Mesa-redonda “Quem são os verdadeiros terroristas?”, realizada nos estúdios da Televisão Cubana, em 23 de maio de 2002, “Ano dos Heróis Prisioneiros do Império”
(Versões taquigráficas – Conselho de Estado)
Randy Alonso – Muito boa tarde, caros telespectadores e ouvintes.
O povo cubano sofreu, por mais de quatro décadas, a
agressão terrorista de sucessivos governos norte-americanos, que provocaram a
destruição e a morte em nossa pátria.
Continuamos, nesta tarde, nossa mesa-redonda “Quem são os verdadeiros terroristas?”. Acompanham-me, no painel, Reinaldo Taladrid, jornalista do Sistema Informativo da Televisão Cubana; Manuel Hevia, diretor do Centro de Pesquisas Históricas da Segurança do Estado; Rogelio Polanco, diretor do jornal Juventud Rebelde; Jorge Ovies, diretor do Instituto de Pesquisas de Saúde Vegetal; Arleen Rodríguez Derivet, editora da revista Tricontinental; José Luis Méndez, pesquisador também do Centro de Pesquisas Históricas da Segurança do Estado; Lázaro Barredo, jornalista do jornal Trabajadores; e Renato Recio, jornalista também do órgão de nossa Central de Trabalhadores de Cuba.
Acompanham-nos no estúdio, hoje, como convidados, trabalhadores do Grupo empresarial de cimento e vidro do MINBAS (Ministério da Indústria de Base), companheiros da Direção de Imigração do Ministério do Interior e representantes do Ministério da Informática e das Comunicações.
(Projetam-se breves imagens de atos terroristas contra Cuba.)
Como afirmava o editorial do jornal Granma do dia de ontem, o povo cubano está em uma grande batalha de idéias; demoliremos, uma a uma, as mentiras da administração norte-americana, que nas últimas semanas levantou os fantasmas do bioterrorismo, a acusação a Cuba de ser nação terrorista e também as ameaças do presidente Bush, em seus discursos de 20 de maio.
Nossa mesa-redonda de ontem, analisando a lista de Estados terroristas dos Estados Unidos, perguntava-se quem são os verdadeiros terroristas e começava uma enumeração das inumeráveis agressões e atos terroristas cometidos pelo governo dos Estados Unidos contra o povo de Cuba.
Analisávamos o ocorrido desde os primeiros momentos do ano de 1959; a invasão de Playa Girón, o primeiro revés na América latina para o imperialismo norte-americano; os bandos, que deixaram mais de 500 mortos e muita dor entre nosso povo, e outros numeroso planos que as administrações norte-americanas desenvolveram contra Cuba.
Terminou Girón, foi um grande fracasso para os governos norte-americanos, mas imediatamente lucubraram-se novos planos de agressões contra a Revolução Cubana. A Operação Mangosta foi um importante capítulo dessa permanente agressão contra Cuba, e um capítulo que, além disso, incluiu pérfidos pretextos para provocar uma agressão contra nosso país.
Proponho ao companheiro Manuel Hevia que nos recorde aquele capítulo da sinistra história terrorista dos governos norte-americanos contra Cuba.
Manuel Hevia – Obrigado, Randy, e muito boa tarde. A Operação Mangosta, do governo dos Estados Unidos, constituiu, sem dúvida nenhuma, um tema obscuro na história da comunidade de inteligência daquele país.
Mangosta ainda é considerada um assunto de segurança nacional ultra-secreto; muitos anos depois de sua suspensão oficial – a Operação Mangosta inicia-se no final de 1961, meses após a vitória de Girón, culminando no final de 1962 –, continua sendo uma passagem pouco conhecida da história do terrorismo das distintas administrações norte-americanas contra Cuba. Ainda hoje, depois de 40 anos, a carência de literatura ou de outros documentos sobre o real impacto que teve a Operação Mangosta em Cuba, leva a que alguns tentem minimizar ou desconhecer sua magnitude operativa, sua dimensão ou importância operacional, reduzindo-a, às vezes, a escassos fatos insignificantes relacionados com ações terroristas.
Na verdade, a Operação Mangosta foi um verdadeiro Girón em segredo, que submeteu o país a uma atividade subversiva nunca vista antes, por sua intensidade e agressividade, e que se estendeu, como dissemos, ao longo do ano de 1962 e uma parte do ano 1963.
Ontem recordávamos como na Conferência Girón, 40 anos depois, realizada no ano passado em nosso país, a que também compareceu um importante grupo de acadêmicos, pesquisadores norte-americanos e inclusive alguns assessores e ex-militares da administração norte-americana naqueles momentos, um ex-alto funcionário da CIA também presente, explicou com muita seriedade haver atuado na Operação Mangosta por ordens diretas do governo norte-americano.
A Operação Mangosta daquele governo é expressão de sua doutrina de ações encobertas e uma manifestação de sua política terrorista de Estado, que foi o núcleo central, como sabemos todos, de sua posição em relação a Cuba, desde o ano de 1959.
Nesse contexto político e histórico, devemos colocar a Mangosta, que não foi senão uma operação de terrorismo de Estado, patrocinada por seu próprio governo, orientada a desestabilizar a Cuba e criar condições para uma intervenção militar direta, quando ainda não havia passado um ano da vitória de Playa Girón.
Mangosta esteve inspirada no desejo de vingança do governo dos Estados Unidos, pelo descalabro sofrido em Girón; uma nova tentativa de fazer-nos pagar a primeira grande derrota do imperialismo ianque na América Latina; mas foi também um esforço para tratar de fortalecer seu aparato de inteligência e subversão contra Cuba, e a continuação dessa estratégia agressiva que vinha aplicando desde o próprio ano de 1959, como analisamos ontem nesta mesa. Por sua magnitude, foi o maior programa encoberto dos Estados Unidos na década de 60 no mundo, e seu objetivo central foi o de desencadear levantes de grupos contra-revolucionários dentro do país e uma suposta insurreição armada, que facilitasse a intervenção imediata das forças armadas norte-americanas.
É claro que soubemos dos propósitos dessa operação somente muitos anos depois. Todos sabemos que nenhuma operação encoberta, das muitas desenvolvidas pelo governo dos Estados Unidos,é anunciada pela imprensa nem em declarações públicas, mas que são feitas clandestinamente e através de métodos com esse caráter.
Como nossas autoridades a notaram? O ano de 1962 evidenciou, especificamente, uma intensa atividade subversiva contra Cuba, originada nos Estados Unidos; isso não era casual, nem espontâneo, multiplicavam-se – e isso se evidenciava a cada dia – os bandos de insurgentes e seus horríveis crimes; tratava-se de introduzir sub-repticiamente toneladas de explosivos e de armamentos por nossas costas; detinham-se numerosas infiltrações de grupos comandos provenientes dos Estados Unidos, que tentavam entrar no país; produziam-se ataques piratas de lanchas proveniente do norte; multiplicavam-se as redes de espiões recrutadas pelos órgãos de espionagem daquele país; detectávamos quase diariamente uma busca incessante de informação política, militar e econômica dos espiões que estavam sob controle dos órgãos da Segurança do Estado de nosso país; cresciam vertiginosamente os atos terroristas de sabotagem na produção açucareira e nos serviços; aumentavam os atos terroristas fora de Cuba contra representações cubanas ou de outras nações que comerciavam com nosso país, desafiando o bloqueio ianque; envolvia-nos uma intensa atividade de propaganda, proveniente de emissoras piratas em território norte-americano.
Todos esses desdobramentos indicavam-nos a presença de um projeto subversivo bem articulado e de consideráveis recursos econômicos, que foi necessário que nosso povo enfrentasse e liquidasse, durante o ano de 1962.
A Mangosta, companheiros, não foi suspensa pelo governo dos Estados Unidos depois da Crise de Outubro, isso é um erro histórico; a Mangosta foi liquidada como operação subversiva por nosso povo, ainda sem saber, naquele momento, o nome com que nossos inimigos a haviam batizado.
O que soubemos anos depois? Quem dirigiu a Mangosta? Como se organizou? No final de 1961, foi designado como coordenador da Operação Mangosta o general de aviação Edward Landsdale, um experiente oficial, especializado em contra-insurgência, que havia conseguido alguns “êxitos militares”, para chamar de alguma forma, na península da Indochina; mas, por sua importância política e também estratégica do mais alto nível, o controle dessa operação encoberta estaria a cargo de um grupo especial, à frente do qual apareceram o procurador geral Robert Kennedy e outros representantes de agências e departamentos do governo dos Estados Unidos, como o Departamento de Defesa, o Departamento de Estado, a USIA (Agência de Informação dos Estados Unidos) e, evidentemente, os serviços de inteligência daquele país.
Propôs-se, então, a utilização de todos os recursos disponíveis para facilitar a derrubada da Revolução, através de 33 tarefas de diferentes caracteres. A Operação Mangosta programou tarefas de caráter organizativo, de caráter político, de caráter de guerra econômica, operações psicológicas, espionagem e ações para uma eventual agressão que acabasse com a Revolução Cubana.
Tudo está registrado, companheiros, em documentos desclassificados pelos Estados Unidos, muitos anos depois.
Mangosta, que também seria conhecida como o Projeto Cuba, estabelecia diversos prazos para sua execução. Ou seja, com exatidão matemática, condenavam-nos a sermos liquidados mediante uma política aberta de terrorismo, executada em silêncio, na sombra, sem importar mortes, sem importar desgraças para o povo cubano.
Quais eram esses prazos de execução? Eles diziam:
– Março de 62, iniciam as operações.
– Abril e maio, fortalecem a atividade clandestina dentro do país – leia-se novos recrutamentos de grupos, a constituição de novas organizações contra-revolucionárias.
– Primeiro de agosto, eles falavam de pôr em marcha as ações. E a que ações se referiam? Referiam-se a atos terroristas de sabotagens, atentados, infiltrações.
– Agosto – setembro, incremento das ações.
– Outubro, revolta generalizada.
– Final de outubro, reconstrução do novo governo; é claro, um novo governo que conviesse aos interesses norte-americanos.
Ao longo de 1962, o governo dos Estados Unidos tinha como objetivo, no caso concreto de Mangosta – eu quero aqui ser o mais preciso, para que nosso povo tenha suficientes elementos de juízo que lhe permitam aquilatar o impacto dessa operação dentro de Cuba –, reestruturar as organizações contra-revolucionárias que ainda existiam no país. Todos sabemos que essas organizações praticamente haviam sido desarticuladas nos momentos de Playa Girón.
Outro objetivo, reativar os bandos de insurgentes em todas as províncias. Devo assinalar aqui que, na prática, ao longo daquele ano – e é evidência do trabalho realizado por aqueles serviços – registraram-se mais de 1.000 bandidos insurgentes, majoritariamente nos montes do Escambray e na província de Matanzas, ainda que, de fato, tenham existido bandidos em todas as províncias do país.
Esse banditismo, feroz e criminal, promovido precisamente pelos hierarcas de Washington, foi causador, apenas naquele ano, de 82 mortes de inocentes – que, é evidente, são responsabilidade direta da Operação Mangosta –, centenas de feridos ou mutilados, sem contar as dezenas de combatentes mortos, massacrados, muitas vezes, em emboscadas e pelas costas.
O banditismo em 1962, ao calor da Mangosta, foi responsável também por 30 casas de camponeses queimadas; 41 escolas rurais totalmente destruídas; 12 granjas do povo destruídas; 14 lojas do povo incendiadas, com outros 19 galpões e armazéns; 20 assaltos a meios públicos de transporte, que eram baleados – os bandos atuavam dessa maneira, ocultos nos matagais dos caminhos. Em muitas ocasiões, tratava-se de ônibus carregados de trabalhadores que iam ou regressavam de seu local de trabalho; esse tipo de ações covardes e más também tirava a vida de inocentes cidadãos comuns, trabalhadores, e inclusive casos de crianças; milhares de incêndios em áreas canavieiras. Foram tantos que realmente é difícil registrar a quantidade exata. Está claro que a ação de Mangosta não pode ser minimizada.
