Reflexões do companheiro Fidel
DANÇA
MACABRA DE CINISMO
A política de pilhagem imposta pelos Estados Unidos e
seus aliados da NATO no Oriente Médio entrou em crise. Esta se desatou inevitavelmente
com o alto preço dos cereais, cujos efeitos se fazem sentir com mais força nos
países árabes onde apesar de seus enormes recursos petroleiros, a escassez de
água, as áreas desérticas e a pobreza generalizada do povo contrastam com os
enormes recursos derivados do petróleo que possuem os setores privilegiados.
Enquanto os preços dos alimentos se triplicam, as
fortunas imobiliárias e os tesouros da minoria aristocrática se elevam a milhões
de milhões de dólares.
O mundo árabe, de cultura e crença majoritariamente muçulmana,
tem-se visto humilhado adicionalmente pela imposição a sangue e fogo de um Estado
que não foi capaz de cumprir as obrigações elementares que o originaram, a
partir da ordem colonial existente até finais da Segunda Guerra Mundial, em
virtude da qual as potências vitoriosas criaram a ONU e impuseram o comércio e
a economia mundiais.
Graças à traição de Anwar
El-Sadat
O Complexo Militar Industrial dos Estados Unidos forneceu
dezenas de milhares de milhões de dólares cada ano ao Israel e aos próprios
estados árabes por ele submetidos e humilhados.
O gênio saiu da lamparina e a NATO não sabe como controlá-lo.
Vão tentar tirar o máximo proveito aos lamentáveis
acontecimentos na Líbia. Niguém seria capaz de saber neste momento o que ali
está ocorrendo. Todas as cifras e versões, até as mais inverossímeis, têm sido
divulgadas pelo império através da mídia, plantando o caos e a desinformação.
Resulta evidente que dentro da Líbia se desenvolve uma
guerra civil. Por que e como ela se desatou? Quem pagarão as conseqüências? A
agência Reuters, fazendo-se eco do critério de um conhecido banco do Japão, o Nomura,
expressou que o preço do petróleo poderia ultrapassar qualquer limite:
“‘Se a Líbia e a Argélia
suspenderem a produção petroleira, os preços poderão chegar a um máximo por em
cima de
220 dólares por barril e a capacidade ociosa da OPEP seria reduzida a 2,1 milhões
de barris por dia, similar aos níveis vistos durante a guerra do Golfo e quando
os valores tocaram os
147 dólares por barril em
Quem poderiam pagar esse preço hoje? Quais
seriam as conseqüências no meio da crise alimentar?
As principais lideranças da NATO estão
exaltadas. O Primeiro-ministro britânico, David Cameron, informou ANSA, “…admitiu em um discurso no Kuwait que os países ocidentais
se enganaram ao apoiar governos não democráticos no mundo árabe.” Deve ser
felicitado pela franqueza.
Seu colega francês Nicolás
Sarkozy declarou: “A prolongada repressão brutal e sangrenta da população civil
líbia é nojenta”.
O chanceler italiano Franco
Frattini declarou “‘crível’ a cifra de mil mortos em Trípoli […] ‘a cifra
trágica será um banho de sangue’.”
Hillary Clinton declarou: “…o
‘banho de sangue’ é ‘completamente inaceitável’ e ‘tem que parar’…”
Ban Ki-moon falou: “‘É absolutamente inaceitável o uso da violência que existe no país’.”
“…‘o Conselho de Segurança agirá de
acordo com o que decida a comunidade internacional’.”
“‘Estamos considerando uma série de opções’.”
O que Ban Ki-moon espera realmente é que Obama diga a
última palavra.
O Presidente dos Estados Unidos falou nesta
quarta-feira à tarde e expressou que a Secretaria de Estado viajaria à Europa visando
combinar com seus aliados da OTAN as medidas a serem tomadas. Em sua face se
constatava a oportunidade de lidar com o senador da extrema-direita dos
republicanos, John McCain, o senador pró-israelita de Connecticut, Joseph
Lieberman e os líderes do Tea Party, para garantir sua candidatura
pelo partido democrata.
A mídia do império tem preparado o terreno para agir. Nada
teria de estranho a intervenção militar na Líbia, com o qual, também, garantiria
à Europa os quase dois milhões de barris diários de petróleo ligeiro, se antes não
ocorrerem acontecimentos que ponham fim à chefia ou à vida de Gaddafi.
De qualquer forma, o papel de Obama é bastante
complicado. Qual será a reação do mundo árabe e muçulmano se o sangue nesse
país for derramado em abundância com essa aventura? Uma intervenção da NATO na
Líbia conseguirá parar a onda revolucionária desatada no Egipto?
No Iraque foi derramado o sangue inocente de mais de
um milhão de cidadãos árabes, quando o país foi invadido com falsos pretextos. Missão
cumprida!, proclamou George W. Bush.
Niguém no mundo estará nunca de acordo com a morte de civis
indefesos na Líbia ou qualquer outra parte. E me pergunto: Aplicarão os Estados
Unidos e a NATO esse princípio aos civis indefesos que os aviões sem piloto
ianques e os soldados dessa organização matam todos os dias no Afeganistão e no
Paquistão?
É uma dança macabra de cinismo.
Fidel Castro Ruz
23 de fevereiro de 2011
19h42