populares,
dos sindicatos, das organizações de massas, mais de 1 500 pessoas das mais
próximas, dos moradores, para discutirmos com eles a experiência que nos
propomos, e estou certo de que vai ser um sucesso, se você reduzir logo a
despesa de energia.
Vamos ver o consumo no inverno,
vamos ver o que poupam e economizam as lâmpadas que distribuiremos aqui nos
fins de dezembro; vamos ver os ventiladores que substituirão os rústicos, que
são mais de um milhão, aos que se acrescentará um número semelhante de simples,
mas muito eficientes aquecedores manuais elétricos, de água, que reduzem
consideravelmente a despesa energética ao ferver a água.
Em dezembro teremos catorze milhões
de aparelhos e os iremos distribuindo: panelas de cozer arroz, panelas de
pressão elétricas, aquecedores de água. Não incluo nesse número as lâmpadas de
baixo consumo que vão substituir as lâmpadas de incandescência.
Já veremos o que vai acontecer com
determinados veículos depois que conversem cada um deles com os trabalhadores
sociais e aqueles aos que vamos dar cristã sepultura. Quando cada ministério
receber os caminhões que deve ter e quando se exija que a disponibilidade
destes não pode ser menor de 90% e que todos esses veículos estejam
registrados, a poupança de energia por essa via será surpreendente.
Dizendo a verdade, temos idéias que
não quero explicar: o tempo exato em que não ficará um só dos caminhões de
gasolina e outros equipamentos altos consumidores de energia.
Temos falado em poupar dois terços
da mesma. Pensamos poupar na esfera elétrica, nos fins de 2006, não menos de um
milhão de quilowatts/hora que hoje está sendo gerado e esbanjado e teremos
capacidade de gerar, com novos equipamentos, pelo menos, 1,4 milhão de quilowatts/hora,
sem contar as usinas emergentes. Isso é mais certo do que as coisas que foram
anunciadas e que foram cumpridas, e aquelas das quais nem se falou e que foram
implementadas.
Não é preciso falar muito, mas
existem idéias que já começamos a aplicar em massa. Aproveitaremos que a
despesa elétrica agora no inverno é de 15% menos, pois cada equipamento que
vamos instalar deve ter a energia garantida, que a família possa cozinhar se a
energia falhar; agora temos muitos problemas, mas todos estão sendo estudados
minuciosamente, e com todos eles se trabalha com muita consciência, como diria
Karl Marx.
Não vou me estender mais, em
qualquer momento retorno e falamos.
Já falei de uns quantos temas.
Devemos estar decididos: ou derrotamos todas essas desviações e tornamos mais
forte a Revolução destruindo as ilusões que possa ter acalentado o império, ou
poderíamos dizer: ou vencemos radicalmente estes problemas ou morremos. É
preciso reiterar neste campo o lema de: Pátria ou Morte! Isto é a sério, e vamos
empregar todas as forças necessárias, se for preciso, os 28 000 trabalhadores
sociais, e esses que andam desviando gasolina, vale mais de se aconselhem e não
tenhamos que descobrir, ponto por ponto, que cada qual esteja roubando
combustível, porque já estão prontos os 10 000 trabalhadores sociais, e Cidade
de Havana se converteu numa escola espetacular onde se aprende o que é preciso
fazer, e cada vez mais, estamos dispostos a empregar os 28 000 e os 7 000 que
estão estudando.
Se não forem suficientes 28 000,
parte dos quais já estão trabalhando na criação de células contra a corrupção,
em torno de cada ponto a observar, uma célula, lá temos membros da juventude,
membros das organizações de massas, combatentes da revolução —a mesma questão que expusemos no Coliseu.
Os problemas colocados estão sendo
atendidos corretamente, vocês não imaginam o entusiasmo dos trabalhadores
sociais. Jamais na minha vida eu tinha visto tamanho entusiasmo, tamanha
seriedade, tamanha dignidade, tamanho orgulho, tamanha consciência do bem que
vão fazer ao país.
