Reflexões do Comandante-em-Chefe
O
CANDIDATO REPUBLICANO
(Quarta
parte)
Quando
na anterior reflexão perguntei a McCain o quê pensava dos Cinco
Heróis antiterroristas cubanos, fi-lo porque tinha presente o que publicou
na página 206 do livro
Faith of My Fathers elaborado por ele e seu assistente Mark Salter:
“A
solidão é uma coisa horrível. Comprime teu espírito e enfraquece
tua resistência mais eficazmente que qualquer outra forma
de maltrato. Como não tens ninguém mais em quem confiar, com
quem partilhar confidências, a quem pedir conselho, começas a duvidar
sobre tuas convicções e a tua coragem. Mas, finalmente te acostumas à
solidão como ante qualquer dificuldade, formulando vários métodos
para manter teus problemas afastados da mente e aproveitar
desmedidamente qualquer oportunidade para ter contacto humano.”
“Quando
em 1970 o meu período de confinamento em solitário
finalmente concluiu, fui inundado pela compulsão de falar sem parar…”
Se for
um tema que a você lhe interessa, nos Estados Unidos há cinco
prisioneiros cubanos hoje, afastados um do outro por milhares
de quilómetros. Não têm nenhuma zona à qual pudessem qualificar
ironicamente como “Hanoi Hilton”.
Os seus sofrimentos e a injustiça de que são vítimas serão conhecidos pelo
mundo, não tenha a menor dúvida. Decidi reiterar o tema recordando que, nalguma
entre suas muitas declarações, você tentava localizar o lugar convertido em
prisão dos pilotos dos bombardeiros derrubados quando atacavam Vietnã.
Eu fui
alojado na antiga residência do Governador francês
As
pontes, sem excepção, ao longo do trajecto, visíveis desde o ar entre Hanoi e o
Sul, estavam efectivamente destruídas; as aldeias, arrasadas, e todos os
dias as granadas das bombas de racemo lançadas com esse fim, estouravam
nos campos de arroz onde crianças, mulheres e inclusive pessoas de
idade avançada trabalhavam produzindo alimentos.
Um
grande número de crateras se observavam em cada uma das entradas das pontes.
Nessa época não existiam as bombas guiadas por laser, muito mais precisas. Tive
que insistir para fazer aquele percurso. Os vietnamitas temiam que fosse vítima
de alguma aventura ianque se soubessem da minha presença naquela zona. Pham Van
Dong me acompanhou o tempo todo.
Sobrevoamos
a província de Nghe-An, onde nasceu Ho Chi Minh. Nessa província e a de Ha Tinh
morreram de fome em 1945, o último ano da Segunda Guerra Mundial, dois milhões
de vietnamitas. Aterramos
Naqueles dias
de Setembro, Allende tinha sido derrocado; o Palácio de Governo
foi atacado e muitos chilenos torturados e assassinados. O golpe
foi promovido e organizado desde Washington.
Infelizmente,
tudo aquilo aconteceu.
O
problema fundamental neste momento é saber se o candidato republicano McCain
está consciente da crise económica que, a curto prazo ou de imediato,
atravessarão os Estados Unidos. Apenas, desse ponto de vista será possível
avaliar qualquer candidato com possibilidades de ascender à chefia desse
poderoso país.
A
agência internacional de notícias IAR publicou há dois dias,
em 12 de Fevereiro, um artigo assinado por Manuel
Freytas, jornalista, pesquisador e analista, titulado “Porquê uma recessão
nos Estados Unidos pode se tornar numa crise global.”
Não precisa
muitos testemunhos para argumentá-lo.
“No actual
prognóstico sombrio da economia estadunidense ―escreve―
coincidem instituições chaves do actual sistema económico-financeiro como
a Receita Federal e o Tesouro dos Estados Unidos, o Banco
Mundial, o FMI, o G-7 (os sete países mais ricos) e
os bancos centrais da Europa e da Ásia, que
vêem na confluência crise
hipotecária ‑ derrubamento do dólar‑escalada dos preços
do petróleo, detonante
central potencial de um processo recessivo do capitalismo
a escala mundial.
“O
temor a uma recessão nos Estados Unidos e seu impacto
na economia mundial… têm impactado negativamente na confiança
da elite económica e política do sistema.