Outro dos objetivos, criar estruturas de espionagem próprias. A partir desse momento, determinaram que o ideal era criar redes de agentes que respondessem de forma direta, para poder pôr as redes em função desses interesses estratégicos. Para o desenvolvimento dessas redes de agentes, necessitava-se um instrumento que assegurasse adequadamente esse tipo de ação clandestina. A partir desse momento se fortalece a estação JM/WAVE, da CIA, na cidade de Miami. Essa estação foi a maior que a CIA teve no mundo na década dos 60. Para a execução dos planos da Mangosta, a estação JM/WAVE desempenharia um importante papel.
Os governo dos Estados Unidos disponibilizou para essa estação, que funciona aproximadamente até o ano de 1967, um orçamento anual de cerca de 500 milhões dólares.
Apenas em 1962, os órgãos de segurança cubanos operaram mais de 50 casos de espionagem e enfrentaram, no mínimo, umas 40 penetrações marítimas, com armas e explosivos, promovidas por aquele governo, tentando criar o terror e o caos interno, fatos que continuaram repetindo-se ao longo desses 40 anos, como se o fantasma da Mangosta ainda estivesse entre nós.
Outro propósito eram os atos terroristas de sabotagem. Registraram-se, nesse ano de 1962 – e é importante destacar isso – mais de 600 sabotagens contra objetivos econômicos importantes, de um total de 5.060 atos terroristas.
Mas isso não era tudo, não podiam faltar os planos para assassinar nosso Comandante-em-Chefe, os quais sempre foram prioridade da Operação Mangosta, como a mais cínica expressão da política norte-americana e que é, ao mesmo tempo, a demonstração mais evidente do fracasso de seus planos agressivos contra Cuba.
Possuímos evidências operativas de múltiplos planos criminosos de atentados de grande envergadura contra nosso Comandante, ao longo desse ano de 1962, nos quais intervieram praticamente os principais serviços norte-americanos, através de suas diferentes agências.
Recordemos que naquele momento os órgãos de espionagem daquele país já haviam cerrado filas com a máfia em seus planos de assassinato de nossos dirigentes e, em particular, de nosso Comandante-em-Chefe Fidel Castro Ruz. Alguns desses planos criminosos – neste caso apenas oito – sairiam à luz anos depois, em 1975, por uma comissão do senador norte-americano Church, que investigou a participação das agências de inteligência dos Estados Unidos em planos diversos de assassinato a chefes-de-Estado estrangeiros.
É importante destacar também outro aspecto de Mangosta. Landsdale propôs ao Grupo especial ampliado do Conselho de Segurança Nacional quatro alternativas possíveis para desenvolver contra Cuba, entre as quais se encontrava a intervenção militar direta, mediante uma provocação que servisse de pretexto diante daopinião pública.
Embora inicialmente o Presidente norte-americano não tenha aprovado a variante de intervenção militar direta, à variante aprovada agregou-se o termo “ampliado”, para incluir o emprego das forças armadas, quando fosse de interesse da administração.
Desse modo, os planos para uma futura invasão militar a Cuba converteram-se novamente, em pleno ano de 1962, quando a vitória de Girón ainda não havia completado um ano, em uma ameaça real e iminente.
Se relacionamos essa variante ampliada com as fases da Operação Mangosta que estavam previstas, presumivelmente a invasão militar da ilha pelos Estados Unidos estaria programada para outubro de 1962. E isso é muito importante.
Há alguns anos, com a desclassificação, por parte do governo norte-americano, de um conjunto de documentos relacionados com essa operação, esse propósito tornou-se ainda mais evidente em um documento intitulado “Pretexto para justificar a intervenção militar dos Estados Unidos em Cuba”.
Eu apenas quero ler, de forma muito sucinta, alguns fragmentos de um artigo publicado em uma revista norte-americana, que utiliza como fonte esses documentos desclassificados, para que se possa apreciar com toda clareza até onde pode chegar um governo como o dos Estados Unidos, que 40 anos depois pretende aparecer como campeão do antiterrorismo no mundo.
Este é um artigo publicado na revista US News World Report de 8 de outubro de 1998, denominado “O que não fizemos para nos libertar de Castro?”. Menciona diferentes “pretextos” tomados de um memorando do Presidente da Junta de Chefes de Estados-Maiores das Forças Armadas norte-americanas, de 11 de abril de 1962, dirigido ao Secretário de Defesa Robert McNamara.
“Simular um ataque à base naval de Guantánamo utilizando cubanos” – é claro que cubanos residentes nos Estados Unidos – “que se fariam passar por atacantes de Cuba, lançando morteiros, destruindo aviões e instalações, antes de serem capturados.” Com esse pretexto, os Estados Unidos contra-atacariam de forma direta.
Outro pretexto: “Explodir um navio sem tripulação próximo de uma importante cidade cubana. Os norte-americanos simulariam um resgate de tripulantes inexistentes, a lista das baixas apareceriam nos periódicos dos Estados Unidos com a conseqüente onda de indignação nacional.” Esse seria outro argumento para invadir a nosso país.
“Afundar um barco carregado de cubanos que se dirigissem à Flórida.” Colocavam que isso podia ser algo real ou simulado; ou seja, que estavam inclusive considerando uma variante real de afundar um barco de supostos refugiados para responsabilizar-nos.
“Introduzir armas em um país caribenho e invadir com aviões pintados como Mig’s cubanos, aparentando um ato subversivo respaldado por Castro” – palavras textuais.
“Fazer explodir um avião norte-americano sem tripulantes e passageiros, com uma falsa lista de passageiros preparada, e se culparia a Cuba por essa derrubada.”
Embora esses planos nunca tenham sido postos em prática, não há dúvida de que expressavam, em primeiro lugar, a impaciência e, ao mesmo tempo, a decisão do Pentágono por uma invasão direta a Cuba.
Esses pretextos não merecem outros comentários, e parecem extraídos de um livro de terror ou de ficção científica.
Em 22 de outubro de 1962, desencadeia-se a Crise de Outubro, acontecimento histórico indissoluvelmente ligado à corrente de agressões iniciadas em 1959, passando por Girón e pela própria Operação Mangosta.
A Crise de Outubro frustra uma invasão militar direta a Cuba, programada pela Operação Mangosta muito antes dos acordos entre Cuba e a URSS, para a instalação dos mísseis em Cuba.
Mas o perigo de destruição que a Crise de Outubro significava para Cuba havia começado muito tempo antes, desde 1959, quando se inicia a guerra suja dos Estados Unidos contra nosso povo.
Eu gostaria de finalizar, companheiros, dizendo que de Mangosta – e esta é talvez a principal lição – sairiam, anos depois, agentes a soldo para praticar o terrorismo, o assassinato político, o tráfico de armas, o escândalo Watergate e Irã-Contra; os mercenários de origem cubana na África, Ásia, América Latina, e os cabeças da Fundação Nacional Cubano-Americana, que, a partir dessa etapa, converteram o terrorismo em um negócio e em um meio de enriquecimento.
Os preceitos de Mangosta ainda estão registrados de forma clara e direta na Lei Helms-Burton, que autoriza a subversão contra Cuba.
A terrorista Operação Mangosta, de 1962, filha dos instintos mais abomináveis de nossos inimigos, ainda vive na política agressiva do atual governo norte-americano.
Randy Alonso – Obrigado, Hevia, por esse apanhado.
(Passam imagens de atos terroristas contra Cuba.)
Randy Alonso – Junto com o desenvolvimento de planos tão agressivos, através da Operação Mangosta, e também após aqueles dias históricos vividos pelo povo cubano durante a Crise de Outubro, os Estados Unidos estabeleceram – como desde o primeiro momento – o uso do tema migratório com objetivo político e como instrumento de agressão.
Nosso povo recorda o indiscutível caráter terrorista da chamada Operação Peter Pan e também o estabelecimento, em 1966, da Lei de Ajuste Cubano.
Sobre esses temas, fala Rogelio Polanco.
Rogelio Polanco – Sim, essa é também outra operação de terror, simultânea à Operação Mangosta, e consiste em que, enquanto introduziam armas e provocavam a morte de nossos cidadãos, de nossas crianças, divulgaram aquela infâmia de que a Revolução, o Governo Revolucionário, queria retirar dos pais o pátrio poder.
Creio que esse foi um dos capítulos mais sórdidos da campanha de mentiras, de calúnias, de infâmias contra Cuba, e também um dos mais imorais e mais desumanos, porque envolvia a milhares e milhares de crianças.
Isso foi no final do ano 1960, quando os inimigos da Revolução puseram em marcha esse novo plano de guerra e de terror psicológico, que foi – como eu disse – baseado naquele falso projeto de lei, que o Governo Revolucionário supostamente havia aprovado, pelo qual se retirava dos pais o pátrio poder.
Começou como operação da Agência Central de Inteligência, em 26 de dezembro de 1960, realizado em estreita coordenação com a alta hierarquia da Igreja Católica e com organizações contra-revolucionárias na ilha.
Foram – como todos recordamos – mais de 14.000 crianças cubanas que foram seqüestradas, ilegalmente separadas de seus pais e enviadas aos Estados Unidos, a internatos, reformatórios, orfanatos, chamados acampamentos, e também foram dados em adoção a famílias totalmente desconhecidas para eles. Foi algo realmente monstruoso, que provocou a dor, o sofrimento desses milhares de crianças, e também de seus pais, de suas famílias. Muitos ficaram separados por muitos anos e alguns, inclusive, não puderam voltar a ver-se.
Sobre alguns deles foram cometidos verdadeiros abusos, até abusos sexuais, que são lembrados em numerosos testemunhos. Provocou-se um verdadeiro dano moral, psicológico, espiritual e físico sobre aquelas crianças, pelo qual algum dia os que o realizaram terão de pedir perdão ao povo de Cuba.
Foi realmente uma patranha, porque diziam a mentira de que a Revolução proibia a emigração das famílias e das crianças, algo que nunca se fez em nosso país, e é por isso que, para que essa horrível história jamais seja esquecida, editou-se esse livro, de que muitos se lembram, durante a luta pela volta de Elián, Operação Peter Pan: um caso de guerra psicológica contra Cuba, que é um verdadeiro testemunho dos que aconteceu naqueles anos e que, além disso, mostra os verdadeiros responsáveis por aquelas ações terroristas, nas quais estiveram envolvidos desde oficiais e agentes da Agência Central de Inteligência, centros da CIA, até funcionários de agências oficiais dos Estados Unidos, organizações terroristas em nosso país e clérigos falangistas, e também, é claro, a rádio subversiva que divulgou aquela mentira.
Tem havido muita apologia em torno dessa operação, tem havido também muita mentira, muita tentativa de esconder, de manipular de tergiversar o que aconteceu. Não há, neste momento, nenhum documento desclassificado do governo norte-americano sobre tudo isso, ou seja, ainda estão escondendo, da opinião pública e da história, essa operação criminosa.
Em seu último discurso em Miami, o presidente Bush apresenta a um dos secretários do governo, um cubano, Mel Martínez, como um graduado de Peter Pan; apresenta-o com certo júbilo, uma maneira idealizada de apresentar a um dos que foram vítimas daquela operação.
Sobre isto tem havido, como eu dizia, muita idealização. Eu tenho aqui uma referência, feita no livro, dos danos psicológicos em crianças vítimas da Operação Peter Pan, provocados precisamente pelo governo dos Estados Unidos, suas autoridades, como uma operação encoberta para derrubar a Revolução.
“Os principais problemas de que têm sido objeto, os mais referidos pelas crianças cubanas, são, entre outros, a alimentação inadequada, a existência de bandos nos centros de recepção e acampamentos, o uso de castigos corporais, a obrigação de fazer tarefas humilhantes, em alguns casos, e não costumeiras, em outros, mas qualificadas por todos como escravistas, por se sentirem explorados por seus tutores e professores; a diferença de idiomas, costumes e cultura que tiveram que enfrentar abruptamente; o sentimento de solidão e abandono na quase totalidade desses menores.”
Há um testemunho muito revelador da doutora Lourdes Rodríguez, psicóloga clínica do Simmons College, em Boston, sobre a Operação Peter Pan, que também foi uma daquelas crianças; ela diz que as crianças tiveram de pagar um alto preço por sua experiência, e diz que “há muito tempo sinto que toda essa operação é altamente questionável, sob o ponto de vista ético [...] A Operação Peter Pan não é nada, senão uma forma de abuso em massa de crianças, perpetrado pelo governo dos Estados Unidos. É hora de acabar com a idealização desse horrível capítulo da história cubano-americana.”
