Reflexões do companheiro Fidel
O IX CONGRESSO DA UNIÃO DE JOVENS COMUNISTAS DE CUBA
Tive
o privilégio de acompanhar direitamente a voz, as imagens, os argumentos, os
rostos, as reações e os aplausos dos delegados participantes na sessão final do
IX Congresso da União de Jovens Comunistas de Cuba, que foi realizado no
Palácio das Convenções no domingo passado dia 4 de abril. As câmaras da
televisão captam detalhes desde as proximidades e desde ângulos muito melhores
do que os olhos das pessoas presentes em qualquer desses eventos.
Não
exagero ao dizer que foi um dos momentos mais emocionantes de minha longa e agitada
vida. Não podia estar lá, mas eu o vivi dentro de mim mesmo, como quem percorre
o mundo das idéias pelas quais tem lutado as três quartas partes de sua
existência. No entanto, de nada valeriam idéias e valores para um
revolucionário, sem o dever de lutar cada minuto de sua vida para vencer a
ignorância com a qual todos nascemos.
Embora
poucos o admitam, o acaso e as circunstâncias desempenham um papel decisivo nos
frutos de qualquer obra humana.
Entristece
pensar em tantos revolucionários, com muitos mais méritos, que não puderam nem
sequer conhecer o dia da vitória da causa pela qual lutaram e morreram, fosse a
independência ou uma profunda revolução social
Desde
meados de 1950, ano no qual findei meus estudos universitários, me considerava
um revolucionário radical e avançado, graças às idéias que recebi de Martí,
Marx e, junto deles, uma legião incontável de pensadores e de heróis desejosos
de um mundo mais justo. Tinha transcorrido então quase um século desde que nossos
compatriotas iniciaram no dia 10 de outubro de
O
espírito autocrítico, a incessante necessidade de estudar, observar e refletir,
são, na minha opinião, características das quais nenhum quadro revolucionário
pode prescindir.
Minhas
idéias, desde muito cedo, eram já irreconciliáveis com a odiosa exploração do
homem pelo homem, conceito brutal no qual estava baseada a sociedade cubana sob
a égide do país imperialista mais poderoso que tenha existido. A questão era
fundamental, em meio à Guerra Fria, era a busca de uma estratégia que se
ajustasse às condições concretas e peculiares de nosso pequeno país, submetido
ao abjeto sistema econômico imposto a um povo semi-analfabeto, embora de
singular tradição heróica através da força militar, o engano e o monopólio dos
meios de informação, que tornavam em atos reflexos as opiniões políticas da
imensa maioria dos cidadãos. Apesar dessa triste realidade, no entanto, não
podiam impedir o profundo mal-estar que
semeavam na imensa maioria da população a exploração e os abusos desse sistema.
Após
a Segunda Guerra Mundial pela repartição do planeta, que foi a causa da segunda
chacina – separada da anterior por apenas 20 anos, provocada esta vez pela
extrema direita fascista, que custou a vida a mais de 50 milhões de pessoas,
entre elas aproximadamente 27 milhões de soviéticos -, no mundo prevaleceram
durante um tempo os sentimentos democráticos, as simpatias pela URSS, a China e
outros Estados aliados naquela guerra que findou mediante o emprego
desnecessário de duas bombas atômicas, que provocaram a morte de centenas de
milhares de pessoas em duas cidades indefesas de uma potência derrotada pelo
avanço imparável das forças aliadas, incluídas as tropas do Exército Vermelho,
que em poucos dias tinham aniquilado o poderoso exército japonês da Manchúria.
A
Guerra Fria foi iniciada pelo novo Presidente dos Estados Unidos da América
quase logo depois da vitória. O anterior, Franklin D. Roosevelt, que gozava de
prestígio e simpatia internacional por sua posição antifascista, morreu depois
de sua terceira reeleição, antes do fim daquela guerra. Substituído então por
seu vice-presidente Harry Truman, um homem descolorido e medíocre, foi ele o
responsável por aquela política funesta.
