Reflexões do companheiro Fidel
O papel genocida da NATO
(Quinta parte)
A 9
de março do ano em curso sob o título “A NATO, a
guerra, a mentira e os negócios” publiquei uma nova Reflexão sobre o papel dessa
organização bélica.
Seleciono os parágrafos fundamentais
daquela Reflexão:
“Como
alguns sabem, em setembro de 1969, Moamar al-Khaddhafi, um militar árabe
beduíno de peculiar caráter e inspirado nas idéias do líder egípcio Gamal Abdel
Nasser, promoveu no seio das Forças Armadas um movimento que derrocou o Rei
Idris I da Líbia, um país desértico quase na sua totalidade e de escassa
população, situado ao norte da África, entre a Tunísia e o Egito.”
“Nascido no seio de
uma família da tribo beduína de pastores nômades do deserto, na região de
Trípoli, Khaddhafi era profundamente anticolonialista”
“…os adversários de
Khaddhafi garantem que se destacou por sua inteligência como estudante; foi
expulso do liceu por suas atividades antimonárquicas. Conseguiu matricular em
outro liceu e depois se formar
“Iniciara sua vida política
com fatos indubitavelmente revolucionários.
“Em março de 1970,
após manifestações maciças nacionalistas, conseguiu a evacuação dos soldados
britânicos do país e, em junho, os Estados Unidos desalojaram a grande base
aérea perto de Trípoli, entregada a instrutores militares egípcios, país aliado
à Líbia.
“Em 1970, várias
companhias petroleiras ocidentais e sociedades bancárias com participação de
capitais estrangeiros foram afetadas pela Revolução. Nos finais de
“O líder líbio se
dedicou às teorias extremistas que se opunham tanto ao comunismo quanto ao
capitalismo. Foi uma etapa em que Khaddhafi se dedicou à teorização, que não
faz sentido incluir nesta análise, embora sim se deva assinalar que no artigo
1º da Proclama Constitucional de 1969 ficava estabelecido o caráter
“Socialista” da Jamaíria Árabe Líbia Popular.
“O que desejo frisar é
que aos Estados Unidos e aos seus aliados da NATO nunca lhes interessaram os
direitos humanos.
“O bololô que se deu
no Conselho de Segurança, na reunião do Conselho de Direitos Humanos com sede
na Genebra, e na Assembléia Geral da ONU em Nova Iorque, foi puro teatro.”
“O império pretende agora
[…] intervir militarmente na Líbia e açoitar a onda revolucionária desatada no
mundo árabe.”
“Promovida a latente
rebeldia líbia pelos órgãos de inteligência ianque, ou pelos erros do próprio
Khaddhafi, é importante que os povos não se deixem enganar, visto que logo a
opinião mundial terá suficientes elementos para saber ao quê se ater.”
“A Líbia, igual do que
muitos países do Terceiro Mundo, é membro do Movimento de Países Não Alinhados,
do Grupo dos 77 e de outras organizações internacionais, através das quais se estabelecem
relações independentemente do sistema econômico e social de cada Estado.
“A traços largos: a
Revolução em Cuba, inspirada em princípios Marxistas-Leninistas e Martianos,
tinha triunfado em
“Quase de imediato, o
império promoveu contra nosso povo a guerra suja, os bandos
contra-revolucionários, o criminoso bloqueio econômico, e a invasão mercenária
de Girón, custodiada por um porta-aviões e sua infantaria de marinha pronta
para desembarcar se a força mercenária atingisse determinados objetivos.”
“Todos os países
latino-americanos, com a exceção do México, participaram do criminoso bloqueio
que ainda perdura, sem que nosso país jamais se rendesse.”
“Em janeiro de 1986,
esgrimindo a idéia de que a Líbia estava por trás do chamado terrorismo
revolucionário, Reagan ordenou romper relações econômicas e comerciais com
aquele país.
“Em março, uma força
de porta-aviões no Golfo de Sirte, dentro de águas consideradas por Líbia
nacionais, desatou ataques que ocasionaram a destruição de várias unidades
navais munidas de lança-mísseis e de sistemas de radares de costa que esse país
tinha adquirido na URSS.
“Em 5 de abril, uma
discoteca em Berlim Ocidental, freqüentada por soldados dos Estados Unidos, foi
vítima de explosivos plásticos, onde três pessoas morreram, duas delas
militares norte-americanos e muitos resultaram feridos.
“Reagan acusou
Khaddhafi e ordenou à Força Aérea que desse uma resposta. Três esquadrões
descolaram dos porta-aviões da VI Frota e bases no Reino Unido, atacaram com
mísseis e bombas sete objetivos militares
“A 21 de dezembro de
1988, um Boeing 747 da companhia Pan Am que voava de Londres a Nova
Iorque se desintegrou em pleno vôo pela explosão de uma bomba …”
“As investigações,
segundo os ianques, implicavam dois agentes da inteligência líbia.”
