REFLEXÕES DO COMANDANTE-EM-CHEFE
O IMPÉRIO E A MENTIRA
Reagan foi o
criador da Fundação Nacional Cubano-Americana, cujo sinistro papel no bloqueio
e no terrorismo contra Cuba se conheceria anos depois quando o governo dos
Estados Unidos revelou documentos secretos, embora ainda cheios de
desavergonhados riscos. Se os tivéssemos conhecido antes, nossa conduta não
mudaria.
Quando em 30 de
março de 1981 chegou a Cuba a notícia que Reagan tinha sido vítima de um
atentado, com disparos de arma de pequeno calibre lhe enviamos uma mensagem
expressando-lhe nossa condena ao fato. Uma bala de chumbo calibre 22 alojou-se
num de seus pulmões, provocando-lhe riscos e sofrimentos pessoais. A mensagem
aparece na conversa que por instruções precisas teve o então Ministro das
Relações Exteriores, Isidoro Malmierca, com Wayne Smith, Chefe da Repartição de
Interesses dos Estados Unidos em Havana.
A seguir parágrafos literais da conversa entre ambos:
“ISIDORO
MALMIERCA: Convocamo-lo e recebemo-lo por encargo expresso do Presidente Fidel
Castro. Ele me pediu que lhe explicasse, primeiramente, que soubemos pela
informação que o senhor nos ofereceu através do diretor Joaquín Mas a respeito
do atentado feito ao presidente Reagan. Por outro lado queremos também em nome
do Presidente Fidel Castro, expressar-lhe quão grandemente lamentamos esse fato
e nossa esperança, nossos votos porque o presidente Reagan possa se recuperar
deste atentado no menor tempo possível.
“WAYNE SMITH:
Muito obrigado.
“ISIDORO
MALMIERCA: Recebemos informações a respeito do atendimento médico que recebe.
Inicialmente o senhor também recebeu informação de que pareciam mais simples as
conseqüências do atentado, mas parece que é ainda mais grave, que está sendo
submetido a uma intervenção cirúrgica.
“WAYNE SMITH: Sim.
Nós temos a impressão que já foi operado, contudo agora estão a dizer pela
rádio que a operação recém começa, é possível que saia, digamos, daqui à uma
hora. Quer dizer, uma operação de três horas não é nada simples e ainda mais
num homem de 70 anos. Dizem que não há perigo. Eu interpreto isso como que o perigo
não é imediato. Porém num homem de 70 anos uma operação de três horas é séria.
Contudo dizem que sua situação não é grave, que é estável. Esperamos que tudo
saia bem. Agradeço seus votos, interesse e a mensagem do Presidente Fidel
Castro.
“ISIDORO
MALMIERCA: Em Washington também o senhor Frechette se dirigiu à Seção de
Interesses de Cuba e nos ofereceu dados sobre esta situação. Explicou que você
recebeu informação a respeito disso. Bom, repito-lhe que o Presidente Fidel
Castro encarregou-me pessoalmente de que conversasse com o senhor e lhe
expressasse nossos votos de que o Presidente Reagan possa se recuperar
rapidamente das conseqüências do atentado.
“WAYNE SMITH:
Muito obrigado. Meu Deus! Que difícil é isto. O Presidente Kennedy foi
assassinado em Dallas e segundo parece o responsável pelo atentado a Reagan é
de Dallas. Agora mora em Colorado, mas é de Dallas. Sei lá o que...
“ISIDORO
MALMIERCA: Eu li nuns cabogramas que nasceu perto de Denver, a 30 quilômetros
de Denver.
“WAYNE SMITH: Sei lá. Um de meus cônsules aqui
no Escritório me disse que ele ouviu pela radio que é um cara que estudou na
mesma escola com ele. Nem sei, talvez durante alguns anos residiu em Dallas.
“ISIDORO
MALMIERCA: Dizem que são três irmãos, filhos dum homem que se dedica aos negócios
de petróleo.
“WAYNE SMITH: Seu
pai, sim. Ele é um cara de 22 anos, que estudou na universidade de Yale, mas há
pouco deixou os estudos. Talvez seja um ressentido, um jovem que fracassou e atuou
por sentimento. Falando com toda franqueza, alegro-me de que seja um cara como
ele e não, digamos, um porto-riquenho ou algo assim, que poderia provocar
implicações políticas.