Os
Estados Unidos da América, único país desenvolvido que não sofreu nenhuma
destruição devido a sua posição geográfica, possuía quase todo o ouro do
planeta e os excedentes da produção industrial e agrícola, e impôs condições
onerosas à economia mundial através do famoso acordo de Bretton Woods, de
funestas conseqüências que ainda perduram.
Antes
de se iniciar a Guerra Fria, na própria Cuba existia uma Constituição bastante
progressista, a esperança e as possibilidades de mudanças democráticas,
embora nunca fossem, é claro, as de uma
revolução social. A liquidação dessa Constituição mediante um golpe reacionário
em meio à Guerra Fria, abriu as portas à revolução socialista
O
mérito da Revolução Cubana pode ser medido pelo fato de que um país tão pequeno
tenha podido resistir durante tanto tempo a política hostil e as medidas
criminosas aplicadas contra o nosso povo pelo império mais poderoso surgido na
história da humanidade, o qual, costumado a manipular a seu bel-prazer os
países do hemisfério, subestimou a uma nação pequena, dependente e pobre a
poucas milhas de suas costas. Isto não teria sido possível nunca sem a
dignidade e a ética que sempre caracterizaram as ações da política de Cuba, assediada
por repugnantes mentiras e calúnias. Junto da ética, forjaram-se a cultura e a
consciência que tornaram possível a proeza de resistir durante mais de 50 anos.
Não foi um mérito particular de seus líderes, senão fundamentalmente de seu
povo.
A
enorme diferença entre o passado – em que apenas podia proferir-se a palavra
socialismo – e o presente, foi possível enxergar no dia da sessão final do IX
Congresso da União de Jovens Comunistas de Cuba, nos discursos dos delegados e
nas palavras do Presidente dos Conselhos de Estado e de Ministros.
Seria
muito conveniente que o que lá foi dito seja reproduzido e conhecido dentro e
fora do país, através dos mais variados meios de divulgação, não tanto no que
se refere aos nossos compatriotas, experientes nesta luta durante longo tempo,
senão porque aos povos do mundo convêm conhecer a verdade e as gravíssimas
conseqüências para onde o império e seus aliados conduzem à humanidade.
Nas
suas palavras durante o encerramento, breves, profundas e precisas, Raúl pôs os
pontos nos is em vários temas de muita importância. O discurso foi uma estocada
profunda nas entranhas do império e de seus cínicos aliados, ao exprimir
críticas e autocríticas que tornam mais fortes e incomovivéis a moral e a força
da Revolução Cubana, se somos conseqüentes com o que cada dia nos ensina um
processo tão dialético e profundo nas condições concretas de Cuba.
Tão
costumado estava o império a impor sua vontade, que menosprezou a resistência
de que é capaz um pequeno país latino-americano do Caribe, a 90 milhas de suas
costas, no qual era proprietário de suas principais riquezas, monopolizava o
controle de suas relações comerciais e políticas e impôs pela força uma base
militar contra a vontade da nação, sob o disfarce de um acordo legal ao qual
lhe outorgaram caráter constitucional. Menosprezaram o valor das idéias perante
o seu imenso poder.
Raúl
lhes lembrou como as forças mercenárias foram derrotadas em Baia dos Porcos
antes das 72 horas do desembarque, perante os olhos da frota naval ianque; a
firmeza com a que nosso povo se manteve incomovível durante a Crise de Outubro
de 1962, ao não aceitar a inspeção de nosso território pelos Estados Unidos da
América – após a fórmula inconsulta do acordo entre a URSS e esse país, que
ignorava a soberania nacional – apesar do incalculável número de armas
nucleares que apontavam contra a ilha.