“O
chefe da Receita Federal dos Estados Unidos, Ben Bernanke, disse
que o seu país pode cair num processo recessivo e que encara o duplo
desafio de um mercado imobiliário em queda, e ao mesmo tempo a necessidade
de cuidar que a inflação não aumente pelos altos preços
do petróleo e dos alimentos.
“A
Organização das Nações Unidas advertiu em Janeiro, que existe um risco
elevado de cair numa recessão económica global…”
“Os
líderes das potências mais ricas e poderosas do mundo acabam
de advertir sobre uma recessão nos Estados Unidos com implicações
mundiais no Foro de Davos, realizado em Janeiro nos Alpes
suíços, augurando sombrios prognósticos para este ano.
“Os
ministros de Finanças e os bancos centrais dos sete países mais ricos
do mundo (G-7) estimaram no sábado passado que suas economias
iam sofrer uma desaceleração a curto prazo, segundo o comunicado final
de uma reunião em Tóquio...”
“Há
dois elementos chaves que explicam porquê uma crise recessiva
nos Estados Unidos se projectaria imediatamente a toda
a economia mundial, tanto nos países centrais como
nos ‘emergentes’ e nos ‘periféricos’.
“a)
No actual modelo globalizado de economia mundial, Estados Unidos é
o principal comprador e consumidor de produtos e recursos
energéticos, e representa 22,5 por cento da economia
mundial, segundo os últimos cálculos do Banco Mundial.
“b)
A economia mundial capitalista está ‘dolarizada’. O dólar é a moeda
padrão de todas as transacções comerciais e financeiras
a escala global.
“Esses
dois factores centrais explicam porquê qualquer oscilação ou desequilíbrio
económico-financeiro que tenham os Estados Unidos como protagonista,
impacta e se espalha imediatamente por todo o ‘sistema’.
“Uma crise
recessiva nos Estados Unidos… impactaria logo as bolsas e
os mercados globalizados do dinheiro… completando o ciclo do
derrubamento do actual modelo de economia capitalista a escala
global.
“O
derrubamento do modelo quebraria o equilíbrio
da ‘governabilidade’ política e desataria uma onda de conflitos
sociais e sindicais que afectaria por igual tanto os Estados
Unidos e as potências centrais como aos países ‘emergentes’.”
Ontem
13 de Fevereiro vários artigos de conhecidos jornalistas norte-americanos
apontavam na mesma direcção, embora a partir de diferentes pontos de apoio.
Citarei apenas dois, dos quais escolhi parágrafos que reflectem a actualidade e
importância do seu conteúdo, através de conceitos absolutamente acessíveis para
os níveis educacionais do nosso povo.
Sob o título “O modelo estadunidense é uma ideia à qual
lhe chegou a sua hora”, Amy Goodman, apresentadora de Democracy Now, noticiário internacional diário difundido por mais de 650 emissoras de
rádio e televisão nos Estados Unidos e no mundo, escreveu:
“Edward Kennedy, senador
democrata de Massachussetts, converteu-o num assunto pessoal: ‘O submarino seria uma forma
de tortura se o fizessem a você?’ ‘Sentiria que sim, respondeu
Mukasey (Procurador Geral). Ainda que esquivou perguntas antes e depois
da de Kennedy, sua resposta à pergunta pessoal soava autêntica.
“Nosso Procurador-geral
não deveria necessitar ser submetido ao submarino para saber que é uma forma de tortura.
“Suharto governou Indonésia
durante mais de 30 anos, após ter sido levado ao poder pelo país
mais poderoso do planeta, os Estados Unidos.
“Durante todo o regime
de Suharto, as administrações estadunidenses ―democratas
e republicanas― armaram, treinaram e financiaram o Exército
indonésio. Para além do milhão de indonésios assassinados, outras centenas de
milhares de pessoas também foram assassinadas durante a ocupação indonésia de
Timor-leste, um pequeno país a 480 quilómetros ao norte de Austrália.
“Em 12 de Novembro de 1991,
enquanto cobria uma marcha pacífica de timorenses em Dili, a capital de Timor,
o Exército de ocupação de Suharto abriu fogo contra a multidão matando 270
timorenses.
“Os soldados me chutaram com
suas botas e me golpearam com as culatras dos seus fuzis M-16, de fabrico
estadunidense. Fracturaram o crânio do meu colega Allan Nairn, que naquela
altura escrevia para a revista The New
Yorker.
