REFLEXÕES DO COMANDANTE-EM-CHEFE
MENTIRAS
DELIBERADAS, MORTES ESTRANHAS E AGRESSÃO À ECONOMIA MUNDIAL
Numa reflexão falei de barras de ouro
depositadas nos sótãos das Torres Gêmeas. Nesta ocasião o tema é ainda mais
complexo e difícil de crer. Há quase quatro décadas cientistas residentes nos
Estados Unidos descobriram a Internet, da mesma maneira que Albert Einstein,
nascido na Alemanha, descobriu em seu tempo a fórmula para medir a energia
atômica.
Einstein foi um grande cientista e
humanista. Contradisse as leis físicas, até esse momento sagradas, de Newton.
Contudo, as maçãs continuaram caindo em virtude da lei da gravidade definida
por ele. Eram duas formas diferentes de observar e de interpretar a natureza,
da qual se tinham muito poucos dados nos dias de Newton. Lembro-me do que li há
mais de 50 anos sobre a famosa teoria da relatividade elaborada por Einstein: a
energia é igual à massa multiplicada pelo quadrado da velocidade da luz, que é
denominada C: E=MC2.
Existia o dinheiro dos Estados Unidos e os
recursos necessários para realizar tão custosa pesquisa. O tempo político
devido ao ódio generalizado pelas brutalidades do nazismo na nação mais rica e
produtiva dum mundo destruído pela contenda, converteu aquela fabulosa energia
em bombas que foram atiradas sobre as populações indefesas de Hiroshima e
Nagasaki, ocasionando-lhes centenas de milhares de mortos e um número similar
de pessoas irradiadas que morreram no transcurso dos anos posteriores.
Um exemplo claro do uso da ciência e da
tecnologia com os mesmos fins hegemônicos é descrito num artigo do ex-oficial
da Segurança Nacional dos Estados Unidos Gus W. Weiss, que apareceu pela
primeira vez na revista Studies in
Intellligence, em 1966, embora com real difusão no ano 2002, intitulado Enganando os soviéticos. Nele Weiss
atribuísse a idéia de que a URSS recebesse os softwares que necessitava para
sua indústria, mas já contaminados com objetivo de fazer com que colapsasse a
economia daquele país.
Segundo as notas tiradas do capítulo 17 do
livro A beira do abismo: Histórias da
guerra fria contadas desde adentro, de Thomas C. Reed, ex-secretário da Força
Aérea dos Estados Unidos, Leonid Brezhnev disse a um grupo de altos
funcionários do Partido em 1972: “Nós os comunistas temos que continuar arando
com os capitalistas durante algum tempo. Necessitamos seus créditos, sua
agricultura e sua tecnologia; contudo vamos continuar grandes programas
militares, e para meados dos 80 estaremos em condição de voltar a uma política
exterior agressiva, desenhada a ter vantagem sobre o Oeste”. Esta informação
foi confirmada pelo Departamento de Defesa em audiências perante o Comitê da
Câmara sobre a Banca e a Moeda em 1974.
No início dos anos 70 o governo de Nixon
colocou a idéia da distensão. Henry Kissinger tinha a esperança de que “com o
decurso do tempo, o comércio e os investimentos pudessem reduzir a tendência do
sistema soviético à autarquia”, ele considerava que a distensão poderia
“convidar à gradual associação da economia soviética com a economia mundial e dessa
maneira fomentar a interdependência que acrescenta um elemento de estabilidade
à relação política”.
Reagan inclinava-se a ignorar as teorias de
Kissinger sobre a distensão e a tomar ao pé da letra as palavras do presidente
Brezhnev, mas todas as dúvidas foram eliminadas em 19 de julho de 1981, quando
o novo presidente dos Estados Unidos se reuniu com o presidente da França,
François Mitterrand, na cúpula econômica do G-7 realizada
O dossiê, sob o nome de Farewell, chegou à CIA em agosto de 1981. Deixava esclarecido que
os soviéticos havia muitos anos vinham realizando suas atividades de
investigação e desenvolvimento. Devido à enorme transferência de tecnologia em
radares, computadores, máquinas-ferramenta e semicondutores dos Estados Unidos
à União Soviética, poder-se-ia dizer que o Pentágono estava numa corrida
armamentista consigo mesmo.