Isso foi parte de um capítulo da utilização da emigração como arma para destruir, para tentar destruir a Revolução Cubana, algo que esteve presente desde o Primeiro de Janeiro de 1959, a partir de quando se aceitaram e se alojaram nos Estados Unidos os esbirros, os terroristas, os corruptos da ditadura de Batista, e inclusive um dos principais executores da Operação Peter Pan, o monsenhor Bryan O. Walsh, muito lembrado em todos os documentos, e que desempenhou um papel central nada menos que na confecção da assassina e terrorista Lei de Ajuste Cubano, que sofremos como povo em todos esses anos.
Aprovada em 2 de novembro de 1966, essa lei era a forma adotada pelos Estados Unidos para acolher a qualquer cubano que chegasse de maneira ilegal, a partir do Primeiro de Janeiro de 1959. Por isso foi tão grosseiramente adotada e expressada, para garantir a residência legal e a possibilidade de trabalho, nos Estados Unidos, em primeiro lugar, aos batistianos, e que não tinha data de término, somente data de início; uma aberração legal, porque em todos os ajustes migratórios feitos, há uma data final para aqueles a quem se ajusta a residência nos Estados Unidos. Neste caso, não, neste caso é a partir do Primeiro de Janeiro de 1959 e, portanto, ficou como um privilégio, uma forma de discriminar outros imigrantes; no caso de Cuba, mudou-se completamente a denominação, os cubanos não são imigrantes, são exilados; os cubanos não emigram, fogem, enquanto outros da América Latina que chegam aos Estados Unidos, são perseguidos, expulsos e até mortos.
Foi precisamente a Revolução que, em meio a essas tensões e conflitos no tema migratório, que propiciou que fossem firmados acordos para que houvesse uma migração legal, ordenada para os Estados Unidos, acordos que o próprio governo dos Estados Unidos descumpriu em inúmeros casos.
Por isso hoje os cubanos, depois de ver tantos testemunhos, aqui mesmo em nossas mesas-redondas, de mães chorando a morte de seus filhos, ou dessas crianças lançadas a essas travessias por pais irresponsáveis, e de famílias divididas, irmãos despedaçados pelos tubarões, ou as mais de 30 pessoas que morreram em casos que todos recordamos, ou o caso de nosso menino seqüestrado, temos o direito de perguntar se é ou não terrorismo manter uma lei que provoca conscientemente a morte de cidadãos cubanos e, sobretudo, de mulheres e crianças; se é ou não terrorismo manter a impunidade e a tolerância com os que traficam seres humanos, como conseqüência dessa lei, quando se reconhece que hoje mais de 90% dos emigrantes ilegais cubanos para os Estados Unidos são produto desses traficantes de imigrantes, que, ademais, combinam muito bem com os traficantes de drogas e de armas; se é ou não terrorismo recusar-se a assinar com nosso país um acordo integral no tema migratório e, além disso, informar às famílias e ao povo de Cuba sobre os acontecimentos relativos a esses temas; se é ou não terrorismo que, em lugar de restringir e revogar essa lei, cada vez se dêem mais privilégios aos que chegam aos Estados Unidos procedentes de Cuba, graças às pressões da máfia e à conduta venal de alguns funcionários e de autoridades dos Estados Unidos, que continuam dando privilégios aos que chegam por essa via ilegal.
Creio que hoje, em meio a essa batalha contra o terrorismo, de alguma maneira se está minando a autoridade do governo dos Estados Unidos, porque, evidentemente, continua-se conduzindo cidadãos cubanos a uma morte cruel e injustificada, sobretudo de nossas crianças, com essa lei. Creio que algum dia estarão também em uma lista de terroristas o que hoje nada fazem para acabar com a dor da família cubana, e que finalmente serão julgados os que provocaram todo esse sofrimento.
Randy Alonso – Sim, Polanco, um exemplo vivo desse uso do tema migratório, pelo governo dos Estados Unidos, como arma de agressão contra nosso povo, é o impressionante testemunho da jovem Ivette Vega, durante a sessão do Tribunal Internacional “Mulheres contra o bloqueio”.
Ivette Vega – Venho apresentar um
testemunho que pode ser muito parecido ao de numerosas famílias cubanas.
Em 1970, depois de
estimular, após o triunfo da Revolução, em primeiro lugar a acolhida sem
limites dos sicários que se haviam enriquecido com o governo que foi derrubado
pela Revolução, e de estimular a saída do país dos profissionais, em sua
maioria, médicos, os Estados Unidos começaram a estimular outros tipos de
saídas ilegais, sob o nome de Operação Peter Pan.
Embora nos documentos
oficiais desclassificados pela CIA apareça que terminou antes da década de 70,
pesquisas posteriores demonstraram que a operação se manteve durante quase 12
anos após seu início em 1960.
Meu irmão é uma vítima
dessa operação, embora ele não o considere assim, ainda pensa que foi enganado
por meus pais, que o tiraram do país através da Espanha, em maio de 1970, com o
propósito de nos reunirmos imediatamente com ele. Eu era então muito pequena e
não pude entender o que estava acontecendo com minha família, ainda há muitas
coisas que estão inconclusas, muitas conversas pendentes, muitos temas por
esclarecer; mas, graças à educação de respeito e de solidariedade que recebi,
em primeiro lugar, de minha família; graças ao nível educacional que obtive
pela Revolução e à instrução política que obtive por viver neste país, posso
agora entender muitas coisas, inclusive, talvez mais que as que meus pais
entenderam no momento em que decidiram tirar meu irmão do país.
O que meu irmão passou em
todos esses anos é uma longa história, basta que lhes diga que não é uma pessoa
saudável e que não é totalmente feliz, talvez nunca mais possa chegar a ser.
Desde 1970, meu irmão não
teve contacto com minha família, até 1991, quando minha mãe pôde viajar pela
primeira vez e vê-lo. Em 1993, meus pais visitaram-no juntos e, ao verificar
seu estado de saúde e suas condições de vida, decidiram compartilhar a
responsabilidade, que haviam reprimido durante tantos anos, com sua educação e
que ele pudesse compartilhar sua vida conosco. Minha mãe decidiu ficar nos
Estados Unidos, e meu pai voltou comigo, para que a nenhum dos dois faltasse a
presença deles.
Foi realmente um vão
intento da fazer valer seu desejo de estar junto a nós, porque minha mãe e meu
pai tinham um matrimônio muito sólido, e a separação foi realmente muito
difícil para eles.
Em 1995, a partir de um
pedido feito por meu irmão, meu pai abandonou definitivamente o país, e neste
momento os três vivem juntos.
Em 1999, ao saber que
haviam diagnosticado uma enfermidade cancerígena em meu pai, compareci ao
Repartição de Interesses em Havana, para solicitar uma autorização de saída
temporária, para visitar minha família e poder reunir-me com eles, pelo menos
uma vez, enquanto estivessem todos aparentemente saudáveis e vivos. Levava uma
carta da instituição hospitalar onde meu pai recebe tratamento, levava a
verdade em cada uma das numerosas perguntas do formulário que o Escritório de
Interesses entrega às pessoas que solicitamos saída temporária do país, e me
negaram o visto. Entregaram-me uma impessoal carta falsa, onde se dizia que meu
caso havia sido detidamente analisado. E digo-lhes que é falsa, porque é a
mesma carta que dão a todas as pessoas a quem se nega a permissão de saída
temporária.
Se esta mesma pessoa que
hoje denuncia essa arbitrariedade tivesse ido ao Repartição de Interesses, ou,
simplesmente, tivesse tentado sair ilegalmente de Cuba, teria sido acolhida sem
restrições pelo governo dos Estados Unidos.
O qualificativo que me
deram é de que eu era uma imigrante potencial e que não poderia nesse momento,
e talvez nunca, viajar aos Estados Unidos, porque toda minha família estava lá.
Ignoraram o fato de que tenho um filho, ignoraram totalmente minha trajetória;
ignoraram que eu escolhi livremente viver em Cuba, e que isso não impede que
sinta um imenso amor por minha família e que tenha o direito humano de
visitá-los e de acompanhá-los em seus momentos difíceis.
Recentemente meus pais
puderam entender que essa história também é verdadeira, porque há muita
manipulação em todas essas situações.
E muitas das pessoas saíram
nesse dia do Repartição de Interesses como eu, com sentimentos similares de
maltrato, de humilhação, de haverem ignorado a possibilidade legal e a
possibilidade, inclusive, estabelecida e acordada por acordos legais vigentes
entre os dois governos.
Pergunto como um país que
se diz democrático pode negar-me o direito de visitar minha família, por uma
única razão, que para mim não está suficientemente clara, de que sou
revolucionária. Como é possível que não possam entender que os laços de amor
estão acima de qualquer situação, e que meus pais e eu temos sido capazes de
respeitar nossas mútuas convicções e de viver com respeito e com amor, apesar
de estarmos separados.
Talvez eu tenha de adiar
por tempo indefinido o abraço a minha família, talvez nunca possa fazê-lo; mas
penso que, de alguma maneira, esse passo, como fazem os caminhantes, serve para
abrir caminhos, para que talvez meu filho possa ter essa oportunidade, para que
talvez outras pessoas não sofram o que passamos muitos dos cubanos que vamos ao
Repartição de Interesses em busca de uma saída legal do país, e para que não se
pisoteie nunca mais o direito humano, de qualquer cubana ou cubano, de abraçar
seus seres queridos.
Muito obrigada.
Randy Alonso – E nessa avalanche de planos e lucubrações terroristas dos Estados Unidos contra nosso país, de criação de organizações contra-revolucionárias para enfrentar o processo que se convertia em um processo único na América Latina, durante toda a década de 60, a contra-revolução, financiada e orientada pelos Estados Unidos, executou numerosas ações terroristas contra objetivos cubanos no exterior do país. Reinaldo Taladrid nos faz uma recopilação disso.
Reinaldo Taladrid – Sim, Randy, com muito prazer.
Esta é uma nova modalidade nessa extensa lista de ações terroristas contra Cuba.
De que se trata? Estamos falando de que se põem bombas, assassinam-se pessoas e se realizam ações terroristas contra instalações cubanas, sejam embaixadas ou outras, no exterior, e não apenas contra instalações cubanas, senão contra instalações de países que os terroristas radicados nos Estados Unidos consideram que são amigos de Cuba, ou que têm relações com Cuba. É disso que trata essa modalidade.
Essa modalidade começa no dia primeiro de abril de 1959, o que quer dizer que é puramente terrorista, porque ninguém podia, em primeiro de abril de 1959, dar uma conotação ideológica a esse tipo de ação. E digo isso porque, no dia primeiro de abril de 1959, é assaltado o Consulado de Cuba em Nova York. Ao assalto de um consulado nessa data, não se pode dar outro qualificativo que ação terrorista.
Em 5 de junho de 1959, agride-se ao cônsul cubano em Miami, Alonso Hidalgo Barrios, e em 4 de agosto de 1959 – e já começa a subir o tom – são destruídos quatro aviões cubanos no hangar da Air International Corporation de Miami, Flórida, ocasionando sua destruição total e danos consideráveis no imóvel. Destruir quatro aviões, assaltar um cônsul e assaltar a um consulado é puro terrorismo, ano de 1959.
A lista é interminável, e o tempo, insuficiente. Vou selecionar alguns desses fatos, que me permitem transmitir e compartilhar algumas idéias com vocês.
Por exemplo, em 7 de dezembro de 1960, um funcionário cubano é assaltado e agredido nos Estados Unidos. O que sucede legalmente? Nada. A polícia atua, o FBI atua? Não atuam. Os terroristas, os responsáveis, livres. E isso vai se repetindo.
Em 17 de novembro de 1962 – momentos muito tensos, novembro de 1962, acabava de passar a Crise de Outubro –, realiza-se uma agressão a funcionários cubanos na ONU e é agredido o adido Roberto Santiesteban Casanova. Os responsáveis? Tranqüilos, sem problemas.
Em 2 de dezembro de 1964, a organização terrorista Movimento Nacionalista Cubano coloca uma bomba contra o edifício da ONU – em que momento? – Bem, no momento em que está falando na ONU o Comandante Ernesto Che Guevara. Nesse momento, puseram uma bomba na ONU. Já estão atuando contra um organismo internacional, o de mais alto nível do planeta.