“Uma lenda tenebrosa
foi fabricada contra ele com a participação de Reagan e Bush pai.”
“O Conselho de
Segurança impusera-lhe sanções a Líbia que começaram a serem ultrapassadas
quando Khaddhafi aceitou submeter a julgamento, com determinadas condições, os
dois acusados por causa do avião que explodiu sobre a Escócia.
“Delegações líbias
começaram a ser convidadas a reuniões intereuropéias. Em julho de 1999 Londres
iniciou o restabelecimento de relações diplomáticas plenas com a Líbia, após
algumas concessões adicionais.”
“A 2 de dezembro,
Massimo D’Alema, primeiro-ministro italiano, realizou a primeira visita de um
chefe de governo europeu à Líbia.
“Desaparecidos a URSS
e o campo socialista da Europa, Khaddhafi decidiu aceitar as demandas dos
Estados Unidos e da NATO.”
“Nos começos de 2002,
o Departamento de Estado informou que estavam em andamento conversações
diplomáticas entre os Estados Unidos e a Líbia.”
“Ao começar o ano
2003, em virtude do acordo econômico sobre indemnizações celebrado entre a
Líbia e os países demandantes, o Reino Unido e a França, o Conselho de
Segurança da ONU levantou as sanções de 1992 contra a Líbia.
“Antes de findar 2003,
Bush e Tony Blair informaram de um acordo com a Líbia, país que tinha entregado
a peritos de inteligência do Reino Unido e de Washington documentação dos
programas não convencionais de armas, bem como de mísseis balísticos com um
alcance superior a 300 quilômetros. […] Era o fruto de muitos meses de
conversações entre Trípoli e Washington, como revelou o próprio Bush.
“Khaddhafi cumpriu
suas promessas de desarme. Em poucos meses a Líbia entregou as cinco unidades
de mísseis Scud-C com um alcance de 800 quilômetros e as centenas de Scud-B,
cujo alcance ultrapassava os 300 quilômetros em mísseis defensivos de curto
alcance.
“A partir de outubro
de 2002 se iniciou a maratona de visitas a Trípoli: Berlusconi, em outubro de
2002; José Maria Aznar, em setembro de 2003; Berlusconi de novo em fevereiro,
agosto e outubro de 2004; Blair, em março de 2004; o alemão Schröeder, em
outubro desse ano; Jacques Chirac, em novembro de 2004.”
“Khaddhafi percorreu
triunfalmente a Europa. Foi recebido em Bruxelas em abril de 2004 por Romano
Prodi, presidente da Comissão Européia; em agosto desse ano o líder líbio
convidou Bush para visitar seu país; Exxon Mobil, Chevron Texaco e Conoco
Philips ultimavam o reinício da extração de petróleo através de joint ventures.
“Em maio de 2006, os
Estados Unidos anunciaram a retirada da Líbia da lista de países terroristas e
o estabelecimento de relações diplomáticas plenas.
“Em 2006 e
“Em dezembro de 2007,
Khaddhafi realizou duas visitas à França e assinou contratos de equipamentos
militares e civis no valor de 10 000 milhões de euros; e a Espanha, onde se
entrevistou com o presidente do Governo José Luis Rodríguez Zapatero. Contratos
milionários foram subscritos com importantes países da NATO.
“O quê agora originou
a retirada precipitada das embaixadas dos Estados Unidos e dos demais membros
da NATO? “Tudo resulta sumamente esquisito.
“George W. Bush, o pai
da estúpida guerra antiterrorista, declarou a 20 de setembro de 2001 aos
cadetes de West Point “Nossa Segurança requererá […] a força militar que vocês
dirigirão, uma força que deve estar pronta para atacar imediatamente em
qualquer escuro canto do mundo. E nossa segurança requererá que fiquemos
prontos para o ataque preventivo quando for necessário defender nossa liberdade…’.”
“Devemos descobrir
células terroristas em 60 países ou mais […] Junto dos nossos amigos e aliados,
devemos nos opor à proliferação e encarar os regimes que patrocinam o
terrorismo, conforme o requerer cada caso.”
Acrescento hoje que o
Afeganistão, um país tradicionalmente rebelde, foi invadido; as tribos
nacionalistas outrora aliadas dos Estados Unidos em sua luta contra a URSS,
foram bombardeadas e massacradas. A guerra suja se espalhou pelo mundo. O
Iraque foi invadido com pretextos que resultaram falsos, seus abundantes
recursos petroleiros passaram a mãos de empresas ianques, milhões de pessoas perderam
seus empregos e foram obrigadas a se deslocarem dentro ou foram do país; seus
museus foram pilhados e incontáveis cidadãos perderam a vida ou foram massacrados
pelos invasores.
