Reflexões
do companheiro Fidel
O
Papel genocida da NATO
No dia 23 de fevereriro, sob o título “Dança macabra de
cinismo” expus:
“A política de pilhagem imposta pelos Estados Unidos e
seus aliados da NATO no Oriente Médio entrou em crise.”
“Graças à traição de Mubarak
“O Complexo Militar Industrial dos Estados Unidos forneceu
dezenas de milhares de milhões de dólares cada ano a Israel e aos próprios
estados árabes por ele submetidos e humilhados.
“O gênio saiu da lamparina e a NATO não sabe como controlá-lo.
“Vão tentar tirar o máximo proveito aos lamentáveis
acontecimentos na Líbia. Niguém seria capaz de saber neste momento o que ali
está ocorrendo. Todas as cifras e versões, até as mais inverossímeis, têm sido
divulgadas pelo império através da mídia, plantando o caos e a desinformação.
“Resulta evidente que dentro da Líbia se desenvolve
uma guerra civil. Por que e como ela se desatou? Quem pagarão as conseqüências?
A agência Reuters, fazendo-se eco do critério de um conhecido banco do Japão, o
Nomura, expressou que o preço do petróleo poderia ultrapassar qualquer limite:
“... Quais seriam as conseqüências no meio
da crise alimentar?
“As principais lideranças da NATO estão
exaltadas. O Primeiro-ministro britânico, David Cameron, informou ANSA, ‘…admitiu em um discurso no Kuwait que os países ocidentais
se enganaram ao apoiar governos não democráticos no mundo árabe.’”
“Seu colega francês Nicolás
Sarkozy declarou: ‘A prolongada repressão brutal e sangrenta da população civil
líbia é nojenta’”.
“O chanceler italiano
Franco Frattini declarou ‘crível’ a cifra de mil mortos em Trípoli […] ‘a cifra
trágica será um banho de sangue’.”
“Hillary Clinton declarou:
“…o ‘banho de sangue’ é ‘completamente inaceitável’ e ‘tem que parar’…”
Ban Ki-moon falou: “‘É absolutamente inaceitável o uso da violência que existe no país’.”
“…‘o Conselho de Segurança agirá de
acordo com o que decida a comunidade internacional’.”
“‘Estamos considerando uma série de opções’.”
“O que Ban Ki-moon espera realmente é que Obama diga a
última palavra.
“O Presidente dos Estados Unidos falou nesta
quarta-feira à tarde e expressou que a Secretaria de Estado viajaria à Europa visando
combinar com seus aliados da NATO as medidas a serem tomadas. Em sua face se
constatava a oportunidade de lidar com o senador da extrema-direita dos
republicanos, John McCain; o senador pró-israelita de Connecticut, Joseph
Lieberman e os líderes do Tea Party, para garantir sua candidatura
pelo partido democrata.
“A mídia do império tem preparado o terreno para agir.
Nada teria de estranho a intervenção militar na Líbia, com o qual, também, garantiria
à Europa os quase dois milhões de barris diários de petróleo ligeiro, se antes não
ocorrerem acontecimentos que ponham fim à chefia ou à vida de Gaddafi.
“De qualquer forma, o papel de Obama é bastante
complicado. Qual será a reação do mundo árabe e muçulmano se o sangue nesse
país for derramado em abundância com essa aventura? Uma intervenção da NATO na
Líbia conseguirá parar a onda revolucionária desatada no Egipto?
“No Iraque foi derramado o sangue inocente de mais de
um milhão de cidadãos árabes, quando o país foi invadido com falsos pretextos.
“Niguém no mundo estará nunca de acordo com a morte de
civis indefesos na Líbia ou qualquer outra parte. E me pergunto: aplicarão os
Estados Unidos e a NATO esse princípio aos civis indefesos que os aviões sem
piloto ianques e os soldados dessa organização matam todos os dias no
Afeganistão e no Paquistão?