O Dossiê
Farewell também identificava centenas de oficiais de casos, agentes em seus
postos e mais outros fornecedores de informação através de Ocidente e do Japão.
Durante os primeiros anos da distensão, os Estados Unidos e a União Soviética
estabeleceram grupos de trabalho na agricultura, aviação civil, energia
nuclear, oceanografia, computadores e meio ambiente. O objetivo era começar a
constituir “pontes de paz” entre as superpotências. Os membros dos grupos de
trabalho deviam trocar visitas a seus centros.
Além da identificação de agentes, a
informação mais útil aportada pelo Dossiê
era a “lista de compras” e seus objetivos a respeito da aquisição de tecnologia
nos anos vindouros. Quando o Dossiê Farewell
chegou a Washington, Reagan pediu ao Diretor da CIA, Bill Casey, que ideasse um
uso operativo clandestino do material.
A produção e transporte de petróleo e gás
era uma das prioridades soviéticas. Um novo gasoduto transiberiano devia levar
gás natural das jazidas de gás de Urengoi na Sibéria através do Cazaquistão, da
Rússia e da Europa oriental até os mercados de divisas de Ocidente. Para
automatizar a operação de válvulas, compressores e instalações de armazenagem
numa empresa tão imensa, os soviéticos precisavam de sistemas de controle
sofisticados. Compraram computadores dos primeiros modelos no mercado aberto,
mas quando as autoridades do gasoduto solicitaram aos Estados Unidos a
possibilidade de adquirir o software necessário, foram rejeitados. Denodados,
os soviéticos buscaram numa outra parte; um operativo da KGB foi encarregado de
penetrar um fornecedor canadense de softwares numa tentativa para adquirir os
códigos necessários. A inteligência estadunidense, avisada pelo agente do Dossiê
Farewell, respondeu e manipulou o software antes de enviá-lo.
Uma vez na União Soviética, os computadores
e o software, trabalhando juntos, faziam com que o gasoduto funcionasse de
maravilhas. Contudo, essa tranqüilidade era enganosa. No software que operava o
gasoduto havia um cavalo de Tróia, termo que é usado para qualificar linhas de
software ocultas no sistema operativo normal, as quais fazem com que esse
sistema se descontrole no futuro, ao receber uma ordem do exterior.
Com o objetivo de afetar os ganhos de
divisas vindos de Ocidente e a economia interna da Rússia, o software do
gasoduto que devia operar as bombas, as turbinas e as válvulas foi programado
para que ficasse estragado após certo intervalo de tempo, e resetar — assim é qualificado — as velocidades das
bombas e os ajustes das válvulas para fazendo com que funcionassem a pressões
maiores das aceitáveis para as juntas e soldaduras do gasoduto.
“O resultado foi a mais colossal explosão
não nuclear e incêndio jamais vistos desde o espaço. Na Casa Branca,
funcionários e assessores receberam a advertência de satélites infravermelhos
dum estranho evento no meio dum lugar despovoado do território soviético. O
NORAD (Comando de Defesa Aeroespacial Norte-americano) temia que fosse o
lançamento de mísseis desde um lugar onde não se conhecia que houvessem mísseis
instalados; ou talvez fosse a detonação dum dispositivo nuclear. Os satélites
não tinham detectado nenhuma pulsação eletromagnética característica das
detonações nucleares. Antes de que tais indícios pudessem se converter numa
crise internacional, Gus Weiss chegou através de um corredor para dizer a seus
colegas do CSN (Conselho de Segurança Nacional) que não se preocuparam com
isso, afirma Thomas Reed em seu livro”
A campanha de contramedidas baseadas no
Dossiê Farewell foi uma guerra econômica. Embora não houver baixas pessoais
devido à explosão do gasoduto, houve dano significativo para a economia
soviética.