Já falei do combustível, da energia
em geral, vai se o mais importante, mas não o único. Quanto foi roubado aqui,
em fábricas, fábricas que, por exemplo, produzem medicamentos. Sei de uma
fábrica lá, na Lisa, onde tiveram que tirar o administrador e muitas pessoas,
quase 100 no total, que estavam envolvidas na roubalheira de medicamentos, a
administração dessa fábrica e um monte de pessoas. Tiveram que tirar cem
pessoas: procurar este e o outro para substituí-los. Não é suficiente nem será
a única solução.
E depois? É preciso usar também
todos os meios técnicos ao nosso alcance. Já temos adquirido um número
importante de bombas novas para a terça parte, aproximadamente, de todos os
postos de gasolina que ficarão no país, e tudo medido, bem como um número de
carros-cisterna de combustível novos, que não produzam engarrafamentos nas ruas
em acidentes. Trabalharão de noite, a maioria, nas horas de menor tráfego. Não
temos contabilizado o número de mortes que têm lugar devido aos acidentes.
E um dia qualquer — saibam bem — a
Revolução, com os instrumentos desenvolvidos pela técnica, poderá saber onde se
encontra cada caminhão, em qualquer lugar, em qualquer rua. Ninguém vai poder
fugir no caminhão e ir visitar a tia, o outro, a noiva. Não é que seja mau
visitar o familiar, o amigo, a noiva, mas não no caminhão destinado para o
trabalho; e quando existe uma crise de combustível no mundo é pior o crime ao
fazer isso; ou quando estão dando às pessoas um sabonete sem cheiro, que já viu
seu preço aumentado, mas já estamos dando para subi-lo outra vez; o sabonete, a
pasta de dentes, cada uma das coisas essenciais assinaladas, não será esquecida
nenhuma que esteja ao nosso alcance resolvê-la.
Dispomos de 1 000 ônibus comprados;
mas não para aplicar preços históricos.
Agora um número deles está indo de
um lado para o outro resolvendo problemas vitais, como os assinalados aqui;
outros chegarão nos próximos meses.
O transporte pode receber algum
subsídio, mas não 90% de seu custo, que seria oneroso, mais bem deve ser
mínimo. É preciso aplicar também a máxima racionalidade no salário, nos preços,
nas aposentadorias e pensões. Zero esbanjamento. Não somos obrigados. Não somos
um país capitalista, em que tudo foi deixado ao azar.
Subsídios ou gratuidade só nas
coisas essenciais e vitais. Não serão cobrados os serviços médicos, nem a
educação ou serviços similares. É preciso cobrar a habitação. Vejam quanto.
Pode existir algum subsídio, pode havê-lo mesmo, mas o que se pague em um dado
número de anos deve se aproximar do custo. Vocês dirão: E com que pagamos os
custos? Uma parte importante com o que hoje está sendo esbanjado, e está sendo
roubado, com as receitas não desprezíveis e cada vez maiores que o país irá
recebendo. Tudo isso está ao nosso alcance, tudo pertence ao povo, a única
coisa não permissível é esbanjar riquezas de forma egoísta e irresponsável.
Realmente, minha intenção não era
ministrar uma conferência sobre temas tão sensíveis, mas teria sido um crime
não aproveitar essa oportunidade para dizer algumas coisas que têm a ver com a
economia, com a vida material do paìs, com o destino da Revolução, com as
idéias revolucionárias, com as razões pelas quais iniciamos esta luta, com a
força colossal que temos hoje, o país que somos e poderemos continuar sendo, e
muito mais do que somos.
Não voltaria nunca a este lugar se
estivesse mentindo ou estivesse exagerando. Eu gosto mais de fazer do que
prometer. Em todo caso não tenho nada porque um homem sozinho não vale nada. Em
todo o caso aproveito a experiência ou a autoridade que possa ter entre os
compatriotas para travarmos batalhas. Temos milhões de cubanos prontos para a
guerra do povo todo.