“A organização Transparência
Internacional calculou que a fortuna de Suharto se colocava entre os
15 000 e os 35 000 milhões de dólares. O actual embaixador na
Indonésia, Cameron Hume, elogiou nesta semana a memória de Suharto, declarando:
‘O presidente Suharto esteve chefiando Indonésia durante mais de 30 anos,
um período durante o qual Indonésia alcançou um notável desenvolvimento
económico e social.’
“Ora se trate do submarino, de lançar uma guerra ilegal,
ou de reter centenas de prisioneiros sem cargos durante anos na baía de
Guantánamo ou em cárceres secretos da CIA em todo o mundo, isso me faz lembrar
as palavras de Mahatma Gandhi, um dos mais grandes líderes da não-violência no
mundo. O quê lhes importa aos mortos, aos órfãos e aos que perdem os seus
lares,’ perguntava, ‘se a destruição sem sentido se leva a cabo no nome do
totalitarismo ou no santo nome da liberdade ou da democracia?’
“Quando foi perguntado sobre o
quê pensava da civilização ocidental, Gandhi respondeu: ‘Acho que seria uma boa
ideia”
No mesmo dia,
“Os Estados Unidos dedicam
mais de 700 000 milhões de dólares anuais a despesas militares.
Destinam 506 900 milhões de dólares para o Departamento de
Defesa, ademais de 189 400 milhões de dólares em operações militares
no Iraque e no Afeganistão.
“O Congresso aprovou cerca de
700 000 milhões para as
guerras de Afeganistão e Iraque. Não inclui os custos sociais: perdas de
vidas, feridos, etcétera.
“Segundo alguns métodos de
cálculo, mais da metade do gasto federal discricional vai destinado já a fins
militares.
“A riqueza se está
concentrando de maneira vertiginosa.
“Em 1976, 1 por cento mais
rico da população recebia 8,83 por cento da receita nacional; em 2005, esta
percentagem era de 21,93 por cento.
“Na actual economia
hiper-financeira, são os gurus das finanças os que se estão tornando realmente
ricos, apesar das enormes perdas que está acumulando Wall Street.
“Nem sequer os bancos de
investimentos tradicionais podem pagar as escandalosas compensações que recebem
os gestores de fundos de capital privados, alguns dos quais conseguem mais de
1 000 milhões de dólares em apenas um ano. Graças a um estratagema fiscal,
esses indivíduos pagam uns impostos sobre suas rendas que equivalem a menos da
metade do que deve pagar um dentista que ingresse 200 000 dólares por
ano.
“As grandes corporações se
estão apoderando de uma maior parte da riqueza nacional.
“A borbulha imobiliária e o
colapso das hipotecas de alto risco (subprime)
estão expulsando milhões de famílias dos seus lares.
“O Centro para um
Endividamento Responsável considera que 2,2 milhões de empréstimos hipotecários
de alto risco concedidos durante os últimos anos findaram já em falência ou
acabarão em execução hipotecária. As perdas derivadas da queda de preços da
habitação podem atingir 2 milhões de milhões de dólares.
“A fenda de riqueza entre
brancos e negros não tem intenções de fechar-se, e de facto está se alargando.
“Os cidadãos estadunidenses de
origem africana apenas alcançarão a paridade com seus compatriotas brancos
dentro de 594 anos, segundo a associação United
for a Fair Economy. A catástrofe das hipotecas de alto risco se está
cevando especialmente nas comunidades minoritárias e está provocando o que United for a Fair Economy estima como o
maior empobrecimento da gente negra na moderna história dos Estados Unidos.
“Mais de um de cada seis
crianças vive na pobreza.
“Mais de 45 milhões de
pessoas não têm seguro de doença.
“O défice comercial
estadunidense atingiu em
“A eficiência energética hoje
é pior do que há duas décadas atrás.
“A infra-estrutura está
“Essa situação é pior ―nalguns
casos muito pior― que a começos do governo de George W. Bush, mas as suas
raízes se afundam na política bipartidária levada a cabo durante os três
decénios passados, favorável à desregulação, a entrega de activos públicos ás
empresas privadas (privatização), a globalização corporativa, o carácter hiper
financeiro da economia, umas despesas militares extravagantemente altas, as
reduções de impostos aos ricos e os recortes da rede de segurança social.”
Robert Weissman, autor do
artigo, é redactor-chefe do Multinational
Monitor, de Washington, D.C., e director de Essential Action.
Para não abusar dos leitores,
falta apenas a quinta parte.
Fidel Castro Ruz
14 de Fevereiro de 2008
20h:12