Essa tendência vai se espalhando, porque já em 12 de outubro de 1965, a organização Movimento Insurrecional de Recuperação Revolucionária (MIRR) coloca uma bomba contra um barco espanhol em San Juan, Porto Rico. Já puseram uma bomba na ONU, e agora atacam um barco espanhol. Qualquer um que reconheça a Cuba, qualquer que eles considerem que tem relações com Cuba pode ser vítima desses ataques terroristas.
Assim chegamos ao ano de 1968, e aqui quero deter-me, e lhes digo por quê. Nesse ano de 1968, lamentavelmente sai a público a organização Poder Cubano. Por que digo isso? Porque esse é um ano importante, e essa é uma organização importante para essas idéias que estamos tentando passar.
O chefe máximo dessa organização foi Orlando Bosch. O segundo, sob o comando de Orlando Bosch, era Marcelino Jiménez García. Quem foi Marcelino Jiménez García, já falecido tranqüilamente em Miami? Foi um importante oficial do SIM, para os mais jovens, o Serviço de Inteligência Militar de Batista, em que se cometeram muitíssimas violações, de todo tipo, aos direitos humanos. Marcelino Jiménez já morreu tranqüilamente em Miami, sem que nada lhe acontecesse.
Só no ano de 1968, essa gente do Poder Cubano, a partir dos Estados Unidos, e tudo feito lá, pôs 82 bombas, e dessas 82 – e essa é a outra modalidade, a idéia que quero transmitir –, 72 foram postas dentro dos Estados Unidos. Observem que esses terroristas atacam a muita gente, e por muitos objetivos distintos. Por exemplo, puseram cinco bombas em navios da Espanha, Polônia e Japão, simplesmente porque esses países comerciavam com Cuba; puseram nove bombas – e essa é uma nova modalidade – a comércios de Miami, com o fim da extorsão. Lembrem-se dos termos máfia e terrorista, aqui têm um exemplo, encaixam-se perfeitamente: simplesmente pedem aos comércios que lhes dêem dinheiro, se não pagam, eles põem uma bomba. Eu quero saber que conteúdo ideológico pode ter essa ação, isso é máfia e terrorismo.
Continuaram, não pararam por aí. Em março de 1968, essa organização de Orlando Bosch põe uma bomba no Consulado do Chile em Miami, e anteriormente, em Janeiro havia posto uma bomba em um avião que transportava pacotes a Cuba. Um avião – vejam que já em 1968 estão pensando em pôr bombas em aviões, e vocês sabem o papel que teve Orlando Bosch depois, no de Barbados.
Em 22 de abril de 1968, reivindicaram a colocação de uma bomba no Consulado do México. Consulado do Chile, Consulado do México, todos eles foram vítimas do terrorismo dessa gente.
Em julho de 1968, puseram uma bomba no escritório de turismo do Canadá nos Estados Unidos; México, Chile e Canadá. Tudo isso feito e reconhecido pelos do Poder Cubano.
Em agosto de 1968, puseram uma bomba no escritório de direitos alfandegários dos Estados Unidos em Miami, uma instituição do governo dos Estados Unidos. Observem o tipo de vítimas: navios, instituições do governo norte-americano, sedes diplomáticas de países que comerciam com Cuba, ou que têm relações com Cuba.
E o que acontece? Bem, escutem com atenção, porque é incrível, mas é verdade:
Em outubro de 1968, Orlando Bosch é detido. E onde é detido Orlando Bosch? Perto da cidade de Orlando, no momento em que está pronto para embarcar em um avião B-26. O que havia no avião B-26 em que estava Orlando Bosch e outras pessoas de seu grupo? Havia 18 bombas; o avião se dispunha a sair para Cuba, e as bombas, as 18, seriam jogadas sobre território cubano.
Pois bem , e o que acontece? Primeiro, um homem que foi apanhado com 18 bombas em um avião, perto de Orlando, na Flórida, permitem que saia com uma fiança de apenas 5.000 dólares; isso é o primeiro. Foi julgado, é verdade que o julgaram. Vejam as acusações: um: ataques a navios mercantes – todas essas anteriores, que eles reconheciam, não tenha de provar nada: “Eu pus a bomba no navio japonês”, etc. –; dois: ameaças de morte a presidentes de três países – ameaçaram de morte ao Presidente do México, ao da Espanha e ao Primeiro Ministro do Reino Unido; três ameaças de morte a presidentes, comprovadas e reconhecidas por eles –; e, finalmente, a acusação mais forte, a mais grave, pela qual é julgado Orlando Bosch – escutem bem –, foi porque, ao ser pego com um avião com 18 bombas, acusam-no porque não tinha licença para exportação de armas. Essa é a causa. Prendem-no com 18 bombas em um avião e julgam-no por não ter licença para exportar armas. Se tivesse uma licença, possivelmente o teriam deixado sair para atirar as bombas, porque tinha a licença. Foi condenado a 18 anos.
Depois, a partir da prisão, continuou dirigindo, através de seu segundo, o ex-oficial do SIM, um conjunto de ações do mesmo tipo, que não pararam.
Se a câmara me ajuda aqui, mostro alguns exemplos da imprensa da época, para que conste (mostra).
Esta é a revista Réplica do ano 1968, e diz: “Onda de sabotagens em Cuba. Responsável, o Poder Cubano.” Ou seja, eles o reconhecem, se reivindicam e é publicado na imprensa. Vejam, está na imprensa. Uma procuradoria que se respeite processa, de ofício, diante de um reconhecimento desse tipo, às pessoas que estão pondo bombas em Cuba.
E vejam este, vemos ver se a câmara me ajuda (mostra). Diz: “Audaz sabotagem a um navio castrista no canal do Panamá”. E aqui se vê uma pessoa – é uma foto velha, não se distingue bem –; mas observem que essa pessoa está explicando, em um mapa com o canal do Panamá, como fizeram a sabotagem no navio cubano “Aracelio Iglesias”. Sabem quem é essa pessoa? É Orlando Bosch, está explicando em público como puseram a bomba no navio cubano “Aracelio Iglesias”.
Dizia-lhes que foi sancionado a 18 anos de prisão. Continuou fazendo todas essas coisas, na prisão, através de seu segundo. Mas sabem quanto cumpriu de prisão? Dois anos e meio; dos 18, cumpriu na prisão somente dois anos e meio.
E vocês podem dizer: “Bom, essa é uma história antiga. O que isso tem a ver com a atualidade?” Eu vou dar um exemplo de que isso tem a ver com a atualidade: Não só que Orlando Bosch estava na cidade de Miami e participou, há pouco, depois do 11 de setembro, de um ato contra o terrorismo convocado por Armando Pérez Roura, na presidência do ato. Não apenas isso, que já é um insulto à humanidade. Olhem esta foto – vamos ver se a câmara ajuda –, para que vejam se isto tem ou não atualidade. Esta é uma foto da época (mostra), vejam: aqui têm a Orlando Bosch; aqui está, nada mais, nada menos, Marcelino García, o oficial do SIM de que lhes falei, que era o segundo de Orlando Bosch. E quem está ao lado dos dois? circulando aqui, Jorge Mas Canosa. Aqui o têm, o homem que criou a Fundação Nacional Cubano-Americana, e se você pergunta hoje à Fundação Nacional Cubano-Americana, vão dizer que seu programa se inspira nos ideais desse homem que está aqui, junto a um oficial do SIM e de Orlando Bosch.
Portanto, se você me pergunta quem são os verdadeiros terroristas, pois bem, são toda essa gente que saiu de Cuba, instalou-se nos Estados Unidos, recebeu dinheiro e treinamento do governo dos Estados Unidos, receberam a residência, fizeram-se cidadãos norte-americanos e, a partir de território norte-americano, idealizaram, planejaram, financiaram, organizaram e executaram terrorismo contra Cuba e contra os próprios Estados Unidos.
Em minha opinião, à pergunta feita pela mesa, esses são os verdadeiros terroristas.
Randy Alonso – Sim, Taladrid, foi o início de uma escalada no exterior durante essa década de 60; não apenas – como dizíamos – foram atos terroristas dentro do país, senão contra instalações cubanas no exterior e contra instalações de outros países que comerciavam com Cuba. No início da década de 70, criaram-se novas organizações contra-revolucionárias e tiveram lugar criminosos atos terroristas, como o traiçoeiro ataque ao povoado de Boca de Samá, aqui em nosso país.
Eu lhes proponho escutar o doloroso testemunho de Josefa Portelles Tamayo, mãe de um jovem, vítima do traiçoeiro ataque ao povoado de Boca de Samá.
Josefa Portelles – Se hoje me encontro aqui
é porque me sinto prejudicada, porque perdi meu filho no ataque de Boca de Samá
– de que estava falando o companheiro Escalante –, Ramón Siam Portelles, que é
nosso filho, e hoje me sento aqui para reivindicar a vocês o apoio e a ajuda
para ratificar a acusação que faço aos Estados Unidos, para ver se com isso
eles pagam um pouco dos crimes e danos que nos fazem, porque não sou só eu, uma
mãe que hoje sofre, por culpa deles, milhares de mães estamos sofrendo nas
mesmas condições, porque muitas mães perderam a seus filhos, não apenas os
filhos, mas pessoas que ficaram inválidas, sem braços, sem pernas, tudo isso.
São crimes que esses
criminosos nunca na vida poderão pagar, porque a vida de um filho não tem
preço, não há dinheiro que pague a vida de um filho.
Então, eu me disponho, eu
estou doente; mas só de ver-me apoiada aqui por um tribunal revolucionário
assim tão lindo, como esse que tenho à frente, como sempre sonhei, eu estou
aqui para ver se nos ajudam, e lhes colocamos leis, para ver se eles param de
fazer-nos tanto dano e tantas coisas a nosso país.
Meu filho tinha apenas 24
anos, tinha uma menina de seis meses (soluça).
Escalante – Que idade disse que
tinha seu filho?
Josefa Portelles – Vinte e quatro anos.
Escalante – E deixou uma menina de
seis meses.
Josefa Portelles – Deixou uma menina de seis
meses, e nunca na vida pôde dar calor a sua filha, ele estava louco para ter um
filho, e não pôde dar calor a sua filha, porque ele estava estudando nessa
escola de guarda-fronteiras em Boca de Samá, quando houve o ataque.
Por isso, eu digo ao
senhor, aqui diante de vocês, que eu estou disposta a fazer o que tenha de
fazer, assim como me vêem, disposta, cheia de sofrimentos e de enfermidade,
para que se apliquem leis a esses criminosos.
Randy Alonso – Foi o testemunho de Josefa Portelles Tamayo, a mãe de uma das vítimas do traiçoeiro ataque ao povoado de Boca de Samá, diante do tribunal revolucionário que julgou durante da Demanda do povo cubano contra o governo dos Estados Unidos. Era no início da década de 70, uma década que em seus primeiros anos viu desatar-se uma onda terrorista por parte das organizações contra-revolucionárias sustentadas pelos Estados Unidos.
O pesquisador José Luis Méndez nos fará um resumo daqueles terríveis fatos.
José L. Méndez – Obrigado, Randy.
A década de 70 a 80 foi nada menos que a continuidade incrementada dessa campanha terrorista. Vemos que Orlando Bosch estava preso em 1972, e então o governador da Flórida, Claude Kirk, em um jantar promovido pela Câmara de Comércio Latina, que está dominada pela máfia cubana, declarou:
“Quando penso nos homens livres que buscam libertar a sua pátria, necessariamente tenho que pensar no doutor Bosch. Estou trabalhando efetivamente para que o soltem, e creio que em pouco tempo verei os resultados.”
Finalmente – como dizia Taladrid –, foi libertado, e esse terrorista internacional executou nada menos que 321 ações terroristas nessa década; ou seja, dirigiu organizações como Ação Cubana, dirigiu também organizações como o Governo Secreto Cubano, os comandos Pedro Luis Boitel e, finalmente, a CORU, em 1976.
É importante, do ponto de vista da característica desse terrorista, seu aspecto criminoso, e eu me lembrava, quando falava Taladrid, dos fatos ocorrido em 1965, mais concretamente, em 17 de janeiro daquele ano, a organização que ele dirige naquele momento, o MIRR, lançou um bombardeio contra a usina Niágara, umas 5.000 cápsulas de fósforo puro, e no final, a propósito dessa ação, Orlando Bosch declarou: “Se tivéssemos recursos, Cuba arderia de um extremo a outro”.