Disse que tínhamos atingido a
invulnerabilidade militar, que este império não pode pagar a cota de vidas, não
imaginada, e que talvez haja tantas ou mais do que no Vietnã, se tenta
ocupar-nos, e já a sociedade norte-americana não está disposta a conceder a
seus governantes o crédito de dezenas de milhares de vidas para aventuras
imperiais. Vamos ver se chega às 3 00 no Iraque, já são mais de 2 000, e todos
os dias chegam notícias piores para os que desataram a guerra.
E vamos ver o que acontece com essa
porcaria do bloqueio, porque temos muitos norte-americanos que se queixam de
não ter aceitado os médicos cubanos, a maioria queria isso, e as autoridades
locais muito mais.
Vamos ver, porque vamos
demonstrar-lhes que é melor que acabem de tirar essa porcaria, que jamais vai
destruir a Revolução. E à Europa podemos dizer: Guardem a ajudinha humanitária
hipócrita, guardem ela todinha, que não precisamos dela. Que grande coisa é
poder dizer que não precisamos da Europa nem do império! Acabem quando
quiserem, nem precisam acabar o bloqueio, porque nos ensinaram, nos forjaram,
aprendemos a poupar, aprendemos a crescer, multiplicamos nossas forças para
estarmos à altura da colossal dimensão do adversário.
Falo a vocês com toda a confiança
com que lhes posso falar. Já falei de cada uma das tarefas principais das
brigadas dos trabalhadores sociais e sua ação de grande impacto. Às vezes,
tiveram que agir de improviso, com rapidez, disciplina e eficiência. Na Cidade
de Havana foram milhares e mobilizávamos outros milhares como reserva.
Já estão realizando inúmeras
tarefas. Se não forem suficientes, quantos estudantes tem esta universidade? A
partir de agora digo o que já disse a eles: Se 28 000 não forem suficientes,
nos reunimos com vocês, os estudantes da gloriosa Federação dos Estudantes
Universitários, e vocês procuram mais 28 000 estudantes (Aplausos), e de mãos
dadas com os trabalhadores sociais, que já vão adquirindo experiência, se temos
que mobilizar todos, os mobilizamos, e se
56 000 não forem suficientes, nos reunimos com vocês e vocês procuram
mais 56 000 de reforço.
Sabem quem os vai alojar? O povo,
como em todos lados; o povo que já tem um altíssimo conceito desses rapazes, e
já não haverá muitos que digam: “Isto não pode ser resolvido”, “isto não acaba
nunca”. E junto de vocês, junto do povo estaremos demonstrando que se pode. E,
vejam, acho que vamos ter muitos mais recursos e não só para satisfazer
necessidades, mas sim para o nosso desenvolvimento, porque estamos
administrando melhor. Muitas das coisas que fazemos, as estamos fazendo com os
recursos que temos poupado. Já estamos poupando centenas de milhões de dólares,
e a poupança dependerá do ritmo e da eficiência com que possamos fazer cada
coisa.
Todos os dias aparecem coisas novas,
e o que poupemos com a energia logo se converte em recursos. As termelétricas
piores e menos eficientes do país vão parar. Porém, sempre estarão prontas para
enfrentar qualquer contingência imprevista em uma etapa o seu andamento.
Só para produzir eletricidade o país
gasta 3 800 000 toneladas de combustível cada ano. Nosso sistema elétrico tem
hoje um aproveitamento de apenas 60%.
Não será construída nenhuma
termelétrica mais. Serão construídas usinas que aproveitam o gás dos poços de
petróleo, usinas de ciclo combinado, cujo custo pode ser amortizado em quatro
ou cinco anos, cobrando a 10 centavos a eletricidade que, por exemplo, os
hotéis possam pagar, se amortizam entre quatro e cinco anos e produzem depois o
quilowatt a 2 centavos de dólar.