“ISIDORO
MALMIERCA: As especulações sobre motivações políticas para fazer isso.
“WAYNE SMITH: Sim,
isso permitiria inegavelmente estimular, alentar interpretações políticas. Um
jovem branco, de Colorado, Texas; é muito difícil fazer interpretações
políticas.
“ISIDORO
MALMIERCA: Inclusive algumas informações da polícia dizem que é um homem que
atuou sozinho, que não está ligado a nenhum grupo...
“WAYNE SMITH: Sim, deve ter sido um louco ou
fã, aproximar-se tanto do Presidente... Bom, foi capturado rapidamente. Sacou
sua pistola e atirou...
“ISIDORO
MALMIERCA: Brady morreu?”
“WAYNE SMITH: Não.
“ISIDORO
MALMIERCA: Diziam que ele tinha morrido.
“WAYNE SMITH: É
verdade. Houve informações de que sim, que tinha morrido, mas ultimamente
disseram que não, que está muito grave, mas ainda não morreu. Imagino que se fosse
de calibre 45 sim era de morte, mas de calibre 22 tem certas possibilidades...
contudo parece que recebeu a bala na cabeça, evidentemente na cabeça... Isso
não é nada bom, não há muitas esperanças.
“ISIDORO
MALMIERCA: Um balaço na cabeça, de qualquer calibre, é algo muito grave.
“WAYNE SMITH:
Brady está muito grave. Poderia sobrevier, mas em estado vegetativo.
“ISIDORO
MALMIERCA: Lamento que nossa entrevista tenha sido provocada por um fato tão
lamentável.
“WAYNE SMITH:
Agradeço seus votos. Enviarei imediatamente um cabograma para informar meu
governo de nossa conversa. Rogo-lhe transmita ao Presidente Fidel Castro meu
agradecimento.
Não faço nenhum comentário. A versão de Malmierca,
redigida imediatamente depois do encontro, fala por si própria. Wayne Smith é
atualmente um firme lutador contra o bloqueio e as agressões a Cuba.
Porém aqui não acaba a história de nossa conduta para
com o Presidente de um país que desde os dias de Einsenhower elaborou centenas
de planos para me eliminar fisicamente.
Uma informação entregue de maneira muito confidencial
no verão de
O atentado seria em data muito próxima aproveitando a
vista de Reagan à Carolina do Norte, fazendo parte da campanha para sua
reeleição no cargo.
A informação estava completa; oferecia os nomes dos
envolvidos no plano; dia, hora e lugar onde teria lugar o magnicídio; tipo de
armamento que possuíam os terroristas e lugar onde guardavam as armas; além
disso, o lugar de reunião dos elementos que estavam planejando a ação e um
breve resumo do conversaram nessa reunião.
A informação foi entregue no encontro com Muller em um
edifício localizado na rua 37 e a Terceira Avenida, a dois quarteirões do
edifício da missão cubana.
Ofereceram-lhe todos os detalhes conhecidos,
garantindo que ficasse bem esclarecido o mais importante, quais os nomes dos
envolvidos, lugar, hora e tipo de armamento que seria utilizado por eles.
No fim do intercâmbio, nosso oficial comunicou-lhe que
recebeu instruções do governo de Cuba de fazê-lo com urgência, e que tinha sido
selecionado por nós porque sabíamos que era um profissional nos problemas de
segurança.
Muller leu o escrito por ele para se assegurar de que
não havia alterado e que estavam todos os elementos importantes.
Interessou-se pela fonte, e disseram-lhe que era
segura. Expressou que o serviço secreto precisaria de se entrevistar com os
funcionários cubanos. Contestaram-lhe que não havia problema com isso.
Aproximadamente às quatro horas e meia da tarde desse
dia, os agentes do Serviço Secreto reuniram-se com a representação cubana.
A entrevista teve lugar no apartamento 34-F, no andar
34 de um complexo de edifícios chamado Ruppert Towers, que se localiza na rua
92 entre Terceira e Segunda Avenida, na parte alta de Manhattan.
Os agentes eram dois homens jovens, brancos, com o
cabelo bem curto, vestidos de terno. Seu objetivo era examinar principalmente o
que Mulher lhes disse, pois traziam em suas mãos cópia do cabograma que ele
lhes dera. Ao comprovar o conteúdo do cabograma foi-lhe garantido que não faltava
nada.