Praticamente dez anos depois de haver dito isso, em 22 de agosto de 1975, declarou: “Não terão vida segura em nenhuma parte do mundo, os cúmplices de Castro nem os agentes do comunismo internacional; internacionalizaremos a luta no âmbito continental”.
Posteriormente diria algo que me parece que o caracteriza totalmente. Diz: “Os americanos querem derrubar a Castro com um estilo diferente do nosso, a guerra frontal aniquiladora dos vermelhos. Se tivessem atirado em Cuba a metade das bombas que os Estados Unidos lançaram no Vietnã, o problema já estaria resolvido”.
Ou seja, eu creio que isso caracteriza totalmente essa pessoa que, dentre as ações que dirigiu, vamos primeiramente mencionar que em 21 de janeiro de 1974, ainda estando em território norte-americano, enviou do México sete cartas-bombas a representações cubanas no exterior, uma delas explodiu numa agência de correios da Espanha, danificando as instalações e produzindo danos também às pessoas que estavam trabalhando ali; esta outra ação, que me parece que devemos destacar, a do escritório comercial de Cuba em Montreal, que foi dinamitado, com a perda de Sergio Pérez Castillo; a tentativa de seqüestro do cônsul cubano em Mérida, e a morte do técnico de pesca Artagnán Díaz Díaz, o atentado contra o Embaixador de Cuba na Argentina, em 1974, o desaparecimento de dois funcionários na Argentina, em 1975, e uma bomba colocada em um navio mexicano, que deixou dois mortos e sete feridos.
Mas parece-me que o fato que mais caracteriza Bosch, e o mais conhecido pelo povo cubano, é seu plano para explodir em pleno vôo um avião de uma linha cubana; e ele, em seu estudo, desenvolveu toda uma filosofia de qual seria o efeito de explodir um avião em pleno vôo: primeiramente, seria chamar a atenção sobre sua causa; dois, impediria silenciar sua luta; três, faria tremer as estruturas dos Estados Unidos e de Cuba; anularia qualquer entendimento entre os Estados Unidos e Cuba, e o caráter aterrorizante de sua ação evitaria que países da América Latina, amparados no acordo da OEA de junho de 1975, fizessem contactos para normalizar as relações com Cuba; havia que manter o isolamento de Cuba e, por último, frustrar as conversações que se realizavam entre funcionários cubanos e da administração de Gerald Ford, em 1975. Essa é a argumentação que ele desenvolvia acerca da importância que tinha explodir um avião em pleno vôo.
Disso, há três antecedentes que me parece que são muito importantes: primeiramente, em 1965, ele contrata um cubano chamado Rafael Anselmo Rodríguez Molina, para que dinamitasse um avião que vinha com destino a Cuba, para realizar as atividades que foram mencionadas aqui, onde morre o piloto norte-americano Alex Rourke; o avião sai com destino a Cuba, faz escala em Cozumel; em Cozumel, Bosch e Frank Sturgis ou Frank Fiorini, outro terroristas de origem cubana, descem, o avião decola e explode em pleno vôo.
Esse é um antecedente da participação de Orlando Bosch nesse tipo de ação de explodir aviões em pleno vôo.
Mas, além disso, em 30 de novembro de 1975, o jornal Última Hora, de Nova York, publica uma das costumeiras mensagens de Ernesto – Ernesto era o pseudônimo que Orlando Bosch utilizava para se comunicar –, onde diz ser chefe da organização clandestina Poder Cubano-76 e se responsabiliza pela colocação de duas bombas de tempo encontradas em um jato da linha aérea baamense Bahama Air, que voltava das Bahamas com destino aos Estados Unidos. As bombas, por sorte, foram encontradas e desativadas, minutos antes que embarcassem no avião, 62 pessoas em férias que deviam regressar a Miami nesse vôo, a maioria de origem norte-americana.
Ele diz naquele momento, em seu comunicado, que isso era para evitar a aproximação do governo das Bahamas e Cuba.
Finalmente, temos o antecedente mais imediato da explosão do avião em Barbados: em 11 de julho de 1976, sabe-se que em uma valise embarcada em um avião da linha aérea Cubana de Aviación que voaria para Havana, em Kingston, Jamaica, há um artefato que explodiu em terra, pouco depois das 19 horas. O avião estava atrasado por problemas de conexão entre as linhas, supunha-se que, no momento da explosão da bomba, esse avião devia estar voando na zona de Montego Bay, na Jamaica.
Isso apresenta um fundamento de sua concepção filosófica acerca do que deve ser o terrorismo; e ele dizia, em determinado momento de sua história criminosa: “Não posso esquecer nunca a vez em que pus a bomba em uma sapataria de Santa Clara, os sapatos voavam, os vidros estourando, escutei o estrondo e senti uma grande satisfação, estava acabando com os comunistas de Fidel; hoje, sem dúvida, compreendo que essas pequenas bombinhas não levam a nada, é preciso ser mais duro nessa luta”.
Parece-me que há uma relação muito direta entre essas declarações de Orlando Bosch e o que sucedeu depois, com o crime de Barbados.
Queria enfatizar que esse indivíduo constitui – sempre foi – uma ameaça para a segurança nacional dos Estados Unidos; o terrorismo de origem cubana foi também um perigo para a segurança e um caso de terrorismo doméstico nos Estados Unidos. E penso também que é preciso frisar que nessa onda de ações terroristas que se desenvolveram na década de 60 a 70...
Randy Alonso – E que, com a fundação da CORU, ganhou mais força.
José L. Méndez – Incrementou-se com a fundação da CORU porque, por exemplo, foram afetados 24 países, da Europa, da América Latina, da América Central. Por exemplo, temos que nos Estados Unidos foram realizadas 156 ações terroristas, por isso eu afirmava que isso constitui um caso de terrorismo doméstico; no México, por exemplo, 29; em Trinidad e Tobago, 1; no Panamá, 5; na Colômbia, também temos países da Europa, na Inglaterra, França, Espanha, Portugal, ou seja, um grupo de países, até chegar a 24, que foram vítimas das ações terroristas desenvolvidas por esse criminoso internacional, e creio que isso adiciona alguns elementos acerca de quem são os verdadeiros terroristas, o que fazem dentro dos Estados Unidos, qual é a atitude dos Estados Unidos em relação a esses terroristas, e evidencia também a necessidade de deter essas ações, já que vamos ver mais adiante como esse terrorista continua organizando esse tipo de ações no território norte-americano.
Finalmente, queria dizer-lhes que, no momento da constituição da CORU, há um documento feito por ele, um livro que se chama 40 anos de luta, 40 anos de razão, ele cria a CORU em junho de 1976, e a consigna diz – este é um livro dele –: “Entre os outros importantes acordos e estratégias, resolve-se destacar a consigna que todos que saiam de Cuba para propagar ou conquistar glórias para a tirania tinha de correr os mesmos riscos que correm os homens e mulheres que combatem essa mesma tirania, que outra alternativa é um privilégio e imoral”.
Isso, é claro, justifica que, depois de hastear essa consigna em junho de 1976, em outubro seja explodido em pleno vôo o avião da Cubana de Aviación nos céus de Barbados. Creio que isso caracteriza exatamente quem são os terroristas e onde estão.
Randy Alonso – É uma etapa particularmente intensa da atuação terroristas da contra-revolução cubana, que havia sido treinada pelos órgãos de inteligência norte-americanos, à qual havia sido dado todo o apoio financeiro e político pelos sucessivos governos norte-americanos, e que havia desatado toda essa onda de terror, que não apenas fez vítimas entre o povo cubano, mas que se estendeu a mais de 20 países, como assinalava José Luis, e fez também numerosas vítimas entre cidadãos de outras nações. Um momento, ademais, como dizia o pesquisador, em que inclusive adotou-se o método de enviar bombas postais a Embaixadas cubanas em diversos países da América Latina.
Por isso, proponho-lhes recordar este testemunho, dado durante a Demanda do povo cubano contra o governo dos Estados Unidos, por Pilar Ramírez Vega, que trabalhou na Embaixada cubana no Peru, nos primeiros anos da década de 70.
Pilar Ramírez Vega – Eu me sinto prejudicada
por uma das modalidades de terrorismo aplicadas pelo imperialismo ianque, pelo
governo dos Estados Unidos, através das organizações contra-revolucionárias com
sede nos Estados Unidos, dirigidas por cabeças que, a essa altura ainda, depois
de vinte e tantos anos, andam soltos, como Orlando Bosch e Luis Posada
Carriles.
Sinto-me prejudicada pela
agressão física a minha pessoa, e pela dor produzida a minha filha de quatro
anos, que naquele momento me acompanhava, na Embaixada de Cuba no Peru, e ao
restante de meus familiares.
Em 4 de fevereiro do ano de
1974, atuando como secretária do embaixador de Cuba no Peru, o companheiro
Antonio Núñez Jiménez, compareci à Embaixada para abrir a correspondência
dirigida ao Embaixador. Haviam-nos alertado de que, em dias anteriores, algumas
embaixadas nossas, como as da Argentina e do Canadá, haviam sido afetadas pelo
recebimento, a recepção de volumes postais que continham explosivos.
Essa correspondência que
abri nesse dia, esse volume, já estava há dias na Embaixada; abri-o, era um
pacote cujo remetente era Fernández S. A., no México, não me chamou a atenção
porque o embaixador naquele momento, Núñez Jiménez, mantinha muita
correspondência com o exterior, com organizações espeleológicas, razão por que
não me chamou a atenção que um volume procedente do México fosse dirigido a
ele. Tratava-se de um volume do tamanho de um livro; quando comecei a abri-lo,
dei-me conta de que era um livro de capa vermelho, da editora Espasa,
espanhola, mas que o papel em que estava embrulhado estava muito apertado, tive
de usar a tesoura, e quando tratei de tirar o livro daquele pacote, deu-se uma
explosão; essa explosão foi de certa envergadura, voaram a escrivaninha, a
máquina de escrever e tudo o que me rodeava, produzindo-me severas feridas no
braço esquerdo, no abdome, na coxa, no rosto e em um seio.
Explicaram-me que essa
bomba era um material explosivo plástico, como o utilizado pelas organizações
contra-revolucionárias financiadas pela CIA.
Além disso, para maior
morbidade, o pacote vinha contaminado com microrganismos, o que fez que, após
estar internada no hospital por alguns dias, tive uma infecção cuja origem não
se descobriu até que se completassem as análises e investigações
correspondentes nos restos do artefato e em meu próprio organismo.
Quero dizer que nessa
oportunidade recebi a maior solidariedade por parte do povo peruano, que se
solidarizava não tanto com minha pessoa, como com a Revolução Cubana, porque se
evidenciava dessa forma o terrorismo praticado pelo governo dos Estados Unidos
contra Cuba, de todas as formas possíveis, inclusive chegando a mandar
encomendas postais às embaixadas, que não se sabia quem receberia esse pacote;
fui eu, mas podia haver sido qualquer outra pessoa, e inclusive podia ter
atingido a crianças que nesse horário, porque foi à noite, costumavam estar na
embaixada.
Eu denuncio o governo dos
Estados Unidos por esse dano causado a minha pessoa, pela dor a meus
familiares; mas, também, por ser mais uma prova de que o imperialismo não nos
deixa viver, de que não sabe de que forma eliminar-nos.
Graças à atenção médica,
tanto peruana, como cubana – porque imediatamente foi para o Peru o doutor
Álvarez-Cambra –, pude recuperar-me. Voltei a Cuba, recuperei-me e depois de um
tempo quis regressar a nossa embaixada, não para provar-me a mim mesma, mas,
talvez, para demonstrar – como um grãozinho mais de areia –, a essa gente que
tanto nos acossa, que não podem conosco; que por muito terrorismo que apliquem,
nós continuamos em pé.
Randy Alonso – O dia 6 de outubro de 1976 é um dia infame para a história dos governos dos Estados Unidos, e um dia inesquecível para o povo de Cuba. O horrendo crime contra um avião da Cubana de Aviación em Barbados será recordado sempre com profunda dor e indignação por nosso povo. Lázaro Barredo vai fazer um reconto desse terrível acontecimento.
Lázaro Barredo – Sim, Randy.