Jamais será construída uma usina
como a “Antonio Guiteras”. Essas eram loucuras, tinham que estar saturadas de
dogmatismos e esquemas. Num sistema que precisava produzir por volta de 2
milhões de quilowatts, comprar uma usina capaz de gerar 330 000, é concentrar
em uma única usina mais de 15% da capacidade de geração efetiva, e quando se
apaga, ou cai um raio, como aconteceu semana passada na “Guiteras”, o apagão, o
blecaute, e o corte do fornecimento de eletricidade afeta a população e a
economia. E até quando a Revolução devia resistir o disparate de uma concepção
errada que existia acerca do sistema elétrico? Concepção que garanto não era
exclusivamente de Cuba e hoje somos o primeiro país do mundo a descobrir isso e
terão que vir para verem o que estamos fazendo.
Não quero acrescentar mais, porque
devo dizer coisas de maior transcendência.
Vamos deixar de ser um país idiota e
passar na frente de todos os demais. Quero advertir que estão caindo no mesmo
engano e cometendo o mesmo erro.
Não, não quero enumerar. Prometo um
dia contar a história a vocês, aos líderes estudantis, talvez aos que estamos
aqui. Hoje não, hoje tenho que ficar calado, porque falar pode advertir, falar
pode orientar o inimigo. Já, naturalmente, com o que estou dizendo temos coisas
que não as podem impedir, como os dois milhões e meio de panelas de pressão que
estão aqui ou a caminho, ninguém as pode parar, e o que está a caminho são
coisas compradas na China. E a China não é uma ilhota, a China é um dos maiores
países do mundo, convertido atualmente no principal motor da economia mundial,
a China é um país que produz muitas coisas, e estamos discutindo outras compras
e medidas de intercâmbio, que avança a um ritmo crescente.
Dizia-lhes que nosso crédito
cresceu. Este país pode mobilizar bilhões de dólares, dissemos isso ao
“Bushecito”, para que sua vida fique cada vez mais amargurada se assim deseja,
e aos que andam armando intrigas; que digam o que quiserem amanhã, dos
“pobrezinhos”, desse pessoal “tão nobre”, que roubava “tão pouquinho”, desses
que cobram ao povo qualquer preço por qualquer coisa, eu lhes digo junto de
vocês: “Paguem o combustível que estão consumindo”. Na realidade tudo isso que
estamos oferecendo de graça ao camelô, que estamos dando de graça ao bandido
aquele, ou ao pão-duro aquele, ou ao egoísta aquele que quer que nós demos 15
centavos em cada quilowatt que pague ele, por que? Que lei da economia mundial
nos obriga a isso? E que estejam prontos, porque temos as contas bem
calculadas. Já numa ocasião desvalorizamos o dólar, mas esse dólar está
desfruindo de privilégios demais.
Naturalmente, nem o dólar nem os que
estão roubando têm o Instituto de Meteorologia, nem têm Rubiera, estão soprando
ventos de furacões, mas ninguém sabe o rumo que levam, se oeste nordeste e três
graus mais para o norte ou para o sul, ou com ventos tais e tais. A única coisa
que eu lhes digo è que é um furacão com força cinco (Risos). Um furacão com
força cinco não deixa nada em pé, sem cometer um abuso, sem matar ninguém de
fome, só com princípios muito simples: a caderneta de racionamento tem que
desaparecer, os que trabalham e produzem receberão mais, comprarão mais coisas;
os que trabalharam durante décadas receberão mais e terão mais coisas. E o país
terá muito mais, mas não será jamais uma sociedade de consumo, será uma
sociedade de conhecimentos, de cultura, do desenvolvimento humano mais extraordinário
que possa ser concebido, desenvolvimento da cultura, da ate, da ciência, e não
para armas químicas, com uma plenitude de liberdade que ninguém poderá tolher.
Isso sabemos hoje, não é preciso proclamá-lo, embora sim lembrá-lo.
Temos ganhado esse direito de fazer
o que vamos fazer hoje, e dispor de quase um milhão de profissionais,
intelectuais e artistas, dispor de 500 000 estudantes nas nossas universidades,
de todos os ramos da ciência, e que são qualificáveis e requalificáveis, podem
passar de uma a outra atividade e serão capazes de muitas coisas.