Os agentes do Serviço Secreto queriam conhecer quem
tinha oferecido a informação e como foi que a mesma chegou a nosso poder.
Receberam a mesma resposta que Muller. Também se interessaram em saber se era
possível ampliá-la, e lhe comunicamos que se chegava algo novo o receberiam de
imediato.
Eles deixaram seu cartão de visita e pediram que
ligássemos para eles diretamente se conhecíamos mais algum dado adicional,
explicaram que não era preciso fazê-lo através de Muller.
Segunda-feira seguinte pudemos conhecer que o Bureau
Federal de Investigações tinha capturado um grupo de pessoas na Califórnia do
Norte as quais tinham várias acusações, nenhuma delas, logicamente,
relacionadas com um atentado ao Presidente Reagan, quem viajou a esse Estado
como parte programa da campanha de reeleição ao cargo de Presidente.
Antes que transcorreram quatro ou cinco dias da
detenção, no fim dessa própria semana, Muller ligou para a Missão e convidou o
funcionário cubano a almoçar, o que fizeram no restaurante para Delegados das
Nações Unidas. O primeiro que fez foi pedir que trasladasse ao governo de Cuba
o agradecimento do governo dos Estados Unidos pela informação oferecida, e
informou que tinham operado contra o grupo de envolvidos. Um lutador
antiterrorista cubano salvou a vida dum Presidente dos Estados Unidos!
Alguma imprensa norte-americana faz referência a um
diário íntimo de mais de 700 páginas de apontamentos pessoais de Reagan, desde
sua posse até a entrega do mando a Bush (pai), tentando fazer ver que seu governo
não foi tão agressivo contra Cuba.
Contudo, segundo contam Robert McFarlane, nessa altura
Vice-secretário de Estado subordinado a Alexander Haig, afirmou em suas
memórias: “De todos os governos que tem lidado com Fidel Castro desde 1959, o
de Reagan parecia o menos adequado para dialogar com o regime comunista de
Cuba”.
Talvez Reagan experimentasse algum agradecimento tanto
por nossa preocupação quando foi vítima do atentado, em 1981, quanto pelo aviso
que lhe salvou a vida perante um perigo eminente, e agradeceu-o através de
Robert C. Muller.
Reagan foi quem subscreveu com Cuba o primeiro acordo
migratório, mas não podia escapar de seu entorno, porque outros ainda mais à
direita do que ele o eliminavam fisicamente, mesmo como fizeram com Kennedy
depois que conheceu o terrível risco de uma guerra termonuclear. Reagan, sem
dúvida, mudou sua política com Cuba num ano eleitoral, não cumpriu o acordo
assinado que fixou a entrega de até 20 mil vistos por ano para viagens seguras,
ao outorgar menos de mil, e manteve a chamada Lei de Ajuste que tantas vidas
cubanas tem custado.
Em 11 de setembro de 2001 no vizinho país teve lugar
um verdadeiro caos. Durante muito tempo os aeroportos proibiram as
aterrisagens. Um incalculável número de vôos com passageiros estava no ar. Eram
as notícias que transmitiam os meios de difusão maciça
Coincidiu casualmente com o dia em que tínhamos
convocado às seis horas das tarde quase 15 mil estudantes de nível superior e
graduados universitários, porque íamos reinaugurar a escola “Salvador Allende”,
onde 3.599 jovens começariam os estudos superiores para se prepararem com métodos
novos e provados a fim de exercer como professores do ensino primário.
Hoje faz seis anos daquele doloroso episódio. Sabe-se
atualmente que houve desinformação deliberada. Não me lembro de ter ouvido
falar nesse dia de que nos sótãos dessas torres, em cujos andares superiores
radicavam bancos de multinacionais junto a outros escritórios, estavam
guardadas perto de 200 toneladas de barras de ouro. A ordem de disparar a morte
contra todo aquele que tentara se aproximar do ouro. Os cálculos sobre
estruturas de aço, impactos de avião, caixas negras encontradas e o que as
mesmas revelavam não se ajustam aos critérios de matemáticos, sismólogos,
especialistas em informação e especialistas em demolição, etc., etc.. O mais
dramático é a informação de que possivelmente jamais possamos conhecer o que
realmente aconteceu. Consta não obstante que várias pessoas que viajavam de New
Jersey a São Francisco, conversaram com familiares quando já a nave aérea
estava sob controle de indivíduos alheios a sua tripulação normal.
