Reflexões
do companheiro Fidel.
OS
CRISTÃOS SEM BÍBLIAS
Os médicos e o resto dos
profissionais e técnicos da saúde cubana constituem uma força excepcional.
Nenhum país tem algo
semelhante; da mesma forma que os soldados internacionalistas da nossa ilha,
formaram-se no combate. Suas missões no estrangeiro ajustam-se a rigorosas
normas éticas. Os seus serviços são oferecidos gratuitamente ou se
comercializam, segundo as circunstâncias do país receptor. Eles não são
exportáveis.
No entanto, os livros não são
suficientes. Não basta que nas bibliotecas existam suficientes para as
consultas incessantes que são realizadas. Faz falta que cada um de nossos
profissionais da saúde tenha um texto clássico de sua especialidade e se
desempenha ou pratica dois, três ou mais missões no hospital ou na policlínica,
deve ter um exemplar clássico de cada uma delas.
Um graduado
O que faz um médico sem o
texto atualizado que seja considerado ideal sobre esses conhecimentos? O que
faz se for cirurgião sem ter um texto adicional sobre Cirurgia? O que faz se
trabalha como clínico de um hospital geral onde também atende numerosos
pacientes idosos? Três livros clássicos pessoais: como médico geral integral,
como clínico e como geriatra devem estar em suas mãos.
Hoje as especialidades estão
vinculadas entre si e se combinam. Os conhecimentos sobre nutrição, sistema
nervoso, cardíaco e sobre o sistema ósseo; os medicamentos adequados estão em
constante transformação e requerem um grande acervo de conhecimentos,
individuais ou coletivos, entre os especialistas que geralmente fazem parte das
equipes médicas.
Em Medicina muitos problemas
são urgentes e as urgências precisam de decisões imediatas. Os meus
compatriotas percebem sobre o que lhes estou falando, porque sabem de centros
assistenciais e de serviços, onde ficam e quem os atende, a nível local,
regional ou nacional, mais do que ninguém imagina. Aos conhecimentos básicos do
especialista é preciso acrescentar o uso intensivo da computação para a
informação e para a realização de interconsultas.
Em nossa legislação nacional
está estabelecido o direito a utilizar com fins educativos qualquer texto que
se publique no mundo desde A llíada
até Cem anos de Solidão. Não acontece
assim no caso da impressão com fins comerciais de obras protegidas por
legislações sobre o direito de autor. É preciso oferecer algum estímulo a
aqueles que se esmeram em criar arte e ciência, quer dizer, bens para a vida
espiritual e material.
Há apenas alguns dias, alguém
me facilitou um filme não profissional do conhecido balé “O Lago dos Cisnes”, tema no qual eu estou longe de ser um perito,
mas que nas atuais circunstâncias constitui para mim uma agradável forma de me esquecer
quase totalmente do tempo. Durante quase duas horas observei a incrível atuação
da que talvez seja hoje a melhor intérprete desse balé no mundo: Viengsay,
filha de um casal diplomático cubano a quem chamaram assim em honra de uma
região de Laos, onde eles representaram Cuba.
Há atuações que são
irrepetíveis!, exclamou um crítico europeu. Eu concordo nisso. Não imaginava
tão admirável elegância e flexibilidade, sem a mais mínima imprecisão. Este é o
fruto de toda uma escola dirigida por Alicia Alonso, genial inspiradora do Balé
Nacional, companhia artística que esteve à altura da intérprete.
Eu sabia que por trás da
bailarina estava também o fisoterapeuta, já aposentado, que durante 36 anos
trabalhou num hospital geral da cidade e que, após cada jornada extenuante da
artista no seu treinamento, trabalhava com ela uma hora ao dia para garantir a
elasticidade e a fortaleza de cada um dos músculos que participavam em seus
movimentos. "Evita-me riscos de distensão”, afirmou Viengsay há vários
anos.
De fisioterapeuta artístico eu
o classifiquei numa breve mensagem no qual o exortava a que escrevesse um livro
sobre a sua experiência com a destacada bailarina.
Segundo me contaram depois
eles mesmos, ambos tinham pensado igual há aproximadamente 5 anos; mas, entre
as múltiplas tarefas diárias, ninguém pôde ocupar-se do assunto. Acho que desta
vez o comprometi a sério.
Esta disquisição talvez sirva
para transmitir a idéia que sustento. Em janeiro passado falei sobre Elena
Pedraza, a fisioterapeuta chilena de 97 anos, que tanto nos ajudou no
desenvolvimento dessa especialidade que quase não existia em Cuba antes da
Revolução. Após a minha Reflexão, ela enviou um exemplar escrito por Debra J.
Rose, fisioterapeuta da Califórnia, publicado por uma editorial espanhola.
Desse exemplar, editamos 10 000 para aqueles que oferecem esses serviços
em Cuba, entre eles os estudantes dos últimos cursos e 500 serão adquiridos na
casa editora para os fisioterapeutas cubanos que trabalham na Venezuela.
Desse texto, selecionamos
exercícios fundamentais de aplicação geral à população que ultrapassa os 50
anos, porque é preciso educar o povo para atividades de saúde que se
generalizam. É impossível ter um fisioterapeuta para cada pessoa dos milhões
que precisam receber esses tratamentos.
Como gostariam os hierarcas
europeus e estadunidenses de comprarem médicos cubanos, da mesma maneira em que
o fazem com os formados dos países africanos, latino-americanos e de outras
partes do Terceiro Mundo, privando-os dos profissionais que com tantos
sacrifícios preparam!
Numa aldeia da África – como
já dissemos e diremos todas as vezes que for necessário-, um médico
internacionalista cubano pode formar simultaneamente vários excelentes médicos,
no maior laboratório do mundo, que é a comunidade e nela combater as doenças
concretas de cada região específica da África. Os livros que esse médico tenha
servirão como um fundo comum de conhecimentos.
Um profissional da saúde sem
um texto especializado em suas mãos é como um cristão sem Bíblia.
Enquanto escrevo estas linhas
na tarde do domingo, reitero a idéia, se o tempo me permite fazê-lo, elaborarei
umas Memórias. Se alguém pagasse por elas, eu alocaria esses fundos à impressão
em Cuba de textos para os nossos profissionais da saúde. Entretanto, já há mais de 100 mil garantidos
com antecedência, os quais serão distribuídos nos próximos meses, não em
grossos e pesados volumes como os importados, senão divididos em volumes mais
pequenos por grupos de capítulos.
Amanhã se inicia o Encontro
sobre Globalização e Problemas do Desenvolvimento. Seu principal orador no
primeiro dia seria o nosso querido amigo o presidente do Equador, Rafael
Correa. Ele não poderá assistir. Escutam-se com força no sul de nosso
continente as trombetas da guerra, em conseqüência dos planos genocidas do
império ianque.
Nada é novo! Estava previsto!
Fidel Castro Ruz
2 de março de 2008
19h42