Advirto-lhes que nossa sociedade vai
ser na realidade uma sociedade totalmente nova. E nesta corrida de longa
distância, já levamos muita vantagem aos que estão mais perto. Não é nenhum
mérito, o mérito é do império, foi grande demais a ameaça contra nós, o desafio
que nos impôs. O mérito é deles, a única coisa que fez nosso povo nobre,
generoso, valente e inteligente foi responder e hoje responde, com a grande
força de muitas inteligências desenvolvidas.
Hoje, quando falávamos aqui de 500
000, isso foi produzido em pouco tempo, faz apenas três anos, quantos havia
aqui e quantos haverá amanhã.
Algo mais, teremos dezenas de
milhares de estudantes latino-americanos nas escolas de medicina e só nosso
país deverá formar os próximos 10 anos mais de 100 000 médicos. Já estamos
lutando para criar o melhor capital médico do mundo, e não só para nós, para
nós que temos formado e continuaremos formando, para os povos da América Latina
e de outros povos do mundo que já estão nos pedindo para formar seus médicos,
temos com que formá-los e ninguém os pode formar melhor. Temos desenvolvido
métodos pedagógicos que nem sequer sonhávamos. Já veremos e rápido.
Não haverá só 12 000 estudantes de
medicina na ELAM, já temos 2 000 jovens bacharéis bolivianos aqui; além dos da
ELAM, um número deles lá em Cienfuegos, alojados em lares de famílias de
Cienfuegos, sérias, com preparação profissional e cultura, cujo perfil
psicológico foi estudado, bem como o perfil do estudante e da família do
estudante, uma experiência nova e única.
Ontem falava disso com alguns, é a
solidariedade convertida em riqueza colossal. Como se poderia albergar 100 000
estudantes de nível superior? E sabemos o que custa cada um deles, o que custa
alimentá-los, o que custa alojá-los. Sabemos que construímos, na primeira etapa
da Revolução, centenas de escolas de ensino secundário ou de segundo grau e de
ensino pré-universitário, e hoje temos menos da metade da matrícula dos anos
setenta, sabemos o que custa repará-las, o tempo que demora a reparação. Haverá
muitas escolas de medicina de 400 ou 450 alunos com excelentes condições
materiais, o equipamento necessário para os estudos, meios audiovisuais,
programas interativos. Como sabemos, e o mesmo companheiro Machadito disse, que
se ele tivesse esses recursos nos cinco anos em que estudou, teria podido
adquirir em um ano os conhecimentos que adquiriu em cinco. Isso não significa
que vamos formar um médico em um ano, mas sim um médico em seis anos que vai
ter os conhecimentos que, através dos métodos tradicionais, teriam sido
necessários 20 anos para adquiri-los. Estou pensando na qualidade, na
qualidade!, vamos adquirindo-a cada vez mais.
Sabemos o que estão fazendo nossos
compatriotas em todos lados, mantemos comunicação permanente com eles, os do
contingente “Henry Reeve” e muitos outros. Existe uma bela história, que neste
momento se desenvolve, como nunca antes na história e na vida de nossa
Revolução.
Fico contente pensando que num dia
como este, Dia do Estudante, e este dia que vocês, como quantas vezes queiram
fazê-lo, escolheram como data móbil para festejar o 60º aniversário do meu
ingresso nesta universidade, me sinta realmente bem espiritual e fisicamente ao
me reunir com vocês. Eram muitas coisas que vinham à minha mente, e tive que ir
ordenando as recordações de ontem e as idéias e hoje, e tendo muito cuidado
para não dizer o que não devo dizer e dizer tudo o que é preciso dizer.
Acho, e estou discutindo isso com os
companheiros e me comunicando com eles, que neste próprio mês temos que tomar
algumas medidas, disse este próprio mês, não se deve perder um minuto, porque
já estão chegando coisas por aqui ou por lá.
É preciso urgentemente desalentar e
pôr freio ao esbanjamento de eletricidade. Vejam, um certo desalento, não é a
fórmula definitiva, que essa é outra, mas começamos a distribuir já em massa um
número de equipamentos, enquanto mais pouparmos, mas economizaremos energia e
mais dinheiro começaremos a recolher nos fins deste mês e nos começos do
próximo ano, mas se torna imprescindível entrar no mês de dezembro
estabelecendo certo limite ao colossal esbanjamento de eletricidade.