Fazendo a análise do impacto de aviões similares ao
que se projetou contra as torres, caídos por acidente em cidades densamente
povoadas, chegamos à conclusão que nenhum avião se estrelou sobre o Pentágono e
que só um projétil pôde provocar o orifício geometricamente redondo que criou o
suposto avião em dita instalação. Também não aparece algum passageiro que
tivesse morrido ali. Ninguém no mundo tinha dúvidas sobre as noticias recebidas
de um ataque ao edifício do Pentágono. Fomos enganados mesmo como os habitantes
do resto do planeta.
Quando falei na Cidade Esportiva naquele 11 de
setembro, entre outras considerações fiz referência à tragédia dos Estados
Unidos. Para não incluir o discurso completo, tirei parágrafos textuais do
mesmo:
[...] Não pensávamos suspender o ato, não podia ser
suspenso, apesar da tensão internacional criada pelos acontecimentos. Imagino
que muitos os conheçam; mas em essência consistiram em que, aproximadamente às
9h:00, um Boeing, dos grandes, colidiu diretamente contra um dos prédios da
famosa torre de Nova Iorque, um dos mais altos do mundo, que tem duas
edificações. Como é natural, começa os incêndios com todo o combustível que
leva um desses aviões grandes; começam a acontecer cenas terríveis, e 18
minutos depois outro avião, também duma empresa aérea norte-americana, atacou e
colidiu diretamente contra a outra parte da torre.
Ao mesmo tempo, uns minutos mais tarde, outro avião se
estrela contra o Pentágono. Chegam notícias, em meio de certa confusão, de uma
bomba frente ao Departamento de Estado e outros acontecimentos alarmantes,
embora mencionei os mais importantes.
Evidentemente, o país tinha sido vítima de um ataque
violento e surpreendente, inesperado, inusitado, uma coisa verdadeiramente
insólita, que deu lugar a acontecimentos impressionantes, fundamentalmente
quando ardiam as duas torres, e sobretudo, quando as duas desabaram, com seus
100 andares, sobre outras edificações vizinhas, e sabia-se que lá trabalhavam
dezenas de milhares de pessoas em diversos escritórios que representam
numerosas empresas de diversos países.
Era lógico que aquilo produzisse uma comoção nos
Estados Unidos e no mundo, as bolsas de valores começaram a derrubar-se, e pela
importância política, econômica, tecnológica e o poder dos Estados Unidos, hoje
o mundo estava comovido com aqueles acontecimentos que foi necessário
acompanhar durante o dia todo, ao mesmo tempo que da nossa parte se mantinha a
atenção sobre as condições e as circunstâncias em que seria realizado este ato.
Portanto, há dois temas: a escola e seu
importantíssimo curso, e a catástrofe de tipo político e humano que tinha
acontecido, fundamentalmente
[...] Hoje é um dia de tragédia para os Estados Unidos
de América. Vocês sabem muito bem que aqui jamais se tem semeado ódio pelo povo
norte-americano. Talvez, precisamente por sua cultura e por sua falta de
complexos, ao sentir-se totalmente livre, com pátria e sem amo, Cuba seja o
país onde se trate com mais respeito aos cidadãos americanos. Nunca predicamos
nenhum gênero de ódios nacionais, nem coisas parecidas ao fanatismo, por isso
somos tão fortes, porque nossa conduta a baseamos em princípios e em idéias, e
tratamos com grande respeito —e eles percebem isso— a cada cidadão
norte-americano que visita nosso país.
Além disso, não esquecemos o povo americano que pôs
fim à guerra de Vietnã com sua enorme oposição àquela guerra genocida; não
esquecemos o povo americano que, em número superior a 80% apoiou o regresso de
Elián para nossa pátria (Aplausos); não esquecemos quanto idealismo, perturbado
muitas vezes pelo engano, porque —como já dizemos muitas vezes— para conseguir
que um americano apóie uma causa injusta, uma guerra injusta, primeiro há que o
enganar e o método clássico utilizado na política internacional desse enorme
país é o método de enganar primeiro, para depois contar com o apoio da
população. Quando acontece ao contrário e seu povo descobre que alguma coisa é
injusta por sua tradição de idealismo, opõe-se a aquilo que esteve apoiando,
muitas vezes, causas muito injustas, convencidos de que o que estava apoiando
era justo.