Tampouco
faltou a referência sobre as conseqüências da desintegração da URSS, que
significou a queda de 35% de nosso PIB e de 85% do comércio exterior de Cuba,
ao qual se acrescentou a intensificação do criminoso bloqueio comercial,
econômico e financeiro contra nossa Pátria.
Já
quase transcorreram 20 anos daquele triste e funesto acontecimento, no entanto,
Cuba permanece de pé decidida a resistir. Por isso, tem especial importância a
necessidade de ultrapassar e vencer tudo o que conspire contra o sadio
desenvolvimento de nossa economia. Raúl não deixou de lembrar que hoje o
sistema imperialista imposto ao mundo ameaça seriamente a sobrevivência da
espécie humana.
Temos
atualmente um povo que passou do analfabetismo para um dos mais altos níveis de
educação do mundo, que é o dono da mídia, e pode ser capaz de criar a
consciência necessária para ultrapassar dificuldades velhas e novas.
Independentemente da necessidade de promover os conhecimentos, seria absurdo
ignorar que, em um mundo cada vez mais complexo e que muda constantemente, a
necessidade de trabalhar e de criar os bens materiais que a sociedade precisa é
o dever fundamental de um cidadão. A Revolução proclamou a universalização dos
conhecimentos, ciente de que enquanto mais conheça mais útil será o ser humano
em sua vida; mas nunca se deixou de exaltar o dever sagrado do trabalho que a
sociedade requer. O trabalho físico é, pelo contrário, uma necessidade da
educação e da saúde humana, por isso, seguindo um princípio martiano,
proclamou-se desde muito cedo o conceito de estudo e trabalho. Nossa educação
avançou consideravelmente quando foi proclamado o dever de ser professores e
dezenas de milhares de jovens optaram pelo ensino - ou por aquilo que fosse
mais necessário para a sociedade. O esquecimento de qualquer destes princípios
entraria em conflito com a construção do socialismo.
Exatamente
igual que todos os povos do Terceiro Mundo, Cuba é vítima do roubo descarado de
cérebros e de força de trabalho jovem; não se pode cooperar jamais com esse
saqueio de nossos recursos humanos.
A
tarefa à qual cada um consagre sua vida, não só pode ser fruto do desejo
pessoal senão também da educação. A requalificação é uma necessidade irrenunciável
de qualquer sociedade humana.
Os
quadros do Partido e do Estado deverão encarar problemas cada vez mais
complexos. Dos responsáveis da educação política demandar-se-ão maiores
conhecimentos do que nunca sobre a história e a economia, precisamente pela
complexidade de seu trabalho. Chega ler as notícias recebidas todos os dias
desde todas partes para compreender que a ignorância e a superficialidade são
absolutamente incompatíveis com as responsabilidades políticas. Os
reacionários, os mercenários, os que desejam consumismo e esquivam o trabalho e
o estudo, terão cada vez menos espaço na vida pública. Não faltarão nunca na
sociedade humana os demagogos, os oportunistas, os que desejam soluções fáceis
na procura de popularidade, mas os que traem a ética terão cada vez menos
possibilidades de enganar. A luta nos ensinou o dano que podem provocar o
oportunismo e a traição.
A
educação dos quadros será a tarefa mais importante que os partidos
revolucionários deverão dominar. Não haverá jamais soluções fáceis, o rigor e a
exigência terão que prevalecer. Cuidemo-nos especialmente também daqueles que
junto da água suja vertem os princípios e os sonhos dos povos.
Há
dias desejava falar sobre o Congresso da Juventude, mas preferi esperar sua
divulgação e não lhe roubar nenhum espaço na imprensa.
Ontem,
sete de abril foi o aniversário de Vilma. Escutei com emoção, através da
televisão, sua própria voz acompanhada pelas finas notas de um piano. Cada
dia valoro mais seu trabalho e tudo o
que fez pela Revolução e pela mulher cubana. As razões para lutar e vencer
multiplicam-se a cada dia.
Fidel
Castro Ruz
8
de abril de 2010
15h40