Estivemos vendo, nesses últimos dias, que no dia 6 de agosto o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, foi informado, em um relatório de uma página e meia – o que deve ser um relatório contundente – sobre os atos de terrorismo que se estavam preparando contra os Estados Unidos, relatório que não foi levado em conta, não se tomando medidas para evitar o que aconteceu em 11 de setembro do ano passado, o que prova que, efetivamente, o governo dos Estados Unidos – como dizia um dos jornais mais conservadores, o New York Post –, sim, sabia o que estava acontecendo.
Penso, com profunda convicção, que há elementos que podem provar que agências do governo dos Estados Unidos sabiam, tinham conhecimento do que se estava preparando, há 25 anos, para explodir um avião da Cubana de Aviación, como ocorreu em 6 de outubro de 1976.
Já falamos, em outras mesas-redondas, dos fragmentos de uma conversação mantida pelo companheiro Fidel com o jornalista Tim Golden, do influente diário The New York Times. Em 12 de agosto de 1998, foi essa conversa, quase dois meses depois da que estiveram em Havana os oficiais do Bureau Federal de Investigações, aos quais nosso governo, nossas autoridades entregaram suficiente informação sobre as atividades de terrorismo cometidas por cubano-americanos residentes nos Estados Unidos.
Nessa entrevista com o jornalista Tim Golden, que não foi publicada pelo The New York Times, é uma entrevista inédita, Fidel pergunta ao jornalista quem afirmou que em fevereiro de 1976 a Agência Central de Inteligência decidiu romper seus vínculos com Posada Carriles; porque o jornal, em uma de suas reportagens, alguns meses antes, havia dito que naquela época as relações de Posada com as autoridades estadunidenses entraram subitamente em crise, por um relatório da inteligência de que Posada podia estar envolvido com o contrabando de cocaína da Colômbia para Miami, através da Venezuela, bem como com a falsificação de dinheiro estadunidense na Venezuela, e que, por isso, Posada Carriles, que é um dos autores intelectuais, um dos que dirigiu a operação de explosão do avião, já em fevereiro de 1976 – é o que querem dizer –, não estava vinculado à Agência Central de Inteligência.
O companheiro Fidel recorda, nessa entrevista, que documentos desclassificados em Washington pelos arquivos de Segurança nacional, apóiam a insinuação de Posada de que o FBI e a CIA tiveram conhecimento detalhado de suas operações contra Cuba, desde princípios dos sessenta até meados dos setenta.
G. Robert Blakey, principal consultor do Comitê Especial da Câmara – diz-se nesse documento –, em relação a assassinatos em 1978, declarou que havia revisado muitos dos expedientes secretos do FBI sobre os cubanos anticastristas desde 1978, e havia observado muitos exemplos em que o Bureau tinha feito vista grossa a possíveis violações da lei.
Fidel faz toda a retrospectiva – a entrevista é muito longa, não tenho tempo para resumi-la – para dizer que parecia estranho que se dissesse que em fevereiro de 1976 a Agência havia decidido romper seus vínculos com Posada e se reconhecesse que, ainda assim, Posada continuou passando informação “voluntariamente” à Agência. Alertou que Orlando Bosch e outro exilado cubano conspiravam contra o sobrinho do deposto presidente Salvador Allende; disseram que em junho Posada chama novamente à CIA, em relação a possíveis planos do exílio de fzer explodir – em junho de 1976 – a aeronave da Cubana que saía do Panamá.
Fidel diz ao jornalista: “Esse é outro documentos que nos interessa muito, porque se isso consta, onde consta. Isso é importante, onde consta isso e por que consta que em fevereiro se rompem os vínculos. Em fevereiro de 1976, observe que coincidência – e depois te explicarei por que a coincidência –, rompem-se os vínculos e, ainda assim, continuou passando informação”.
Reitera Fidel a idéia de que Posada chamou novamente à CIA, em relação a possíveis planos do exílio de fazer explodir a aeronave da Cubana que saía do Panamá.
“Ele falou, em suas declarações, que vocês devem ter gravadas” – diz Fidel ao jornalista Tim Golden –, “de vínculos permanentes com a Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos e de uma íntima amizade com pelo menos um dos oficiais ativos do FBI, e aqui nesse relatório diz-se que mantinha a comunicação, que informava sobre tudo isso.”
Fidel, então, recorda o que José Luis dizia agorinha da CORU, de como no mês de junho é criada a Coordenação de Organizações Revolucionárias Unidas, CORU, por Orlando Bosch; cria-se no mês de junho e faz-se um apelo a intensificar as atividades de terrorismo.
Fidel diz ao jornalista Tim Golden:
“Então você pode ver a cronologia:
“Em fevereiro, a CIA rompe vínculos com Posada. Supõe-se que rompe. Por isso eu falava de coincidência.
“Em junho, Posada informa à CIA sobre possíveis planos do exílio de fazer explodir a aeronave da Cubana que saía do Panamá, e nesse mesmo mês de junho todas aquelas organizações criam o que se chama CORU.
“No mês de agosto de 1976” – acrescenta Fidel – “apareceu publicado em um periódico contra-revolucionário que se edita em Miami uma suposta parte de guerra, em que declaram ao final, textualmente, no mês de agosto de 1976, o seguinte: ‘Em pouco tempo atacaremos aeronaves em vôo’,” agosto de 1976. “Vão aparecendo estranhas coincidências” – diz o Comandante –: “junho, a data de criação da CORU; em junho, segundo esses papéis que estamos tentando identificar, Posada informa à CIA possíveis planos do exílio de fazer explodir a aeronave da Cubana que saía do Panamá.”
No mês de agosto, aparece em Miami essa parte de guerra da CORU, onde toda essa gente, Bosch e companhia, declaram: “Em pouco tempo atacaremos aeronaves em vôo”.
“Em 6 de outubro, quatro meses depois da advertência, segundo os documentos, o avião explode, ninguém faz nada para evitar a sabotagem do avião, e saiu publicado nos Estados Unidos uma parte de guerra onde se declara isso de que em pouco tempo atacaremos aeronaves em vôo.”
Eu tenho aqui, Randy, um resumo muito pequeno de uma longa audiência do Subcomitê Judicial do Senado dos Estados Unidos, em maio de 1976, em que o tema discutido pelos senadores é o terrorismo na área de Miami. Aí comparecem funcionários da CIA, do FBI e de outras instituições norte-americanas, e diz-se que Orlando Bosch é o terrorista mais ativo – maio de 1976 – e está anunciando que haverá bombas e ataques de todo tipo contra aqueles que de alguma forma simpatizam com Castro, onde quer que estejam. Isso é dito nessa audiência do Subcomitê Judicial, onde também se assevera que Orlando Bosch disse que novos ataques sensacionais vão ocorrer. Isso também é dito em maio de 1976.
Relembra-se uma entrevista gravada para uma estação de rádio de Miami, a WQVA, em que Bosch diz: “Invadiremos as embaixadas cubanas e assassinaremos os diplomatas cubanos, seqüestraremos os aviões cubanos, até que Castro dê a liberdade a alguns dos prisioneiros políticos e comece a negociar conosco.”
Tudo isso é dito nessa audiência, em que também é dito, por fontes federais, que “Bosch está bem financiado por uns poucos exilados ricos dos Estados Unidos que apóiam seus intentos extremistas” e que – e é importante levar isto em conta para o futuro – “a política dos Estados Unidos com relação a Bosch mudou porque o governo não quer gastar dinheiro com sua extradição, processo e encarceramento, disse uma fonte do Departamento de Justiça”.
O Departamento de Justiça, depois de Vosch violar a liberdade condicional em Miami naquele mês de junho, havia emitido uma ordem de prisão contra ele.
Queria apontar esses elementos, Randy, porque me pareciam sumamente importantes.
Não vou falar de Posada Carriles, já falamos muito da história de Posada Carriles nestas mesas, de como Posada Carriles se evadiu com o apoio da Fundação Nacional Cubano-Americana e acabou na base aérea salvadorenha de Ilopango, precisamente apoiando a Operação Irã-Contra da administração Reagan, apoiado pela CIA e por oficiais de várias agências do governo dos Estados Unidos; mas, sim, queria lembrar que nos testemunhos apresentados diante do tribunal venezuelano naquela época, estão as declarações do Comissionado de Polícia de Trinidad e Tobago. Esse Comissionado de Polícia declarou que nos testemunhos dos dois venezuelanos, Hernán Ricardo e Lugo, tinham aparecido os argumentos de que eles eram agentes da CIA e que trabalhavam, naquele momento – estou falando de outubro de 1976 – para Luis Posada Carriles. Esse foi o testemunho dado no julgamento pela explosão do avião, durante o processo oficial em Caracas, na Venezuela, pelo Comissionado de Polícia de Trinidad e Tobago, o senhor Denis Elliot Ramward.
Em 1988 liberam a Bosch e, sem dúvida, não houve de parte de Bosch nenhuma reclamação. Bosch, apesar de tudo isso que dissemos de que nos Estados Unidos há uma ordem de prisão, que se diz que será encarcerado e deportado, decide encarar o processo judicial norte-americano e ir embora da Venezuela, ou seja, não ficar na Venezuela, mas ir para os Estados Unidos. É apoiado, naquele momento, pelo embaixador dos Estados Unidos na Venezuela, o senhor Otto Reich, que tem instruções de seus amigos, da Fundação Nacional Cubano-Americana, de apoiar essa gestão, como hoje é apoiada por outros indivíduos, em vínculo com a Fundação Nacional Cubano-Americana, a libertação do terrorista Luis Posada Carriles no panamá; ou seja, é a mesma seqüência.
Bosch chega aos Estados Unidos naquele ano, o Departamento de Justiça trata de deportá-lo. Há 31 países do mundo que se negam a recebê-lo, pelo perigo que representa, quando o próprio Bureau Federal de Investigações o qualifica como o terrorista número um de Miami e põe-se, então, em marcha a operação, que já estava concebida desde o momento de sua saída da prisão na Venezuela, de interceder ante o presidente George Bush pai pela liberação desse homem. E é assim que a congressista, a loba feroz Ileana Ros, o falecido Mas Canosa, o senador Connie Mack, o embaixador Otto Reich e o bispo auxiliar da arquidiocese de Miami, monsenhor Agustín Román, intercedem para liberar esse homem, que – como disse José Luis – é responsável por mais de trezentos e tantos atos de terrorismo sobre 25 países, se incluo a Cuba: a lista é de 24 no exterior, com Cuba, 25.
Bosch esteve de acordo com as 14 condições de sua liberdade condicional, incluída sua renúncia ao terrorismo; apesar disso, em uma entrevista coletiva, imediatamente após sua liberação, qualificou o trato com o Departamento de Justiça de ridículo e de uma farsa, dizendo: “Eles compraram a corrente, mas não têm o macaco”. Em seguida, com absoluta impunidade, graças à cumplicidade das autoridades, volta a suas andanças terroristas, dá o famoso ato, por exemplo, no estádio Bobby Maduro, em outubro de 1991, chamando de novo a criar o estado de sabotagens, de mandar armas e explosivos contra nosso país.
Depois de haver sido absolvido, justificou intelectualmente a sabotagem contra o avião da Cubana de Aviación e continua ativo, como presidente de um partido político autorizado pelas autoridades norte-americanas em Miami, o Partido Protagonista do Povo, desenvolvendo atividades terroristas. Aí estão os documentos, as cartas públicas que publicou nos panfletos de Miami, onde sua atividade criminosa é pública.
Finalmente, aparece este livro, Randy, Quarenta anos de luta, quarenta anos de razão, onde se justificam todas essas barbaridades e onde aparece uma versão tão grotesca daquele repugnante assassinato de 73 pessoas inocentes que, por pudor, não posso qualificar como gostaria, não posso fazê-lo diante das câmaras de televisão. É isto, esta pagininha (mostra): Os esportistas no avião de Barbados, que vou ler rapidamente, porque é breve.
“Em princípios do mês de outubro de 1976” – esta é a versão dele sobre a monstruosidade que cometeu – “apresentaram-se em Caracas seis esgrimistas castristas para participar em um torneio de esgrima. Para evitar a deserção de algumas delas, acompanhavam-nas 21 membros do G-2 ou DGI cubano. As seis esgrimistas ganharam as seis medalhas de ouro.