Como grande final entre 1984 e 1985 os
Estados Unidos e seus aliados da NATO concluíram esta operação, que terminou
eficazmente com a capacidade da URSS para captar tecnologia num momento
No artigo de Weiss já citado afirma-se que:
“em 1985, o caso teve um giro singular quando foi divulgada a informação sobre
o dossiê Farewell na França. Mitterrand chegou a suspeitar que o agente
soviético fosse uma montagem da CIA para pô-lo à prova e decidir se o material
seria entregue aos estadunidenses ou continuaria com os franceses. Atuando a
partir dessa idéia, Mitterrand dispensou o chefe do serviço francês, Yves
Bonnet”.
Gus W. Weiss se atribuiu como já foi dito, o
sinistro plano para fazer com que chegassem à URSS os softwares defeituosos,
quando os Estados Unidos tiveram em seu poder o Dossiê Farewell. Morreu em 25 de novembro de 2003, com 72 anos. O Washington Post não divulgou a sua morte
até o 7 de dezembro, após 12 dias. Disse que Weiss “caiu” de seu edifício de
residência, “Watergate”, em Washington, e afirmou também que um médico forense
da capital norte-americana declarou sua morte como um “suicídio”. O jornal de
sua cidade natal, o Nashville Tennessean,
publicou a noticia uma semana depois do Washington Post, e advertiu que nessa
data todo o que poderiam dizer era que “as circunstancias que rodearam sua
morte ainda não podiam ser confirmadas”.
Antes de morrer deixou escritas umas notas
inéditas intituladas “O dossiê de despedida: o engano estratégico e a guerra
econômica na guerra fria”.
Weiss formou-se na Vanderbit University. Fez
cursos de pós-graduação em Harvard e na New York University.
Seu trabalho para o governo teve como centro
os assuntos de Segurança Nacional, organizações de Inteligência e preocupações
com o traslado de tecnologia a países comunistas. Trabalhou com a CIA, com a
Junta de Defesa Científica do Pentágono e com o Comitê de Sinais de
Inteligência da Junta de Inteligência dos Estados Unidos.
Recebeu a Medalha de Mérito da CIA e a
Medalha “Cipher”, do Conselho de Segurança Nacional. Os franceses
concederam-lhe a “Legião de Honra”, em 1975.
Não deixou descendência.
Weiss declarou-se contra a guerra no Iraque
pouco antes de seu “suicídio”. É interessante levar em conta que 18 dias antes
de morrer Weiss, também se suicidou — em 7 de novembro de 2003 — outro analista
do governo de Bush, John J. Kokal (58 anos).
Ele foi à procura de sua morte, pulando desde seu escritório no
Departamento de Estado onde trabalhava. Kokal era analista de Inteligência para
o Departamento de Estado em assuntos relacionados com o Iraque.
Consta em documentos já publicados que Mikhail
Gorbachov enfureceu quando começaram as detenções e deportações de agentes
soviéticos em vários países, visto que desconhecia que o conteúdo do Dossiê Farewell estava em poder dos
principais chefes de governo da NATO. Numa reunião do Bureau Político realizada
em 22 de outubro de 1986, convocada para informar os seus colegas sobre a
Cúpula de Reykjavik, expressou que os estadunidenses estavam “atuando grosseiramente
e comportando-se como bandidos”. Embora mostrasse um rosto complacente em
público,
Nos últimos dias da União Soviética, o
Secretário Geral do PCUS teve que caminhar às cegas. Gorbachov nem tinha idéia
do que estava a acontecer nos laboratórios e indústrias de alta tecnologia dos
Estados Unidos; ignorava por completo que os laboratórios e as indústrias
soviéticas tinham sido comprometidos e até que ponto.
Os pragmáticos da Casa Branca caminhavam
igualmente às cegas, entretanto isto acontecia.
O Presidente Ronald Reagan apostava sua
carta de triunfo: a Iniciativa de Defesa Estratégica/Guerra das Galáxias. Sabia
que os soviéticos não podiam competir nessa liga, porque não podiam suspeitar
que sua indústria eletrônica estivesse infectada com vírus e cavalos de Tróia
colocados ali pela comunidade de Inteligência dos Estados Unidos.
