REFLEXÕES
DO COMPANHEIRO FIDEL
Encontro
com a Presidenta do Chile Michelle Bachelet.
Não interessa o que eu possa
dizer sobre o amigável encontro, algumas agências e publicações apanharão a informação
e divulgarão que o idoso, o convalescente de uma doença grave ou qualquer outro
qualificativo dirigido a reduzir o modesto valor daquilo que eu disse a minha
prestigiosa interlocutora.
A Michelle coube o mérito de
ser eleita como Presidenta do Chile pelo voto majoritário outorgado ao Partido
Socialista que a escolheu como candidata. Pela primeira vez nos últimos anos,
na América Latina uma organização de esquerda atingia a vitória, sem apoio do
dinheiro, das armas e do aparelho de publicidade ianque.
Ainda mais, essa distinção
correspondeu ao Partido Socialista de Salvador Allende, que morreu sob o
arteiro ataque direto a
A traição do sinistro Chefe
do Exército Chileno, que fingiu a todos e a todos enganou até o último momento
não teve precedentes.
Mesmo a casa onde morava a
sua família,
Em momentos muito duros
daquela etapa, quando atrás ficavam milhares de torturados, assassinados e
desaparecidos, uma mulher muito jovem, Gladys Marín, dirigia o Partido
Comunista do Chile, forjado durante dezenas de anos de esforços e de
sacrifícios da classe operária chilena, que a elegeu para essa
responsabilidade.
Gladys Marín e seu Partido
não se enganaram, deram todo o seu apoio a Michelle Bachelet, determinando
dessa maneira o fim da influência de Augusto Pinochet. Era inadmissível que o
tirano desenhado e levado ao poder pelo império dirigisse mais uma vez os
destinos do Chile.
A opinião mundial repudiava
seu comportamento.
Apesar disso, não foi nem
ainda é fácil desfazer a meada legal que, com a ajuda ianque, a oligarquia
vingativa e fascista ata à nação chilena, digna de um melhor destino.
Essa mesma oligarquia, há
mais de cem anos, na guerra desatada em 1879, arrebatou à Bolívia a costa
marítima que lhe dava amplo acesso ao Oceano Pacífico.
A Bolívia sofreu uma
extraordinária humilhação histórica naquela contenda. Não só lhe arrebataram a
costa marítima e a saída ao mar; esse país, de origem autenticamente americana,
sobretudo aimaras e quíchuas, também foi privado de extensos territórios muito
ricos em cobre os quais constituíam a maior reserva do mundo, que tendo sido
exploradas durante 130 anos, hoje a sua produção atinge os 5,364 milhões de
toneladas anuais e aporta anualmente à economia chilena por volta de 18 mil 452
milhões de dólares. A sociedade moderna não é concebida sem o cobre metálico,
cujos preços têm a tendência de se acrescentarem.
Mais outros valiosíssimos
minérios e produtos naturais, alguns já esgotados e outros novos de altíssimos
preços, apareceram. Não se sabe quais deles eram chilenos e quais bolivianos.
O atual presidente da
Bolívia, Evo Morales, não por isso guarda rancor algum, tudo o contrário,
ofereceu o seu território para uma ampla e moderna estrada, por onde poderão
ser enviados a muitos mercados do mundo os produtos da eficiente indústria do
Chile, em pleno auge e desenvolvimento, com seus laboriosos e produtivos
trabalhadores.
O Chile também é
especialmente eficiente na produção de alimentos nutritivos e madeira de alta
qualidade, em suas terras agrícolas, em suas montanhas e em seu privilegiado clima.
Não existe outro país que o
supere na eficiência das suas culturas marítimas e de produtos de alta demanda,
nomeadamente o salmão e outras espécies cultivadas ou naturais, em suas ricas
águas marítimas e terrestres.
Estamos hoje muito próximos
do 15 de Fevereiro, dia do referendo sobre a emenda constitucional, na irmã
República Bolivariana da Venezuela.
José Martí foi a mais
profundo pensador revolucionário que tem tido Cuba e o nosso Herói Nacional.
Perante a imagem de granito desse pensador, Michelle Bachelet colocou uma coroa
de flores em nome de seu povo, que agradecemos imenso.
Há 115 anos expressou a
respeito de Bolívar: “O que ele não deixou feito, hoje ainda está por fazer;
porque Bolívar ainda tem que fazer na América.”
Por outro lado, o grande
poeta chileno Pablo Neruda expressou: “Bolívar acorda a cada cem anos”.
Bolívia revive novamente na
ação revolucionária de Chavéz, próximo de cumprir-se o segundo século de sua
rebelião contra a metrópole espanhola. Se o novo líder, que dirige seu
combativo povo não consegue o objetivo, é difícil que algum outro líder possa
alcançá-lo. Os recursos midiáticos da oligarquia e do império não poderiam ser
superados.
Então, o que fazer para que
este planeta deixasse de ser como o inferno de Dante, onde um letreiro na sua
entrada exigia abandonar toda esperança?
Contudo, tenho a certeza de
que na Venezuela a Revolução obterá a vitória, e no Chile vencerá
definitivamente o ideal do socialismo, pelo qual lutou e deu a sua vida
Salvador Allende.
Sobre estes temas conversei
com Michelle Bachelet, que me fez a honra de escutar-me atenciosamente,
conversar calorosamente e expressar com amplidão suas idéias.
Sempre estarei satisfeito de
sua amistosa visita.
Fidel Castro Ruz
12 de Fevereiro de 2009
17h12