Reflexões do companheiro Fidel
Com os pés na terra
Enquanto no dia 2 de abril iniciava e concluía
em Londres a Cúpula do G-
“Os quase 50 anos de embargo econômico contra
Cuba ─diz Lugar (Republicano por Indiana)─ colocam os Estados
Unidos em contradição com a opinião do resto da América Latina, da União Européia
e das Nações Unidas” e “solapam nossa mais ampla segurança e interesses
políticos no Hemisfério Ocidental”.
“A Cúpula das Américas em Trinidad e Tobago, de
“Lugar, o republicano mais proeminente da Comissão
de Relações Exteriores do Senado, ─diz Karen DeYoung─ está na
avançada de um amplo movimento que advoga por uma nova política que inclui a Câmara
de Comércio dos EE.UU., outros grupos empresariais, um número de governos
estaduais e grupos de direitos humanos. Uma maioria bi-partidarista do Congresso
tem votado em repetidas ocasiões em favor de aliviar as restrições de viagens e
outros contatos com Cuba, apesar de medidas fracassadas após ameaças de vetos
presidenciais durante a administração Bush”.
“Lugar é co-patrocinador de um projeto de lei bi-partidarista
introduzido no Senado nesta semana que porá término a todas as restrições sobre
as viagens a Cuba, salvo casos de guerra ou ameaças para a saúde e a segurança”.
“Lugar disse que a nomeação de um enviado e o
início de conversações diretas sobre temas como migração e tráfico de drogas
‘serviria aos interesses de segurança vitais dos Estados Unidos’… e poderia, em
última instância, criar as condições para um debate significativo de temas mais
litigiosos.”
O artigo de Karen não admite dúvida de que o
Senador por Indiana caminha com os pés sobre a terra. Não parte de posições
filantrópicas. Trabalha, como ela expressa, com “a Câmara de Comércio dos
EE.UU. e outros grupos empresariais, outros governos estaduais e grupos de direitos
humanos”.
Tenho a certeza de que Richard G. Lugar não teme
a bobagem de que o qualifiquem de fraco ou pró-socialista.
Se o Presidente Barack Obama percorre o mundo
afirmando, como o fez em seu próprio país, que resulta preciso investir as
verbas que forem necessárias para sair da crise financeira, garantir as
moradias em que vivem inumeráveis famílias, garantir o emprego aos
trabalhadores norte-americanos que o estão perdendo aos milhões, colocar os
serviços de saúde e uma educação de qualidade para todos os cidadãos; como isso
pode ser conciliado com medidas de bloqueio para impor sua vontade a um país
como Cuba?
As drogas constituem hoje um dos problemas mais
graves deste hemisfério e da Europa. Na luta contra o narcotráfico e o crime
organizado, estimulado no enorme mercado dos Estados Unidos, os países latino-americanos
estão perdendo já quase dez mil homens cada ano, mais de duas vezes os que os Estados
Unidos têm perdido na guerra no Iraque. Seu número cresce e o problema está bem
longe de ser resolvido.
Esse fenômeno não existe em Cuba, vizinho
geográfico próximo dos Estados Unidos. No espinhoso tema e na luta contra a
emigração ilícita, os guarda-costas norte-americanos e cubanos têm estado
cooperando durante longos anos. Por outro lado, nenhum norte-americano morreu
como conseqüência de ações terroristas procedentes de nosso país, porque não seriam
atividades toleradas.
A Revolução cubana, que nem o bloqueio nem a guerra
suja conseguiram destruir, é baseada em princípios éticos e políticos; é por isso
que tem sido capaz de resistir.
Não pretendo esgotar o tema. Longe disso, omito nesta
reflexão o prejuízo que tem ocasionado a nosso país a atitude arrogante dos
Estados Unidos contra Cuba.
Os que são capazes de analisar serenamente os
acontecimentos, como é o caso do Senador de Indiana, usam um argumento irrefutável:
as medidas dos Estados Unidos contra Cuba, ao longo de quase meio século, constituem
um fracasso total.
Não é preciso
enfatizar o que sempre Cuba tem dito: não tememos dialogar com os Estados
Unidos. Também não precisamos da confrontação para existir, como alguns tolos pensam;
existimos precisamente porque acreditamos em nossas idéias e nunca tememos
dialogar com o adversário. É a única forma de procurar a amizade e a paz entre os
povos.
Fidel Castro Ruz
5 de abril de 2009
13h04