A ex-Primeira-Ministra britânica, em suas
memórias, publicadas por uma importante casa editora inglesa em 1993
intituladas Margaret Thatcher, os anos
No capítulo XVI de seu livro explica a
participação de seu governo na Iniciativa de Defesa Estratégica.
Levá-la a cabo foi, segundo a Thatcher, a
“decisão mais importante” de Reagan, “provou ser a chave na vitória do Oeste na
guerra fria”, Impôs “mais tensões econômicas e maior austeridade” à sociedade
soviética, em fim, suas “implicações tecnológicas e financeiras para a URSS
foram devastadoras”.
Sob o subtítulo “Reavaliação da União
Soviética”, descreve uma série de conceitos cuja essência está contida em
parágrafos textuais tirados dessa cumprida passagem, nos quais deixa constância
do brutal complot.
“Nos alvores de 1983, os soviéticos
começaram a dar-se conta de que seu jogo de manipulação e intimidação acabaria
“[...] não tinha a menor dúvida do correto
de sua dedicação em insistir no programa. Fazendo uma análise retrospectiva,
agora para mim fica claro que a decisão original de Ronald Reagan a respeito da
Iniciativa de Defesa Estratégica foi a mais importante de sua presidência.”
“Ao formular nosso enfoque à Iniciativa de
Defesa Estratégica, havia quatro elementos diferentes que tive
“O objetivo dos Estados Unidos na Iniciativa
de Defesa Estratégica era desenvolver uma defesa nova e ainda mais eficaz
contra os mísseis balísticos.”
“Este conceito de defesa baseava-se na
capacidade de atacar os mísseis balísticos lançados em qualquer etapa de seu
vôo, desde a fase de impulsão quando o míssil e todas suas ogivas e iscas
estavam juntos, até o ponto de reentrada na atmosfera terrestre em seu caminho
ao alvo.”
“O segundo elemento que se deveria ter em
conta eram os acordos internacionais existentes, que limitavam o desdobramento
de armas no espaço e os sistemas de projéteis antibalísticos. O Tratado sobre
Limitação dos Sistemas de Projéteis Antibalísticos, de 1972, emendado por um
Protocolo de 1974, permitia os Estados Unidos e a União Soviética estabelecer
um sistema de projéteis antibalísticos estático com até cem lança-mísseis para
defender seu campo de silos de mísseis balísticos intercontinentais.”
“O Escritório de Relações Exteriores e o
Ministério de Defesa britânicos sempre tentaram insistir na interpretação mais
estreita possível que os estadunidenses — acertadamente, segundo a minha
opinião — creram que teria significado que a Iniciativa de Defesa Estratégica
tinha morrido ao nascer. Sempre tenho tratado de me distanciar desta
fraseologia e deixei claro em privado e em público que não podia dizer-se que
se tinha completado a investigação a respeito de se um sistema era viável até que fosse ensaiado com
sucesso. Subjacente nesta gíria, este ponto segundo parece técnico era
realmente uma questão de evidente sentido comum. Não obstante, se converteria
na questão que dividiu os Estados Unidos e a URSS na cúpula de Reykajavik, por
isso ganhou grande importância.
“O terceiro elemento no cálculo foi a força
relativa das duas partes na defesa contra projéteis balísticos. Só a União
Soviética possuía um sistema de projéteis antibalísticos (conhecido como
GALOSH) nas cercanias de Moscou, que nesses momentos estavam aperfeiçoando. Os
estadunidenses jamais tinham instalado um sistema equivalente.”
“Os soviéticos também estavam mais avançados
nas armas anti-satélites. Por conseguinte, havia um argumento forte de que os
soviéticos já tinham adquirido uma vantagem inaceitável em toda esta esfera.
“O quarto elemento era o que implicava a
Iniciativa de Defesa Estratégica para a dissuasão. Ao princípio senti bastante
simpatia pela filosofia após o Tratado sobre a Limitação dos sistemas de Projéteis
antibalísiticos, que era que enquanto mais ultramoderna e efetiva fosse a
defesa contra os mísseis nucleares, major pressão havia para procurar avanços
enormemente custosos na tecnologia para as armas nucleares. Sempre acreditei
numa versão com ligeiras condições da doutrina conhecida como ‘destruição
recíproca segura’, MAD por suas siglas
“Reparei rapidamente em que a Iniciativa de
Defesa Estratégica não socavaria a dissuasão nuclear, mas sim a fortaleceria.
