Reflexões
do companheiro Fidel
A
TORTURA JAMAIS PODE SER JUSTIFICADA
No domingo, enquanto dava as
ultimas revisões à Reflexão sobre Haiti, escutava pela televisão a comemoração
da Batalha de Pichincha que aconteceu no Equador há 187 anos, em 24 de maio de
Parei para observar os vistosos
uniformes da época e outros pormenores da comemoração.
Quantas recordações
comoventes ao redor da heróica batalha que decidiu a independência do Equador!
Os ideais e sonhos da época estavam presentes naquele ato. Junto ao presidente
do Equador, Rafael Correa, foram convidados de honra Hugo Chávez e Evo Morales
- que hoje reeditam os anseios de independência e justiça pela qual lutaram e
morreram os patriotas latino-americanos. Sucre foi a personagem principal da
imortal façanha, impelida pelos sonhos de Bolívar.
Aquela luta ainda não concluiu, reaparece em condições
muito diferentes, talvez nem mesmo sonhadas na altura.
De repente lembrei-me de um
discurso de Dick Cheney que tinha lido o sábado, sobre Segurança Nacional proferido
a quinta-feira às 11h20 no Instituto de Empresas
americanas e transmitido pela CNN em espanhol e CNN
A menção daquela parte do território
nacional ocupado pela força chamou-me a atenção, além do interesse lógico sobre
o tema. Nem sequer mesmo conhecia sobre o que Cheney falaria imediatamente depois. Não é
coisa habitual.
Inicialmente pensei que pudesse ser um desafio aberto ao novo
Presidente, mas quando li a versão oficial compreendi que a rápida resposta tinha sido concertada
com antecedência.
O vice-presidente anterior tinha elaborado seu
discurso cuidadosamente, em um tom respeitoso e às vezes adoçado.
Mas o que caracterizou o
discurso de Cheney foi a defesa da tortura como método para obter informação em
certas circunstâncias.
O nosso vizinho do norte é um
centro de poder planetário, a nação mais rica e poderosa, possuidora de uma cifra
de cabeças nucleares que vai de 5 mil até 10 mil, as que podem explodir-se em
qualquer ponto do planeta com precisão de milímetros. Teria que ser acrescentado o
resto de seu equipamento bélico: armas químicas, biológicas, eletromagnéticas,
um imenso paiol de meios de combates terrestres, navais e de ar. Essas armas
estão nas mãos daqueles que reclamam o direito de usar a tortura.
O nosso país possui cultura
política suficiente para analisar tais argumentos. Muitos no mundo igualmente
entendem o que expressam as palavras de Cheney. Farei uma breve síntese escolhendo seus próprios parágrafos acompanhados de breves comentários
e opiniões.
Começou criticando o discurso
de Obama: "é óbvio que o presidente seria sancionado numa Câmara de Representantes, porque na Câmara temos a
norma de alguns minutos" disse a maneira
de piada, embora ele, pela sua vez, falou bastante tempo, a versão
oficial traduzida tem 31 páginas de 22 linhas cada uma.
"… Fui o primeiro vice-presidente que também agiu como
Secretário de Defesa … minhas funções logicamente
estavam voltadas para a segurança
nacional, me concentrei nesses desafios essencialmente... Hoje sou um homem
mais livre. Não tenho nenhuma eleição que ganhar ou perder, nem estou procurando
favores.
"Não estou aqui falando em
nome de George W. Bush. Ninguém mais do que nós queremos que o governo atual
tenha êxito.
“Hoje quero falar da
filosofia” estratégica que está por trás das nossas políticas, o faço como
alguém que lá esteve todos ao dias durante o governo de Bush que apoiou as
políticas quando foram tomadas as decisões e que, sem dúvidas, o faria mais
outra vez nas mesmas circunstâncias.
"O presidente Obama merece nosso apoio
quando toma decisões sábias, como eu acho que o tem feito em certos assuntos concernentes
a Afeganistão e ao respeito a reverter
seu plano de publicar fotos incendiárias, e quando culpa ou desvirtua
as decisões de segurança nacional que nós tomamos, merece uma
resposta."
"O Nosso governo sempre teve que fazer face
a criticas, que no caso de certos círculos sempre foi intensa, essencialmente
nos últimos anos de mandato, quando os perigos eram tão graves ou mais graves
do que nunca, mas o senso de alarme após o 11 de setembro já estava
desaparecendo na memória."
Posteriormente faz um
resumo dos ataques terroristas praticados contra os Estados Unidos durante os
últimos 16 anos, dentro ou fora de suas fronteiras, numerando meia dúzia
deles.
O problema de Cheney era
entrar no espinhoso tema das torturas que tantas vezes a política oficial dos
Estados Unidos tem condenado.
"Em 11 de Setembro foi
necessária a mudança da política,
voltada para uma ameaça estratégica que o Congresso qualificou como ameaça inusual
e extraordinária à segurança nacional de E.E.U.U. Decidimos evitar ataques desde
o primeiro momento", assegurou.