Voltando à Reflexão,
assinalei:
“Um telex da AFP
procedente de Cabul, datado hoje 9 de março, revela que: “O ano transato foi o
mais letal para os civis em nove anos de guerra entre os talibãs e as forças
internacionais no Afeganistão, com quase 2 800 mortos, 15% mais do que em 2009,
indicou na quarta-feira um relatório da ONU, que sublinha o custo humano do
conflito para a população’.”
“Com 2 777 exatamente, o número de civis mortos
em 2010 aumentou em 15% relativamente a 2009, indica o relatório anual conjunto
da Missão de Assistência das Nações Unidas no Afeganistão ….”
“O presidente Barack Obama expressou a 3 de
março seu "profundo pesar" ao povo afegão pelas nove crianças mortas,
e também o fizeram o general estadunidense David Petraeus, comandante-em-chefe
da ISAF, e o Secretário de Defesa, Robert Gates.”
“…o relatório da UNAMA salienta que o número de
civis mortos em 2010 é quatro vezes superior aos soldados das forças
internacionais mortos em combate nesse mesmo ano.”
No relativo à Líbia, apontei:
“Durante 10 dias, em
Genebra e nas Nações Unidas, foram pronunciados mais de 150 discursos sobre
violações dos direitos humanos que foram repetidos milhões de vezes pela
televisão, pela rádio, pela Internet e pela imprensa escrita.
“O Ministro de
Relações Exteriores de Cuba, Bruno Rodríguez, em sua intervenção do passado 1
de março de 2011 perante os Ministros de Relações Exteriores reunidos em
Genebra, expressou:
“A consciência humana rejeita a morte de pessoas
inocentes em qualquer circunstância e lugar. Cuba partilha plenamente a
preocupação mundial pelas perdas de vidas de civis na Líbia e deseja que seu
povo alcance uma solução pacífica e soberana à guerra civil que ali acontece,
sem nenhuma ingerência estrangeira, e que garanta a integridade dessa nação.”
“Se o direito humano essencial é o direito à vida,
estará prestes o Conselho para suspender o caráter de membro dos Estados que
desatarem uma guerra?
“Suspenderá os Estados que financiem e forneçam ajuda
militar empregada pelo Estado receptor em violações maciças, flagrantes e
sistemáticas dos direitos humanos e em ataques contra a população civil, como
as que ocorrem na Palestina?
“Aplicará essa medida contra países poderosos que
realizem execuções extrajudiciárias em território de outros Estados com o
emprego da alta tecnologia, como munições inteligentes e aviões não tripulados?
“O quê acontecerá com Estados que aceitem em seus
territórios cárceres ilegais secretos, facilitem o trânsito de vôos secretos
com pessoas seqüestradas ou participem de atos de tortura?”
“Somos contra a guerra interna na Líbia, a favor da
paz imediata e do respeito pleno à vida e aos direitos de todos os cidadãos,
sem intervenção estrangeira, que só serviria ao prolongamento do conflito e aos
interesses da NATO.”
Ontem 31 de outubro aconteceu um fato que, como tantos
outros, é testemunho da falta total de ética na política ianque.
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência
e a Cultura, acabava de adotar uma decisão valente: outorgar ao povo heróico da
Palestina o direito a participar como membro ativo na UNESCO; 107 estados votaram
a favor, 14 em contra, 52 se abstiveram de votar. Todos conhecemos perfeitamente
porquê.
A representante dos Estados Unidos nessa instituição, seguindo
instruções do prêmio Nobel da Paz, declarou logo que a partir desse instante seu
país suspendia toda ajuda econômica à organização, destinada pela ONU à educação, à ciência e à cultura.
O acento dramático com que a dama anunciou a decisão
era totalmente desnecessário. Ninguém se surpreendeu com a esperada e cínica decisão.
Porém, se ainda fosse pouco, bastaria o telex da AFP datado
em Washington na tarde de hoje, às 16h05:
“‘Após a Reunião de Cúpula do G20 (...)
o presidente (Obama) e o presidente Sarkozy participarão em uma cerimônia em
Cannes para celebrar a aliança entre os Estados Unidos e a França’, indicou s presidência estadunidense,
precisando que os dirigentes se encontrarão também com ‘soldados estadunidenses e franceses que têm
participado juntos na operação’ na
Líbia.”
Continuará proximamente.
Fidel Castro Ruz
1 de novembro de 2011
16h32.