Contrário ao Presidente Reagan e a outros membros de sua Administração, jamais
acreditei que a Iniciativa de Defesa Estratégica poderia oferecer uma proteção
cem por cento, mas permitiria que suficientes mísseis dos Estados Unidos
sobrevivessem a um primeiro golpe dos soviéticos.”
“O tema da Iniciativa de Defesa Estratégica
foi o que dominou minhas conversas com o presidente Reagan e com os membros de
sua Administração quando fui a Camp David o sábado 22 de dezembro de 1984 para
informar aos estadunidenses sobre as minhas conversas prévias com o senhor
Gorbachov. Essa foi a primeira vez que ouvi ao presidente Reagan falar sobre a
Iniciativa de Defesa Estratégica. Falou disso apaixonadamente. Estava em seu
ponto mais idealista. Destacou que a Iniciativa de Defesa Estratégica seria um
sistema defensivo e que não era a sua intenção obter para os Estados Unidos uma
vantagem unilateral. E tem mais, disse que se a Iniciativa de Defesa
Estratégica tivesse êxito estaria disposto a internacionalizá-la de maneira que
estivesse ao serviço de todos os países, e lhe disse o mesmo ao senhor Gromyko.
Reafirmou o seu objetivo a longo prazo de eliminar totalmente as armas
nucleares.
“Essas observações fizeram com que eu
ficasse nervosa. Horrorizava-me pensar que os Estados Unidos estivessem
dispostos a desfazer-se inconsideradamente da vantagem tão arduamente ganhada
no que se refere à tecnologia ao pô-la a disposição de todo o mundo.”
“O que escutei, agora que chegávamos à
discussão das probabilidades reais mais do que uma concepção ampla, era
tranqüilizador. O presidente Reagan não simulava que eles ainda soubessem para
onde poderiam conduzir as investigações. Mas, salientou que – além de seus
argumentos anteriores em favor da Iniciativa de Defesa Estratégica – seguir o
ritmo aos Estados Unidos imporia uma pressão econômica à União Soviética.
Argumentou que não existia um limite prático sobre até onde o governo soviético
poderia arrastar a seu povo pelo caminho da austeridade."
“Agora eu anotava, enquanto conversava com o
assessor para a Segurança Nacional Bud McFarlane, os quatro pontos que eu
achava os mais cruciais.
“Meus funcionários depois introduziriam os
detalhes. O Presidente e eu acordamos um texto onde se expunha a política.
“A seção principal de minha declaração
exprime:
“Falei
ao Presidente acerca de minha firme convicção de que o programa de
investigações da Iniciativa de Defesa Estratégica devia continuar. A
investigação, evidentemente, é permitida segundo os tratados existentes entre
os Estados Unidos e a União Soviética; e, claro, sabemos que os russos já têm o
seu programa de investigações e, na opinião dos Estados Unidos, eles já foram
além das investigações. Concordamos em quatro pontos: 1. O objetivo dos Estados
Unidos, de Ocidente, não era conseguir a superioridade, senão manter o
equilíbrio, levando em conta os avanços soviéticos; 2. O desdobramento
relacionado com a Iniciativa de Defesa Estratégica, em vista das obrigações que
impunham os tratados teria que ser uma questão para a negociação; 3. O objetivo
geral é aumentar, não socavar, dissuasão;
“Depois, eu soube que George Schultz -então
Secretário de Estado- pensava que eu tinha garantido uma concessão
exageradamente grande por parte dos americanos na redação; mas, isso, de fato,
dava-nos -tanto a eles quanto a nós- uma linha clara e defendível, e ajudava a
tranqüilizar os membros europeus da NATO: Um dia de trabalho muito
proveitoso."