Assinala o número das pessoas
que perderam a vida o 11 de setembro. O compara com o ataque a Pearl Harbor. Não explica por que a complexa ação conseguiu
organizar-se de maneira relativamente fácil,
quais notícias prévias da inteligência possuía Bush, o que conseguiram fazer para evitá-la. Já Bush tinha quase oito meses
na Presidência. Sabia-se que trabalhava pouco e descansava muito.
Constantemente ia embora para
fazenda em Texas.
"Al - Qaeda procurava
tecnologia nuclear - afirma - e A.Q.Khan estava vendendo tecnologia nuclear no
mercado negro", - exclama e acrescenta: "Tivemos os ataques com ántrax
de fonte desconhecida, os campos de
treino no Afeganistão e ditadores como Saddam Hussein, com relações conhecidas
com terroristas no Oriente Médio.
"Como lembrarão eu
estava em meu escritório naquelas primeiras horas quando o radar descobriu um
avião que ia para a Casa Branca a 500
milhas por hora, o vôo 77, que terminou batendo o Pentágono. Com o avião ainda
voando, os agentes do Serviço Secreto entraram no meu gabinete e me dizeram que
deveríamos partir imediatamente. Posteriormente
estava num posto de comando fortificado em algum lugar debaixo da Casa
Branca."
A narração de Cheney evidencia
que ninguém tinha previsto aquela situação e lhe oferece um pequeno serviço para
orgulho dos americanos ao supor que
alguém fechado numa gruta, a 15 ou 20 mil quilômetros de distância, poderia
forçar ao Presidente de Estados Unidos a ocupar sua posição de controle no
porão da Casa Branca.
"Dali em diante - narra Cheney
– tenho escutado especulações ocasionais, de que eu mudei após o 11 de
setembro, eu não diria isso, mas devo admitir que observar um ataque coordenado
e devastador contra o nosso país desde um bunker subterrâneo na Casa Branca
pode afetar a visão que temos das nossas responsabilidades."
"Como as guerras não
podem ser ganhas na defensiva, agimos diretamente contra os terroristas, suas
guaridas e santuários.
"As políticas foram
aplicadas com apoio bipartidista.
"Não inventamos a
autoridade. Aparece no Artigo dois da Constituição.
"Após do 11 de setembro
o Congresso e uma Resolução Mista autorizaram todo o necessário para proteger os
E.E.UU
"Esta iniciativa nos
permitiu interceptar chamadas e monitorar contatos entre operadoras de Al - Qaeda e as pessoas dentro dos EE.UU.
"O programa era 'top
secret' e por uma boa razão, até que os editores do New York Times o obtiveram e
divulgaram isto em primeira página. Depois do 11 de setembro, O Diário passou
meses publicando fotos dos mortos. A
cargo de Al - Qaeda, aquele dia.
"Isso impressionou ao
Comitê de Prêmios Pulitzer, mas evidentemente não serviu aos interesses do país
nem salvaguardou ao povo.
"Anos depois o nosso
governo compreendeu que a segurança do país requeria colher informação que em alguns casos só poderia
ser obtida mediante fortes interrogatórios.
"Eu fui e continuo sendo um forte defensor do programa de interrogatórios." (Se refere
aos interrogatórios com emprego
de torturas.)
"Esse método foi usado
com terroristas depois de fracassarem
com outras técnicas.
"Estos eram legais,
essenciais, bem justificados, bem-sucedidos e a maneira correta de agir.
"Mas os nossos
sucessores têm seu próprio ponto de
vista sobre o assunto.
"Por decisão
presidencial, o mês passado vimos como eram divulgados documentos relacionados com essa prática de interrogatórios. Foi feito
como um exercício pleno do governo para
honrar o direito do povo a
saber a verdade.
"… O público recebeu
menos da metade da verdade.
"É difícil de imaginar um precedente pior
que ver uma administração entrante incriminando as
decisões políticas de seus antecessores.
"Um das pessoas que se
opôs a liberar os memorandos sobre técnicas de interrogatório foi o diretor da
Agência Central de Inteligência, León Panetta".
Cheney, ao chegar a este
ponto, no entanto, tinha que explicar o acontecido na prisão de Abu Ghraib que
encheu de horror ao mundo. "Lá reinava o sadismo disse – e nada tinha a
ver com os interrogatórios à procura de informação.
"
"Nós já sabemos a
diferença entre justiça e vingança. Nós não estávamos tentando nos vingar dos
autores do 11 de setembro.
"Desde o princípio do
programa só nos dedicamos à prioridade
mais importante, obter informação sobre os planos terroristas.
Pelo dano que causaram aos
prisioneiros iraquianos e à causa dos Estados Unidos, mereciam e receberam
justiça."
Independentemente dos
milhares de jovens norte-americanos mortos, e feridos na guerra do Iraque e os fabulosos
fundos investidos ali, centos de
milhares das vidas de crianças, jovens e idosos, homens e mulheres que não
tiveram culpa nenhuma do ataque às Torres gêmeas morreram naquele país após da invasão ordenada por Bush. Aquela enorme massa de vítimas inocentes não recebeu sequer
uma menção no discurso proferido por
Cheney.
As deixa de lado e continua:
"Se os liberais não concordam com
algumas decisões e os Conservadores com
outras, pareceria, que o presidente está no caminho de uma solução sensata.