“Depois do evento, um repórter esportivo perguntou-lhes o seguinte: ‘Vejam, Cuba sempre se distinguiu muito no beisebol e no boxe, mas nunca na esgrima, como vocês explicam isso?’ Uma das esgrimistas lhe respondeu: ‘Devemos este êxito a nosso Comandante-em-Chefe Fidel Castro, que sempre se preocupou muito com a educação, a medicina e os esportes; nós nos sentimos muito orgulhosas de levar a Fidel estas medalhas que ganhamos aqui.’
“Depois de terminado o evento, as seis esportistas e os 21 membros do G-2 cubano voaram de Caracas a Trinidad, ali tomaram o avião que regressava de Angola e que depois caiu, no dia 6 de outubro, ao partir de Barbados.
“Parece que aplicaram às seis esgrimistas e aos 21 membros do G-2 aquela sentença que ‘todo aquele que saia de Cuba para conquistar glórias para a tirania, tem de correr os mesmos riscos dos homens e mulheres que combatem essa tirania’.”
Isto é imundo. Não tenho como qualificá-lo, realmente.
Randy Alonso – É o testemunho real de quem é esse criminoso, amparado pelos Estados Unidos, treinado pelos Estados Unidos.
E há testemunhos também, Lázaro, daqueles horríveis atos, de dois taxistas em Barbados, que declararam que em três ocasiões, depois desse ato criminoso, os dois venezuelanos contratados por Posadas Carriles e Orlando Bosch para executar a ação criminosa, imediatamente após descerem no aeroporto de Barbados, dirigiram-se à Embaixada dos Estados Unidos e naquele dia foram mais duas vezes a essa Embaixada, o que também dá uma idéia real do vínculo das autoridades norte-americanas com aquele acontecimento atroz de 6 de outubro de 1976.
O horror, as explosões, o incêndio na aeronave, os gritos de espanto, o desespero da tripulação tentando amerissar o avião, o pranto de todo um povo depois, pela perda daquelas 73 pessoas, 57 deles cubanos, incluídos os 24 integrantes da equipe juvenil de esgrima, que acabava de obter todas as medalhas de ouro no campeonato centro-americano; 11 jovens guianenses, 6 deles selecionados para estudar medicina em Cuba, e 5 cidadãos da República Popular Democrática da Coréia, todos eles, sem exceção, pereceram naquela sabotagem criminosa.
O testemunho doloroso de uma família vítima daquele atroz ato terrorista, esposa e filhos do despachante da Cubana de Aviación, Carlos Alberto Cremata Trujillo, uma das vítimas de Barbados, Iraida Alberti e Carlos Alberto Cremata, vivem hoje a dor da ausência e clamam por justiça.
Iraida Malberti – Bem, primeiro, como ser
humano, tudo o que implica uma injustiça no mundo me afeta. Eu chorei aqui mães
sem filhos, filhos sem pais e toda uma série de coisas; no aspecto pessoal,
inclusive, penso que até o próprio povo dos Estados Unidos é vítima de toda
essa grande injustiça que eles geram.
No caso pessoal, mataram a
meu companheiro de 20 anos, a meu noivo de 20 anos e pai de meus filhos. Isso
ninguém me pode pagar, isso ninguém poderá ressarcir jamais, porque mutilaram a
minha família, uma família totalmente feliz.
Quando penso naquele avião
e naquela carga preciosa que tinha o avião, penso que trazia duas tripulações
da Cubana de Aviación – a muito desses companheiros dele, que também era
tripulante do avião, eu conhecia, sabia sua forma de ser, como eram alegres,
brincalhões –; mas, além disso, vinham jovens para estudar em Cuba, guianenses
e coreanos; e, ademais, vinham aqueles jovens, aquelas crianças com suas
medalhas.
Nesse avião devem ter
cantado o Hino nacional, talvez mais de uma vez, talvez no momento em que
explodiu a bomba, e isso eu não posso tirar de minha mente nem um momento.
Por outro lado, para que
saibam, eles mataram atletas, nós continuamos gerando atletas; eles mataram
operários, trabalhadores, gente alegre, nós continuamos gerando gente; e
quiseram explodir a alegria, nós continuamos gerando alegria.
Carlos A. Cremata – Dezenas e dezenas de
vezes estive, quando era pequeno, como tantos cubanos, carregado nos ombros de
meu pai, junto com toda a família, alegres, desfilando em festas de
trabalhadores, um ponto entre milhares de compatriotas que íamos assistir ao
compromisso com Martí, com a pátria e com Fidel. E de repente, há 25 outubros,
vi-me surpreendido por um golpe terrível. Com 16 anos e uma nuvem de lágrimas,
não entendia por que estava naquela tribuna, entre tanta tristeza familiar e
com a estranha notícia de que era filho de um mártir. Por que tantas mães
choravam a esperança morta, alguns campeões quase crianças. E lembro que minha
adolescência não podia compreender. Meu pai não era um soldado ativo em uma
ação armada, era um trabalhador comum, um ser absolutamente inocente, a pessoa
mais alegre e amante da vida que jamais conheci, e, é claro, sei que agora
apenas amplifico o sentimento de todos os familiares de nossos mortos. E então
me estremeceu e mais me fortaleceu aquela voz penetrante de pai maior, que
fazia tremer a injustiça, enquanto seu povo, enérgico e viril, chorava. Depois,
reconfortou-nos tanto a dor sincera de milhões, não vamos esquecer nunca.
Por isso posso dizer, junto
com muitas pessoas aqui, que sabemos muito bem o que aconteceu desde o 11 de
setembro, ao povo norte-americano, com uma diferença: nós o sofremos como
familiares há 25 anos, e como povo, há 42 anos, e os assassinos, provados e
confessos, continuam impunes e inclusive jactando-se, no coração do próprio
povo norte-americano, de sua detestável condição de terroristas, de fazedores
de órfãos, de enlutadores de almas, porque, se de alguma coisa estão certos
todos, inclusive os assassinos, é que nada impediu, nem vai impedir que
continuemos fazendo, antes e depois, o que faziam nossos seres queridos: amar,
construir e ser livres.
(Passam vídeo)
– Aqui, Seawell, Cubana
455. Estamos solicitando RE-aterragem imediata, imediata...!
– Isso é pior...! Encosta
na água, Fello, encosta na água...!
Randy Alonso – Foi um ato que o povo cubano nunca esquecerá e que lhe serve também de estímulo em seu combate contra as mentiras do império. A agressão na década de 70 não terminou com aquele horrível crime de Barbados; durante toda aquela década e início de 1980, continuaram os atos terroristas contra nosso povo.
Como resultado do uso da política migratória, pelos Estados Unidos, como arma de agressão contra nosso país, fruto também da aprovação da Lei de Ajuste Cubano, Cuba teve de sofrer, durante todos esses anos, nas décadas de 60 e 70, inumeráveis tentativas e ações de seqüestros de aeronaves, de embarcações, e também teve de ver os ataques de bandos contra-revolucionários, financiados pelos Estados Unidos, contra barcos cubanos em nossas costas. Sobre esse tema, também tão sensível para a história de nosso povo, fala-nos Renato Recio.
Renato Recio – Realmente, quando alguém fala de seqüestro de embarcações ou de aeronaves, de gente que seqüestra aqui a embarcação ou aeronave e a leva para os Estados Unidos e fica lá, muitas pessoas pensam que essa é uma ação meramente política, ou seja, que é uma agressão de tipo político; mas quando analisamos essas coisas, nos damos conta de que o terrorismo puro e duro também está aqui, porque se desestabiliza a economia, provoca-se dano à economia e se desestabiliza a família cubana.
Se alguém olha, por exemplo, o seqüestro de embarcações, sobretudo embarcações de pescadores, e eu diria que 90% ou mais de todas as embarcações seqüestradas entre 1959 e 1979 foram de pescadores, nota que aí está, logicamente, a afetação econômica. Mas o que acontecia na família de pescadores, cada manhã que seu pai, ou seu filho, ou seu irmão, ou seu esposo saía a pescar? Bem, havia a grande possibilidade de que seu barco fosse seqüestrado, de que ele corresse riscos, porque há muitos mortos como resultado dessas ações; enfim, pretendia também criar temor, terror, pânico. Para quê? Para obter fins políticos, para que as pessoas se sentissem inseguras em seu próprio país, para que desejasse a paz a qualquer custo, para que os princípios revolucionários fossem decaindo, etc. Isso é terrorismo, nem mais nem menos. Agora nos damos conta de que não há quase nada, para não ser absoluto, não há quase nada, na política dos governos norte-americanos em relação a Cuba, que não seja terrorismo. A gente sempre se restringe, para não ser muito absoluto; mas é que, como seja que se olhe, em relação a Cuba, tudo que tocam se converte em terrorismo.
Nesse tema das naves, Randy, creio que é bom começar pelas embarcações marítimas. Vou falar, sobretudo, do período entre 1959 e 1979; depois há outra etapa, que poderíamos tratar em outro momento.
Aqui se vê o mesmo que em todas as esferas da vida cubana naquele primeiro ano, 1959: já nos primeiro meses, há embarcações seqüestradas, e já nos primeiros meses do ano de 1959 começa a haver vítimas dessas ações. Em 1961, há cinco embarcações seqüestradas, e delas, quatro são pesqueiros; em 1962, 10; em 1963, 13, dez pesqueiros; em 1962, todas são embarcações pesqueiras; em 1964, 12 embarcações, e de 1965 a 1967, 13. Quase todos os anos foram dezenas de embarcações desse tipo.
E o que acontecia com essas embarcações? Nesse período que estou narrando, e falei de dezenas de embarcações, apenas duas ou três embarcações foram recuperadas. Inclusive há casos em que foram leiloadas em Miami, descaradamente. Você rouba uma embarcação de Cuba e depois se leiloa lá e assim, além de tudo, obtém-se um dinheiro adicional.
Agora, a motivação fundamental que aquela gente podia ter era a absoluta impunidade: você rouba uma embarcação, não importa que tenha de matar a alguém, ou a muita gente, ou a duas ou três pessoas, e você é recebido lá como herói, e tem todas as facilidades do mundo; tem, ademais, uma rádio contra-revolucionária, às vezes a própria rádio governamental dos Estados Unidos, ou seja, as criações do governo dos Estados Unidos para atacar a Cuba. Essa gente é apresentada como heróis, estimula-se que façam isso; estimula-se o delito e, portanto, estimula-se o terror.
Vou falar sucintamente, por cima, o que encontrei em um relatório, de algumas mortes que ocorreram.
Já em outubro de 1959, seqüestrou-se uma nave do ancoradouro de Biltmore, na praia Jaimanitas; em 1960 é assassinado o soldado Raúl Pupo Morales e ferido o soldado Gilberto Sánchez Castelló, durante o seqüestro do iate Chelito III. Aqui continua a lista, a lista...
Em abril de 1962, seqüestra-se a embarcação de pesca de lagosta Olguita, em Batabanó. Um contra-revolucionário realizou essa ação, e morreu afogada uma cidadã cubana, María Cabrera García.
Em junho de 1963, um grupo de mercenários, proveniente dos Estados Unidos – já se começa a manejar um tipo de ação que depois vai ser clássica –, tripulando uma lancha pirata armada com metralhadoras e um canhão de 30 mm, desembarcaram na ilhota Blanco, a 15 quilômetros da baía de Cárdenas, e posteriormente atacaram de surpresa a uma patrulha de quatro marinheiros, assassinaram o membro da Marinha de Guerra Revolucionária, Jesús Fernández Rodríguez; seqüestraram a Daniel Expósito Torres e a Calimerio Ramírez Jerez e deixaram abandonadas naquele lugar numerosas armas de fabricação norte-americana, etc., etc. Na fuga, apoderaram-se de um pesqueiro, o Joven Elvira, e obrigaram seus tripulantes a levá-los à ilhota Maratón, onde desembarcaram.
É quase impossível, ninguém imaginaria que todas essas coisas pudessem acontecer sem o conhecimento dos guarda-fronteiras norte-americanos e das autoridades da costa da Flórida, não tem sentido. A cumplicidade, a estimulação, o total estímulo a essas ações está absolutamente acima de dúvida.
Em 1964 tenta-se seqüestrar uma embarcação, a Vivero, de pesca, no passo de Dimas, perto de Mantua, Pinar del Río, e se assassina a Juan Fernández Tul e se fere a Antonio Marín Rodríguez Calá.
Também em 1964, seqüestra-se a embarcação Tres hermanos, na ilha da Juventude, e assassina-se ao pescador Rafael Cabrera Mustelier, um nome que é muito lembrado nesse lugar cubano.