Mais adiante, com o subtítulo de “Visita a
Washington: fevereiro de
“Visitei Washington novamente em fevereiro
de 1985. As negociações sobre armamentos entre os americanos e a União
Soviética tinham-se reiniciado já, mas a Iniciativa de Defesa Estratégica
continuava a ser uma fonte de discussão. Eu devia falar perante uma reunião
conjunta do Congresso durante a manhã da quarta-feira 20 de fevereiro e levei
comigo desde Londres como presente uma estatua de bronze de Winston Churchill,
quem muitos anos antes foi honrado com esse convite. Trabalhei de maneira
especialmente árdua neste discurso. Utilizaria o teleprompter para
proferí-lo. Sabia que o Congresso tinha visto o próprio ‘Grande Comunicador’
proferindo discursos perfeitos e eu
teria um auditório exigente. De maneira que decidi praticar a leitura do texto
até conseguir proferi-lo com a entonação e a ênfase corretas. Falar a partir do
teleprompter, devo acrescentar, é uma
técnica totalmente diferente a falar a partir de notas. De fato, o presidente
Reagan me emprestou o seu próprio teleprompter
e eu o levei de volta à Embaixada britânica, onde eu estava alojada. Harvey
Thomas, quem me acompanhava, o conseguiu e, sem levar em conta qualquer
diferença horária, pratiquei até as 4h:00 da manhã. Não me deitei, começando o
novo dia de trabalho com o meu acostumado café preto e as minhas pílulas de
vitaminas; depois concedi entrevistas
televisivas a partir das 6h:45 da manhã; passei pelo cabeleireiro e
estive pronta às 10h:30 para partir para o Capitólio. Utilizei o meu discurso
que abordava extensamente os assuntos internacionais, para dar um forte apoio à
Iniciativa de Defesa Estratégica. Tive uma acolhida fabulosa."
“No mês subseqüente (março de 1985) morreu o
senhor Chernenko e notavelmente, sem muita demora, a sucessão do senhor
Gorbachov na direção da União Soviética. Mas uma vez assisti a um funeral em
Moscou: o tempo estava, incluso, mais frio do que no funeral de Yuri
Andrópov. O senhor Gorbachov tinha que
atender a uma grande quantidade de dignitários estrangeiros. Mas, tive uma
conversa de quase uma hora com ele essa tarde no Salão de Santa Catalina do
Kremlin. A atmosfera era mais formal do que em Chequers (residência rural
oficial dos Primeiros Ministros britânicos desde 1921), e a presença calada,
sardônica, do senhor Gromyko não ajudava. Mas pude explicar-lhes as implicações
da política que eu acordara com o presidente Reagan no mês de dezembro anterior
“As relações da Grã Bretanha com a União
Soviética entraram num claro período de frialdade como resultado das expulsões
que eu autorizei de funcionários soviéticos que realizaram atos de
espionagem."
“Em novembro, o presidente Reagan e o senhor
Gorbachov celebraram sua primeira reunião
“Durante 1986 o senhor Gorbachov demonstrou
grande sutileza em explorar a opinião pública ocidental ao apresentar propostas
tentadoras, mas inaceitáveis, sobre o controle de armamentos. Os soviéticos
falaram relativamente pouco sobre o vínculo entre a Iniciativa de Defesa
Estratégica e a redução das armas nucleares. Mas, não lhes foram dados motivos
para considerar que os americanos estavam dispostos a suspender ou deter as investigações
referentes à Iniciativa de Defesa Estratégica. No fim desse ano acordou-se que
o presidente Reagan e o senhor Gorbachov –com seus Ministros das Relações
Exteriores- dever-se-iam reunir em Reykjavik, Islândia, para discutir ofertas
importantes."
“O fato era que nós não podíamos deter a
investigação sobre novos tipos de armas. Tínhamos que ser os primeiros em
obtê-las. É impossível deter a ciência: não se deterá por ser ignorada.”