Por isso nós —que sabemos não o número exato, mas que
assistimos cenas impressionantes de sofrimentos e possíveis vítimas— temos
sentido dor profunda e tristeza pelo povo norte-americano, fiéis à linha que
temos seguido sempre.
Não estamos louvando governos, nem pedindo
perdões, nem favores, nem nos nossos peitos se albergam nem sequer um átomo de
temor. A história da Revolução tem demonstrado qu± o capaz é de desafiar, qu± o capaz é de lutar, de resistir o que tenha
que resistir, o que nos tornou um povo invencível. Esses são nossos princípios,
uma Revolução baseada em idéias, na persuasão e não na força.
A nossa reação foi a que disse, e quisemos que nosso
povo pudesse assistir as cenas e contemplasse a tragédia. Não hesitamos em
expressar publicamente nosso sentimento. Aqui temos uma declaração que foi
entregue à imprensa internacional por volta das 15h:00, redigida logo que foram
conhecidos os fatos, enquanto nossa televisão estava engajada na divulgação dos
acontecimentos. Seria comunicada ao nosso povo no noticiário da noite.
Adianto-me aqui alguns minutos para que conheçam a
Declaração Oficial do Governo de Cuba, perante os fatos acontecidos nos Estados
Unidos.
"O governo da República de Cuba recebeu com dor e
tristeza as notícias sobre os ataques violentos e surpreendentes realizados
hoje de manhã contra instalações civis e oficiais nas cidades de Nova Iorque e
Washington, que provocaram numerosas vítimas.
"Não é possível esquecer que nosso povo tem sido
vítima durante mais de 40 anos da tais ações promovidas desde o próprio
território dos Estados Unidos.
"Tanto por razões históricas quanto por
princípios éticos, o Governo de nosso país rejeita e condena com toda energia
os ataques realizados contra as referidas instalações e exprime suas mais
sinceras condolências ao povo americano pelas dolorosas e injustificáveis
perdas de vidas humanas que provocaram os referidos ataques.
"Nesta hora amarga para o povo americano, nosso
povo solidariza-se com o povo dos Estados Unidos e exprime sua total disposição
de cooperar, na medida de suas modestas possibilidades, com as instituições
sanitárias e com qualquer outra instituição de caráter médico ou humanitário
desse país, no atendimento, cuidado e reabilitação das vítimas ocasionadas
pelos fatos acontecidos na manhã de hoje".
Embora não se saiba se são 5 000, 10 000, 15 000. 20
000 as vítimas, sabe-se que só nos aviões que foram colididos contra as torres,
ou contra o Pentágono, viajavam centenas de passageiros, e oferecemos o que
podíamos se fizesse falta.
Esse é um país que tem um grande desenvolvimento
científico, médico, recursos; mas há momentos em que pudesse fazer falta sangue
de um grupo específico, plasma — ou qualquer outro produto que nós possamos
doar o que faríamos gostosamente—, ou apoio médico, ou de pessoal paramédico,
porque sabemos que muitos hospitais têm défice de determinados técnicos e
profissionais. Resumindo, o que queríamos era expressar nossa atitude e nossa
disposição com respeito a estes trágicos acontecimentos.
[...] Os seqüestros aéreos, método inventado contra
Cuba, tornaram-se uma praga universal, e foi Cuba que afinal resolveu esse
problema quando, depois de ser advertido reiteradamente, devolvemos aos Estados
Unidos a dois dos seqüestradores, é doloroso, eram cidadãos cubanos, mas o
advertimos, vieram e os enviamos, cumprimos com a palavra pública; mas nunca,
nem sequer depois nos deram notícias para seus familiares. Têm seu modo de
agir. Ninguém sabe. Sei que foram condenados a 40 anos, e aquilo foi o que pôs
fim ao seqüestro de aviões.”
[...] Nenhum dos atuais problemas do mundo podem ser
resolvidos pela força, não há poder global, nem poder tecnológico, nem poder
militar que possa garantir a imunidade total contra tais fatos, porque podem
ser ações de grupos reduzidos, difíceis de descobrir
É muito importante saber qual vai ser a reação do
Governo dos Estados Unidos. Possivelmente venham dias perigosos para o mundo,
não estou falando de Cuba, Cuba é o país que mais tranqüilo está no mundo, por
várias causas: por nossa política, por nossas formas de luta, por nossa
doutrina, nossa ética, e para além, companheiras e companheiros, pela ausência
total do temor.