Assim, não vou continuar insistindo em casos daqueles anos; mas – como eu dizia – essa modalidade da lancha armada, com uma tripulação de contra-revolucionários, desses de quem se vinha falando aqui, que pululavam pelas ruas de Miami, terroristas confessos, reconhecidos, começaram a repetir-se essas ações que eu estava narrando.
Em abril de 1968, um Lambda da Escola do Mar é atacado por um barco pirata armado, na ilha Cruz del Padre, ao norte de Cárdenas.
Em maio de 1970, duas embarcações pesqueiras, Plataforma I e IV, são atacadas, e 11 pescadores são conduzidos a uma ilhota das Bahamas e retidos ali por uma semana, mais exatamente são abandonados, pode-se dizer maltratados, sem alimentação, etc., em condições muito precárias.
Em 3 de outubro de 1973, ataca-se e seqüestra-se outra nave e matam a Roberto Torna Mirabal.
Em 6 de abril de 1976, em um ataque pirata desse tipo, matam a Bienvenido Maurís.
Em 1977 é afundado o barco pesqueiro Río Jobabo, e o Río Damují é consideravelmente danificado. Isso acontece no Peru.
Em 1980, é assassinado um pescador, ao atacarem os pesqueiros FC-165 e FC-154, na baía de Samá, em Holguín, que é um lugar onde, evidentemente, a contra-revolução semeou crimes e terror.
Eu fiz apenas uma seleção por cima. estou falando de dezenas e dezenas de casos, e de muitíssimo mais vítimas além das que mencionei, mas, para que a lista não fosse interminável, fiz uma seleção.
Randy Alonso – Há que recordar, também, aquela batalha do povo cubano pela volta dos pescadores seqüestrados, algo que rememoramos quando houve o seqüestro do menino Elián, e que marcou também a história de pequeno de René González Sehwerert. Há que recordar o poema que René dedica àqueles pescadores seqüestrados, e que também são parte dessa história de luta do povo cubano, das massas cubanas nas ruas, para defender a seu povo da morte, como o fizeram naquela época, como fez o povo cubano durante 1999 e 2000, pela volta de Elián.
Renato Recio – E com toda justiça, o povo de Havana foi reunir-se, naquele dia, diante do Repartição de Interesses norte-americano, porque essa gente representava, precisamente, a responsabilidade por essas ações. Isso – como todo mundo sabe – foi se repetindo. Creio que aquilo foi um antecedente, Randy, das marchas e de tudo que aconteceria depois, nesse sentido.
Bem, falei sucintamente, repito, das embarcações; mas ainda há algo muito mais longo e importante, no que se refere aos seqüestros de aviões.
O seqüestro e desvio de aviões em pleno vôo, como também se começou a fazer desde 1959, desde os primeiros dias, era quase uma inovação do terrorismo, e foi projetado e executado e criado para Cuba, evidentemente. Quase não se conhecia esse fenômeno, ou não se conhecia, pode-se dizer, quando começa a ocorrer aqui, em 1959.
Em abril de 1959, um avião de passageiros DC-3, que fazia viagens de Havana à ilha da Juventude, foi seqüestrado por elementos da tirania, por ex-membros de órgãos repressivos da tirania. Nem vou dizer os nomes, tudo isso passou para a história; mas aí começa esse movimento novo de terrorismo, utilizando o seqüestro de aviões em vôo, com todos os riscos, toda a irresponsabilidade, tudo o que significa de criação de terror na pretensão dessa gente.
Entre 1959 e 2001 – e aqui vou estender-me até 2001 –, seqüestraram-se 51 aviões cubanos que, quase sem exceção, foram levados para os Estados Unidos, e a maior parte, a imensa maioria desses aviões nunca foi devolvida a Cuba: pilotos, guardas, passageiros, um número não desprezível de pessoas foram assassinadas ou feridas pelos autores dessas ações, e vários aviões, é claro. foram destruídos ou seriamente danificados nas tentativas frustradas, porque houve muitas ações de defesa heróica, tanto como nas embarcações, é preciso reconhecê-lo também. Muitas embarcações que a contra-revolução tentou seqüestrar foram resgatadas e salvas pelas ações heróicas dos trabalhadores da pesca e dos trabalhadores cubanos em geral, que o impediram com risco de suas vidas. No caso dos aviões, há também muitos exemplos desse tipo.
Bem, eu dizia que 51 aviões cubanos foram seqüestrados. E o que sucedeu? É um paradoxo, é um pouco aquilo de semear vento e colher tempestades; você semeia terrorismo e pode colher terrorismo também.
Acontece que essa praga de seqüestros que se iniciaram de Cuba para Estados Unidos, começou a converter-se também em uma epidemia nos Estados Unidos, nem sempre por motivações políticas concretas, não para derrubar o regime norte-americano, como eram as ações feitas no caso cubano, mas porque – como se sabe – nos Estados Unidos pode haver muitas motivações para um ato desse tipo. Pessoas desequilibradas, aventureiros, delinqüentes comuns começaram a seqüestrar aviões, e o faziam com uma faca, com uma garrafa cheia de água que diziam: “Isto é gasolina, vai explodir”, com qualquer coisa seqüestravam uma nave e a traziam para Cuba.
Isso aconteceu, fundamentalmente, até o ano 1973, quando Cuba propõe um acordo ao governo norte-americano, para o tratamento dos casos de seqüestro de aviões e a pirataria marítima. A proposta é aceita, e ambos os governos assinam, em 15 de fevereiro de 1973, esse acordo.
Isso trouxe, como conseqüência, uma certa diminuição das atividades de seqüestro de aviões em Cuba.
Eu creio, olhando as estatísticas, que não se conseguiu o mesmo resultado no caso dos barcos pesqueiros e outros porque – como vimos – o que se tornou comum, então, não foi o seqüestro, mas o ataque: o ataque a tiros, o ataque para afundar o barco, para destruí-lo e, inclusive, provocar danos físicos aos tripulantes.
Mas no caso dos aviões, não há dúvida de que houve uma diminuição.
Aqui, aconteceu que entre setembro de 1968 – esse é um dado que me parece chave – e dezembro de 1984, registraram-se 71 casos de seqüestros de aviões que foram desviados para Cuba – observem, aquilo de semear ventos... ou seja, já era maior a quantidade de aviões que vinham seqüestrados dos Estados Unidos para Cuba, que de Cuba para os Estados Unidos –; mas 69 participantes desses seqüestros foram julgados e condenados a penas de privação de liberdade em nosso país. Inclusive, depois daqueles acordos, as sanções se incrementaram, para entre 10 e 20 anos.
Agora, como resultado dessas medidas, passaram 18 anos, até agora mesmo, em que não se registrou nenhum caso de seqüestro dos Estados Unidos para Cuba.
Randy Alonso – Embora que ocorreram casos de Cuba para os Estados Unidos, onde foram aceitos os violadores daqueles acordos.
Renato Recio – Exatamente. Até 2001, até 2000, até os noventa, isso foi mantido, não há um só caso de alguém que tenha sido castigado pela lei nos Estados Unidos. Mas Cuba fez isso.
Parece-me que esse exemplo é interessante, para ver qual é a atitude que tem um e outro governo em relação ao fenômeno do terrorismo, qual é a responsabilidade que demonstra, qual é a ética que mantém, qual é o sentido de suas ações.
Creio que aquele é um acordo construtivo: uma parte o aplicou, e a outra não o aplicou em nada. Isso interessa, agora que hipocritamente se fala que o governo dos Estados Unidos quer lutar contra o terrorismo, etc., e fazem essas coisas que nós sabemos.
Fidel, quando falou nesse mesmo discurso, quando se comemorava o 25º aniversário do sabotagem de Barbados, diz: “Não é muito pedir que se faça justiça com os profissionais do terrorismo, que a partir do próprio território dos Estados Unidos, não pararam de aplicar seus desprezíveis métodos contra nosso povo, para semear terror e destruir a economia de um país fustigado e bloqueado”. E dizia: “Jamais um norte-americano foi morto ou ferido, nem uma só instalação , grande ou pequena, nesse imenso e rico território, sofreu o menor dano material por alguma ação procedente de Cuba”.
Quem queira realmente avaliar se Cuba pode ser acusada de terrorismo, e se é justa a acusação que os Estados Unidos fazem a Cuba sobre terrorismo, que veja esses dados e que analise isso que estou dizendo.
Não há nenhuma prova, não há nada, não podem apresentar, não puderam apresentar nunca. Assina-se um acordo, eles o violam, eles o mal interpretam, eles o utilizam à vontade, como a tantos outros, e Cuba os cumpre, porque nesse assunto, nesse aspecto, Randy, em que está em jogo a vida das pessoas. em que há gente que sofre, em que há familiares que têm de chorar as vítimas que são seres queridos, aí não há nada além da ética, o apego à verdade, o sentimento humano, que parece que os governos que vêm atuando contra Cuba perderam, como também o demonstram esses testemunhos postos esses dias na televisão.
Randy Alonso – E sem dúvida, um testemunho também, Renato, como você dizia, de qual tem sido a maneira de enfrentar os atos terroristas de um e outro governo, é que foi Cuba quem propôs aquele acordo, Cuba frustrou aqueles atos, condenando os seqüestradores a penas altas; mas, ademais, depois daquele acordo, os seqüestradores de aviões que foram desviados para nosso país foram devolvidos pelas autoridades cubanas às autoridades norte-americanas, para que fossem julgados naquele país, algo que jamais ocorreu com os governos norte-americanos, eles não o fizeram.
Renato Recio – Há um detalhe aí que também me parece interessante. Cuba advertiu que ia fazer isso.
Randy Alonso – Advertiu, ademais, exatamente.
Renato Recio – Claro, porque podia acontecer que uma pessoa injustamente perseguida nos Estados Unidos pelas leis, etc., viesse a Cuba pensando que cumpriria aqui a prisão, e então Cuba advertiu que isso aconteceria, para que ninguém se enganasse, para que ninguém pudesse equivocar-se nesse sentido.
Randy Alonso – Advertiu-o e cumpriu, coisa que os Estados Unidos não fizeram. Até este momento, os seqüestradores de aeronaves e de embarcações cubanas foram recebidos nos Estados Unidos, alguns deles com penas pendentes em nosso país pelo assassinato de jovens cubanos nessas tentativas terroristas também de levar embarcações.
Há muito de que falar nessa história sinistra do terrorismo norte-americano contra Cuba, quando tentam levantar a burla ao mundo de que Cuba é um estado bioterrorista. Há que denunciar, com muito mais força, a guerra biológica que os Estados Unidos desataram contra nosso país ao longo de 40 anos, para o que convidarei amanhã a Arleen e a Ovies a que nos acompanhem no painel, e a continuar denunciando, uma a uma, as ações terroristas dos Estados Unidos contra nosso povo.
Agradeço ao painel que me acompanhou nesta tarde e aos convidados que tivemos em nosso estúdio.
Compatriotas:
Quando a mentira grosseira, os truques falazes, o engano mendaz, tentam transformar-se em argumentos para justificar a criminosa agressão contra nosso povo, a nação se levanta com a força de sua verdade, para destruir, uma a uma, todas essas falsidades, e demonstrar, com as irrefutáveis provas de nossa história, quem são os verdadeiros terroristas.
Hoje, nesta mesa, quando recordamos os irmãos mortos no criminoso ato terrorista contra o avião da Cubana em 1976, quero terminar recordando estas palavras que Fidel pronunciou na Praça da Revolução, no ano passado, no 25º aniversário do horrendo crime:
“Nossos irmãos mortos em Barbados já não são apenas mártires; são símbolos na luta contra o terrorismo, erguem-se hoje como gigantes nessa batalha histórica para erradicar o terrorismo da face da Terra, esse repugnante método que tanto dano causou a seu país e tanto fez sofrer a seus seres mais queridos e a seu povo; um povo que já escreveu páginas sem precedentes nos anais de sua pátria e de sua época.
“Não foi inútil o sacrifício de suas vidas. A injustiça começa a tremer ante um povo enérgico e viril, que há 25 anos chorou de indignação e dor, e hoje chora de emoção, de esperança e de orgulho, ao recordá-los.
“Em nome dos mártires de Barbados:
“Socialismo ou Morte!
“Pátria ou Morte!
“Venceremos!”
Muito boa noite.