“Em retrospectiva, pode-se considerar que a
Cúpula de Reykjavik esse fim de semana nos dias 11 e 12 de outubro [de 1986]
teve uma grande significação totalmente diferente à que foi atribuída pela
maioria dos comentaristas naquela altura. Foi preparada uma armadilha aos
americanos. Concessões soviéticas cada vez maiores fizeram-se durante a Cúpula:
concordaram pela primeira vez que os elementos de dissuasão britânicos e
franceses fossem excluídos das negociações sobre as forças nucleares de alcance
intermediário; e que as reduções nas armas nucleares estratégicas deviam deixar
a cada bando com quantidades iguais – e não apenas uma redução percentual, que
tinha deixado os soviéticos com uma clara vantagem. Também fizeram concessões
significativas no que diz respeito às cifras referentes às forças nucleares de
alcance intermediário. Quando a Cúpula aproximava-se a seu fim, o presidente
Reagan propôs um acordo mediante o qual todo o arsenal de armas nucleares
estratégicas -bombardeiros, mísseis de Cruzeiro e balísticos de longa
distância- reduzir-se-ia à metade num prazo de cinco anos e as mais poderosas
destas armas, os mísseis balísticos estratégicos, seriam eliminados num prazo
de dez anos. O senhor Gorbachov era ainda mais ambicioso: queria que se
eliminassem todas as armas nucleares estratégicas ao concluir o período de dez
anos.
“Mas, então de repente, no mesmíssimo fim,
acionou-se a armadilha. O presidente Reagan concedeu que durante o período de
dez anos ambos os bandos acordariam não se retirar do Tratado sobre a Limitação
dos Sistemas de Projéteis Antibalísticos, embora se permitisse o
desenvolvimento e os ensaios compatíveis com o Tratado."
Mas, Reagan sofreu uma estranha amnésia em
torno ao detonante da brutal concorrência militar que se lhe impôs à URSS, com
um extraordinário custo econômico. Seu publicitado diário não menciona
absolutamente nada do Dossiê Farewell. Em seus apontamentos do dia-a-dia, publicados
este ano, Ronald Reagan, falando sobre a sua estada em Montebello, no Canadá,
exprime:
“Domingo, 19 de julho (1981)
“O hotel é uma maravilhosa obra de engenharia,
feita totalmente de troncos. A maior cabana de troncos do mundo.
“Tive um cara a cara com o Chanceler Schmidt
(Chefe do governo alemão). Na verdade, estava deprimido e de um humor
pessimista sobre o mundo.
“Depois me reuni com o presidente Mitterrand,
lhe expliquei o nosso programa econômico e que não tínhamos nada a ver com as
altas taxas de juros.
“Essa noite apenas jantamos nós 8. Os 7
chefes de Estado e o Presidente da Comunidade Européia. Na verdade, tornou-se
numa conversa informal sobre questões econômicas devido fundamentalmente a uma
sugestão da Primeira Ministra Thatcher."
O resultado final da grande conspiração
contra a União Soviética e a aloucada e custosa carreira armamentista quando a
União Soviética estava ferida de morte na ordem econômica, é narrado na
introdução ao livro de Thomas C. Reed, George H. W. Bush, o primeiro Presidente
da dinastia Bush, quem participou realmente na Segunda Guerra Mundial, ao
escrever textualmente:
“A guerra fria foi uma luta em favor da
mesmíssima alma da humanidade. Foi uma luta em favor de um modo de vida
definido pela liberdade por um lado e pela repressão pelo outro. Considero que
já esquecemos quão longa e dura foi essa luta, e quão próximos estivemos por
vezes do desastre nuclear. O fato de que este não acontecera dá fé dos
honoráveis homens e mulheres de ambas as partes que mantiveram a sua serenidade
e fizeram o certo –segundo o seu critério- nos momentos de crise.
“Este conflito entre as superpotências que
sobreviveram à Segunda Guerra Mundial começou quando eu regressava à casa da
guerra. Em 1948, o ano da minha graduação na Universidade de Yale, os
soviéticos tentaram cortar o acesso de Ocidente para Berlim. Esse bloqueio
conduziu à criação da NATO, foi seguido da primeira prova soviética da bomba
atômica e tornou-se sangrento com a invasão à Coréia do Sul. Depois disto,
vieram quatro décadas de enfrentamentos nucleares, guerras onde cada
superpotência apoiava ao bando contrário e privações econômicas.