"Mas na luta contra o
terrorismo, não há pontos meios, e meias
medidas te meio expõem.
"Quando não tens
conhecimento de alguma coisa, isto pode
nos levar à catástrofe.
"Em um segundo dia de
governo o presidente Obama anunciou o fechamento da prisão de Guantánamo.
Aquele passo foi dado com pouca deliberação e sem plano.
"A esta administração (Obama) lhe foi fácil
receber aplausos na Europa pelo fechamento de Guantánamo, mas lhe resulta difícil encontrar uma alternativa que serva
aos interesses da justiça e a segurança nacional estadunidense.
“Na categoria de eufemismo, o
prêmio será obtido por um artigo recente em um jornal famoso que se refere a
terroristas que capturamos como ‘seqüestrados”. ‘
"Temos inimigos do nosso
país, denominados por um jornal como vítimas do seqüestro.”
"Os interrogatórios e o Programa de Vigilância,
sem dúvidas, fizeram a este país mais seguro.”
"Quando Obama e sua administração
falam em interrogatórios, o fazem como
se eles tivessem resolvido o dilema moral de como extrair informação vital da
boca dos terroristas.
"Na realidade, estão
deixando de lado as decisões, enquanto presumem de uma superioridade moral.
“Desclassificar esses
memorandos é contrário aos interesses da segurança nacional”.
“O dano começa com informação
de alto grau de secreto alto que já está em mãos terroristas”.
"Governos do mundo que nos
apoiaram em manobras conjuntas, agora temem
porque vêm outras operações comprometidas.
"O presidente Obama usou
seu poder para revelar o que acontece nos interrogatórios…
"O próprio diretor de
Inteligência Nacional do presidente Obama, Denis C. Blair, disse isto desta maniera:
'A informação de alto valor veio dos interrogatórios nos quais foram usados
esses métodos e nos deu uma compreensão maior da organização de Al- Qaeda que
atacou nosso país.'
"O almirante Blair disse
esta conclusão por escrito; mas isto que desapareceu em uma versão posterior
dada pelo conhecer pelo governo.
"Essas 26 palavras faltantes
diziam uma verdade inconveniente; mas eles não puderam mudar as palavras do
diretor da CIA durante os governos de
Clinton e Bush, George Tenet que disse claramente,: 'Eu sei que este programa salvou
vidas. Sei que destruímos planos. Sei
que só este programa custa mais do que o
FBI, a CIA e a Agencia de segurança Nacional juntas nos tem podido dar.'
"Se os norte-americanos
têm oportunidade de saber o que é o que foi
evitado no país, isto esclareceria a urgência e o caráter correto destes
interrogatórios nos anos posteriores ao 11 de setembro.
"Nos ocupamos de obter
os seus segredos no lugar de compartilhar os nossos com eles.
"É algo que se deve
manter até que o perigo tenha passado. No caminho foi necessário tomar decisões
difíceis.
"Nenhuma decisão de
segurança nacional foi tomada de forma simples nem de maneira acelerada.
"Como em qualquer
conflito houve custos. Nenhum mais alto que os sacrifícios desses mortos ou
feridos servindo o país."
"Como muitos outros que prestam
serviços aos Estados Unidos eles não são desses
que pedem agradecimento mas eu lhes estarei agradecido.
Seus ataques à administração
de Obama foram realmente duros, mas eu não quero emitir opiniões sobre este
assunto. Corresponde-me, no entanto,
lembrar que o terrorismo não desceu do céu: foi o método inventado pelos
Estados Unidos para combater à Revolução cubana.
Nada menos que o general Dwight Eisenhower, Presidente de Estados
Unidos, foi o primeiro em usar o terrorismo contra a nossa Pátria, e não se tratou de
um grupo de ações sangrentas
contra nosso povo, mas sim de dezenas de fatos desde o próprio ano 1959, que se acrescentaram depois
a centos de atos terroristas cada ano, com emprego de substâncias inflamáveis, explosivos
de alta potencia armamentos sofisticados
de precisão com raios infravermelhos, venenos como cianureto, fungos, dengue
hemorrágico, febre suína, ántraz, vírus e bactérias que atacavam culturas,
plantas, animais e seres humanos.
Não foram só ações contra a economia e o povo, mas também as
destinadas a eliminar os líderes da
Revolução.
Milhares de pessoas foram afetadas,
e a economia cujo objetivo é sustentar a alimentação, a saúde e os serviços
mais elementares do povo foi submetida a um implacável bloqueio aplicado extraterritorialmente.
Não invento estes fatos. Eles
constam nos documentos desclassificados do
Governo dos Estados Unidos. Em nosso país, apesar dos sérios perigos que nos
ameaçaram durante dezenas de anos, jamais se torturou a ninguém para obter informação.
Por dolorosas que fossem as
ações contra o povo dos Estados Unidos o 11 de Setembro de 2001 que todo o
mundo condenou com energia, a tortura é um ato covarde e vergonhoso que jamais pode ser justificado.
Fidel Castro Ruz
Maio 27 de 2009
12h54 p.m