Não, nem um centavo de aumento para
os que gastem 100, um pouquinho mais para os que gastem 150, 200 e 300 quilowatts.
Haverá quem gaste 300, sem dúvida, terá que pagar um pouco mais, mas não muito.
Talvez esses que esbanjam, em vez de dois dólares tenham que gastar quatro por
300; mas não gastem muito mais de 300, apaguem as luzes, desliguem o
ventilador, não deixem ligado o televisor. Não falei disso, temos um milhão de
televisores, 40 000 na mão e outros chegando, 50 watts, para que não fique um
só televisor a preto e branco.
Outro monte de poupança, temos um
monte, um monte, um monte e mais um monte, testado em laboratórios, o que
consome cada equipamento, tudo está medido e todos os cálculos ficaram por
debaixo do que dão os números; não fica um detalhe, ou muito pouco, e todos os
dias fazemos mais experiências, mais experiências e mais experiências. Já vamos
implementar uma num município completo, o mais pobre, e por isso já entraram lá
os trabalhadores sociais: também entra em Cienfuegos uma força trocando
lâmpadas.
Enrique, que dia vão tomar conta dos postos de
gasolina dessa província? No importa, que o saibam, devem imaginar. (Enrique
explica que será a partir do sábado, que já foram trocadas mais de 158 000 lâmpadas em Cienfuegos e o que resta será
acabado amanhã).
(Entregam ao Comandante para a
estudante da província La Habana duas lâmpadas de baixo consumo).
Vea, Enrique, vem cá, que isso não
serve, o que ela tem na mão. Esta gastando eletricidade demais. Rápido, já
estamos nos aproximando do fim.
Ah!, a garota está lá. Mas, este é
de sete (Enrique lhe esclarece que é um de sete e outro de 15).
Não, mas ela tem dois de 60, não
apagues a garota, não apagues a luz na casa da garota. Ela me disse que tinha
dois de 60. Eu dizia que lhe deviam entregar dois de 15.
Pega, você não, ela. Leva-as, diga que já você
tem um (Entregam-lhe duas lâmpadas de 15).
Já sabemos o que poupamos no ano.
Não é bobagem (Aplausos).
Vamos descontá-lo do que tem que
pagar para subsidiar aquele que está lá. Estão mudando, quantas lâmpadas vão
ser mudadas em Cienfuegos? (Enrique lhe responde que em Cienfuegos existiam 207
000 lâmpadas que deviam ser substituídas).
Quantas mais descobriram? (Diz que
aumentou a procura e devem ser enviadas mais 100 000 para lá).
Tínhamos combinado que eram 150 000
de Havana. (Esclarece que já estão a caminho; que foram trocadas 158 000, com
os 400 trabalhadores sociais que estão mergulhados na tarefa, mais 360 de
reforço que enviaram. Ratifica que no sábado eles começam nos postos de
gasolina).
Correto. E depois de amanhã os
postos de gasolina. Tudo deve estar pronto, que de qualquer forma vamos
descobrir o que compram as pessoas, e depois haverá umas máquinas de
distribuição perfeitas, e o país saberá onde está cada máquina.
Quanto combustível se gasta com
todos os que usam os carros, não só os caminhões, mas também até os
carregadeiras frontais da construção, como aconteceu naquela ocasião? Quanto
gastam todos os tratores do Ministério do Açúcar (Minaz)? Quanto gastam todos
os tratores do campo, que são dezenas de milhar fazendo o papel de jipes, assim
tão tranquilamente? Quanto gastam aqueles que, ao não bastar o queroseno, que é
o combustível da imensa maioria, utilizam o diesel para cozinhar? São centenas
de milhar, centenas de milhar e centenas de milhar.