“Eu tive o privilégio de ser o presidente
dos Estados Unidos quando tudo isso acabou. No outono de 1989 os estados
satélites começaram a se liberar e revoluções maiormente pacíficas se
estenderam por Polônia, Hungria,
Tchecoslováquia e România. Quando caiu o muro de Berlim, sabíamos que o fim
estava próximo.
“Teriam que transcorrer ainda dois anos para
que acabasse o império de Lenine e Stalin. Eu recebi a boa notícia mediante
duas ligações telefônicas. A primeira chegou-me no dia 8 de dezembro de 1991,
quando Boris Yeltsin ligou para mim desde um pavilhão de caça perto de Brest na
Belarus. Tendo sido recentemente eleito presidente da República russa, Yeltsin
reuniu-se com Leonid Kravchuk, da Ucrânia e com Stanislav Shushchevik,
presidente da Belarus.
‘Hoje ocorreu um acontecimento muito
importante em nosso país’, disse Yeltsin. ‘Quis informar-lhe eu mesmo antes do
que o conhece-se pela imprensa. ’ Então me deu a notícia: os presidentes da
Rússia, Belarus e a Ucrânia decidiram dissolver a União Soviética.
“Duas semanas mais tarde, uma segunda
ligação telefônica confirmou que a antiga União Soviética desapareceria.
Mikhail Gorbachov me contatou
Consta, num artigo publicado
Sobre o tema também se fala em outro livro
intitulado Legado de Cinza, que foi
publicado recentemente. Na orelha do livro exprime-se que “Tim Weiner é um
repórter de The New York Times, quem
escreveu sobre os serviços de Inteligência estadunidenses durante vinte anos, e
obteve um Prêmio Pulitzer por seu trabalho sobre os programas secretos de
Segurança nacional. Viajou a Afeganistão e a outros países para investigar as
operações encobertas da CIA no lugar dos fatos. Este é seu terceiro livro.
“Legado
de Cinzas baseia-se em mais de 50 mil documentos, providos fundamentalmente
dos próprios arquivos da CIA, e centenas de entrevistas a veteranos dessa
agência, incluídos dez diretores. Mostra-nos um panorama da CIA desde a sua
criação após a Segunda Guerra Mundial, passando por suas batalhas durante a
guerra fria e a guerra contra o terrorismo iniciada no dia 11 de setembro de
O artigo de Jeremy Allison, publicado em Rebelión em junho de 2006, e os de Rosa
Miriam Elizalde, publicados nos dias 3 e 10 de setembro do presente ano, 2007,
denunciam estes fatos destacando a idéia de um dos fundadores do software
livre, quem salientou que: “à medida que as tecnologias se tornam mais complexas
será mais difícil detectar ações deste tipo".
Rosa Miriam publicou dos simples artigos de
opinião de só cinco páginas cada. Se o desejasse, pode escrever um livro de
muitas páginas. Lembro-me dela bem desde o dia em que, como jornalista muito
jovem, me perguntou ansiosa, nada menos que numa coletiva de imprensa há mais
de 15 anos, se eu pensava que poderíamos resistir o período especial que
afrontávamos com o desaparecimento do campo socialista.
A URSS derrubou-se estrepitosamente. Desde
então temos formado centenas de milhares de jovens no nível superior de ensino.
Que outra arma ideológica ainda nos resta, a dum nível superior de consciência!
A tivemos quando éramos um povo majoritariamente analfabeto ou semi-analfabeto.
Se o que se deseja é conhecer verdadeiras feras, deixem que no ser humano
prevaleçam os instintos. Sobre isso, se pode falar muito.
Atualmente, o mundo está ameaçado por uma
desoladora crise econômica. O governo dos Estados Unidos emprega recursos
econômicos inimagináveis para defender um direito que viola a soberania de
todos os outros países: continuar comprando com notas de papel as
matérias-primas, a energia, as indústrias de tecnologias avançadas, as terras
mais produtivas e os imóveis mais modernos de nosso planeta.
Fidel Castro Ruz
18 de setembro de 2007
18h:37