“É uma dança macabra de cinismo.”
Enquanto meditava sobre estes fatos, nas Nações Unidas se abriu o debate
previsto para ontem, terça-feira, 25 de outubro, em torno à “Necessidade de pôr
fim ao bloqueio comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos da América
contra Cuba”, algo que vem sendo exposto pela imensa maioria dos países membros
dessa instituição, ao longo de 20 anos.
Desta vez os inúmeros raciocínios elementares e justos — que para os
governos dos Estados Unidos eram senão meros exercícios retóricos — tornaram
evidente, como nunca antes, a fraqueza política e moral do império mais
poderoso que jamais tenha existido, a cujos interesses oligárquicos e insaciável
sede de poder e riquezas têm sido submetidos todos os habitantes do planeta, incluído
o próprio povo desse país.
Os Estados Unidos tiranizam e saqueiam o mundo globalizado com seu
poderio político, econômico, tecnológico e militar.
Essa verdade torna-se cada vez mais óbvia após os debates honestos e
valentes que tiveram lugar nos últimos 20 anos nas Nações Unidas, com o apoio
dos estados que supostamente expressam a vontade da imensa maioria dos
habitantes do planeta.
Antes da intervenção de Bruno, numerosas organizações de vários países
expressaram seus pontos de vista através de um de seus membros. O primeiro
deles foi a Argentina em nome do Grupo dos 77 mais a China; a seguir o Egipto,
em nome dos NOAL; Quênia, em nome da União Africana; Belize, em nome da
CARICOM; Cazaquistão, em nome da Organização da Cooperação Islâmica; e o
Uruguai, em nome do MERCOSUL.
Independentemente destas expressões de caráter coletivo, a China, país
de crescente peso político e econômico no mundo, a Índia e a Indonésia apoiaram
firmemente a resolução através de seus embaixadores; entre os três representam
2,7 bilhões de habitantes. Também o fizeram os embaixadores da Federação Russa,
Bielorrúsia, África do Sul, Árgelia, Venezuela e o México. Dentre os países
mais pobres do Caribe e da América Latina, vibraram as palavras solidárias da
embaixadora de Belize, que falou em nome da comunidade do Caribe, do
representante de São Vicente e as Granadinas que o fez em nome do seu país e o
da Bolíva, cujos argumentos relacionados com a solidariedade de nosso povo,
apesar de um bloqueio que dura já 50 anos, será um estímulo imperecedouro para
nossos médicos, educadores e cientistas.
A Nicarágua falou antes da votação, para explicar com valentia por que
votaria contra aquela pérfida medida.
Anteriormente também o tinha feito o representante dos Estados Unidos
para explicar o inexplicável. Senti pena por ele. É o papel que lhe deram.
Quando chegou a hora da votação, dois países se ausentaram: Líbia e Suécia;
três se abstiveram: Ilhas
Marshall, Micronéisa e Palau; dois votaram contra: Estados Unidos e Israel.
Somados todos os que votaram contra, se abstiveram, ou se ausentaram: Os
Estados Unidos, com 313 milhões de habitantes; Israel, com 7,4 milhões; Suécia,
com 9,1 milhões; Líbia, com 6,5 milhões; Ilhas Marshall, com 67,1 mil; Micronésia, 106,8
mil; Palau, com 20,9 mil, somam 336 milhões 948 mil, equivalente
a 4.8% da população mundial, que neste mês já atinge os 7 bilhões.
Depois da votação, para explicar seus votos, falou a Polônia em nome da
União Européia que, apesar de sua estreita aliança com os Estados Unidos e sua
obrigada participação no bloqueio, é contrária a essa medida criminosa.
Depois, 17 países fizeram uso da palavra, para explicar com firmeza e decisão
por que votaram a resolução contra o bloqueio.
Continuará na sexta-feira, 28.
Fidel Castro Ruz
26 de outubro de 2011
21h45