Ao lado disso — advirto — máquinas totalmente novas, com capacidade de
perfuração, nova técnica sísmica, que é muito moderna, perfurando em todos
lados onde haja que perfurar e utilizando o gás dos poços para ir criando
usinas geradoras de ciclo combinado que substituam para a vida toda a
“Guiteras”, ou essas monstruosas usinas de Santiago de Cuba que consomem meio
milhão de toneladas de diesel que produz a refinaria daquela própria cidade,
gastando entre 300 e 350 gramas de fuel oil por quilowatt de eletricidade, ou
essas máquinas engolidoras de diesel de San José de las Lajas que para produzirem
60 000 quilowatts nas horas de ponta gastam 400 gramas de diesel em cada
quilowatt. Não fiquem assombrados no dia em que lhes diga: estão
definitivamente retiradas, nenhuma enquanto existir o perigo de um déficit,
porque temos que ir assegurando e assegurando. Inclusive, lá onde vai ser
substituído um combustível por outro ficará, enquanto não tiver garantido este,
garantido o anterior. Vão ser mudanças grandes.
Já disse que temos mil ônibus desses
para distâncias longas, e terão seu custo. Ainda não agora, porque preferimos
esperar. Às vezes é preciso esperar para que compreendam algo melhor; para que
seja compreendida bem, por exemplo, uma medida, do que a Revolução precisa
sempre é da compreensão e do apoio do povo aos passos que estamos dando, porque
lhes garanto — repito isso aqui — que todo o povo receberá mais, todos os que
trabalharam pelo país e pela Revolução receberão também mais; muitos abusos
acabarão, iremos tirando o caldo de cultura a muitas dessas desigualdades, às
condições que permitem isso, quando não tenhamos ninguém que tenha que ser
subsidiado, teremos avançado consideravelmente no caminho rumo a uma sociedade
justa e decorosa, que um socialismo verdadeiro e irreversível precisa.
O império sonhou que em Cuba seriam
abertos muitos restaurantes particulares, pois pode ser que não fique nenhum,
ou que vocês acham, que nos temos convertido em neoliberais? Nenhum de nós se
tornou neoliberal; mas vamos demonstrar irrecusavelmente a crise de suas
teorias, como temos demonstrado o fracasso do seu bloqueio, de suas agressões,
de suas desestabilizações.
No ano que vem pode ser que haja
menos abstenções, na votação contra o bloqueio nas Nações Unidas, embora já não
fique nada, nada mais que o aliado fascista e genocida que sempre vota sem
escrúpulo algum ao lado do império.
O mundo terá que travar uma batalha.
Ninguém deve ter direito de fabricar
armas nucleares. Ainda menos o privilégio que pretende ter o imperialismo para
impor seu domínio hegemônico e tirar aos países do Terceiro Mundo seus recursos
naturais e matérias-primas. Temos denunciado isso mil vezes, mas não é a
solução. A primeira solução para um país do terceiro Mundo é não ter medo
nenhum, assim temos feito sempre e já começam a ficar desmoralizados.
Segundo, defenderemos a qualquer
custo, nas tribunas internacionais, o direito dos povos de produzir o
combustível nuclear e não teremos nenhum medo ou temor, vamos advertindo
(Aplausos).
Deve acabar no mundo a prepotência,
os abusos, o império da força e do terror. Este some diante da ausência total
de medo e cada vez são mais os povos que têm menos medo, cada vez serão mais os
que se revoltem e o império não poderá sustentar o infame sistema que ainda
sustenta.
Um dia, Salvador Allende falou que
mais cedo ou mais tarde, pois penso que mais cedo do que tarde esse império se
desintegrará e o povo dos Estados Unidos terá mais liberdade do que nunca,
poderá aspirar a mais justiça do que nunca; poderá usar a ciência e a técnica
no próprio benefício e no da humanidade, poderá somar-se aos que lutam pela
sobrevivência da espécie, poderá somar-se aos que lutam por uma oportunidade
para a espécie humana à qual pertence.
É justo demais lutar por isso, e por
isso devemos empregar todas nossas energias, todos nossos esforços, nosso tempo
todo, para poder dizer na voz de milhões ou de centenas ou de bilhões. Vale a
pena ter nascido! Vale a pena ter vivido!
(Ovação.)