Nada os inquieta, nada nos intimida. Seria muito
difícil fabricar uma calúnia contra Cuba, não seria acreditada nem por aquele
que a inventasse e fizesse a patente, é muito difícil; e Cuba não é hoje
qualquer coisa neste mundo (Aplausos), tem uma posição moral muito grande e uma
posição política muito sólida.
[...] Os próximos dias vão ser tensos dentro dos
Estados Unidos e fora dele começaram a emitir opiniões não se sabe quantas
pessoas.
[...] Lhes sugeriríamos àqueles que dirigem o poderoso
império que sejam serenos, que tentem agir com equanimidade, que não se deixem
arrastar por impulsos de ira ou de ódio, nem se lancem a caçar pessoas lançando
bombas pro todo o lado.
Reitero que nenhum dos problemas do mundo, nem o do
terrorismo, podem ser resolvidos pela força, e cada ação de força, cada ação
disparatada do uso da força, em qualquer parte, agravaria seriamente os
problemas do mundo.
O caminho não é a força, nem a guerra. Digo-o aqui com
toda a autoridade de ter falado sempre com honradez, possuir convicções sólidas
e a experiência de ter vivido os anos de luta que Cuba tem vivido. Só a razão,
a política inteligente de procurar a força do consenso e a opinião pública
internacional pode arrancar de vez o problema. Julgo que este fato tão insólito
deveria servir para criar a luta internacional contra o terrorismo, mas a luta
internacional contra o terrorismo não se resolve eliminando um terrorista por
aqui e outro lá, usando métodos semelhantes e sacrificando vidas inocentes.
Resolve-se pondo termo, entre outras coisas, ao terrorismo de Estado e outras
formas repulsivas de matar (Aplausos); pondo termo aos genocídios, seguindo
lealmente uma política de paz e de respeito pelas normas morais e legais que
são ineludíveis. O mundo não tem salvação se não segue uma linha de paz e de
cooperação internacional.
[...] Nós temos demonstrado que podemos sobreviver,
viver e progressar, e tudo o que cá se mostra hoje é uma expressão de um
progresso sem paralelo na história (Aplausos). Não se progressa apenas
produzindo automóveis, progressa-se desenvolvendo inteligências, administrando
conhecimentos, criando cultura, atendendo aos seres humanos como eles devem ser
atendidos, que é o segredo da enorme força de nossa Revolução.
Não tem salvação o mundo por outras vias, e estou me
referindo neste caso às situações de violência. Procure-se a paz em todas
partes para proteger a todos os povos contra essa praga do terrorismo, que é
uma das pragas, porque hoje há outra terrível praga que se chama, por exemplo,
AIDS; há outra praga terrível que mata a dezenas de milhões de crianças,
adolescentes e pessoas no mundo por fome, doenças e por falta de assistência e
medicamentos.
No terreno político há idéias absolutistas, pensamento
único que se lhe trata de impor ao mundo, e promovem rebeldias e irritações por
todas partes.
Este mundo não se salva –e isto não tem nada a ver com
o terrorismo- se continua se desenvolvendo ou se aplicando esta ordem econômica
e social injusta que conduz ao mundo para a catástrofe, para um caminho do qual
não poderiam fugir os 6 200 milhões nem os futuros filhos dos habitantes que
hoje tem este planeta, que está sendo cada vez mais destruído e conduzido à
pobreza, ao desemprego, à fome e ao desespero. Isso o demonstram as massas nos
diversos lugares já históricos como Seattle, Quebec, Washington, Génova.
As lideranças mais poderosas da economia e da política
mundial já quase não podem se reunir; as pessoas cada vez têm menos medo, estão
se sublevando, o que pode ser constatado em todas partes. Há pouco estive em
Durban, e ali vi milhares de pessoas pertencentes às Organizações Não
Governamentais; vê-se crescer como a escuma o descontentamento no mundo. [...]
Quão enorme diferença entre a conduta do governo de
Cuba e a do governo dos Estados Unidos! A Revolução, que se baseia na verdade,
e o império, que se baseia na mentira!
Fidel Castro Ruz
Setembro 11 de 2007
17h25