Reflexões
do companheiro Fidel
O ENCONTRO COM HU
JINTAO
Quis falar pouco,
mas ele me obrigou a estender-me mais; fiz algumas perguntas e fundamentalmente
o escutei.
Suas palavras
narraram as proezas do povo chinês nos últimos 10 meses. Grandes e extemporâneas
nevadas, um terremoto que devastou áreas de superfície equivalentes a três
vezes a de Cuba, e a crise econômica internacional mais grave desde a Grande
Depressão dos anos 30, golpearam a imensa nação de 1 300 milhões de
habitantes.
Por minha mente passava o
imenso esforço do povo chinês, de seus operários, seus camponeses, seus trabalhadores
manuais e intelectuais; o tradicional espírito de sacrifício e a cultura milenária
desse país milhares de anos antes da etapa colonial imposta por Ocidente, onde emergiram
com seu poder e suas riquezas as atuais potências do Grupo G‑7 que hoje
hegemonizam a economia mundial.
Que colossal tarefa nestes
tempos de globalização caia sobre esse dirigente que teve o gesto de visitar nossa
bloqueada, agredida e ameaçada pátria! Acaso não somos um país terrorista entre
outros 60 ou mais que podem ser atacados preventivamente e por surpresa? Isso
disse há já mais de seis anos o demencial chefe do império, que se reuniu em
Washington há apenas cinco dias com o G‑20!
A China é o único país desse
grupo que pode regular através do Estado um elevado índice de crescimento, ao
ritmo que se propõe, não menor a 8 por cento no ano
Empregando 586 biliões de
suas reservas em divisas convertíveis, que se aproximam dos dois milhões de milhões
de dólares, acumuladas na base de suor e sacrifício, pode encarar a atual crise
e continuar avançando. Existe outro país com essa solidez?
O presidente da China, secretário-geral
do Partido e presidente das Comissões Militares Centrais do Partido e do
Governo, Hu Jintao, é um líder consciente de sua autoridade e sabe exercê-la a
plenitude.
A delegação presidida por ele
assinou com Cuba doze projetos de acordos para um modesto desenvolvimento econômico,
em uma zona do planeta onde a totalidade do pequeno território da ilha pode ser
açoitada por furacões de crescente intensidade, uma prova de que o clima
realmente está mudando. A área afetada pelo terremoto na China não ultrapassa 4
por cento da superfície de aquele grande Estado multinacional.
Há circunstâncias em que o
tamanho do território de um país independente, sua localização geográfica e o número
de seus habitantes desempenham um papel importante.
Os Estados Unidos, que roubam
em toda a parte inteligências já formadas, estariam em condições de aplicar uma
Lei de Ajuste para os cidadãos chineses similar à que aplica a Cuba? É
absolutamente óbvio que não. Poderia aplicá-la a toda a América Latina? É claro
que também não.
Entretanto, nossa maravilhosa,
poluída e única nave espacial prossegue suas voltas, sobre o seu eixo
imaginário como repete um dos programas mais escutados da televisão venezuelana.
Nem todos os dias um pequeno Estado tem
o privilégio de receber um dirigente da personalidade e do prestígio de Hu
Jintao. Agora continuará viagem rumo a Lima. Ali haverá outra grande reunião. De
novo estará presente Bush, desta vez com 7 dias menos de mandato.
Afirma-se que em
Washington, com apenas 20 líderes dos países
participantes, as medidas de segurança próprias e as demandadas do anfitrião
contra qualquer tentativa de eliminá-los fisicamente, mudou os costumes e a
vida habitual da cidade. Como será na grande urbe de Lima? Sem dúvida alguma a
cidade será tomada pelos corpos armados; movimentar-se será uma tarefa
complicada, visto que nela, também, estarão presentes os agentes bem treinados
de órgãos supranacionais dos Estados Unidos, cujos interesses e planos seriam
conhecidos muitos anos depois de decorridos os períodos presidenciais dos
chefes eventuais do império.
Expressei-lhe de maneira muito sucinta
algumas apreciações de nosso país sobre o hábito do vizinho do Norte, que
pretende impor-nos suas idéias, seu modo de pensar e seus interesses através de
suas frotas, lotadas de armas nucleares e bombardeiros de ataque; nossa apreciação
da solidariedade da Venezuela para com Cuba desde os momentos mais críticos do
período especial, e o duro golpe dos desastres naturais. Que o presidente
Chávez, grande admirador da China, tem sido o mais firme defensor do socialismo
como o único sistema capaz de levar a justiça aos povos da América Latina.
Em Beijing se guarda uma agradável
lembrança do líder bolivariano.
O presidente Hu
Jintao reiterou seu desejo de continuar desenvolvendo as relações com Cuba, um
país pelo qual sente um grande respeito.
O intercâmbio se produziu
durante uma hora e 38 minutos. Foi cálido, amistoso, modesto, e tornou
patentes seus sentimentos de afeto. Vi-o jovem, saudável e forte. Desejamos a nosso
ilustre e fraterno amigo o maior sucesso em sua tarefa. ¡Obrigado por sua
estimulante visita e pela honra de se interessar em ter um encontro pessoal comigo!
Fidel Castro Ruz
19 de novembro de 2008
13h12